15 de julho de 2024

MISSIONÁRIOS DE SUCESSO


No Sudão, anos atrás, quando dois irmãos combonianos se encontravam, perguntavam «Quantos?». Referiam-se ao número de tijolos que cozeram para construir as novas missões. Os números eram em milhões! E as construções, algumas centenárias, continuam de pé, resistindo à erosão do tempo e dos tempos. Como o complexo de Wau.

Hoje, o que é que faz um missionário bem-sucedido no serviço do Evangelho? A pergunta – e a resposta – têm bailado no meu coração desde a festa do Apóstolo Barnabé, celebrada a 11 de junho.

A leitura tirada do livro dos Atos dos Apóstolos apresenta Barnabé como «um homem bom, cheio do Espírito Santo e de fé». Por isso, «uma grande multidão aderiu ao Senhor».

Barnabé foi um missionário bem-sucedido, porque (1) era bom, (2) estava cheio do Espírito do Ressuscitado e (3) e era um homem de fé.

 

BONDADE. O livro dos Salmos exclama num rebate de otimismo que a bondade do Senhor enche a terra inteira. Primeiro, Deus é a fonte da bondade, ou – no dizer de Jesus – «ninguém é bom senão só Deus». Depois, se a Terra está cheia da bondade do Senhor, eu também sou terra, húmus (a raiz da palavra homem, humanidade, humildade), terra fértil apta a produzir frutos bons.

A pessoa boa vive de Deus, expressa e cumpre a bondade que Deus depositou no seu coração como herança irrevogável. Todos nascemos com um capital de bondade próprio.

 

ESPÍRITO SANTO. São Paulo VI afirmou que «nunca será possível haver evangelização sem a ação do Espírito Santo», porque «o Espírito Santo é o agente principal da evangelização». 

É o que nos conta o livro dos Atos do Apóstolos, que deveria ser chamado de Atos do Espírito Santo, porque depois da ascensão é o Espírito do Ressuscitado que comanda a Igreja: no dia de Pentecostes, foi o Espírito Santo que encheu os discípulos fechados no salão de cima e os abriu ao mundo e à diversidade de línguas; que encheu e falou através de Estêvão; que comandou Filipe para ir para a carroça do etíope; que conduziu Pedro a casa de Cornélio e desceu sobre os gentios que com ele habitavam; que enviou Barnabé e Paulo em missão; que empurrou Paulo e Silas para a missão na Europa quando eles queriam anunciar a Palavra na Ásia. A lista é muito maior. 

No início do livro do Apocalipse de São João o Espírito fala às sete igrejas da Ásia Menor. O discípulo missionário, cheio do Espírito Santo, é enviado pelo Senhor para proclamar o Evangelho e necessita de ler continuamente a realidade à luz desse mesmo Espírito, processo chamado de discernimento. «O Espírito Santo e nós decidimos», como os apóstolos escreveram no Decreto do Concílio de Jerusalém.


. O serviço missionário que a Igreja presta ao mundo é sobretudo a partilha da fé no Senhor Ressuscitado. Não é um trabalho humanitário, sociológico ou cultural de mérito nem um ato de propaganda. É a proclamação de que Jesus que por nós morreu e ressuscitou é o Senhor e Salvador da criação inteira. Esta é a nossa fé! Sem fé não há missão, sem fé não há milagres de Jesus. Quantas vezes no evangelho Jesus diz às pessoas que ajudou «A tua fé te salvou!»? Jesus afirmou que «tudo é possível a quem crê». Por isso, a oração dos discípulos é também a nossa: «Aumenta a nossa fé». Ou a do pai do rapaz que sofria de epilepsia: «Eu creio! Ajuda a minha pouca fé».


Para terminar esta pequena reflexão, recordo o que Paulo escreveu a Timóteo, seu filho espiritual e companheiro de missão: «Deus não nos concedeu um espírito de timidez, mas de fortaleza, de amor e de bom senso». Outra trilogia interessante que faz discípulos missionários de sucesso garantido! 

11 de julho de 2024

EM LOUVOR DA ETIÓPIA

Deus eterno, o Primeiro e o Último,

que não tens princípio nem fim, 

grande em criatividade,

forte nas tuas obras, sábio nos teus conselhos.

Senhor omnipotente:

chamamos-te Eksiabiyer, Allah, Waaqa, Maggano, Gueta...

Tu és nosso Pai e nossa Mãe,

Tu és nosso Avô e nossa Avó,

Tu és nosso Visavô,

Tu nos deste à luz.

Tu és o nosso antepassado comum

e nós somos a tua família.

Te louvamos pela Etiópia,

terra dos rostos queimados,

berço da humanidade,

terra de Dinknesh,

a nossa antepassada

de há mais de três milhões e meio de anos;

terra fértil e de fomes,

terra de mil torrentes e de secas sem fim,

terra de harmonia e de guerras.

Te bendizemos pelos seus povos,

um mosaico de gentes esbeltas e sofridas

que estendem para Ti as suas mãos.

Te glorificamos pelas suas montanhas verdes

erguendo-se para além das nuvens, 

por Ras Dashan e Bale;

Te glorificamos pelos seus rios, longos e impetuosos,

escavando leitos através de gargantas profundas,

pelo poderoso Abay que dá vida ao deserto

até chegar ao Mediterrâneo

rebatizado de Nilo, 

pelo Awash e pelo Ganale e pelo Wabi Shebele,

que se perdem nos desertos;

Te damos graças pelos seus lagos,

crateras de vulcões esquecidos que o tempo encheu,

pelo Tana, pelo Abaya, pelo Langano e pelo Hawassa;

Te bendizemos pelas suas cataratas majestosas

e retumbantes

a desfazerem-se em vapores e arco-íris;

Te glorificamos pelas suas planícies extensas

onde céu e terra se abraçam,

pelas suas florestas misteriosas e cheias de vida,

destruídas pelo fogo voraz para dar lugar a novos campos

ou abatidas por machados lacerantes

da indústria das madeiras,

pelos seus desertos tórridos e salgados.

Te agradecemos pelos seus pássaros formosos,

pelos seus animais selvagens,

pelo leão e pela raposa de Simien,

pela nyala e pelos símios. 

Te glorificamos pela sua história, 

perdida nas brumas da lenda.

Te bendizemos pela sua Igreja,

noiva devota de Jesus,

mártir e fiel ao seu esposo;

pelos monges ortodoxos,

sentinelas e missionários da fé,

pelos seus santos e pelos seus mosteiros.

Te glorificamos pelos seus crentes,

pelos seus jejuns e festivais,

por Timket e por Meskel, as festas do Batismo e da Cruz.

Te adoramos pela injera e pelo kocho,

o pão nosso de cada dia;

pelo café e pelo zeguini.

Tu, Senhor, és a origem de tudo,

Tu és a fonte da vida,

Tu és o manancial do amor.

Por isso, com os anjos e os arcanjos,

com Kedus Garieli, Kedus Mika’eli e Keduz Rufa’eli,

com os santos e as santas,

com Kedus Guiorguis,

Kedus Yared e Kedus Teklehaymanot,

com Abuna Justino e Abba Gebremicael,

com os mártires franciscanos Liberato WeissSamuel Marzorati e Miguel Fasoli

te adoramos e aclamamos cantando para sempre.

 

5 de julho de 2024

SUDÃO DO SUL: PAPA CRIA NOVA DIOCESE


O Papa criou uma nova diocese no Sudão do Sul e nomeou um missionário comboniano seu primeiro bispo.

Francisco estabeleceu a nova diocese de Bentiu e confiou-a ao cuidado de D. Christian Carlassare, até então bispo de Rumbek.

«Estou profundamente movido pelo amor e pela confiança do Santo Padre quando me chama, limitado como sou, para servir a Igreja que está em Bentiu. É uma chamada muito exigente, porque há tantas necessidades no começo de uma diocese», o bispo escreveu numa carta despedida à diocese de Rumbek.

D. Christian nasceu no norte de Itália há 46 anos e missiona no Sudão do Sul desde 2005, depois da sua ordenação.

Desempenhou vários cargos, incluindo o de vice-superior provincial e vigário geral da diocese de Malakal.

É bispo de Rumbek desde 25 de março de 2022, depois de sobreviver a um ataque armado violento que adiou a sua sagração episcopal por um ano.

D. Christian acumula as funções de administrador apostólico de Rumbek até à nomeação de um novo prelado.

A diocese de Bentiu, a oitava do Sudão do Sul, é desmembrada da de Malakal.

Cobre uma área de quase 38 mil quilómetros quadrados, mais de um terço da área de Portugal. Tem perto de 1,2 milhões de habitantes. Metade são católicos.

Em 2025, faz 100 anos que a Igreja Católica chegou ao Estado de Unity.

«Estou feliz por Bentiu e, por isso, recebo a nova nomeação com alegria quando a Igreja universal se aproxima da Igreja local de Bentiu, reconhecendo a fé e as dificuldades que vive», D. Christian disse-me.

A nova diocese fica no Estado de Unity, território Nuer com uma forte presença Dinca, junto à fronteira com o Sudão. 

A zona que tem sofrido grandes inundações anuais devido às alterações climáticas. É rica em petróleo.

A diocese de Bentiu começa com sete paróquias, onze padres – sete diocesanos e quatro missionários – e dez seminaristas.

A missão comboniana de Leer fica integrada na nova diocese.

1 de julho de 2024

POR RIOS E MARES...


Gosto muito de nadar: é como voltar ao seio da mãe e relaxar, sobretudo se a água é quentinha.

Dei os primeiros mergulhos nos tanques de rega de Travassos, nos arredores de Cinfães. Como muitos, aprendi a nadar à cão! Depois aperfeiçoei o estilo em Joazim, no Poço Negro e no Poço do Padre, e no rio Bestança, nas praias fluviais das Aveleiras e Cinco Rodas.

A vida missionária abriu-me a novas águas. Nadei no Mondego (em Coimbra), no Sado, (em Troia) e no Guadiana (no Alqueva); no nosso Douro, no Paiva e no Âncora. Também nadei na Ribeira de Cabrum, num dos cursos de água do Gerês e num riacho no Campo-Valongo, durante um acampamento. 

Na Etiópia, nadei sobretudo no rio Hawata e, no Sudão do Sul, no Nilo Branco, que na nomenclatura árabe se chama Bar el Jebel, o rio dos Montes. As suas águas são quentes, com uma corrente forte. 

Uma vez uma comboniana foi comigo. Queria nadar, mas tinha medo de ficar sozinha na zona reservada às mulheres por detrás de uns canaviais por causa das cobras. Perguntei aos rapazes se podia nadar na parte dos homens. Perguntaram se era minha esposa. Como não era, tivemos de sair todos do rio para ela entrar!

A primeira vez que fui ao mar foi na praia da Árvore, em Vila do Conde. Tinha 12 anos e estava a fazer o estágio em VN Famalicão para entrar nos Combonianos. Perdi uma sandália, que ficou entalada entre duas rochas. Mas a paixão pelas águas salgadas e revoltas ficou.

Outras praias e mares se seguiram: as da Foz e da Boa Nova, no Porto; do Guincho, Maçãs, e Grande, na zona de Sintra; Carcavelos; Costa da Caparica, um dos mares meus favoritos, em Almada, onde perdi o meu colega P. Manuel Pinho, devido a uma crise cardíaca; Comporta, Troia e Portinho da Arrábida; e o Algarve (Albufeira, Quarteira, Vila Moura, Armação de Pera – são as que me recordo). Mais a norte, provei as águas da Nazaré, Mira, Esmoriz, Espinho, Póvoa de Varzim, Vila Praia de Âncora...

Fui estudar teologia para a Inglaterra e nadei com sapatilhas em Brighton, no Canal da Mancha: as jogas a servir de areia não eram nada agradáveis. 

Uma manhã acordei na comunidade comboniana de Ardrossen, na Escócia. O Mar do Norte expandia-se, tranquilo, em frente da janela do meu quarto. Peguei na toalha para um mergulho matinal. O cachorro acompanhou-me. Quando meti os pés na água, apanhei tamanho choque térmico que dei volta e acabei a tomar um duche quentinho...

Depois, nadei no Índico em Moçambique (Maputo e Nacala) e Quénia (na Ilha de Mombaça), no Vermelho (quando visitei o Monte Sinai, aproveitando uma paragem na viagem) e no Mediterrâneo (em Alexandria, no Egito). Fiquei chocado com o que vi em Alexandria: os homens a nadar de calções de banho. As mulheres entravam na água tapadinhas da cabeça aos pés. Também boiei no Mar Morto, da vez que acompanhei uma peregrinação à Terra Santa. No fim apanhei uma banho de lama...

Também experimentei o Atlântico no Ilhéu de Vila Franca, nos Açores, e em Tecolutla, no Golfo do México. Uma autêntica malga de caldo: águas tranquilas, quentes e cheias de algas. Durante o curso de formação permanente no México tive a oportunidade de nadar no Pacífico, na baía de Acapulco.

Quanto a lagos, Langano, Hawassa e Babo Gaya, foram onde mais nadei na Etiópia. Em Portugal, nadei numa das praias fluviais do Alqueva e na Lagoa das Sete Cidades, graças ao meu colega P. José Tavares.

Piscinas? Comecei da piscina do Seminário Comboniano de VN de Famalicão durante o estágio no verão de 1972, passei para a da Maia e acabei na de Santarém. Nos tempos da teologia em Londres era sócio da piscina de Borehamhood (onde também aprendi a fazer canoagem) e no último ano acompanhei crianças com deficiência às sextas-feiras a nadar noutra piscina de que não me recordo o nome.

Em Lisboa, quando trabalhei nas revistas combonianas, fui sócio do Clube Nacional de Natação dos tempos da piscina exterior até à coberta. Também nadei numa piscina perto da residência do Primeiro-Ministro.

Na Etiópia, usei sobretudo piscinas abertas de água quente natural: Aleta Wondo – uma pequena piscina que foi pertença da filha do imperador Haile Selassie, nacionalizada e aberta ao público depois do golpe de estado comunista em 1975 e que fica perto de Hawassa, Ambo e Sodoré. As últimas visitei-as uma vez.

No México, nadei muito na piscina do Cruz Azul, o clube de futebol da capital com o centro de treinos paredes meias com a comunidade provincial dos combonianos em La Noria, Xochimilco. Antes, um médico fez-nos uma revisão minuciosa da pele, sobretudo dos pés, para não contaminarmos os atletas.

O centro de espiritualidade, em Cuernavaca, onde fiz um retiro, tinha uma pequena piscina, que eu gostava de usar antes de ir dormir. Era muito giro nadar ao luar.

Em Juba, nadei muitas vezes na piscina do Jebel Lodge, o hotel onde um casal amigo morava. Os residentes tinham direito a dois convidados de borla. Ia lá sobretudo depois do trabalho. Que bem que sabia!

Também nadei na piscina descoberta de Cinfães – com as sobrinhas-netas. Na recuperação da cirurgia à anca, utilizei a piscina de Gueifães, na Maia, duas vezes por semana.

Gostei das braçadas que dei nas piscinas de água salgada de Espinho e da Granja, perto de VN de Gaia. E de um dia passado na piscina do meu compadre no Escorregadoiro, São Cristóvão de Nogueira (Cinfães).

22 de junho de 2024

TROCA DE OLHARES


Fátima e Rocio são duas lindas e alegres jovens universitárias madrilenas de 21 anos. Estudam economia em universidades diferentes nas vertentes política e filosófica.

Decidiram passar um mês e meio das suas férias em voluntariado na Etiópia. Entraram em contacto com as Missionárias da Caridade, as irmãs de Santa Teresa de Calcutá, em Adis-Abeba, a capital etíope.

Após chegarem à terra das origens, foram destinadas à comunidade de Hawassa para alegrarem os dias das crianças na casa de acolhimento das missionárias. Algumas a serem tratadas à tuberculose ou à malnutrição, outras internadas devido a deficiências várias, outras ainda acompanhando as mães em tratamento.

Aproveitaram a vinda do Administrador Apostólico de Hawassa, o comboniano espanhol P. Juan Núñez, a Soddu Abala para confirmar mais de 500 católicos para conhecerem o povo guji.

Ficaram hospedadas na casa das Missionárias da Caridade em Adola, onde eu também estava para o fim-de-semana de pastoral naquela parte da paróquia.

Durante as refeições trocamos muitas impressões sobre as suas vivências em Hawassa. 

As duas voluntárias manifestaram a alegria de poderem dedicar algum do seu tempo de férias às crianças da casa de acolhimento das Missionárias da Caridade em Adola, através de jogos e brincadeiras.

Confessaram que, vindas de Madrid, estavam muito chocadas com a pobreza que encontraram.

Expliquei-lhes que os etíopes vivem muito melhor agora que há três décadas atrás, altura em que cheguei pela primeira vez ao país. 

Sobretudo, os gujis, que eu conheço melhor. Tornaram-se agricultores – no passado viviam sobretudo do gado – e agora comem melhor, têm casas melhores, vestem melhor, a saúde melhorou muito e a escolaridade também.

Perguntaram-me como é que eu reajo frente à pobreza.

Os missionários ajudamos as pessoas quando e com o que pudemos, expliquei. 

Recentemente, fui com as Missionárias da Caridade distribuir uma farinha especial para combater a malnutrição na capela de Oda Butta, uma zona muito baixa e quente onde muitas pessoas passam mal. 

Às vezes, trazemos mães e bebés malnutridos ou doentes para a casa de acolhimento das irmãs. Quando uma mãe dá à luz, oferecemos-lhe algum dinheiro para comprar roupa para o bebé. Também transportamos doentes ao hospital.

A escola e as duas bibliotecas que mantemos são outros tantos modos de combater a pobreza. A educação abre portas para um futuro melhor.

Expliquei que a pobreza não me disturba, mas prefiro contemplar a beleza, a hospitalidade e a alegria dos etíopes.

Os etíopes são das pessoas mais belas do mundo, disse. Elas concordaram.

E são muito hospitaleiros. Nas caminhadas para as capelas, ao cruzar-me com um pequeno pastor a apascentar o gado, se ele estiver a comer uma espiga de milho, parte-a ao meio e partilha-a comigo. Aconteceu-me várias vezes.

Apesar de saber que é a única comida que o miúdo tem até ir para casa, à noite, eu era um grande mal educado se não aceitasse. 

Quando vivia no Sudão do Sul e olhava para os seus rostos, havia algo que me escapava, que os etíopes tinham e os sul-sudaneses não. 

Um dia se fez luz: faltava-lhes o olhar sorridente dos abissínios. A violência e a guerra em que quase permanente viviam desde os anos 50 do outro século, deixou-lhes um olhar sofrido, triste.

A Fátima e a Rocio aproveitaram os tempos livres em Adola para interagir com as crianças na casa der acolhimento. Elas não sabem guji nem a miudagem inglês ou castelhano. Mas era lindo de ver a algazarra que os jogos e as brincadeiras produziam.

Voltaram para Hawassa para continuar com a experiência na casa das missionárias. No fim de julho regressam a Espanha. Muito mais felizes, acho eu!

Ah! Também estiveram na Jornada Mundial da Juventude em Lisboa. Confessaram que adoraram a experiência e louvaram a organização impecável do evento.

Gracias, hermanitas, ¡por vuestra visita generosa a Etiopía! Me encantó conocerlas. 

15 de junho de 2024

FINALMENTE, A BÍBLIA EM GUJI



Kitaaba Woyyicha, a Bíblia Sagrada em língua guji, foi apresentada ao público numa cerimónia muito concorrida em Adis Abeba, capital da Etiópia, no dia 12 de maio de 2024.

A tradução ecuménica de toda a Bíblia para guji teve início no ano 2000 e demorou mais de duas décadas a ser concluída. 

O Novo Testamento em guji foi publicado em 2007.

A equipa principal de tradutores era composta por membros das Igrejas Católica, Luterana, Luz da Vida e Palavra da Vida. Muitas outras Igrejas participaram também no projeto com apoio técnico e financeiro.

O P. Pedro Pablo Hernández, missionário comboniano, evangelizador entre os gujis em Galcha, Haro Wato e Qillenso-Adola durante mais de duas décadas, apresentou uma mensagem do Administrador Apostólico de Hawassa, o comboniano P. Juan Núñez, na cerimónia de apresentação.

«A partir de agora, o povo guji poderá ler a Palavra de Deus na sua língua materna. Isto torna-a mais familiar e mais próxima deles, mais íntima e mais querida para os crentes», o P. Núñez escreveu.

O administrador apostólico da diocese de Hawassa sublinhou também o carácter ecuménico da tradução, «fruto da colaboração entre diferentes confissões cristãs», agradecendo ao Senhor e a todos os que tornaram possível a publicação da Bíblia na língua guji. 

Tsegaye Hailemichael Barisso, o tradutor católico da missão Galcha, explicou que a equipa utilizou quatro fontes principais no seu trabalho: Good News Bible, as traduções antiga e nova em amárico e a Bíblia Oromo (no Oromo do Wollega, na Etiópia Ocidental). Utilizaram também o New Jerome Biblical Commentary.

A equipa de tradutores foi assistida por um número de consultores internacionais que os prepararam para o trabalho.

«A tradução não foi um percurso fácil. Comecei quase como um miúdo e agora sou um homem feito. No início era aborrecido. Era preciso encontrar a palavra comum exata. Por vezes, era doloroso quando o orçamento mingava. Mas, quando vi como as pessoas receberam a Bíblia Sagrada em guji, senti uma grande alegria e todas as feridas ficaram saradas», disse Tsegaye.

O tradutor católico sublinhou ainda a alegria da experiência ecuménica. Explicou que a Sociedade Bíblica da Etiópia tinha planeado imprimir 50 mil exemplares. No entanto, muitas igrejas juntaram mais dinheiro e, com a ajuda de alguns doadores, foi possível imprimir 200 mil exemplares em dois formatos.

Kitaaba Woyyicha é uma edição conjunta da The World for the Word-Ethiopia e da Sociedade Bíblica da Etiópia. 

A tradução segue o cânone protestante. A Bíblia é ilustrada com uma série de desenhos que explicam algumas passagens e conceitos bíblicos. Tem 1650 páginas. Os mapas bíblicos são a cores.

A obra tem um glossário de cinco páginas que explica algumas palavras e os seus significados.

O povo guji faz parte da família oromo. São mais de dois milhões, divididos em três grupos principais. Vivem nas montanhas e nas terras baixas do sul da Etiópia. No passado, eram pastores. Atualmente, cultivam também os seus campos.

Os Combonianos começaram a trabalhar na terra dos gujis em 1976, assistindo ocasionalmente alguns católicos Sidama de Teticha que emigraram para Qillenso e Gosa. Quando os Sidama foram expulsos, os missionários abriram uma missão em Qillenso e começaram a evangelizar os gujis em 1981. 

De Qillenso, chegaram a Soddu Abala (1984), Haro Wato (1995) e Adola (2016). Os Jesuítas, juntamente com as Franciscanas Missionárias de Maria, abriram uma missão em Gosa em 1985, que, entretanto, deixaram. Agora, Gosa é uma capela de Qillenso.

6 de junho de 2024

ETIÓPIA: PRESENÇA NA «NOVA FRONTEIRA MISSIONÁRIA DIGITAL»

A província dos Combonianos da Etiópia lançou o seu novo sítio na internet com o URL www.combonimissionariesethiopia.org.

A nova página digital foi preparada pela equipa que dirige o Centro Comboni Jovem (YCC na sigla em inglês) de Hawassa e apresentada à Assembleia Provincial em março passado.

«A iniciativa de um sítio web da província da Etiópia não é nova», explicou o P. Pedro Pablo Hernández, um dos missionários envolvidos na sua conceção. «Há alguns anos houve um que desapareceu com o tempo por razões diferentes».

«O objetivo da iniciativa é que as pessoas que se cruzam com o sítio possam encontrar riqueza pastoral e missionária no testemunho de vida dos Combonianos e inspiração na sua visão de missão para participarmos todos juntos nas obras de evangelização da Igreja», acrescentou.

O sítio tem duas secções principais: notícias (renovadas com frequência) e informação permanente.

A página das notícias está dividida em notícias missionárias mundiais e etíopes, testemunhos, intenções de oração e literatura etíope (provérbios, fábulas e contos). 

Quem visita o sítio pode deixar um pedido de oração.

A informação permanente diz respeito a São Daniel Comboni, fundador dos Missionários Combonianos, aos próprios Combonianos, aos Combonianos na Etiópia, aos Secretariados Provinciais (Missão e Formação) e às Vocações.

A secção Combonianos na Etiópia tem uma galeria de fotos e uma mostra das publicações que os missionários fizeram durante mais de seis décadas no país e nas línguas locais: amárico, sidama, guji, guedeo e gumuz.

Relatório de Síntese da primeira sessão do Sínodo sobre a Sinodalidade fala do espaço online como «a nova fronteira missionária digital». 

Através do novo sítio digital, a Província Comboniana da Etiópia diz «Presente!» neste novo espaço missionário.