30 de novembro de 2018

Camarões: MISSIONÁRIOS LIBERTADOS

Três missionários claretianos raptados nos Camarões já foram libertados.

Os claretianos anunciaram no dia 29 que o padre Jude Thaddeus Langhe, o diácono Placide Muntong Gwehe o seminarista Abel Fondem Ndia foram libertados e estão bem.

«Damos graças a Deus pela liberação dos nossos irmãos missionários em Camarões que foram sequestrados no dia 23 de novembro de 2018. Eles se encontram a caminho para Douala, Camarões», lê-se no comunicado da congregação.

Os religiosos tinham sido raptados juntamente com o motorista em Muyenge no sudoeste dos Camarões por separatistas anglófonos na manhã de 24 de novembro.
Os três claretianos iam levar ajuda às vítimas da violência separatista refugiados na floresta.

O motorista continua nas mãos dos rebeldes.

O rapto aconteceu três dias depois do assassinato do padre Cosme Ombato Ondari.

Os Camarões vivem uma grave crise que opõe forças do governo aos rebeldes separatistas anglófonos.

22 de novembro de 2018

IGREJA 4.0

OS JOVENS vivem hoje sobretudo nas redes sociais. Para fazemos contacto evangelizador com eles é urgente tecer redes com os nativos do digital.

É possível transportar o evento de Jesus para o meio digital para facilitar a experiência pessoal do encontro com Jesus a uma geração tão arredada da Igreja?

Sim! É obrigatório criar uma Igreja 4.0 que celebre, sirva, faça comunhão e testemunhe, que transmita a fé usando as ferramentas e as linguagens próprias do digital desde as plataformas e aplicativos ao vídeo, etc.

Passo a rezar e Click to pray são duas iniciativas interessantes, mas representam apenas um começo. 

É urgente e necessário ir muito mais além na rede mundial.

Não chega postar algumas frases, fotos e vídeos religiosos no Facebook, Instagram ou Twitter. É vital mediar o encontro pessoa com Jesus Cristo no espaço digital, a essência da experiência cristã.

Trata-se de um grande desafio aberto à Igreja, aos pastores, aos comunicadores, criativos e engenheiros católicos das tecnologias da comunicação e informação.

Há outro elemento importante a ter em conta. 

São Paulo VI notou que «no nosso século tão marcado pelos "mass media" ou meios de comunicação social, o primeiro anúncio, a catequese ou o aprofundamento ulterior da fé, não podem deixar de se servir destes meios conforme já tivemos ocasião de acentuar» (EN 45).

A rede mundial, o grande meio de comunicação global, é uma plataforma importante para a evangelização do mundo, mas também um espaço a evangelizar desde as notícias falsas às campanhas que degradam a pessoa humana.

Outra razão para a Igreja ter uma presença qualificado neste mundo novo que nos aproxima e afasta!

XVII ASSEMBLEIA GERAL: COMUNICADO FINAL

Decorreu em Fátima nos dias 19 e 20 de novembro a XXVII Assembleia da Conferência dos Institutos Religiosos de Portugal (CIRP), constituída pelos Superiores e Superioras Maiores das diferentes Congregações. O primeiro dia, aberto a outros membros dos Institutos, foi dedicado ao estudo e reflexão sobre “Economia ao Serviço do Carisma e da Missão”. Realizou-se no auditório das Irmãs Concepcionistas ao Serviço dos Pobres, com a orientação do Padre Manuel Barbosa, SCJ, seguindo-se a apresentação dos Relatórios das diferentes Comissões de trabalho e dos Secretariados Regionais da CIRP. O segundo dia foi dedicado a assuntos relacionado com a vida da CIRP.

A Assembleia iniciou com um momento de oração confiando ao Senhor o caminho conjunto e num cântico de compromisso e desafio “Abre o teu coração, sê profeta do amor”. O P. José Vieira, Presidente da CIRP, saudou os presentes e fez uma contextualização e incentivo à pertinente formação proposta, tendo em conta os desafios da Igreja e da sociedade.

No desenvolvimento do Tema: Economia ao Serviço do Carisma e da Missão, o Padre Manuel Barbosa começou por apresentar alguns fundamentos da temática em documentos do Magistério que incitam os consagrados à fidelidade, a responder generosamente e com audácia às novas pobrezas e a vigiar atentamente para que os bens sejam administrados com prudência e transparência e numa perspetiva de sustentabilidade. 

Apresentou as “Linhas gerais de orientação para a gestão dos bens nos Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica”, propostas em Carta Circular, e apontou sobretudo para as Orientações da mesma Congregação: “Economia ao Serviço do Carisma e da Missão. Bons administradores da multiforme graça de Deus (1Pe 4,10)”. Foi feita uma viagem interpelativa ao longo de todo o documento, com alguns “Stop” para partilha entre dois ou três, sobre principais ideias, interrogações e sugestões, de que se fez eco à assembleia.

Este percurso de reflexão resultou num convite a continuar a fazer caminho tendo em conta que: somos chamados a ser bons administradores dos Carismas recebidos do Espírito, também na gestão e administração de bens (2); a simplicidade, a sobriedade e a austeridade de vida conferem uma liberdade total em Deus (8); a formação para a dimensão económica é fundamental para escolhas na missão, inovadoras e proféticas (19); hoje já não é possível pensar sozinhos (32); é tarefa específica dos superiores promover e potenciar a formação para a dimensão económica (97) e esta deve acontecer já nas etapas iniciais; os bens e as obras foram-nos confiados como dom de Deus providente, para realizar a missão (99).

A vida das Comissões Nacionais foi apresentada em perspetiva de futuro:
  • A Comissão de Apoio às Vítimas de Tráfico de Pessoas (CAVITP) traduziu e publicou o Manual “Talitha Kum” para ações de prevenção. Será distribuído por quantos desejam empenhar-se nesta causa. Irá realizar-se um seminário de formação e sensibilização. 
  • A COMISSÃO JUSTIÇA, PAZ E ECOLOGIA promove ações de formação e sensibilização em ordem à promoção e implementação destes valores. 
  • A COMISSÃO DA PASTORAL DAS VOCAÇÕES marcou presença no Congresso sobre Pastoral Vocacional e Vida Consagrada em Roma e promove o Encontro Anual para Animadores de Pastoral Vocacional em Fátima, já marcado para janeiro de 2019. 
  • A COMISSÃO DE FORMAÇÃO está a desenvolver a sua atividade na organização de Cursos para as diferentes etapas formativas. 
  • REVISTA DA VIDA CONSAGRADA. Houve apelo à partilha de vida, com notícias e artigos de reflexão. 
  • A COMISSÃO DA SEMANA DE ESTUDOS SOBRE A VIDA CONSAGRADA já lançou a divulgação da próxima que decorrerá em Fátima de 2 a 5 de março, sobre o tema: O Desafio da Santidade no Mundo Atual. 
  • OS INSTITUTOS MISSIONÁRIOS AD GENTES (IMAG) organizam anualmente o Curso de Missiologia na última semana de agosto. Em 2019 decorrerá de 26 a 31, contando-se com uma maior divulgação e participação que em anos anteriores assinalando o Ano Missionário. Foi inaugurada a 29 de setembro em Guimarães uma exposição missionária itinerante que irá percorrer várias Dioceses no contexto do Ano Missionário. Realizou-se em Gouveia entre 13 e 16 de novembro a Assembleia conjunta IMAG/ANIMAG. 

A apresentação dos relatórios dos Secretariados Regionais foi feita pelo Secretário da CIRP, P. Constantino Tiago Espírito Santo, com referência às atividades de formação, celebração da Semana e do Dia do Consagrado, tempos de oração, convívios e as reuniões do secretariado. Valorizou-se a visita às comunidades contemplativas e a presença de alguns Bispos nas atividades. Denotou-se criatividade nalgumas Dioceses e dificuldades de encontro noutras, por circunstâncias de lugar ou contexto.

Assuntos e informações da vida da CIRP
  • Foram apresentados os novos Superiores Maiores. 
  • Recordou-se o dever de participação dos religiosos nas atividades regionais da CIRP. 
  • A Semana do Consagrado terá como mote “Comunidades Santas e Missionárias”. 
  • Encarregaram-se diferentes Congregações de elaborar os materiais de ajuda à vivência da semana. 
  • Apresentação do comunicado final da Assembleia da CEP. Os Superiores Maiores aprovaram um voto de congratulação ao Missionário Monfortino D. Rui Valério pela sua nomeação para o Episcopado. 
  • A Assembleia nomeou a Irmã Conceição Oliveira Fernandes da Congregação das Irmãs de São João Batista e de Maria Rainha como vogal da Direção da CIRP. 
  • Foi proposta a criação de um Gabinete para Economia e Gestão. A Assembleia deu parecer positivo e será estudada pela Direção. 
  • O orçamento para 2019 foi aprovado por unanimidade. 
  • Em ordem à comunhão, houve partilha dos acontecimentos e celebrações relevantes em cada Congregação. 
  • A Direção da CIRP deu a conhecer a Porticus, Organismo internacional para apoio de obras católicas no mundo, interessados em apoiar na formação em ordem à proteção de menores e apoio a pessoas vulneráveis. Ficou a proposta de parceria tanto das Comissões como dos Institutos. 
Para além dos trabalhos da Assembleia, houve Eucaristia em comum em ambos os dias e um ambiente de confraternização e de partilha.

A Próxima Assembleia da CIRP irá realizar-se em Fátima a 20 e 21 de maio de 2019.

Fátima, 20 de novembro de 2019

21 de novembro de 2018

ESTRUME DO DIABO



Um coirmão italiano que foi ecónomo provincial costumava dizer que o dinheiro era «estrume do diabo». Esta definição pode revelar uma visão disfuncional dos bens, um bem-me-queres, mal-me-queres de uma realidade que é parte integrante da nossa vida de consagrados, do nosso voto de pobreza.

A economia e a finança captaram a atenção de duas congregações vaticanas este ano.

O Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Integral e a Congregação da Doutrina da Fé publicaram a 17 de maio de 2018 uma reflexão conjunta sobre as questões económicas e financeiras, propondo uma economia humanizada, com coração, que se preocupa com o bem-estar e o bem comum.

As questões económicas e financeiras quer introduzir a ética, a antropologia relacional e o conceito do bem comum no sistema económico-financeiro contra o individualismo e consumismo.

O documento defende também um consumo ético: não devemos comprar aquilo que sabemos que foi produzido sem respeitar os direitos dos produtores e o meio ambiente.

As considerações fazem todo o sentido, sobretudo hoje! Oito homens sozinhos detêm tanta riqueza como a metade mais pobre da humanidade junta.

A maioria faz o dinheiro nas tecnologias da informação e comunicação no âmbito do digital. Seis são americanos. Os outros dois são um mexicano (nas telecomunicações) e um espanhol (dono da Zara).

A Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica publicou a 6 de janeiro de 2018 umas Orientações sobre Economia ao serviço do carisma e da missão.

O documento diz que «o cristão, portanto, é chamado a ser ecónomo, administrador da multiforme graça» (nº 1) e «os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica são chamados a ser bons administradores dos carismas recebidos do Espírito, também na gestão e administração dos bens» (nº 2).

Somos administradores de bens – Jesus quer-nos  administradores fiéis e prudentes (Lucas 12, 42) – que não nos pertencem, mas que são eclesiais por natureza e, por isso, devem ser partilhados com os empobrecidos e com os institutos mais necessitados através de uma «economia evangélica de partilha e comunhão» (nº 16).

O documento fala da necessidade de as conferências de superioras e superiores maiores constituírem «comissões formadas por consagradas, consagrados e leigos especializados em matéria económica» (nº 95).

Somos nativos da cultura do consumo e somos tentados pelo consumismo. Neste âmbito, as Orientações recordam que o Papa Francisco «faz o elogio da sobriedade» (nº 8) caraterizada pela alegria de ter pouco e pela sobriedade, através de «uma austeridade responsável», «humildade sadia e uma austeridade feliz» para escutar «o grito dos pobres, dos pobres de sempre e os novos pobres» (Nº 51).

Ao refletir sobre as questões da economia, carisma e missão temos que fazer memória de Jesus Cristo, que «sendo rico, fez-Se pobre, para nos enriquecer na sua pobreza» (2 Coríntios 8,9).

Este é o paradoxo da vida económica: enriquecemos os outros através da «pobreza amorosa [que] é solidariedade, partilha e caridade» e «se manifesta na sobriedade, na busca da justiça e na alegria do essencial» (nº 14).

Como o papa escreveu na sua mensagem para o segundo Dia Mundial dos Pobres, que celebrámos a 18 de novembro, «os pobres evangelizam-nos, ajudando-nos a descobrir cada dia a beleza do Evangelho.»

«Não deixemos cair em saco roto esta oportunidade de graça», desafia Francisco.

16 de novembro de 2018

Sudão do Sul: LADRÕES MATAM MISSIONÁRIO


Homens armados assassinaram um missionário estrangeiro no Sudão do Sul.

A Província do Leste de África dos Jesuítas confirmou a morte do companheiro Victor-Luke Odhiambo, um padre queniano da Companhia de Jesus, «com tristeza e choque profundos.»

O P. Odhiambo foi assassinado na noite de quarta para quinta-feira, 15 de novembro, por homens armados que atacaram a Residência Jesuíta Daniel Comboni em Cueibet, junto à estrada que liga Juba a Wau.

O missionário queniano tinha 62 anos.

Era director da escola de formação de professores de Cueibet, fundada pelo comboniano Dom César Mazolari, bispo de Rumbek falecido há sete anos.

O P. Odhiambo trabalhava no Sudão do Sul há uma dezena de anos.

Estava na sala de televisão quando a residência foi assaltada.

Os outros quatro membros da comunidade, incluindo uma visita, estavam já nos seus quartos.

Quando ouviram os disparos acionaram o alarme e os ladrões puseram-se me fuga.

«Estão em estado de choque», os Jesuítas da província do Leste de África escrevem na sua página na rede digital.

Entretanto, John Madol Panther, Ministro da Informação do estado sul-sudanês de Gok, anunciou que três dos quatro suspeitos do homicídio do P. Odhiambo já estão presos.

O ministro disse que os detidos confessaram o envolvimento no assassinato do jesuíta queniano.

Definiu os homicidas como «criminosos armados da área.»

O P. Odhiambo vai ser sepultado em Rumbek, a capital do estado de Gok e sede da diocese.

O Sudão do Sul vive num turbilhão de violência desde 15 de dezembro de 2013 que os sucessivos acordos de paz não conseguem parar.

5 de novembro de 2018

ADEUS NYALA, ADEUS DARFUR




A festa de São Daniel Comboni celebra-se a 10 de Outubro, dia da sua morte, em 1881, em Cartum, no Sudão.Em Nyala, no Dardur, foi celebrada dois dias depois por razões práticas e pastorais: a sexta-feira é o dia de descanso nacional e assim os fiéis puderam participar com muito mais facilidade.

A festa de São Daniel Comboni, este ano, trouxe uma grande mudança à paróquia de Nyala. A partir de hoje, a responsabilidade da paróquia passou dos combonianos para as mãos do clero local da diocese de El Obeid. Esta mudança não foi surpresa para os fiéis: foram preparados com tempo para este evento.

O novo pároco, padre Anthony Ernest Laa, sudanês, foi instalado hoje, 12 de Outubro, durante a celebração da Eucaristia presidida pelo Vigário Episcopal, padre Edward Inyasio, que leu, para o efeito, o documento oficial de D. Yunan Tombe Trille Kuku, bispo da diocese de El Obeid.

Além do padre Feliz Martins, foram concelebrantes os padres Ayoub Kudri, pároco de El Fasher, e Jervas Mawut, da comunidade comboniana de Massalma, Omdurman.

Na homilia, o padre Edward recordou a figura de São Daniel Comboni que, na sua juventude, ouviu a chamada de Jesus Cristo, Bom Pastor, e seguiu-o.

Falou com arrojo e ousadia ao convidar a juventude a abrir-se e ouvir a voz de Cristo que chama também hoje de entre os rapazes e as raparigas desta paróquia de Nyala para dar cumprimento ao lema de Comboni: «Salvar a África por meio dos africanos».

Ao mesmo tempo, o padre Edward, incluiu o seu próprio testemunho de como o Senhor o chamou para estar ao serviço dele e da Igreja.

Começou por ser catequista em Kabkabia, no Norte do Darfur e, depois de quatro anos, ingressou no seminário com a firme resolução de ser padre.

O padre Anthony fazer a profissão de fé através da recitação do Credo.

Imediatamente depois, os presentes testemunharam também o simples mas muito significativo ritual simbolizado através de duas velas.

A primeira vela, que o padre Feliz segurava acesa na mão, foi passada ao novo pároco, o padre Anthony.

A segunda passou da mão do padre Jervas para a do líder da juventude da paróquia: a fé deve continuar viva e acesa no movimento da juventude e em todos os outros movimentos pastorais e litúrgicos de Nyala.

Terminada a Missa, todos foram convidados a permanecerem no adro da igreja para o fatur, o almoço que tinha sido preparado até altas horas da noite anterior.

Foi uma refeição que veio da iniciativa e generosidade dos paroquianos, pelo qual estavam todos muito orgulhosos.

«E eu sinto-me muito contente por ser contado entre aqueles que ajudaram na zebeh, na matança dos dois kharuf, os cordeiros, ontem à noite», comentou um dos jovens, enquanto a sinia, a travessa gigante da comida, era trazida.

«Sim, todos nós sabemos que sem o sangue a jorrar da zabiha, isto é, do animal a ser degolado, a celebração não seria bonita nem aceitável», concluiu um dos anciãos.

Depois do almoço, pouco a pouco, a gente começou a acomodar-se, ocupando todo o lugar do átrio da igreja, prontos para a tarde recreativa.

No palco houve bons ritmos, canções e algumas representações teatrais.

Naquela mesma plataforma ecoaram as palavras de agradecimento e encorajamento por parte do Vigário Episcopal e do padre Jervas, representante do Superior Provincial dos Missionários Combonianos.

Além disso, foi muito lindo o gesto dos paroquianos que, com amor e agradecimento, quiseram homenagear o antigo pároco, padre Lorenzo Baccin, e o seu assistente, padre Feliz, com alguns presentes simbólicos.

O P. Lorenzo não pôde estar presente, porque o visto de residência no Darfur caducou e teve que viajar para Cartum dias antes.

Aliás, os combonianos trocaram Nyala por El Obeid pela dificuldade de conseguir vistos de residência para o Darfur.

Havia alegria no ar e nos rostos de toda a gente.

Ficámos muito felizes por ver também alguns amigos e professores muçulmanos das nossas Escolas Comboni que quiseram unir-se aos cristãos nessa grande festividade que teve fim somente ao pôr-do-sol.
P. Feliz da Costa Martins

3 de novembro de 2018

VENTOS DE MUDANÇA

Presidente etíope Sahle-Work Zewde com o primeiro-ministro Abiy Ahmed 

Em África sopram ventos novos.

Há catorze meses, o ex-ministro da Defesa, João Lourenço, sucedeu a José Eduardo dos Santos ao fim de trinta e oito anos na presidência de Angola. E com palavras novas, logo na tomada de posse: «A corrupção e a impunidade têm um impacto negativo directo na capacidade de o Estado e os seus agentes executarem qualquer programa de governação. Exorto, por isso, todo o nosso povo a trabalhar em conjunto para extirpar esse mal que ameaça seriamente os alicerces da nossa sociedade.»

Não foi um discurso de circunstância! Um ano depois, o presidente Lourenço libertou a economia angolana das garras da família dos Santos: exonerou Isabel da presidência da Sonangol, a petrolífera estatal, e o irmão José Filomeno da presidência do fundo soberano do país e desfez alguns contratos lucrativos que o seu antecessor tinha assinado a favor da sua prole. Entretanto, em fins de Setembro, dá-se o inimaginável: Filomeno é detido preventivamente, acusado pelo Ministério Público de associação criminosa, falsificação, tráfico de influências, burla, peculato e branqueamento de capitais.

Pepetela, o escritor angolano recentemente homenageado na Escritaria, o festival literário de Penafiel, disse que o presidente Lourenço surpreendeu, «porque fez mais do que muita gente esperava».

Também na Etiópia sopram ventos de mudança. Em Fevereiro de 2018, o primeiro-ministro, Hailemariam Desalegn, demitiu-se depois de uma onda sangrenta de protestos de oromos e amaras ateada pelos planos de expansão da capital para terrenos agrícolas oromos. A coligação que detém o poder desde 1991 chamou, em Abril, Abiy Ahmed, ex-militar doutorado em paz e segurança, para chefiar o Governo.

Ahmed é o primeiro oromo – o maior grupo étnico etíope com cerca de 40 milhões de membros – a chefiar o Governo do país. Houve alguns oromos na presidência da República, mas o cargo é cerimonial.

O novo primeiro-ministro, filho de mãe copta e pai muçulmano, levantou o estado de emergência, soltou os presos políticos, permitiu o regresso dos exilados, desbloqueou a Internet e prometeu abrir o negócio das telecomunicações à iniciativa privada.

Mais, fez as pazes com a Eritreia – Asmara e Adis-Abeba envolveram-se numa guerra fronteiriça entre 1998 e 2000 –, visitou Asmara e celebrou o novo ano copto (a 11 de Setembro) com o dirigente eritreu Isaias Afwerki na fronteira reaberta. A Eritreia, por seu turno, refez as relações com a Somália e o Jibuti.

A emergência de Ahmed na cena política etíope foi saudada como «milagre de Deus» pela população cansada dos desgovernos em Adis-Abeba e nos nove Estados da federação.

Omar al-Bashir, o presidente sudanês com mandado de captura do Tribunal Penal Internacional por crimes de guerra e contra a humanidade no Darfur, trocou as penas de falcão pelas de pomba da paz ao apadrinhar acordos de cessação de hostilidades entre Salva Kiir e Riek Machar, no Sudão do Sul, e as milícias anti-Balaka e Seleka que se gladiam na República Centro-Africana.

Ventos novos que geram expectativas de mudanças maiores sobretudo na Eritreia, que o regime de Afwerki transformou em campo de concentração. Sem inimigos, já não pode justificar o serviço militar obrigatório até aos 50 anos e manter o país a ferro e fogo.