Este ano os cristãos da Etiópia – ortodoxos e católicos – celebraram a Páscoa do Senhor unidos às outras Igrejas. Mas nem sempre é assim. No ano passado, por exemplo, enquanto a maioria festejou a ressurreição do Senhor a 31 de Março, as Igrejas da comunhão ortodoxa e os católicos da Etiópia fizeram-no a 5 de Maio. Porquê?
A regra para a celebração da Páscoa foi estabelecida há exatamente 1700 anos no Concílio de Niceia: a ressurreição do Senhor celebra-se no domingo depois da lua cheia do equinócio da Primavera. O desacerto vem do facto de a comunhão ortodoxa seguir o calendário juliano e as Igrejas do Ocidente usarem o calendário gregoriano que o substituiu em 1582. O mês, entre os dois calendários, começa com uma diferença de treze dias. Por isso, a data da Páscoa varia entre 22 de Março e 25 de Abril segundo o calendário gregoriano e 4 de Abril e 8 de Maio segundo o juliano.
O Papa Francisco sublinhou por diversas vezes a necessidade da celebração comum da Páscoa. Em Janeiro, na conclusão do Oitavário de Oração pela Unidade dos Cristãos, renovou o apelo a todos os cristãos «para tomarem medidas decisivas para a unidade à volta de uma data comum para a Páscoa».
O Documento Final do Sínodo dos Bispos sobre a Sinodalidade nota que «em 2025, [...] será também uma ocasião para lançar iniciativas audazes para uma data comum da Páscoa, para que possamos celebrar a ressurreição do Senhor no mesmo dia, [...] e assim dar uma maior força missionária ao anúncio d’Aquele que é a vida e a salvação do mundo inteiro». Bartolomeu, o patriarca ortodoxo de Constantinopla, também manifestou o desejo de os cristãos no Oriente e Ocidente celebrarem a Páscoa em «data unificada», propondo a data do calendário juliano.
A Igreja Católica na Etiópia, que foi estabelecida no século XIX sob dois ritos, também mantém duas tradições em relação à Quaresma. No Norte, os católicos do rito oriental começam a preparação da Páscoa duas semanas antes dos do rito romano, no Sul. Seguem a tradição ortodoxa de uma Quaresma de oito semanas, com jejum diário depois do jantar e até ao meio-dia ou às 15h00 do dia seguinte e sem carne, leite, ovos... No Sul, onde vive a maioria dos católicos etíopes, a tradição romana de jejum na Quarta-Feira de Cinzas e Sexta-Feira Santa e sextas sem carne é mantida.
A celebração da Páscoa do Senhor também difere. A liturgia oriental é celebrada dentro de portas, sem os ritos do lume novo e do batismo. A assembleia escuta onze leituras bíblicas (dez passagens do Antigo Testamento e uma do Evangelho de João) mais dois textos dos Padres antigos. À meia-noite, é proclamado um canto tradicional a anunciar que o Senhor ressuscitou. A liturgia dura até à aurora, feita de muitos cânticos, orações e incenso. Conclui já em casa com uma refeição festiva para quebrar o jejum vegano. No Sul, a vigília, mais curta, é feita das liturgias da Luz, da Palavra, do Batismo e da Eucaristia nas línguas locais. O almoço, esse também é melhorado.