30 de março de 2021

PALAVRAS DE PRIMAVERA





Luz,
calor,
cor,
amor...

Gomos,
folhas,
flores,
vida...

Perfume,
alegria,
alergias,
lágrimas...

Chilreios,
zumbidos,
risos,
brisas...

Silêncio,
calidez,
claridade,
paz...

Teofania!

EU SOU A RESSURREIÇÃO E A VIDA

 


MENSAGEM DE PÁSCOA

As irmãs mandaram então a dizer-lhe “Senhor, aquele a quem amas está doente”. Jesus disse: “Essa doença não é para a morte, mas para a glória de Deus, para que o Filho de Deus seja glorificado por meio dela”. “Eu sou a ressurreição e a vida, quem acredita em mim, mesmo que morra, viverá…” Acreditas nisto?”. “Sim, Senhor, eu acredito que tu és o Cristo, o Filho do Deus, que vem a este mundo” (Jo 11, 3.4.25-27).

O nosso mundo atravessa um período muito difícil por causa da pandemia do Covid-19, que continua a provocar tanto sofrimento, milhares de doentes e de mortes. Várias populações estão a sofrer, não só pela Covid-19, mas também pela guerra, instabilidade, deslocações, migração arriscada, problemas climáticos, problemas económicos. Pensando na pandemia, recordamos aqui tantos nossos confrades e irmãs que viveram esta experiência de morte e ressurreição e estão agora na glória do Ressuscitado. Nesta situação de dor, de sofrimento e de morte, em que o Cristo da Sexta-feira Santa continua a ser crucificado e morto nas pessoas que sofrem as consequências desta pandemia, não é nada fácil encontrar palavras de encorajamento, de alegria, de vida, enfim, de ressurreição.

Mas, mesmo porque somos cristãos, discípulos missionários do Senhor, nesta Páscoa somos convidados a colocar de novo a nossa confiança e a nossa esperança, nEle, o Senhor da vida, que viveu o sofrimento, a dor e a humilhação até morrer sobre a cruz, para ser ressuscitado pelo Pai. Por isso, as suas palavras a Marta perante a doença do irmão Lázaro, são mais do que nunca oportunas para nós e para a humanidade inteira neste momento: “Eu sou a ressurreição e a vida, quem acredita em mim, mesmo se morre, viverá, quem vive e cré em mim não morrerá jamais”.

A fé na ressurreição e a esperança que Ele nos trouxe são o dom maior e mais belo que nós possamos anunciar e oferecer a toda a pessoa. Por isso, nunca nos cansemos de repetir, a todos e cada um: Cristo ressuscitou! Animados por esta certeza, levamos este anúncio a todas as comunidades, a cada casa, a cada família, a todo o lugar onde as pessoas mais sofrem. Como afirma o Papa Francisco: “Procuremos, na medida do possível, utilizar da melhor maneira este tempo: sejamos generosos; ajudemos quem precisa na nossa vizinhança; procuremos, talvez por telefone ou pelos social, as pessoas mais sós; rezemos ao Senhor por quantos no mundo se encontram na provação. Mesmo se estamos isolados, o nosso pensamento e o nosso espírito podem chegar bem longe com a criatividade do amor. É disto que hoje precisamos: a criatividade do amor” (Vídeo mensagem do Papa Francisco para a Semana Santa 2020).

É a missão da compaixão que, como missionários, somos chamados a anunciar, a proximidade de Deus ao seu povo, a Sua ternura e o Seu amor. Como Jesus, que curou tantas pessoas doentes, nós somos hoje os seus instrumentos para cuidar do sofrimento, curar a indiferença, o egoísmo e o afastamento que esta doença gera. É a missão do encontro que cria espaços de acolhimento, de fraternidade, que gera vida e vida em abundância para todos. Somos assim missionários da esperança e da alegria no contexto atual para recordar profeticamente a todos que “não podemos avançar cada um por sua conta, mas só juntos” (Homilia do Papa Francisco, 27/03/2020). É uma nova maneira de ser e de estar no mundo: não um simples regresso ao passado que conhecemos, mas um pôr-se em jogo com criatividade e sabedoria.

Só confrontando-nos com a cruz, podemos encontrar a esperança e viver como ressuscitados, como nos ensina São Daniel Comboni: Será possível que o coração de um verdadeiro apóstolo possa abater-se e atemorizar-se por todos estes obstáculos e extraordinárias dificuldades? Não, isso não é possível, jamais! Só na cruz está o triunfo (Escritos 5646). É o triunfo do Ressuscitado. Em Jesus ressuscitado, a vida venceu a morte. É a esperança de um tempo melhor. É uma esperança que não falha.

Com estes sentimentos de alegria queremos desejar-vos uma Santa Páscoa de Ressurreição!

Roma, 19 março 2021
O Conselho Geral dos Missionários Combonianos

28 de março de 2021

A MULHER DO PERFUME CARO


A liturgia católica lê a Paixão do Senhor no Domingo de Ramos e na Sexta-feira Santa. O relato é o primeiro esboço do evangelho. Depois foram compilados os ditos de Jesus e, por fim, com esse e outros materiais, os quatro evangelhos oficiais chamados de canónicos, além de muitos outros ditos apócrifos, não autenticados.

Marcos e Mateus iniciam a narrativa da paixão descrevendo dois factos: a decisão dos líderes judaicos de matar Jesus à traição; e a unção do Senhor em casa de Simão, o sofredor de lepra. Lucas coloca a unção — mais desenvolvida e com mudanças de fundo — no capítulo sétimo do seu Evangelho.

O episódio da unção passa-se em Betânia, uma aldeia no cimo da colina em frente a Jerusalém. Ou Lazariya, em árabe, hoje.

Durante a ceia, uma mulher não identificada chega com um frasco de bálsamo de nardo muito caro, invade o repasto, quebra o recipiente feito de alabastro e derrama o perfume sobre a cabeça de Jesus.

Alguns dos comensais ficam indispostos com o gesto da mulher: intromete-se num espaço de homens e apropria-se de um gesto masculino de profetas e sacerdotes a quem cabe ungir a cabeça do rei.

«Podia vender-se este bálsamo por mais de trezentos denários de dar-se aos pobres», disseram, expressando o seu enfado pelo atrevimento da mulher do perfume de nardo.

Trezentos denários, de facto, representam uma fortuna: o salário de trezentos dias de trabalho, o ordenado de quase um ano de dura labuta. 

Jesus respondeu: «Deixai-a! Porque a importunais? Praticou uma boa ação para comigo. […] Ela fez o que podia: antecipou-se a ungir o meu corpo para a sepultura».

Esta mulher sem nome e sem palavras, através do gesto amoroso para com Jesus, confessa que Ele é o Messias e revela-lhe o que o espera: a paixão e morte na Cruz.

Jesus entende a mulher, perfeitamente.

Proclama que as boas ações passam pelo serviço aos pobres — que sempre teremos connosco — e pelo reconhecimento da identidade e dignidade de cada pessoa, através da unção com o perfume valioso da ternura, do carinho. De muito amar — como nota Lucas. 

O cuidado terno e amoroso é o que podemos fazer uns pelos outros. Sempre!

Jesus afirma que o gesto da mulher inominada faz parte do anúncio do Evangelho, memória do seu ato profético.

Hoje, e cada vez que se lê a paixão do Senhor!

24 de março de 2021

DEUS FERIDO


Os filósofos e teólogos definem Deus como omnipotente, omnisciente, omnipresente.

Para falar de Deus, recorrem ao prefixo OMNI que vem do vocábulo latino omne e exprime a ideia de todo, inteiro.

Por outras palavras, Deus é capaz de tudo, sabe tudo, está em todo o lugar; tudo pode, tudo sabe, tudo vê…

Em tempos de dificuldade, estes títulos podem levar-nos a expectativas falsas do poder e agir de Deus.

Se Deus é tudo isso, então tem o direito — e o dever — de intervir nas nossas histórias e acabar com o mal, qualquer mal, num qualquer ato milagroso omni de pura magia.

Porquê é que tal não está a acontecer? Porque há tanto sofrimento e dor no mundo? 

Porque essa é uma ideia de Deus, não é Deus.

São Pedro escreve na primeira carta, citando a profecia de Isaías, que fomos curados nas suas chagas.

O nosso Deus não é omni. É um Deus ferido, crucificado e ressuscitado, que padece connosco e transforma o nosso sofrimento, as nossas misérias em graça, num processo lento, artesanal, como o oleiro trabalha com arte paciente o barro.

Onde, por um lado, atua a compaixão de Deus e, por outro, a nossa colaboração compassiva.

Em estação pandémica, onde todos somos atribulados por um vírus que pode ser eliminado com água e sabão, Deus não é omni. Para nos salvar, Ele precisa da nossa lavagem das mãos, do distanciamento social e do uso de uma máscara protetora.

Li que um dia os prisioneiros do campo de extermínio de Auschvitz desfilavam junto à forca coletiva onde um grupo tinha sido executado. Entre os enforcados encontrava-se uma criança que, por não ser pesada, não morreu logo como os adultos e retorcia-se em agonia atroz. Um dos prisioneiros, chocado pela cena, pergunta: «Onde está Deus?». Outro responde-lhe: «Está naquela criança que se retorce em morte lenta…».

Os  tempos críticos como o nosso ajudam-nos a purificar a nossa ideia de Deus, a passar de uma fé de catecismo, de conceitos abstratos e expectativas sem limites a um encontro pessoal com o Senhor ressuscitado e vivente que caminha connosco todos os caminhos da vida, que passeia livremente connosco através das fornalhas ardentes da nossa vida. 

Também o da dor e da morte. Para transformar em Páscoa.

18 de março de 2021

CAÇADOR DO INSTANTE


O escritor russo Fiodor Dostoiewski escreveu que «a beleza salvará o mundo».

A palavra grega kalós tanto pode ser traduzida em português por bom como por belo.

Bondade e beleza equivalem-se, porque têm em Deus a sua fonte; são manifestação da bondade e beleza do Criador que fez tudo muito bom e muito bem.

A teologia cristã tem explorado o imperativo ético (bondade) e o imperativo estético (beleza) — menos — como caminhos de santificação. 

A bondade e a beleza são dois caminhos complementares que levam a Deus.

A beleza — um rosto, uma paisagem, uma flor, um detalhe, um pôr-do-sol, um luar, o voo de um pássaro ou de uma borboleta, neblina — encanta-me, desarma-me, humaniza-me.

Gosto de a fotografar, de fixar esses instantes da epifania de Deus, da revelação da sua beleza.

Costumava andar com uma pequena câmara no bolso: antes, analógica; depois, digital; agora é com o telemóvel.

Caçar instantâneos de pura beleza faz parte da tentação de capturar o instante, de possuir a beleza, de a caçar e domar, de a cristalizar como uma peça de fruta na doçaria tradicional.

Uma atitude consumista que se remedia com um olhar contemplativo e um coração livre do ter.

Muitas vezes prefiro sentar-me, deixar-me tomar pelo instante místico, centelha da beleza de Deus, em vez de me preocupar com o melhor enquadramento ou a luminosidade correta.

O instante respira-se, vive-se, entranha-se, assimila-se; não se captura nem se deixa caçar.

Uma foto é uma ilusão a cores ou a preto-e-branco.

11 de março de 2021

TESTEMUNHAS DO AMOR DE DEUS


Partilhar o amor de Deus com os demais, receber e dar, determinaram a nossa vocação missionária: Irmã Vicenta Llorca, Missionária Comboniana espanhola há mais de 40 anos na Eritreia e Etiópia, e Pedro Nascimento, Leigo Missionário Comboniano português, há dois anos na Etiópia. 

Tal como fez com Abraão, também a nós, através da oração e discernimento pessoal, Deus disse: «Deixa a tua terra e vai para a terra que eu te indicar» (Génesis 12,1). O nosso destino foi a Etiópia, país cheio de sol e de hospitalidade. 

A Etiópia é um país lindíssimo, com uma grande riqueza histórica e cultural, cheio de tradições e com imensos povos, com grande diversidade linguística.

Benishangul-Gumuz faz parte de uma das regiões da Etiópia e uma das suas tribos aqui presente é a dos Gumuz, gente de carácter forte, disposta a lutar para defender-se em muitos sentidos. O nosso trabalho missionário é especialmente desenvolvido entre os Gumuz.

O nosso primeiro impacto foi muito bom, pois sempre quisemos partilhar a nossa vida com gente simples, como esta. A comunidade das Irmãs Combonianas, situada em Mandura, oferece serviços de educação, saúde e pastoral catequética. A comunidade dos Leigos Missionários Combonianos (LMC), formada pelo David Aguilera, de Espanha, e pelo Pedro Nascimento, vive com os Missionários Combonianos, em Guilguel Beles, a dez quilómetros de Mandura. Os LMC procuram auxiliar ambas as comunidades nas áreas da educação e pastoral catequética, bem como no acompanhamento de alguns doentes.

Nós, Ir. Vicenta e Pedro, trabalhamos na pastoral e no serviço social, pois uma pessoa completa-se desenvolvendo a alma e o corpo. Uma das actividades que realizamos juntos é o acompanhamento da catequese das mulheres no seu desenvolvimento espiritual, humano e material.

A mulher tem um papel importante na transformação da sociedade e aqui elas precisam de descobri-lo. A mulher Gumuz trabalha imenso e é muitas vezes negligenciada nas oportunidades tais como a educação, onde o aproveitamento escolar não é uma prioridade, especialmente, para as mulheres e raparigas. 

Estas têm, especialmente, que trabalhar no campo, apanhar lenha para cozinhar, carregar água do fontanário ou do rio, carregar pesados sacos com cereais (fruto do trabalho do campo), cuidar dos filhos, cozinhar… A vida da mulher Gumuz é difícil e cheia de sacrifícios e de trabalho árduo.

Reunimo-nos todas as semanas com um grupo de mulheres e elas elegeram um nome para o grupo: “Construtoras da Paz”, nome devido à situação de guerra que temos vivido por mais de dois anos, na nossa zona.

Neste grupo, partilhamos a Palavra de Deus, rezamos pela paz e tomamos juntos um café com a colaboração económica de todas, e fazemo-nos próximos nas experiências de dor e sofrimento que vivemos. 

Fortalecemos a amizade, partilhamos sonhos e aspirações para o futuro. Estes encontros dão-nos a possibilidade de nos conhecermos e estar mais perto uns dos outros. É nosso desejo, segundo as nossas possibilidades, desenvolver actividades que possam ajudar as mulheres na parte económica, já que elas têm um papel importante na manutenção da família.

Tudo isto é muito bonito e atractivo, mas a vida humana está composta de tempos felizes e tempos dolorosos, dias de luz e dias de escuridão.

Devido a confrontos étnicos, sobretudo pela posse da terra, a estabilidade social piorou, muitos foram mortos, aldeias foram queimadas, algumas colheitas foram roubadas por oportunistas, muitos inocentes postos na prisão sem saberem os motivos, as escolas e postos médicos fechados devido à insegurança, temendo que os estudantes sejam atacados pelos rebeldes e os professores e enfermeiros atacados e sequestrados, já que a maioria deles pertencem a outro grupo étnico.

Infelizmente esta tem sido a nossa realidade nos últimos dois anos vivendo-se, ora momentos de paz, ora momentos de conflitos e insegurança. Porém, quer vivamos, quer morramos, pertencemos ao Senhor (Romanos 14,8) e Ele connosco sempre está e nos acompanha.

Na missão das Irmãs, algumas mulheres pediram a protecção por umas semanas, ficando lá a dormir. A situação piorou e decidiram escapar para o bosque onde se podiam esconder. Quando a situação se acalmou, pouco a pouco, as famílias foram regressando às suas cabanas.

Como referimos, anteriormente, esta situação tem-se repetido por dois anos e juntos experimentamos a dor, a insegurança mas também a protecção de Deus. As obras de Deus nascem e crescem aos pés da Cruz, dizia São Daniel Comboni.

Nada disto estava contemplado quando cheios de ilusão, chegámos a esta missão, mas decidimos fazer causa comum com este povo, partilhando os momentos bons e os maus, decidimos permanecer aqui e abandonarmo-nos nas mãos de Deus.

Viveram-se tempos muitos difíceis e a nossa presença aqui, no meio das dificuldades, pretende ser testemunho da fidelidade a Deus manifestada na fidelidade ao povo com quem partilhamos a vida. Foi Jesus quem nos disse: “Eis que estou convosco todos os dias, até ao fim dos tempos” (Mateus 28,20).

No meio da dor, de ver sofrer a gente que escapa, dos que sofrem quando choram os seus entes queridos seja porque estão mortos ou porque privados de liberdade, tudo isto se converteu em tempo de graça que nos ajuda a fortalecer a fé e a fidelidade a um povo que vive tempos de sofrimento.

Fazer minha a dor do outro, demonstra-nos o quanto o outro é importante para nós, o quanto lhes queremos bem. Ensinava São Daniel Comboni: faço causa comum convosco e o dia mais feliz da minha vida será aquele em que der a minha vida por vós.

Neste momento fazem-se negociações de paz entre o governo e os grupos rebeldes, as escolas e alguns postos médicos começam a abrir. Em nós, há a esperança de que se possam viver momentos de paz, felicidade e prosperidade.

Rezem por nós e por estes povos da Etiópia, pois a esperança não a podemos perder. Rezem para que consigamos arranjar apoio para desenvolver actividades económicas com as mulheres e ajudar as famílias em necessidade. Rezem pela paz e pela comunhão fraterna.

Vicenta Llorca, Irmã Missionária Comboniana e Pedro Nascimento, Leigo Missionário Comboniano

9 de março de 2021

DEUS DAS SURPRESAS E DAS BÊNÇÃOS

 O bispo-eleito de Rumbek com o bispo de Malakal



MENSAGEM DE ACÇÃO DE GRAÇAS 
AQUANDO DA MINHA NOMEAÇÃO COMO BISPO DE RUMBEK 

Deus é o Deus das surpresas. E as suas surpresas, ainda que desafiantes, trazem sempre uma bênção. Eu não esperava esta nomeação, mas acolho-a com espírito de fé e disponibilidade. Que o plano amoroso de Deus para a Igreja de Rumbek e do Sul do Sudão seja realizado.

Estou grato ao Papa Francisco e à Igreja pelo amor e confiança que demonstraram ao chamar-me para o ministério episcopal e ao nomear-me para ser o bispo de Rumbek.

O meu pensamento vai para todo o povo da diocese e para o seu desejo de encontrar Cristo na Igreja.

A minha obrigação vai para todos os padres que servem na diocese, em particular o P. John Mathiang pelo seu empenho em liderar a diocese nos últimos anos como coordenador diocesano.

Recordo também a pessoa do falecido bispo César Mazzolari que deu a sua vida ao povo de Rumbek com o espírito de um bom pastor.

O meu apreço vai para todos os institutos e comunidades religiosas de homens e mulheres que enriquecem a diocese com os seus carismas, entre os quais manifesto especial gratidão aos meus confrades, os Missionários e Irmãs Combonianos, especialmente aqueles que partilhamos no ministério.

Estou igualmente grato à diocese de Malakal pelo espírito de comunhão, apoio e bondade: que Deus vos recompense.

Também reconheço o empenho de muitos leigos, nativos de Rumbek ou de outros lugares e países, aqueles que trabalham nos departamentos e instituições da diocese, e cristãos empenhados como catequistas, membros de conselhos eclesiásticos, associações, homens e mulheres, jovens e anciãos que formam e constroem esta família de Deus.

Quero expressar a minha disponibilidade para me juntar à diocese de Rumbek, entrando na viagem que tem vindo a fazer até agora e oferecendo a minha humilde pessoa.

Mas, neste momento, o que vos peço mais é a vossa oração, com a confiança de que o nosso Senhor, que iniciou esta boa obra, me ajudará com a sua graça e a levará a bom termo.
P. Christian Carlassare, bispo-eleito de Rumbek (Sudão do Sul)

1 de março de 2021

APAGÃO DIGITAL


Governos africanos tentam «domar» redes sociais.

O Uganda foi a votos a 14 de Janeiro. Yoweri Museveni, na presidência desde 1986, foi reeleito, pela sexta vez, com 58% dos votos, o pior resultado de sempre. Em segundo lugar ficou Robert Kyagulanyi (na foto), um deputado e cantor conhecido como Bobi Wine. Recebeu 34% dos votos. Tinha quatro anos quando Museveni (que já fez 76) tomou o poder.

Na era do digital – e com o presidente em exercício a controlar a televisão, rádio e imprensa oficiais –, a oposição migrou para as redes sociais tomando partido da forte expansão dos telemóveis (mais de metade dos ugandeses têm um e 24% usam a Internet) e da idade dos votantes (78% tem menos de 30 anos e usa à vontade as redes sociais).

Wine capitalizou os sentimentos de frustração e raiva dos jovens, que só conhecem o regime do presidente Museveni e sofrem de desemprego crónico (cerca de 70% não têm trabalho). Twitter, Facebook, WhatsApp e as plataformas de vídeo (com transmissões em directo de cargas da polícia, comícios e espectáculos) serviram para veicular as suas mensagens.

O velho presidente usou mais os meios de comunicação do Estado para chegar ao seu eleitorado numa campanha marcada pela violência das forças da ordem contra a oposição com inúmeras prisões e algumas mortes. O Facebook desactivou contas afectas à campanha do presidente por difusão de notícias falsas. Talvez em retaliação, a Comissão de Comunicações do Uganda decidiu desligar as redes sociais e as plataformas de mensagens dois dias antes do voto e, 24 horas depois, a Internet para «evitar interferências externas» no acto.

O apagão digital – que durou quase cinco dias até 18 de Janeiro – dificultou os planos da candidatura de Wine para conduzir um escrutínio paralelo com os resultados enviados directamente das mesas de voto e documentar fraudes na contagem recorrendo às tecnologias da informação e comunicações.

A decisão de desligar a Internet afectou sobretudo o comércio digital, cada vez mais popular em tempos de pandemia. Calcula-se que as mais de 100 horas sem rede custaram cerca de 7,5 mil milhões de euros às lojas de retalho, serviços de táxi (em Campala há cerca de seis mil mototaxistas inscritos em plataformas digitais), comércio electrónico e pagamentos. O apagão, inclusive, adiou a entrega do segundo avião Airbus 330 Neo à Uganda Airlines.

Não foi a primeira vez que um governo desligou o acesso às redes sociais durante as eleições. Nos últimos cinco anos, Burundi, Camarões, Guiné, Guiné Equatorial, Gabão, Gâmbia, Togo, Tanzânia, Benim, República Democrática do Congo, Maláui, Mali, Mauritânia e Serra Leoa também o fizeram.

Os governos africanos sentem cada vez mais dificuldade em controlar a narrativa da actualidade na era digital e a fronteira entre a liberdade de expressão e a sua manipulação é cada vez mais ténue. Angola, Tanzânia, Uganda, Maláui, Suazilândia e Zimbabué já introduziram legislação para regular o que chamam «abusos das redes sociais» e proteger a segurança nacional de actores externos. Zimbabué e Lesoto estão a caminho.