15 de outubro de 2018

BENI CHORA: MASSACRES E EBOLA


Quero ante de mais apresentar as minhas saudações na confiança no Amor criador e redentor. O mundo de hoje e particularmente a RDC (República Democrática do Congo) apresenta-nos a injustiça e a corrupção como algo de normal. Um mundo onde os intelectuais são confundidos com os ignorantes, um planeta onde o PODER em exercício não tem ideais, um presidente que não se preocupa do seu povo, mas apenas se aproveita das riquezas do país em benefício próprio, deixando o povo abandonado à sua triste sorte. Assiste-se a um mundo humano sem humanidade, onde reina o poder do mais forte e o pequeno é espezinhado e massacrado. É a expressão da animalidade privada da racionalidade.


O que é que se pode dizer dos últimos massacres, roubos, violações em Ruvenzori, Beni, Oicha, etc.?
Gostaria de salientar aqui as últimas incursões dos presumíveis rebeldes e as suas atrocidades antes de vos apresentar a epidemia do Ébola. Não há praticamente nenhum dia em que não haja vítimas de massacres. No entanto aqueles que mais nos chocaram são os que aconteceram do 03/09/2018 até ao 15/09/2018 que causaram mais de 40 mortes e a debandada da população.

Do 16/09/2018 ao 30/09/2018 foi atacado o centro da cidade de Beni, onde se encontram uma guarnição de tropas congolesas e a MONUSCO (os soldados das Nações unidas no Congo). Os atacantes depois de ter matado duas pessoas raptaram 15 crianças cujas idades variavam de 0 aos 17 anos, incluindo uma criança de três meses.

Durante esses massacres, um suposto rebelde foi morto. Este não tinha qualquer identidade, a não ser a de militar. Tudo leva a crer que era um membro de uma guarnição militar do Congo. Isso até prova em contrário deixa-nos perplexos a ponto de não sabermos quem são realmente os supostos rebeldes que matam os seus compatriotas inocentes e por quê? Fontes locais em Beni confirmam que são os mesmos soldados congoleses mandados pelo governo.

Nas últimas semanas, nenhuma atividade escolar se realizou em Beni. Assim a greve prolonga-se de semana a semana, devido aos contínuos massacres que espalham o terror e a morte.

Em virtude de nossa fé em Jesus, nosso Libertador, não pararemos de gritar. É uma lâmpada que ilumina o mundo, mesmo que o mundo não o queira.

Certamente, com o salmista, podemos dizer que o inimigo agora está a rir-se de nós, mas temos uma palavra de convicção de que nada escapa aos olhos de Deus: quem mata pela espadada, com a espada perecerá. Quem quer que seja que pratique a injustiça e a violência receberá o fruto da mesma. É hora de não cruzarmos os braços, mas de agir como pacificadores, mesmo se desta exija o sacrifício supremo. Que o mundo congolês se atenha a ele. É hora de testemunhar e tirar a vida das mãos do mau pastor que está matando suas ovelhas.

Então queria dizer-te: este caso também é teu. Como poderíamos ficar em silêncio sobre tais situações? As consequências são sérias: mortes repetidas, a taxa de pobreza aumenta de dia para dia nas famílias, o número de crianças marginalizadas, traumatizadas, viuvez e escola fechadas, aldeias desertas, ninguém desta geração pode ficar indiferente ao sofrimento deste povo. Não é esta situação de pobreza e de miséria que está na base de epidemias como ébola e a outras doenças?


Ebola em Beni

A região de Beni na RDC, foi a segunda a ser confirmada como zona afetada pelo Ebola este ano, depois de ter sido erradicada de Bikoro. Esta epidemia não foi e não é um mito. É real. Ela causou a perda de várias pessoas. De acordo com uma fonte no local de Mangina, uma comunidade rural cerca de 30 km de Beni, em Maio de 2018 esta epidemia provocou várias mortes. Dada a precariedade das condições foi necessário esperar até agosto para que esta epidemia fosse detetada.

Apesar do Ministério da Saúde implantar rapidamente o seu equipamento para tratamento do Ebola, continuam a aparecer novos casos, isto porque há uma resistência por parte das pessoas e também por causa de uma dimensão política e comercial no procedimento do Ministério da Saúde. Como consequência, dos 80 mortos confirmados poderíamos adicionar muitos outros casos, que não foram publicados.

O Ebola veio reforçar ainda mais o enfraquecimento da região a todos os níveis. Apresenta-se como um dos maiores meios não só de isolar esta região, mas também de seu despovoamento. É necessário que a população local continue a observar as medidas preventivas disponibizadas pelos serviços de saúde para limitar os danos ao mínimo possível. Mas como fazê-lo em plena ameaça de guerras?

Em conclusão: na República Democrática do Congo, todos os meios são permitidos para que o PODER atual continue e a vida dos cidadãos é ignorada, como se a única realidade fosse as riquezas naturais do Congo, esquecendo que a verdadeira riqueza são as pessoas. A luta ainda é um longo caminho a percorrer. Qual pastor pode ficar em silêncio quando suas ovelhas estão sendo comidas?

Testemunho de um postulante comboniano de Beni

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