25 de outubro de 2022

A FESTA DA MISSÃO




Todos os anos a Igreja Católica celebra a festa da missão no penúltimo domingo de outubro para nos recordar — como o Papa Francisco escreveu na mensagem para o Dia Mundial das Missões de 2022 — que todos somos missionários.

Todos os batizados somos discípulos de Jesus. Somos enviados por Ele a testemunhar o amor do Pai por todas as pessoas e por toda a criação através do testemunho do nosso amor e da nossa palavra.

Este ano celebrei a Festa da Missão na linha da frente, missionário entre missionárias e missionários. «Todos somos uma missão!», tem repetido o papa argentino vezes sem conta.

No sábado à tarde, presidi à Eucaristia na capela do Centro de Acolhimento das Missionárias da Caridade, as Irmãs de Madre Teresa de Calcutá, em Adola.

Gosto muito de celebrar a Eucaristia vespertina com os pacientes do centro. A capela é toda feita de tiras de canas de bambu, entrelaçadas como um cesto gigante invertido.

Perco-me a contemplar os rostos sorridentes daquelas mulheres presas a uma cadeira de rodas. O olhar reguila das garotas e garotos no programa de tratamento da tuberculose e que no fim me saúdam efusivamente. No ar grave e solene dos homens. No vestir festivos e no cantar alegre das jovens e mulheres.

Estávamos no meio de um apagão que durou 24 horas: a missa foi celebrada à luz de uma lâmpada solar. A escuridão da capela ajudou à solenidade da celebração. Os cânticos são começados por uma senhora numa cadeira de rodas que também toca o tambor. Era muçulmana. Faz umas orações dos fiéis muito profundas.

Expliquei-lhes que também eram missionárias e missionários mesmo às voltas com doenças crónicas e deficiências profundas. Porque todos somos testemunhas do amor de Jesus que recebemos e damos às irmãs e irmãos.

No final da Eucaristia os pacientes mais ágeis ajudam os que têm problemas de locomoção. É bonito ver a Missa a continuar depois da Missa nos gestos de cuidado na procissão de regresso aos respetivos pavilhões.

Comecei o domingo a postar algumas mensagens no Facebook, o espaço dos nativos e de muitos emigrantes do digital, e a saudar familiares, companheiros e amigos. Normalmente esta rede social é muito lenta, mas no domingo de manhã estava a funcionar direito. Graça a Deus.

A noite de sábado e madrugada de domingo foram de muita chuva. Por isso, a igreja de São Daniel Comboni em Adola estava quase vazia quando começamos a missa às 9h20. Mas as pessoas foram chegando e a assembleia foi-se compondo.

O catequista leu a Mensagem do Papa para o dia, traduzida em amárico. Era importante que a assembleia escutasse a palavra do Santo Padre.

Por causa da mensagem o meu colega teve um acidente grave na sexta-feira. Um pároco vizinho tinha ficado encarregue de trazer o opúsculo preparado com o texto do Papa e mensagens de outros dignitários, mas na quinta à noite mandou um SMS a dizer que não conseguiu.

O meu colega decidiu fazer os 160 quilómetros até Hawassa, a sé da diocese. Saiu antes das seis. Por voltas das quinze telefonou-me a dizer que teve um acidente a cerca de 50 quilómetros de casa. O pickup e capotou numa curva a fugir de uma vaca e caiu na berma da estrada. O Abba Hippolyte felizmente saiu sem um arranhão. O seu Anjo da Guarda não brinca em serviço!

A missa foi animada por um grupo de rapazes que veio de Adis-Abeba, a capital, para trabalhar durante três semanas com as meninas e meninos das ruas de Adola, liderados por um casal italiano. O seu louvar deu uma tónica missionária à celebração. 

O produto do ofertório vai ser enviado para o Vaticano. É a nossa humilde e generosa colaboração para a evangelização dos povos.

Depois, fui celebrar a uma pequena comunidade a cerca de oito quilómetros de Adola, na estrada para Neguele (na foto). Comigo foram um ancião e um rapaz. Encontramos na capela de uma jovem mãe com duas crianças pequenas — o menino de peito assustou-se com a cor da minha pele e levou algum tempo a acalmar — e o catequista.

«Vais celebrar a missa?» — Sholango inquiriu. «Claro!» — respondi. A senhora não tem culpa de os outros católicos terem medo da chuva. Ela veio e merece que respeite o seu gesto.

Jesus chama de «pequenino rebanho» (Lucas 12: 32) aos seus seguidores. Naquela Eucaristia o rebanho era, de facto, bem pequenino. Mas o Pastor bom e belo estava connosco.

A Festa da Missão fechou com uma hora de adoração com as Missionárias da Caridade e os jovens voluntários.

Perante o Pão da Vida, pedi que o Senhor da Seara envie trabalhadoras e trabalhadores para a sua seara. A oração pelas vocações é o primeiro serviço do discípulo missionário. E a vida missionária é um privilégio único!

O Papa Francisco escreveu na Mensagem para o Dia Mundial das Missões que tem um sonho: «continuo a sonhar com uma igreja toda missionária e uma nova estação da ação missionária das comunidades cristã».

Partilho do seu sonho!

17 de outubro de 2022

VIVA SÃO DANIEL COMBONI



Daniel Comboni, o santo fundador dos Missionários Combonianos, faleceu em Cartum, Sudão — onde era bispo — a 10 de outubro de 1881. Tinha 50 anos.  Sucumbiu às febres tropicais e às fadigas apostólicas.

São João Paulo II canonizou-o a 5 de outubro de 2003. A festa litúrgica é celebrada no dia do seu falecimento.

São Daniel Comboni é o padroeiro da igreja que os combonianos construíram na cidade de Adola, paróquia de Qillenso. Foi sagrada a 7 de março de 2016. O adro da igreja tem uma estátua cinzenta sua com chaves na mão, uma iconografia incomum. Normalmente, S. Pedro é o santo das chaves.

Os católicos de Adola celebraram a festa do seu padroeiro a 9 de outubro, o domingo antes da sua memória.

Contudo, as celebrações começaram no dia 7 à noite. Trinta e sete romeiros de algumas das oito capelas à volta de Adola vieram pernoitar na igreja.

A manhã de sábado, dia 8, foi dedicada à formação dos fiéis com ensinamentos sobre a vida do padroeiro, identidade católica e as novas normas litúrgicas preparadas pelo Vicariato de Hawassa, a nossa diocese.

As novas normas litúrgicas pretendem fazer frente à crescente influência protestante nas celebrações católicas no que diz respeito ao cantar e saltar durante a liturgia, ao barulho, às orações palavrosas e ao modo de organizar as capelas.

Depois do almoço houve tempo livre para as pessoas irem ao mercado. Em Adola a feira é ao sábado e à terça-feira, uma oportunidade para socializar e saber novidades além de fazer compras.

Às 16h00 começou a Adoração do Santíssimo com tempo de confissões, até às 17h30.

Depois do jantar, foi projetado um filme de três horas sobre a vida de Jesus em oromo, a língua-mãe do guji. 

A ELPA, a companhia elétrica etíope, decidiu colaborar com o evento e não houve cortes de corrente — o que é pouco habitual.

À noite o número de católicos a dormir na igreja subiu para as sete dezenas.

No domingo de manhã, depois do pequeno-almoço, os festeiros continuaram a familiarizar-se com as novas normas litúrgicas.

Quando chegou a hora da Eucaristia, reuniram-se todos junto do portão do adro da igreja para a procissão de entrada com os quadros de São Daniel Comboni e Santa Madre Teresa Calcutá. As suas irmãs, Missionárias da Caridade, têm na cidade uma grande instituição para cuidar dos doentes crónicos e terminais e dos pobres.

A Eucaristia solene, presidida pelo pároco, o comboniano togolês P. Hippolyte Apedovi, durou mais de duas horas, bem cantada e participada.

No fim da eucaristia — e porque a chuva ameaçava — o almoço de confraternização foi servido nas instalações da Biblioteca Púbica Comboni.

O menu foi simples: injera — panquecas gigantes feitas com farinha de tef, um cereal etíope — com batatas guisadas com vegetais e água para beber.

Na festa do ano passado, a comunidade juntou dinheiro suficiente para comprar carne de vaca. Este ano a crise económica é grande. Os produtos essenciais — sobretudo açúcar, farinha e óleo alimentar e combustíveis — custam o dobro em relação ao ano passado.

O dinheiro das ofertas juntamente com as ajudas das missionárias e dos missionários deu para uma refeição mais simples. Mas estava uma delícia. As mulheres esmeraram-se.

O importante foi celebrar juntos e almoçar juntos. As comunidades reforçam-se à volta das mesas da Eucaristia e da convivialidade.

Viva São Daniel Comboni.

4 de outubro de 2022

MISSIONÁRIA PARA SEMPRE









Gebaynesh Gebre Emmo fez os votos perpétuos como Irmã Missionária Comboniana no dia 4 de setembro de 2022. 

A celebração, presidida pelo bispo local, D. Markos Gebremedin, decorreu na paróquia de São Paulo, na cidade natal de Bonga. É a capital do estado regional de Kaffa, a pátria do café, na Etiópia Central.

A Ir. Gebay nasceu há 35 anos numa família com dez filhos: sete raparigas e três rapazes. É a quarta mais nova. O irmão mais velho é padre Vicentino.

Começou o discernimento vocacional quando andava na faculdade, com mais dez meninas.

«Estávamos todas na faculdade e tínhamos um encontro mensal. Pedi para entrar no Instituto quando terminei os estudos. Fui atraída pelo carisma e espiritualidade de São Daniel Comboni, a sua paixão pelos pobres e mais abandonados, a coragem e a força das primeiras irmãs na missão, a sua auto-doação e simplicidade», recorda.

A formação de base levou-a a muitos sítios: fez o pré-postulantado em Adis-Abeba, na Etiópia, o postulando em Nairobi, no Quénia, e o noviciado em Namugongo, no Uganda.

«Gostei muito de estudar em Nairobi enquanto fazia a formação. Aprendi inglês numa escola onde encontrei gente de todo o mundo que falava línguas muito diferentes. No noviciado gostei sobretudo da vida de oração. Venho de uma família católica, mas realmente aprendi a rezar no noviciado», conta.

Depois de fazer os primeiro votos como missionária comboniana, continuou a formação em Fetais, Portugal, no Brasil e, finalmente, na missão de Haro Wato, na Etiópia.

Lugares que a marcaram: «Em Portugal aprendi a ser fiel (a mim própria, aos outros e a Deus). No Brasil descobri uma Igreja muito ativa que investiu imenso no povo. As pessoas estão envolvidas em todas as atividades da Igreja, especialmente na administração e na pastoral».

A celebração dos votos perpétuos marca a conclusão do processo de formação de base. Através da profissão perpétua dos votos de castidade, pobreza e obediência no Instituto das Missionárias Combonianas assumiu a disponibilidade de ser missionária para sempre.

Uma multidão esperava a Ir. Gebay, a superiora provincial e o bispo junto à igreja. Foram recebidos com canções, palmas e flores de boas-vindas. A igreja estava cheia. O coro cantou a preceito. A Eucaristia foi muito participada. A missa demorou mais de três horas: a alegria da festa!

A Ir. Gebai foi apresentada pelo pai — que tem mais de noventa anos — e pela irmã mais velha. A mãe faleceu há alguns anos.

«Fazer a minha consagração perpétua para a missão seguindo Comboni significa imitar Comboni para seguir a Deus amando-O e servindo-O enquanto sirvo os meus irmãos e irmãs. Sinto-me feliz, porque trabalhei muito para este dia. Senti-me muito feliz e chorei de alegria», confessou.

A festa prosseguiu com um almoço partilhado nas instalações da paróquia. À noite, na casa da família, houve jantar para alguns convidados mais próximos. E muita alegria.

Perguntei-lhe pelo futuro. «O futuro pertence a Deus e acredito que quanto mais crescer mais Deus vai querer de mim», respondeu convicta.

Também deixou uma mensagem quem acalente o sonho missionário.

«Para quem gosta de seguir a vida missionária tenho esta mensagem: não temas os desafios, porque eles dão-nos oportunidades para sermos aquilo que desejamos. Mantém uma atitude de escuta. É através da escuta que podemos identificar a voz d’Aquele que nos chama. Faz a vontade de Deus, porque obedecendo não cometerás erros», concluiu.