26 de setembro de 2014

MEDIA NA MISSÃO

Paulo VI define os meios de comunicação social em Evangelii Nuntiandi como uma «versão moderna e eficaz do púlpito» (EN 45).

João Paulo II, em Redemptoris Missio, chamou-lhe «o primeiro areópago dos tempos modernos» (RM 37C), um espaço para a evangelização e a evangelizar.

O Papa Bento XVI, em Africae Munus, encorajou a Igreja Africana a «estar mais presente nos media, para fazer deles não apenas um instrumento de difusão do Evangelho mas também um meio útil de formação dos povos africanos para a reconciliação na verdade, para a promoção da justiça e da paz» (AM 145).

O Papa Francisco escreveu na mensagem para o 48º Dia Mundial das Comunicações Sociais que «os mass media podem ajudar a sentir-nos mais próximo uns dos outros; a fazer-nos perceber um renovado sentido de unidade da família humana, que impele à solidariedade e a um compromisso sério para uma vida mais digna.»



A EXPERIÊNCIA COMBONIANA

O uso dos meios de comunicação social no serviço missionário está no genoma comboniano. Os media representam para o Instituto um instrumento privilegiado de evangelização e animação missionária das Igrejas locais.

Daniel Comboni escrevia extensivamente para falar da Nigrícia ao mundo que descobria a África, e da missão da África Central à Igreja, a benfeitores, amigos e familiares. As suas cartas, artigos e relatórios foram coligados em 1991 num livro intitulado Escritos (E) de mais de 2000 páginas.

Uma carta de Maio de 1881 – cinco meses antes de morrer – dá uma ideia da atividade comunicacional de Comboni: «Se eu pudesse e tivesse tempo, escrever-lhe-ia com mais frequência, até todas as semanas para o seu folheto; mas não posso: além dos graves negócios do Vicariato, tenho que me ocupar de recolher mais de quinhentos francos ao dia para sustentar os meus estabelecimentos, o que me obriga a escrever como correspondente de outras quinze publicações: alemãs, francesas, inglesas, americanas, que me mandam um bom dinheiro. Além disso, estou em contacto com quase todos os jornais católicos da Itália, especialmente com L’Osservatore Romano, L’Unità Cattolica, L’Osservatore Cattolico, etc. (aos quais raramente escrevo), à parte os meu Anais do Bom Pastor, de publicação trimestral (E 6724).

Comboni começou a sonhar a sua pequena revista em Fevereiro de 1868 (E 1559). Os Anais do Bom Pastor saíram do prelo pela primeira vez em Verona, Itália, em Janeiro de 1872 para difundir a obra comboniana e multiplicar vocações. Em Setembro de 1881 já ia no nº 25.

Na relação de 1880 ao Reitor dos Institutos Africanos de Verona, encontramos um parágrafo que podia muito bem servir como Estatuto Editorial dos Anais do Bom Pastor: «Nos nossos Anais procuraremos dar a conhecer aos nossos estimados benfeitores, juntamente com as fadigas, as obras e os êxitos do apostolado dos missionários e Irmãs dos nossos institutos africanos de Verona, também os progressos materiais por eles promovidos, os descobrimentos, os trabalhos científicos e os resultados da verdadeira civilização cristã na África Central. Com isso pretendemos glorificar Cristo, que é o único princípio de redenção e de vida, a verdadeira fonte de civilização e salvação dos povos infiéis, o inamovível fundamento da autêntica grandeza e prosperidade das nações civilizadas do mundo» (E 6215).

Os Anais do Bom Pastor, rebaptizados Nigrizia em 1883, estão na origem das 16 revistas genéricas (mensais, bimensais, trimestrais) publicadas na Europa, Américas, África e Ásia e sete infantis nas Américas e Europa. Dez são em espanhol, seis em inglês, duas em português, duas em Italiano, uma em francês, alemão e polaco, respectivamente. A tiragem conjunta passa os 373 mil exemplares/número.

O âmbito das publicações combonianas pode ser percebido pelo Estatuto Editorial da Além-Mar: «Pretende promover os valores da paz, da justiça, da solidariedade e do respeito pelo ambiente e os direitos humanos. Aos leitores residentes no País quer dar a conhecer os problemas mundiais (sociais, eclesiais, económicos e políticos), especialmente os dos países menos desenvolvidos, informar sobre o trabalho dos missionários portugueses espalhados pelo mundo e alimentar a vocação histórica universalista e solidária.»

A imprensa missionária é também uma fonte alternativa de informação. A angolana Arminda Margarida Camati escreve na tese de mestrado A intervenção da Igreja católica em Angola pelos media que a imprensa missionária estrangeira consegui «furar» o embargo informativo do regime «surtindo algum efeito prático no terreno» (p. 52).



ERA DIGITAL

A internet chegou no início da década de 90, altura em que o mundo se estava a tornar num mercado global. A rádio precisou de 30 anos para chegar a 60 milhões de pessoas, a TV levou metade desse tempo e a internet três anos apenas.

Não consigo imaginar o mundo sem os grandes meios de comunicação que a era do digital democratizou e universalizou. Fizeram-me um jeitão em Juba: telemóvel, computadores, internet que custava os olhos da cara mas me permitia ler revistas, jornais, livros, receber e enviar correio e notícias, «googlar» para encontrar informação instantânea… Tenho amigos no Face e seguidores no Twitter e segui a guerra de Gaza através dos tweets de uma adolescente palestiniana… Tenho um blogue para partilhar o que me vai na mente e no coração. A conta no Skype permitiu-me comunicar de borla ou a muito baixo custo.

Estamos à distância de um clique do resto do mundo. Comunicamos mais? Comunicamos melhor? Comunicamos mais rápido, no instante. A rede mundial de computadores é uma teia que nos torna mais solidários ou mais solitários, próximos dos de longe ou distantes dos de perto. A superabundância de informação não quer dizer melhor informação.

Todas estas ferramentas de comunicação por si só não nos fazem melhores comunicadores. A enxurrada de informação instantânea faz-me lembrar as grandes chuvas africanas, diluvianas e rápidas, que inundam mais do que regam. E a internet com a sua infinita rede de contactos pode tornar-nos mais virtuais e menos humanos.

O Papa João Paulo II disse em 2002 que a internet é «um novo fórum para a proclamação do Evangelho». Em 2013, Bento XVI falou das redes sociais como a «nova praça pública» para partilhar opinião, ideias, informação. O Papa Francisco escreveu este ano que que «as redes sociais são, hoje, um dos lugares onde viver esta vocação de redescobrir a beleza da fé, a beleza do encontro com Cristo.»

A página institucional comboni.org lista mais de 40 sítios combonianos na rede mundial. E não estão todos lá. Faltam também as páginas pessoais nas redes sociais e blogues… para dizer a fé, a missão, a vida, ou dizer presente na feira global das vaidades.



MISSIONÁRIO JORNALISTA

Eu defino-me como missionário por vocação, comboniano por consagração, padre por ordenação e jornalista por profissão.

A redacção da Audácia de 1986 a 1992 foi a minha primeira destinação missionária. Gostei muito de trabalhar para crianças e adolescentes durante 7 anos, abri-los à vida e à mundialidade.

Em 1993, fui destinado à Etiópia e vivi em duas comunidades com o povo Guji do Sul do país até ao fim do ano 2000. Uma experiência única, um nascer de novo, que partilhei no livro Dias Felizes – Memorial da Missão editado pela Além-Mar.

Em 2001, depois de nove meses de formação permanente no México, voltei para a redacção da Audácia e em 2005 fui nomeado director da Além-Mar e da Audácia.



REDE CATÓLICA DE RÁDIOS DO SUDÃO

Em 2006 recebi um convite que me abriu o mundo novo da radiodifusão, integrando a equipa que ia estabelecer no Sudão (agora do Sul) uma rede de rádios em FM para celebrar a canonização de Daniel Comboni em 2003.

Os três colegas, duas irmãs e um irmão, começaram a formar candidatos a radialistas em Maio de 2006: um trabalho exigente, porque o Sudão saía de 22 anos de guerra civil – a paz tinha sido assinada a 9 de Janeiro de 2005 – e a rede escolar estava destruída. Eu cheguei em Dezembro para por de pé o serviço de informação.

Bakhita iniciou as emissões experimentais a 24 de Dezembro de 2006 com a transmissão da Missa do Galo da Catedral de Juba. Foi oficialmente inaugurada a 8 de Fevereiro de 2007 – Festa de Santa Josefina Bakhita – e iniciou uma caminhada crescente até chegar a 16 horas de emissão por dia.

Chegou no momento oportuno. Em Juba havia Miraya, uma estação FM da ONU, duas rádios comerciais e uma emissora em onda média do governo. As comercias passavam só música porque as notícias eram politicamente perigosas. A Miraya, da ONU, tinha limites institucionais. As pessoas, cheias de entretenimento, queriam formação. E foi o que Bakhita lhes trouxe: formação, informação e distracção.

Escolhemos o modelo das rádios comunitárias e abrimos os microfones aos ouvintes através de fóruns ao estilo da TSF. A grelha de programas misturava evangelização, formação cívica, cultura, saúde e educação. Havia programas dirigidos às crianças, aos jovens e às mulheres em inglês, árabe de Juba e algumas línguas locais. Passava música religiosa, africana e pop. Aos domingos transmitia as missas em inglês e árabe da catedral.

A Voz da Igreja, como dizia a assinatura sonora da Bakhita, tornou-se uma referência no espectro radiofónico de Juba. Há dois anos que era a segunda estação mais ouvida – depois da Miraya – batendo-se com um número de rádios comerciais que entretanto arribaram à capital do Sudão do Sul.

A experiência acumulada de três anos em que testamos equipamentos e soluções para o clima extremo da região permitiu abrir mais oito estações, incluindo uma nos Montes Nubas, uma área do Sudão controlada por rebeldes.

Cada estação foi-se desenvolvendo como pôde, com o dinheiro que gerava com a publicidade e tempos de antena e com ajudas do estrangeiro.

Em 2010 iniciei a redacção central da rede: três jornalistas recolhíamos informação em Juba e tratávamos as histórias que as outras estações enviavam. Fazíamos dois noticiários diários nacionais. Ao todo preparávamos uma média de 16 a 20 peças por dia, distribuídas em inglês – sons incluídos – através da internet. As estações traduziam-nas para as línguas locais.

A Rádio Vaticano permitia usar os noticiários do serviço em inglês com uma boa cobertura da cena internacional. As estações produziam boletins locais.

O governo a princípio foi bastante amistoso com a Bakhita. O «caldo entornou-se» com os fóruns. Os ouvintes batiam forte e feio na elite no poder por causa da corrupção, incompetência e tribalismo, a trindade do mal no país mais jovem do mundo.

No dia 16 de Agosto, o editor de notícias da Bakhita fez uma peça sobre um ataque das tropas do Governo às forças rebeldes em Bentiu, a capital do Estado de Unity, uma das zonas produtoras de petróleo.

O presidente e uma facção do partido iniciaram uma guerra pelo poder a 15 de Dezembro que assumiu contornos étnicos. Já matou mais de 20 mil pessoas e deslocou cerca de 1,8 milhões.

A segurança nacional não gostou da história por dar a versão dos rebeldes. Fechou a rádio e prendeu o editor David Ocen durante quatro dias. Acusaram Bakhita de estar politizada e ir para além do mandato de estação religiosa.

Quase quatro semanas mais tarde, a segurança devolveu as chaves da estação à administração da arquidiocese. A estação continua fechada porque a administração quer rever a proibição de cobrir a política e a qualidade dos funcionários.

A Rede de Rádios Católica (CRN na sigla em inglês) tem dado um grande contributo no Sudão do Sul. Oferece informação isenta e equilibrada. Fez três séries de programas para preparar as eleições de 2010 e o referendo e a independência de 2011. Formou muitos apresentadores, jornalistas e técnicos. É bom ver rapazes e raparigas que deram os primeiros passos connosco a brilharem na TV do estado e nas rádios da competição.



DEUS DAS MARAVILHAS

Quanto a mim, sinto-me tão missionário a trabalhar com as comunidades espalhadas pelas colinas verdejantes e florestas da Etiópia do Sul ou nos cerros à volta da Cidade do México, como a cobrir acontecimentos e preparar notícias, a fazer comentário político na Miraya, a celebrar a Eucaristia debaixo de um pé de manga ou a exercer o ministério de superior provincial.

Os meios de comunicação social são um espaço privilegiado que abrem um sem número de modos e meios para dizer «as maravilhas de Deus» em todas as línguas (Act 2:10), incluindo a digital. É essa a nossa missão!

22 de setembro de 2014

PROJETO FAMÍLIA




© JVieira

Mais de 250 jovens e adultos passaram o fim-de-semana a avaliar a «Família – um projecto» nas Jornadas Missionárias 2014 e III Jornadas Nacionais da Pastoral Juvenil, em sintonia com a Igreja que em outubro celebra a III Assembleia Geral Extraordinária do Sínodo dos Bispos sobre os desafios pastorais da família no contexto da evangelização.

Dom António Moiteiro, bispo de Aveiro e membro da Comissão Episcopal Missão e Nova Evangelização, abriu os trabalhos, vincando que a família deve viver o dinamismo de ser discípula missionária numa identificação maior com Cristo ressuscitado.

As jornadas começaram com um painel sobre a família hoje em que intervieram a psicóloga Margarida Cordo e o teólogo Pedro Valinho. O professor catedrático Joaquim Azevedo, coordenador do grupo de trabalho nomeado pelo Governo para aumentar a natalidade em Portugal, enviou uma síntese das suas conclusões.

O Professor Azevedo partilhou alguns dados relevantes:
  • os casais portugueses desejam ter em média 2,31 filhos mas têm só 1,2;
  • há quatro anos havia 100 mil nascimentos/ano; agora são só 80 mil;
  • em 2060 seremos 7 a 8 milhões;
  • nessa altura, o número de ativos por cada 100 idosos vai passar de 340 para 110;
O estudo apresentado salienta que as políticas do governo para aumentar a natalidade estão desconexas e é necessário uma nova política pública para tornar o país viável, removendo os obstáculos à natalidade mais do que dar benefícios.

«Uma das melhores formas de restituirmos a vida que nos foi dada é termos filhos», concluiu.

A Drª Cordo recordou que a família deve estar ao serviço da vida, educar, ser lugar de amor e de alegria, guardiã da dignidade humana e da esperança no amanhã.

«Fortalecer a família é aproximá-la de Deus porque Deus é amor», concluiu.

Na parte de tarde, os participantes escolheram um dos seis workshops temáticos: Pastoral familiar no contexto da evangelização; Como enfrentar situações difíceis: uniões de facto, recasados…; Jovens e namoro – descoberta vocacional; Família e voluntariado missionário; Abertura à vida – natalidade, fecundidade e trabalho; e Desafios sociais e políticas familiares.

O jornalista Joaquim Franco moderou o plenário. «Vivemos um tempo em que o bem comum devia tirar-nos o sono, porque os perigos que o bem comum enfrenta são um pesadelo», afirmou.

O grupo FigoMaduro animou a sessão da noite que incluiu testemunhos de jovens que fizeram experiências missionárias em diversas partes do mundo.

No domingo, Dom António Couto, bispo de Lamego, apresentou uma reflexão muito interessante sobre Evangelho e missão da família. Recordou que «o amor que está em nós ou em que estamos nós não é nosso, é amor dado», «remissivo, que remete para outrem, para Deus.» «Quando nasce um filho é também Deus que bate à nossa porta, que se senta à nossa mesa, que nos visita.»

Dom António recordou que «respondemos ao débito que nos liga à geração anterior com um crédito à geração seguinte», reconhecendo que «o mundo em que estamos tem muita dificuldade em transmitir a vida, a fé e a graça.»

E concluiu: «A vida é uma restituição para a frente. Impõe-nos não a autoconservação mas a missão para restituir a vida a quem no-la deu.»

Na parte de tarde um painel de figuras públicas que incluiu Tozé Martinho e Jorge Gabriel, moderado por Manuel Vilas Boas, debateu o tema Família e comunicação – visão antropológica e filosófica.

19 de setembro de 2014

FREI BENTO DOMINGUES


O teólogo dominicano Frei Bento Domingues foi hoje homenageado pelos 80 anos de vida e mais de 1000 crónicas dominicais que escreveu nos últimos 22 anos no Público.

Mais de 500 pessoas passaram pelo Auditório dois da Gulbenkian durante o dia, incluindo Jorge Sampaio, Maria Barroso, o constitucionalista Jorge Miranda, o historiador José Mattoso, o filósofo Eduardo Lourenço, Dom Januário Torgal, as escritoras Lídia Jorge e Inês Pedrosa, para homenagear o teólogos original e marginal.

A sessão intitulada «Cidadania, Cultura e Teologia na Praça Pública» foi composta por painéis de debates sobre liberdade, paz e utopias, Da crónica de jornal à intervenção na cultura e na sociedade, tentando responder à pergunta se Jesus e a Igreja ainda interessam à sociedade portuguesa.

O P. Anselmo Borges recordou que «a Palavra viva e criadora para lá da vozearia acende-se no silêncio que fala.»

Lídia Jorge exortou a «não deixar de sonhar a humanidade desfigurada.»

Francisco José Viegas recordou que «Deus vive no deserto e falar de Deus é falar com o deserto.»

O Pastor Dimas de Almeida anatou que o primeiro grande cisma da Igreja foi a ruptura com a sinagoga.

Ana Vicente do movimento Nós somos Igreja recordou que a Igreja tem que ser mais inclusiva em relação às mulheres.

Miguel Oliveira da Silva notou que Frei Bento Domingues não interessa à Igreja portuguesa que esteve ausente da homenagem.

Recordou que a Igreja tem uma enorme dificuldade em lidar com a sexualidade e que a total falta de transparência sobre a sexualidade na Igreja incomoda-o.

O sindicalista Manuel Carvalho da Silva fez uma análise sociopolítica dos escritos de Frei Bento classificando-o como «teólogo dos tempos do futuro», «que desconstrói a religião que se apoia na ira dos deuses.»

«A humanização da religião é que a torna divina», sublinhou.

Frei Bento Domingues concluiu as jornadas lendo e reflectindo sobre alguns textos do Novo Testamento.

Sublinhou que o nucleal da mensagem de Jesus é reunir os filhos de Deus dispersos alargando a sua família ao mundo inteiro.

«Viemos a este mundo para ver se fazemos a alegria dos outros!», proclamou.

E acrescentou: «A primeira graça de Deus é a nossa “cachola”, a nossa capacidade de imaginar e trabalhar e questionar.»

Desejou que as suas crónicas sirvam «para picar outras pessoas a fazer melhor porque para pior já basta assim.»

E quer que fique gravado como epitáfio: «Não estou aqui!»

A homenagem serviu para lançar a obra A Insurreição de Jesus, o segundo volume das crónicas de Frei Bento coordenado Maria Julieta Dias e o jornalista António Marujo.

16 de setembro de 2014

COMBONIANA NA EVANGELIZAÇÃO DOS POVOS


A superiora geral das Irmãs Missionárias Combonianas foi nomeada membro da Congregação para a Evangelização dos Povos, anunciou a Sala de Imprensa do Vaticano no sábado.

A Ir Luzia Premoli é a primeira mulher a integrar a congregação romana encarregada da evangelização.

É brasileira, tem 59 anos e trabalhou em Moçambique de 1989 a 1997.

A Ir. Luzia é a primeira geral não italiana das missionárias combonianas.

Começou o seu mandato a 8 de dezembro de 2010.

«Sinto uma gratidão profunda pela confiança que me foi dada. Esta nomeação não é reconhecimento da minha pessoa, mas o que represento neste momento: nomeadamente as Irmãs Missionárias Combonianas», disse ao saber da nomeação.

E acrescentou: «Também acho que a minha nomeação está na linha do desejo do Papa Francisco de ter mais mulheres nos dicastérios vaticanos.»

O Papa Francisco restruturou a Congregação para a Evangelização dos Povos nomeando 20 novos membros: 6 cardeais, 10 bispos, 3 padres e uma freira.

Os novos membros vêm da Ásia (5) das Américas (5), África (2), da Europa (2), dos serviços diplomáticos (2) e da Austrália (1).

Com a Ir. Luzia há mais dois superiores gerais na Propaganda Fide: dos Frades Menores Franciscanos e dos Oblatas de Maria Imaculada.

O Papa nomeou ainda dois consultores: um bispo mexicano e outro espanhol da Opus Dei.

A Congregação supervisiona a propagação da Fé pelo mundo inteiro, com a específica competência de coordenar todas as forças missionárias, de proporcionar directivas para as missões, de promover a formação do clero e das hierarquias locais, de incentivar a fundação de novos Institutos missionários e de prover às ajudas materiais para as actividades missionárias.

15 de setembro de 2014

CARTA PARA OS 150 ANOS DO PLANO


O PLANO NA HISTÓRIA DOS FILHOS E FILHAS DE COMBONI
AO LONGO DESTES 150 ANOS

“Desde 1857, quando me encontra na missão dos Kich no Rio Branco, aqui na África Central, passei por todas as provas deste difícil apostolado. E tendo estado onze vezes a ponto de morrer por causa do clima e das enormes fadigas, vi‐me na necessidade de regressar à Europa, onde, após alguns anos, já restabelecido, pensei no modo de voltar a este campo de batalha para nele sacrificar a vida para a salvação dos negros. Foi a 18 de setembro de 1864 quando, ao sair do Vaticano, onde tinha assistido à beatificação de Margarida Maria Alacoque, me veio à mente apresentar à Santa Sé, a ideia do Plano para retomar o apostolado da África Central. O Sagrado Coração de Jesus fez-me superar todas as enormes dificuldades para realizar o meu Plano para a Regeneração da África, com a própria África” (Escritos 3302).

Aos membros dos Institutos combonianos
A todas as pessoas que se inspiram
no carisma de são Daniel Comboni

1. Cordial saudação
Queridas e queridos,
Com esta mensagem, queremos celebrar os 150 anos do Plano para a Regeneração da África, aquele Plano em relação ao qual Daniel Comboni sentiu a necessidade de fundar, em Verona, o Instituto das Missões para a Nigrizia, com a variedade de seus membros: homens e mulheres, religiosos e leigos.
Nascidos do Plano e para o Plano, não podemos esquecer que este é o legado que nos deixou o Pai Fundador, uma herança preciosa que, ainda hoje, a família comboniana quer acolher e conservar com profunda gratidão, responsabilidade e compromisso.
Nós, os responsáveis dos Institutos que ele fundou – Irmãs Missionárias Combonianas Pie Madri della Nigrizia e Missionários Combonianos do Coração de Jesus – e das outras expressões missionárias que se inspiram em seu carisma – Missionárias Seculares Combonianas e Leigos Missionários Combonianos – cientes também de tantas outras pessoas e grupos de leigos que, cada vez mais numerosos, e de várias maneiras, vivem connosco a paixão missionária comboniana, quisemos escrever esta carta para compartilhar uma pequena reflexão sobre o Plano que continua a acompanhar a nossa vida missionária e nos desafia a tornar‐nos resposta para as várias situações missionárias que vivemos hoje em todos os lugares onde estamos presentes.
Com esta carta, também queremos expressar o nosso desejo de mostrar a relevância e a validade das intuições que São Daniel Comboni foi capaz de reunir nas páginas do Plano, reconhecendo que foi um instrumento verdadeiro e eficaz para o trabalho missionário, realizado por tantos irmãos e irmãs durante estes 150 anos, primeiro na África e, posteriormente, em outras partes do mundo.
Queremos que a nossa reflexão seja, se possível, também uma forma de celebrar este aniversário, deixando‐nos tocar pelas urgências da missão que, apesar dos esforços consideráveis, realizados para levar o Evangelho a todos os que estão distantes, continuam a nos desafiar. Nós gostaríamos de ouvir de novo, por meio dos pensamentos impressos no Plano, o grito de São Daniel Comboni que nos chama para consagrarmos a nossa vida àqueles que são no mundo de hoje os mais pobres e os mais abandonados, que têm direito de receber o anúncio da Palavra.
Achamos que é também uma oportunidade para agradecer ao Senhor pelo dom do Espírito que trabalhou no coração do nosso Fundador e na vida de muitos de nós que foram capazes de realizar o Plano para a Regeneração da África com a alegre doação de suas vidas na missão e para a missão.
Esperamos que estas linhas sejam um convite para continuarmos a viver a nossa consagração com a mesma paixão que moveu são Daniel Comboni desde o momento da primeira redação.

2. O Plano: uma vida, mais que um documento
Uma das primeiras impressões que se tem na leitura do Plano é, sem dúvida, de ser confrontados com um texto onde se respira vida, onde há paixão intensa e um grande desejo de encontrar as formas mais adequadas para responder à necessidade que os homens e as mulheres de todos os tempos têm de se encontrarem com Deus.
O Plano, portanto, não é um documento frio com regras definidas, onde tudo foi planejado e calculado. Em suas páginas respira‐se um ar que expressa o sonho, o desejo, a urgência de transmitir vida e as intuições de quem crê na possibilidade de realizar o que muitos consideram impossível.
Percebe‐se um forte desejo de não abandonar a missão, especialmente no momento em que crescem as dificuldades e o futuro parece incerto. É um texto que exala a fragrância da fé, que encoraja a seguir em frente na certeza de que se trabalha para uma obra querida por Deus. No Plano fala‐se de um projeto que acompanha a vida e leva a concentrar todas as forças em uma única tarefa, de algo que se apropria de todo o coração, e não deixa espaço para outra obra que não seja a da missão. É uma ideia que vive com toda sua força mais no coração do que na cabeça: esta é uma forma concreta de traduzir em obra o amor que é reconhecido no coração.
O plano, na verdade, não nasceu na cabeça de Comboni, não é o resultado de sua especulação; ao contrário, nasceu do desejo de se tornar um instrumento de Deus para manifestar o amor a quem tem direito, todos seus filhos e filhas. Se nos lembramos do que Comboni escreveu em sua carta de 31 de Julho 1873, a Mons. De Girardin, vemos claramente que o Plano foi, antes de tudo, uma experiência e, em seguida, uma proposta por escrito.

3. Uma resposta missionária nascida da realidade
Ouçamos novamente o que nos diz Comboni: passei por todas as provas deste difícil apostolado... pensei no modo de voltar a este campo de batalha para nele sacrificar a vida para a salvação dos negros (Escritos 3302). O Plano não é uma simples estratégia pastoral, mas uma leitura e assimilação da realidade, cujos desafios tornam são Daniel criativo e capaz de realizar um trabalho que tenha chances de sucesso para a missão.
Esse vem, portanto, da capacidade de ler e compreender a realidade em que estamos presentes, e interagir com ela. Uma realidade marcada pela escravidão, pelos critérios de lucro e da exploração, da impossibilidade, para os africanos, de viverem de acordo com a sua dignidade. Uma realidade onde os valores do Reino foram ignorados ou negados. Nesse contexto, o Plano se revela como obra humilde e inteligente ao mesmo tempo. Ao olharmos para as nossas presenças missionárias e para a realidade dos ambientes em que atuamos, quantas vezes somos obrigados a reconhecer que a realidade, ainda hoje, não é muito diferente? Ainda hoje, na verdade, muitas vezes somos testemunhas de violência, violação dos direitos humanos, de exclusão e escravização de muitos dos nossos irmãos e irmãs.

4. Uma grande intuição
Lendo o Plano, é fácil descobrir uma multiplicidade de ideias, projetos, recursos a serem utilizados, que giram em torno de uma única ideia: é uma obra para a qual todos aqueles que se veem desafiados pela missão são chamados a contribuir, tornando a missão uma obra da Igreja.
“A Obra deve ser católica, não espanhola, francesa, alemã ou italiana. Todos os católicos devem ajudar os pobres negros, porque uma nação só, não pode socorrer toda a raça negra. As iniciativas católicas, como a do venerável Olivieri, a do Instituto Mazza, a do Padre Ludovico, a da Sociedade de Lião, etc., fizeram, sem dúvida, muito bem a um número de pessoas negras; porém, até agora, ainda não se começou a implantar o catolicismo na África e a fazê‐lo arraigar aí para sempre. Pelo contrário, como o nosso Plano, nós aspiramos a abrir a via da entrada da fé católica em todas as tribos de todo o território em que vivem os negros. E para obter isto, parece‐me, devem unir-se todas as obras até agora existentes, as quais, tendo desinteressadamente perante os olhos o nobre fim, deverão deixar de lado os seus interesses particulares (Escritos 944).
É uma obra em que não há espaço para os protagonismos ou para as pretensões de querer agir sozinhos. O Plano é um trabalho de colaboração que envolve todos aqueles que respondem com um coração generoso e deixa claro que a missão é um dom recebido e oferecido gratuitamente na alegria.
Comboni pensava em um grande “movimento missionário” para envolver todos e tudo na missão para a África, ele esperava encontrar “aprovação, apoio e ajuda no coração dos católicos de todo o mundo”. Por isso, ele percorreu longas distâncias, também pela Europa, pensando inclusive de chegar à América, para procurar colaboradores, ajudas económicas, apoio espiritual...
A partir deste impulso, surgiram os Institutos Combonianos, e, mais tarde, o Instituto das Missionárias Seculares Combonianas e os Leigos Missionários Combonianos. Mas a obra é ainda mais extensa e continua a inspirar e motivar tanto aqueles que adotaram uma forma de vida consagrada quanto quem, como batizado, sente‐se chamado para a missão. Continua para todos o desafio de como unir forças e vontade, para cooperar e dar um impulso contínuo à missão.

5. Inspirado por um encontro
“Creio que este plano è obra de Deus, porque me veio à mente a 15 de setembro, enquanto fazia o tríduo à Beata Alacoque; e no dia 18, em que essa serva de Deus foi beatificada, o Cardeal Barnabó terminava de ler o meu Plano. Trabalhei nele quase 60 horas seguidas” (Escritos 926).
O Plano, portanto, é o resultado de um longo processo de pesquisa, perguntas, consultas e da própria experiência difícil, mas não é só isso. Há um outro fator que não deve ser esquecido: é o resultado de um encontro com o Senhor, as horas dedicadas à oração, buscando a vontade de Deus em toda aquela aventura. Comboni não teve dúvida ao reconhecer que o Plano foi um dom de Deus, graça mediada por Maria, poder do Espírito que se mostrou generoso com suas inspirações. Neste sentido, o Plano é uma forma concreta de dizer que a obra missionária não é negócio humano. A missão é obra de Deus e, como todas as suas obras, exige muita fé, que só pode vir no silêncio da oração, no encontro que permite ouvir a vontade de Deus.

6. Uma experiência vivida pelas filhas e filhos de Comboni
6.1 Um olhar no passado, para melhor traçar o futuro
Não foram poucos esses filhos e filhas, a começar pelos primeiros 22 que a 29 de novembro de 1867, guiados por Daniel Comboni, partiram de Marselha com destino ao Egito. Eram dezesseis meninas africanas – nove das quais do Instituto Mazza em Verona –, três Irmãs de São José da Aparição e três religiosos Camilianos.
A primeira etapa da viagem era o Cairo, onde começaria a implementação do Plano, dando vida aos primeiros daqueles "Institutos preparatórios" que deveriam "circundar a África".
Dois anos depois, em 1869, também no Cairo, Daniel Comboni confiou a direção de um terceiro instituto, a "Sagrada Família", a quatro educadoras africanas, uma delas era a jovem Dinka Domitilla Bakhita. Era uma escola paroquial feminina e pública, aberta a meninas de todo rito e religião, incluindo o islamismo.
Foi um momento importante: o objetivo principal do Plano – Regenerar a África com a África – começava a se tornar realidade. Uma realidade que Comboni reforçou quatro anos depois, quando incluiu as jovens professoras africanas na expedição que, em 1873, ele mesmo guiou primeiro do Cairo a Cartum e em seguida de Cartum a El‐Obeid, onde confiou a Domitilla, Fortunata Quascè e Faustina Stampais a fundação da “Obra feminina” do Cordofão. Finalmente, em 1881, o Bispo Daniel enviou como pároco à comunidade promissora de Malbes, no Cordofão, Pe. António Dobale, da tribo dos Galla, um dos onze “meninos Negros” que o Instituto Mazza acolhera em 1860 e que em 1878 Propaganda Fide tinha ordenado sacerdote para a África Central.
Nesse ponto, Daniele Comboni se sentia satisfeito com seus missionários: padres, irmãs (Pie Madri della Nigrizia), leigos e leigas. Uma confiança merecida, como demonstrou o trágico acontecimento daquele outono de 1881, a morte inesperada do Fundador.
Naquele momento, manifestou‐se fortemente, para as Pie Madri della Nigrizia, a figura de Madre Bollezzoli que, com a carta de 18 de outubro de 1881, exortava firmemente as irmãs a permanecerem fortes seguindo as pegadas traçadas pelo Fundador: "não volteis atrás, mas caminhai corajosamente nas pegadas do vosso magnânimo Pai". E continuou a seguir a inspiração do Plano, formando, ao longo do tempo, centenas de irmãs que partiam para a missão na África.
A irrupção da Mahdia, quando os missionários e missionárias enfrentaram a prisão, o martírio, e o êxodo forçado, foi uma experiência forte que deixou sua marca e testou a fidelidade ao Plano de Comboni.
Aqueles que conseguiram fugir para o Egito com Mons. Sogaro, tiveram também que lidar com o momento delicado da "passagem", da transformação do Instituto originário a uma congregação religiosa masculina (1885).
E quando os primeiros Filhos do Sagrado Coração chegaram ao Egito, era evidente que algo havia mudado na escala de valores indicada pelo Fundador: agora, antes mesmo das necessidades da missão, era o espírito religioso – muito salientado durante o noviciado, pelos padres Jesuítas – que devia inspirar e orientar a vida da Comunidade.
Criava‐se uma dolorosa e sofrida tensão entre instituição e carisma. Naquele tempo de mudanças, os que mais sofreram e suportaram as consequências foram principalmente os leigos e as meninas africanas que, de alguma forma, viram‐se excluídos da instituição. Nem foi essa a única vez que pareceu diminuir a fidelidade ao carisma: não podemos deixar de registrar o fato doloroso da divisão dos combonianos em duas Congregações separadas.

6.2 Do Plano para a África e o mundo
Continuamos a dirigir o nosso olhar para a história: se a fidelidade ao Plano não se mostrava tão evidente entre os novos grupos de pessoas que continuavam a chegar ao Egito durante o tempo da diáspora, certamente não se podia dizer que tivesse diminuído o amor pela missão ou a paixão pela África.
Na verdade, o fim da Mahdia em 1898 viu todos os Filhos do S. Coração e as Pie Madri della Nigrizia prontos para retornar. Ademais, o Sudão, como território missionário, fora confiado à jovem congregação masculina (1894).
É só folhear as páginas de Nigrizia para ver a doação, por exemplo, dos vigários apostólicos Antônio Maria Roveggio e Francesco Saverio Geyer. O famoso barco da missão, recolocado em atividade, embora com nome diferente, retomou logo, ao longo do Nilo, a exploração do território que a Mahdia tinha forçado a abandonar. Em 1902 foi aberta, não muito longe de Gondokoro, entre os Shilluk, a missão de Lul.
Costanza Caldara (superiora geral das Pie Madri de 1901 a 1931) estava atenta às necessidades das novas missões; em 1900, Francesca Dalmasso e Maria Bonetti foram as primeiras entre as irmãs que estavam prontas, para retornarem ao Sudão e, se necessário, irem além. Nos anos seguintes, novas comunidades foram abertas em outros Países da Europa e Oriente Médio; e a partir dos anos cinquenta do século passado, as combonianas e os combonianos estenderam sua presença nas Américas.
Das meninas africanas que Daniel Comboni tinha acompanhado com cuidado, para que chegassem a “ser apóstolas na sua nação, com base no Plano” (Escritos 2012), infelizmente nada mais se falou. Isto nos leva a compreender como um aspecto da instituição, em um certo tempo, tenha sido deixado de lado. Em parte é ainda assim: também hoje temos dificuldade para sairmos de um determinado protagonismo institucional a fim de valorizarmos a catolicidade do Plano, como Daniel Comboni desejou e previu.
O Plano, no entanto, não foi totalmente esquecido. Em torno de 1938, enquanto nas várias províncias e vicariatos da África Central confiados aos Filhos do S. Coração, multiplicavam‐se os seminários que recebiam jovens africanos, um grupo de moças ugandesas manifestava o desejo de se consagrar a Deus na jovem Igreja particular.
Graças à sensibilidade dos combonianos e combonianas no acompanhamento destes grupos – bem como de outros, que surgiram ao longo dos anos – ficamos felizes ao ver hoje que vários destes grupos tornaram‐se congregações locais autónomas, algumas com um forte espírito missionário expressado com comunidades em outros continentes, concretizando, deste modo, o sonho de Comboni.
Isso significa que, mesmo na ausência de uma declaração expressa das vontades, havia entre os filhos e filhas de São Daniel uma espiritualidade que sustentava a fidelidade ao espírito do Plano. Os Capítulos Gerais Extraordinários dos Institutos e a celebração dos centenários de fundação foram momentos fortes em que se fez uma profunda reflexão sobre a identidade carismática, sobre a espiritualidade e sobre o Plano de Comboni. Estes acontecimentos impulsionaram a pesquisa e o conhecimento direto dos Escritos de Comboni e da história dos Institutos. Em seguida, à luz dos documentos do Concílio Vaticano II e da expansão das congregações fora do continente Africano, iniciou‐se uma reflexão profunda sobre a identidade do carisma na fidelidade ao Plano, que envolveu todos os membros.
Ao longo dos anos, o trabalho – em conjunto – de “homens e mulheres”, como religiosos e religiosas, missionários e missionárias, trouxe alegria, ajuda mútua, crescimento, mas também fadiga, incompreensões e até mesmo divisões e feridas. Com a nova consciência da mulher sobre si mesma e de seu papel na Igreja e na sociedade, também as “Pie Madri della Nigrizia” reavaliaram o perfil que Comboni queria para elas no Plano: “Eu fui o primeiro a fazer com que colabore no apostolado da África Central o omnipotente ministério da mulher do Evangelho e da Irmã da caridade, que é o escudo, a força e a garantia do ministério do missionário” (Escritos 5284).
Ao continuarmos o nosso percurso histórico, vemos que nos anos cinquenta do século passado, por intuição de um Missionário Comboniano, teve início o Instituto das Missionárias Seculares Combonianas, com a finalidade da cooperação missionária, ou seja, suscitar iniciativas e envolver a todos na missão. Esta intuição foi confirmada pelo Concílio Vaticano II, que trouxe uma nova consciência laical, da sua vocação específica na missão e de seu protagonismo total na missão.
Isso é demonstrado pela última expressão na ordem do tempo: o nascimento dos Leigos Missionários Combonianos e pela formação de grupos de leigos e leigas que, inspirados pelo carisma comboniano, se sentem como enriquecimento para toda a Família comboniana e para a Igreja missionária.
O resultado mais evidente que o espírito do Plano continuou a dar é a abundância de vocações religiosas e laicais à missão, provenientes de países que antes eram considerados “terra de missão”. Temos diante de nós um grande dom que devemos olhar, conscientes de que nos desafia a abraçar sem reservas e com entusiasmo a interculturalidade da missão hoje.
Como podemos ver, é um longo, rico e às vezes fadigoso caminho da Família comboniana, um caminho que merece e exige mais atenção hoje. É para aumentar a consciência e a firme determinação de cada um para trabalhar e ser missionários e missionárias na perspectiva do Plano em sua mais íntima energia e originalidade.

6.3 Vitalidade e atualidade do Plano
Estamos todos de acordo em reconhecer que a Igreja vive hoje um momento especial em relação à sua consciência missionária. Papa Francesco, desde o início de seu pontificado, ao dar a seu ministério de Bispo de Roma, um tom peculiar, sublinhou a urgência, a importância e a necessidade, por parte de cada cristão a viver a vocação missionária. Seu convite para sair, para ir às periferias existenciais para encontrar os irmãos e irmãs mais pobres, está despertando em toda a Igreja um novo espírito, que nos torna conscientes do tesouro que temos no Evangelho e da importância de comunicá‐lo, para experimentar a alegria profunda.
Neste contexto de novo envio e de clareza sobre a necessidade de assumir a dimensão missionária do nosso batismo, estamos lidando com uma linguagem e uma proposta que fazem ver a missão como uma obra pertencente a todos, na medida em que nos reconhecemos discípulos de Jesus e associados à sua missão.
Este compromisso – dizem‐nos – não pode ser responsabilidade apenas de um pequeno grupo ou de alguns que se sentem particularmente chamados a dar a vida para a missão; ao contrário, é um compromisso e trabalho de toda a Igreja: aqui certamente aparece a grande atualidade e vitalidade do Plano.

6.4 Partir novamente como Família comboniana e com o espírito do Plano
Desde 1996, e especialmente desde 2003, Comboni Santo se reapresenta a todos nós mais vivo e mais presente do que nunca com seu carisma, fazendo‐nos reencontrar, para juntos festejá‐lo. Eventos como a beatificação e a canonização foram momentos privilegiados para um conhecimento e celebração que também permitiram reconciliação e renovação de forças em torno do pai comum. Com alegria pudemos ver que, para celebrar momentos tão importantes, para não dizer únicos, da história comboniana, estávamos novamente todos: Irmãs Missionárias Combonianas, Missionários Combonianos do Coração de Jesus, Missionárias Seculares Combonianas, Leigos Missionários Combonianos e outros grupos de Leigos e Leigas.
Unidos, também se diferentes, cada um com as próprias Constituições e um projeto específico de trabalho apostólico.
O evento do Aniversário que celebramos este ano, nos impulsiona a fazer memória do que já foi vivido, para um reavivamento que acolha os desafios e as perguntas que a realidade nossa e da vida missionária nos propõem. Comboni deixou‐nos um estilo de ministerialidade fortemente enraizado em sua experiência mística e na paixão para a pessoa e para a missão. Esta sua experiência e paixão são inseparavelmente presentes nos vários aspectos – espiritual, místico, profético e metodológico – do Plano para a Regeneração da África.
As rápidas mudanças no mundo de hoje e os desafios das Igrejas e dos povos com quem vivemos, fazem surgir em nós a urgência de aprofundar, através de uma reflexão sistemática, a nossa ministerialidade comboniana vivida como chamada profundamente enraizada em Deus, participação na maternidade/paternidade de Deus que gera vida em um dom total e gratuito, fraternidade com Jesus, entre nós e as pessoas que servimos na poeira do seu caminho, encarnação da nossa espiritualidade, presença na história junto dos pobres e dos excluídos, caminho com os povos, para que todos tenham vida e vida em abundância, consciência da temporaneidade de nossa presença e serviço, acreditando nas pessoas, nas suas capacidades de regenerar‐se e na metodologia do diminuir, para que os outros cresçam.
Por isso, é importante para nós assumir a justiça, a paz e a integridade da Criação (JPIC) e o diálogo e a reconciliação como valores transversais que permeiam todos os ministérios. É igualmente importante para nós a revisão da nossa metodologia nos ministérios: o fazer causa comum, o ser pedra escondida para que outros cresçam, a inculturação e a inserção, o compromisso de trabalhar em rede/colaboração (com Igrejas locais, com a Família comboniana, com outras congregações, com organizações várias), abertos ao novo que se move na consciência da sociedade e em suas expressões.
Na escolha dos nossos ministérios, é necessário que nos deixemos ser desafiados pelos desafios emergentes, em especial pelo fenómeno do tráfico de pessoas, particularmente de mulheres e meninos/as, pela imigração e refugiados, pela situação dos povos afrodescendentes, indígenas e pastores nómadas, para darmos respostas significativas hoje.
A reflexão sobre a missão em diálogo é de particular importância para cada um/a de nós, porque o mundo está se movendo em direção a um pluralismo religioso e cultural, desafiando as nossas convicções e nossa metodologia.
A herança carismática molda a nossa abordagem pastoral nos vários ministérios e abre as nossas mentes e os nossos corações para a dimensão essencial do diálogo, chamando-nos a "sermos um sinal do amor de Deus no mundo, que é amor sem nenhuma exclusão nem preferência". Somos chamados/as, portanto, a tornar‐nos sinal profético no diálogo e no serviço, ponte entre os povos, através da experiência cotidiana demissão, vivendo lado a lado com os povos de diferentes culturas e fé.
Este diálogo se manifesta nos gestos simples do cotidiano e no encontro com outras Igrejas e Comunidades cristãs, para se tornar um sinal de anúncio de Cristo, fonte de unidade; com as religiões nãocristãs, especialmente com as religiões tradicionais e o Islã, para ser sinal profético na busca comum de Deus; com as culturas, para transformar a humanidade através do compromisso comum de um mundo mais justo.
A espiritualidade herdada do Plano, este "sentir o próprio coração bater em uníssono com o Coração de Cristo", encoraja-nos a levar o "beijo da paz" a qualquer periferia geográfica e existencial, porque a África de Comboni tornou‐se critério para reconhecer no mundo onde estão os "mais pobres e abandonados" e onde estão as "pegadas do nosso magnânimo Pai", e continuarmos a ser fiéis ao seu Plano no hoje da história, após 150 anos.

7. Conclusão
Queridas e queridos,
Portanto, temos muitos motivos para comemorar este evento, tantas razões para sermos orgulhosos disso e desafiados ao mesmo tempo, tantas razões para refletir.
Com São Paulo, o grande apóstolo missionário, dizemos: E o próprio Senhor nosso Jesus Cristo e Deus nosso Pai, que nos amou, e pela sua graça nos deu uma eterna consolação e uma boa esperança, console os vossos corações e os confirme para toda boa obra e palavra” (2 Ts 2, 16‐17).
Muitos de nós somos movidos pelo dom que Jesus deu à sua Igreja e a cada um de nós em São Daniel Comboni e no fruto da sua criatividade obediente, o Plano para a regeneração da África. Trabalharemos com os olhos fixos no mesmo objetivo que Comboni tinha nos olhos e no coração, também se todos não faremos a mesma coisa ou não a faremos do mesmo modo. O reconhecimento mútuo, o respeito e a valorização da diversidade de serviços e de papéis fortalecerão a comunhão e permitirão que sejamos testemunhas no mundo missionário, de uma diversidade finalmente reconhecida e reconciliada.
Queremos, na verdade, que na Família comboniana de hoje haja espaço para a diversidade reconhecida na igualdade do estilo de vida; queremos aprender a reconhecer os talentos de cada grupo para fazê‐los frutificar em função do Reino, trabalhando em rede...
Que todos os nossos irmãos e irmãs santos e mártires, começando com os prisioneiros da Mahdia, nos ajudem. Ajude‐nos sobretudo nosso pai São Daniel que nos queria “santos e capazes”, capazes de relações novas e verdadeiramente evangélicas, capazes de vivermos a igualdade na diversidade, fazendo causa comum com os pobres e os excluídos, sem tirar‐lhes o direito de serem sujeito das próprias escolhas de vida e do próprio caminho de fé.
Só assim poderemos responder de forma eficaz aos grandes desafios emergentes que o mundo nos apresenta.
Roma, 15 de setembro de 2014
150 anos do Plano para a Regeneração da África

Os Missionários Combonianos do Coração de Jesus
As Irmãs Missionárias Combonianas
As Missionárias Seculares Combonianas
Os Leigos Missionários Combonianos

14 de setembro de 2014

PLANO PARA A REGENERAÇÃO DA ÁFRICA


Os Missionários Combonianos celebram a 15 de setembro os 150 anos da estratégia de São Daniel Comboni para a evangelização da África. Um esboço que começou como projeto de conversão e evoluiu para plano de regeneração.

Daniel Comboni intitulou o seu projeto para a evangelização da África «RESUMO DO NOVO PROJECTO da SOCIEDADE DOS SGDOS. CORAÇÕES DE JESUS E MARIA PARA A CONVERSÃO DA ÁFRICA PROPOSTO à S. CONGREGAÇÃO DE PROPAGANDE FIDE por P.e Daniel Comboni do Insto. Mazza 1864».

Na quarta edição, sete anos mais tarde, o título mudou para «PLANO PARA A REGENERAÇÃO DA ÁFRICA PROPOSTO POR P.e DANIEL COMBONI MISSIONÁRIO APOSTÓLICO DA ÁFRICA CENTRAL SUPERIOR DOS INSTITUTOS DE NEGROS DO EGIPTO QUARTA EDIÇÃO Verona Tipografia Episcopal de A. Merlo 1871 REGENERAÇÃO DA ÁFRICA COM A ÁFRICA.»

A mudança é significativa a vários títulos…

EDIÇÃO DE 1864

Dois olhares sobre a África: Comboni no Prólogo contrasta o olhar dos exploradores do século XIX e a do filantropo cristão: os primeiros querem desvendar os mistérios da África nos campos do conhecimento e do comércio enquanto os últimos olham para s condição dos africanos e procuram uma resposta através da «fraterna comiseração» e «eficácia da cooperação» «para o melhoramento da sua triste sorte» (E 801).

Decentralização: Comboni advoga a decentralização da missão para a conversão dos negros da Europa para as periferias da África (E 806) e fala da necessidade de um novo projecto, um novo «caminho possível» (E 809-810).Ele acredita que a «caridade do Evangelho pode oferecer ajudas e remédios comuns para a regeneração dos negros» (E 811). Apesar de o título indicar a conversão dos negros, a sua regeneração já está na mente de Comboni.

Global: O projecto é global, para toda a África, e inclui institutos masculinos e femininos, seminários, universidades, escolas técnicas de especialização (E 813; 838; 839).

Subsidiariedade: a evangelização da África é obra dos africanos; os institutos religiosos assistem na formação de catequistas, professores ou mestres e artesãos (E (823).

Inculturação: Exige dos institutos participantes a inculturação de um governo adaptado às condições locais (E 825). O curso básico para a formação de padres devia ser reduzido de 12 para seis até oito anos devido ao «amadurecimento precoce» dos africanos (E 831).

Mulher: A mulher tem um papel essencial: a regeneração da grande família dos negros «depende absolutamente» da «sociedade feminina africana» (E 829). Sugere a criação de Virgens da Caridade para o ensino e o ministério feminino (E 833).

Comité: Comboni propõe o estabelecimento de um comité de eclesiásticos e leigos para gerir e financiar o empreendimento missionário (E 841-842).



EDIÇÃO DE 1871

A IV edição fala de plano em vez de projeto e de regeneração em vez de conversão. O plano é mais cordial: «coração que bate», «amor que faz partir»… (E 2742).

O texto é mais longo e detalhado (a 1.ª edição tem 4,444 palavras e a 4.ª 5,378)

Salvar a África com a África: A visão de Comboni toma forma nesta edição e é incorporada no título. Trata-se de uma das frases de Comboni mais repetidas pelos jovens sul-sudaneses. Usando a linguagem moderna, a missão deve empoderar os africanos a serem os fatores da sua própria história (Ver E 3302).

Plano para planos: O Plano é um primeiro momento que vai dar origem a novas ideias, luzes, instituições, planos para o desenvolvimento do «ministério evangélico» (E 2788).

Eclesial: o plano vê a missão africana como uma obra católica que envolve toda a Igreja dos quatro cantos do mundo (E 2791).

Origens: A evangelização da África Central começou e, 1848 com os jesuítas e franciscanos. O Plano de Comboni tem raízes no seu amor incondicional pelos africanos e no falhanço da missão de Santa Cruz entre os Dincas do Sudão do Sul entre 14 de Fevereiro de 1858 e 15 de Janeiro de 1859. O mesmo aconteceu à missão de Gondokoro entre os Baris, onde se encontra hoje Juba. Comboni nota com tristeza que «a missão da África Central está quase morta» (E 942). A ideia surgiu em Colónia na Alemanha em 1863 (E 909) e desenvolveu-se numa viagem de comboio entre Colónia e Mogúncia (Mainz) (E 942). Foi escrito entre 15 e 18 de Setembro de 1864, em Roma, durante a preparação para a beatificação da irmã Margarida Maria Alacoque. Sessenta horas de escrita. «Como um relâmpago, iluminou-se-me a ideia de propor para a cristianização dos pobres negros um novo plano» para dar «maior vitalidade e solidez» à missão da África Central (E 4799). O plano também foi inspirado por Maria, como Comboni disse no Santuário Francês de La Salette (E 1639).

Colaboração: a missão precisa da ajuda de «muitos homens peritos» e Comboni quer «unir e utilizar no meu plano todos os que trabalham em favor da África» (E 942). A obra deve ser católica (E 944).

Funcionou: Numa carta ao Cardeal Alexandre Francchi Comboni que antes do Plano dois terços dos missionários morriam durante os primeiros dois anos de cada expedição. Depois do plano, em quatro anos ninguém morreu: os 15 missionários gozavam de boa saúde. Infelizmente a situação veio a alterar-se no final da sua vida.

O Plano expressa a necessidade de pensar globalmente em ordem para agir localmente.

12 de setembro de 2014

RÁDIO BAKHITA

© MLogel

Os serviços de segurança nacional do Sudão do Sul devolveram as chaves da Rádio Bakhita à Arquidiocese de Juba depois de manterem a estação encerrada quase um mês.

Rádio Bakhita - A Voz da Igreja em Juba foi silenciada a 16 de agosto por ter transmitido uma notícia que, segundo a segurança nacional, expressava o ponto de vista dos rebeldes na oposição armada ao regime de Salva Kiir Mayardit.

A 15 de agosto as tropas do governo atacaram posições dos rebeldes do SPLM-na-Oposição em Bentiu, usando crianças entre as tropas segundo denunciou Human Rights Watch.

Para o governo, o ataque foi iniciado pela oposição.

O editor Ocen David foi libertado depois de quatro dias de prisão numa sala sem luz com mais de 50 detidos acusados de apoiar a oposição liderada pelo ex-vice presidente Riek Machar Teny.

Ocen encontra-se em Campala, Uganda, a recuperar dos maus tratos que sofreu durante a detenção.

As duas fações do SPLM, o partido que detém o poder no Sudão do Sul desde 2005, digladiam-se desde 15 de dezembro.

Mais de 20 pessoas morreram no conflito e cerca de um milhão e meio foram deslocadas pela luta pelo poder que assumiu contornos étnicos entre nueres e dincas, as principais etnias do Sudão do Sul.

Na quinta-feira, 4 de setembro, o presidente Salva Kiir Mayardit prometeu a Dom Paolino Lukudu Loro, Arcebispo de Juba, que as chaves da Rádio Bakhita lhe seriam entregues antes de domingo.

No domingo, 7 de setembro, o ministro da informação Michael Makuei acusou Bakhita de ser financiada por estrangeiros e de «distribuir literatura subversiva», de ultrapassar o seu mandato de estação religiosa ao transmitir programas políticos, organizando fóruns diretos sem controlar o conteúdo das chamadas…

O ministro disse que a rádio tinha uma licença para transmitir programas religiosos e devia cingir a sua programação a essa área e que o seu encerramento era um aviso às outras estações privadas das Nações Unidas e do governo americano.

As mesmas acusações tinham sido feitas pelo então ministro do interior Gier Chuang, hoje na oposição ao Presidente Kiir, em 2009, quando chamou a Ir. Cecília Sierra, diretora de Bakhita, e eu, diretor de informação, à pedra.

A lei do Sudão do Sul só prevê rádios públicas e privadas. As últimas podem ser comerciais ou comunitárias. A lei não contempla rádios religiosas.

A Voz da Igreja fez a primeira transmissão experimental a 24 de Dezembro de 2006 e começou emissões regulares em Juba a 8 de fevereiro de 2007.

Foi a primeira das nove estações da Rede Católica de Rádios: oito no Sudão do Sul e uma nos Montes Nubas, no Sudão, em território controlado pelos rebeldes do SPLM-Norte.

A Voz do Amor, a rádio da diocese católica de Malakal, foi saqueada e destruída em fevereiro pelas forças da oposição.

7 de setembro de 2014

PRIMEIROS VOTOS




O. P. Ítalo Scoccia, comboniano italiano, fez hoje os seus primeiros votos na Congregação dos Missionários Combonianos durante a Assembleia Provincal. E deixou-nos o seu testemunho.

Chamo-me Italo, tenho 64 anos de idade e sou noviço comboniano. Nasci a 11 de Setembro de 1949 na Itália. Os meus pais, Adino Scoccia e Clara Marinelli, eram agricultores pobres. Éramos uma família rica de fé. O meu pai nas noites de inverno sentava-me nos seus joelhos perto da lareira e, depois de rezar o terço em família, contava-me a história de Jesus que me comovia e fazia chorar. Embora pobre, sentia-me uma criança feliz, rodeada de muito carinho.

Aos oito anos, depois de escutar o testemunho de um missionário, manifestei, pela primeira vez, o desejo de ser missionário na África. Acabada a escola primária ingressei nos Salesianos de Loreto, para ser missionário, motivado mais pela devoção a Nossa Senhora que por um discernimento vocacional. Em 1966, aos dezasseis anos, fui admitido ao Noviciado em Lanúvio de Roma, onde comecei a discernir mais seriamente a minha vocação. Em 1968, durante os meus votos temporários, estudei no Liceu de Genzano de Roma. Em 1969 renovei os votos por um segundo triénio e fui destinado a Terni para o tirocínio prático. Tive as primeiras responsabilidades educativas, comecei os estudos universitários de Letras e Filosofia em Perugia, e experimentei a vida de uma comunidade religiosa real com muito trabalho, com muitas gratificações e também algumas desilusões no apostolado.

Quando estava preparado para fazer os votos perpétuos, no dia 27 Abril de 1972 morreu o meu único irmão Renato. Entrei em crise e, depois de um longo tempo de discernimento, saí dos Salesianos para, de acordo com os meus superiores e com o bispo da minha diocese, entrar no seminário regional de Ancona. Antes de entrar no seminário, passei um ano com os meus pais e depois de um ano de seminário fiz um ano de serviço militar em Treviso. Durante os estudos teológicos fiz experiências pastorais e estudei música no Conservatório Gioacchino Rossini de Pésaro. Antes da ordenação sacerdotal já estava de acordo com um missionário Fidei Donum da minha diocese para ir para a missão, num futuro próximo.

Em 1979 fui ordenado sacerdote pelo Papa João Paulo II. Trabalhei como vice-pároco na maior paróquia da diocese, em Castelraimondo. Além disso, ensinei religião na escola pública e música no seminário. Sentia-me realizado. Porém, o desejo mais forte era da missão. Em 1985 com a bênção dos meus pais e a autorização do Vigário Geral, deixei tudo e fui para Lima, Peru, como sacerdote fidei donum, para uma paróquia onde já trabalhavam outros dois sacerdotes. Os pobres, a vida comunitária, a pastoral e todas as vivências e atividades em ambiente de igreja que vive entre os últimos e mais atribulados da periferia de Lima fizeram-me mudar o meu modo de crer, de orar, de atuar.... Alegrei-me com as pequenas conquistas dos pobres e neles reconheci a acção de Cristo Ressuscitado. Aí encontrei esse povo que sofre e que crê e nele pareceu-me tocar a «carne de Cristo açoitado». Por isso o amei como a nenhum outro povo. Considero os doze anos de vida missionária no Peru como os melhores que eu vivi até agora, apesar de algumas sombras e erros.

No dia1 de Janeiro 1997, o meu pai faleceu de repente e minha mãe ficou sozinha. E eu que não havia deixado a missão nem com as ameaças dos terroristas, voltei para minha diocese e levei a minha mãe para morar comigo. A 14 Março de 2012 faleceu também a minha mãe e eu fiquei só. Imediatamente anunciei ao meu bispo a minha vontade de voltar para a missão. Entrei também contacto com o meu amigo Comboniano, Pe. Daniele Moschetti, que me orientou para o superior da província italiana. Juntos mandaram-me fazer uma experiência no Sudão do Sul e depois de diálogos e consultas o superior provincial e o meu bispo puseram-se de acordo para o meu ingresso no Noviciado Europeu de Santarém, em 19 agosto 2013.

As motivações que me levaram a optar pelos Combonianos foram: o método missionário de São Daniel Comboni de «Salvar África com África», a opção missionária da sua congregação de testemunhar o evangelho entre os pobres mais pobres, opção que eu tinha amadurecido no Peru, e finalmente a esperança de realizar a minha vocação missionária ad gentes, que senti desde pequeno, que nunca esqueci e que, para mim, é o melhor presente da minha vida.

Este tempo do Noviciado é um grande dom do Coração de Jesus. Estou contente por ter muito tempo de oração e uma comunidade que me ajuda a discernir e fazer a vontade de Deus. Sinto-me bem acolhido. Procuro partilhar o que sou e sei em solidariedade com os meus colegas sem distinção. Se Deus quiser, em Setembro faço a minha Profissão Religiosa e sonho ser enviado ao Sudão do Sul, «a missão do coração».

Rezem por mim.
P. Italo Scoccia