28 de março de 2023

AZIZA, A FREIRA DE FOGO


Azezet Habtezghi Kidane nasceu na Eritreia a 21 de agosto de 1956. Em 1980, com 24 anos, Aziza — como também é conhecia — juntou-se às Missionárias Combonianas. Enfermeira de profissão, desenvolveu o ser serviço missionário na Eritreia (cinco anos), Etiópia (sete anos), Sul do Sudão (dez anos) e Inglaterra (sete anos).

Em 2008 foi destinada à província comboniana do Médio Oriente, ficando a viver na Palestina.

A Ir. Aziza é pequena de estatura, mas tem um coração enorme, veste um sorriso tímido nos lábios e tem um cruz tatuada na testa. É uma mulher de fogo!

Em Israel, colabora como enfermeira voluntária com a organização não governamental Médicos para os Direitos Humanos-Israel, PHR-I na sigla em inglês.

No trabalho de enfermagem, ouvindo as histórias dos requerentes de asilo, apercebeu-se que algo de estranho se passava na Península do Sinai, no Egito.

Entre 2010 e 2012 fez milhares de entrevistas a estrangeiros — muitos eritreus como ela — que procuravam os seus cuidados e contavam os horrores por que passaram e pôs a nu uma rede de tráfico, tortura e exploração sexual no Sinai.

De acordo com o que apurou, pelo menos sete mil pessoas morreram sob tortura na península egípcia.

O Departamento de Estado Norte-Americano reconheceu a heroicidade desse trabalho de investigação sobre o tráfico de pessoas e atribuiu-lhe o prémio Trafficking in Persons Report Heroes em 2012.

Por seu turno, o embaixador da Eritreia em Israel telefonou-lhe para que parasse as investigações. A Ir. Aziza não é mulher para se deixar intimidar e continuou com o trabalho. Consequentemente perdeu a cidadania eritreia. Quando o passaporte caducou a embaixada recusou-lhe a renovação. Agora é cidadã britânica.

As Combonianas também assistem os beduínos palestinianos que foram expulsos do deserto do Negueb com um jardim infantil e através da promoção da mulher. A Ir. Aziza denuncia que os beduínos não têm quaisquer direitos reconhecidos e não podem construir nada em material permanente, vivendo em autênticos bairros de lata feitos de madeira, plástico e cartão.

O seu ativismo em favor dos direitos humanos dos requerentes de asilo, dos imigrantes africanos em Israel e dos beduínos levou-a ao Knesset, o Parlamento Israelita, por cinco vezes para partilhar com os políticos as suas descobertas e denunciar a violação sistemáticos dos direitos dos não-judeus no país.

A Ir. Aziza denuncia que em Israel as injustiças contra os não-judeus são gritantes e há cristãos fanáticos que apoiam a violência do Estado contra as minorias.

Considera-se livre de falar, de denunciar as injustiças. Pode falar sobre a política e as injustiças contra os requerentes de asilo. “Os Israelitas escutam mas não se preocupam com o que dizes” — confessa.

Durante a semana trabalha dois dias na clínica móvel de uma ONG em Israel para atender pacientes sem direitos sociais que não têm dinheiro para pagar a assistência de saúde privada. Cada sábado a clínica móvel desloca-se para o Território Palestiniano.

A Ir. Aziza afirma que a Palestina é chamada Terra Santa “porque o sangue de Cristo ainda não secou; os inocentes continuam a sofrer”.

Trabalha tanto com Judeus — com eles reza sobretudo os salmos — como com Palestinianos.

“A pessoa que vive a sua beleza, revela a bondade de Deus”, confessa, entusiasmada.

Diz que o seu trabalho humanitário é a dimensão mais importante da sua vocação comboniana.

No seu serviço missionário tem colaborado com muitas pessoas que se dizem não crentes, mas que são dedicadas, amorosas e capazes de perdoar.

“Elas não acreditam, mas trazem Cristo, Deus, a Bíblia dentro de si”, proclama, com os olhos cheios de luz.

As Missionárias Combonianas têm duas comunidades na Terra Santa: o Centro de Espiritualidade em Betânia, Jerusalém, desde 1966, e Al Azarieh, na Palestina. Esta comunidade, aberta em 2011, faz trabalho pastoral, social e educativo com residentes e beduínos e dá assistência a migrantes em Tel Aviv.

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