Missionários em Leer: Ir. Nicola, P. Yacob e P. Raimundo com
P. Christian (de Old Fangak)
Caros amigos e amigas, muita paz.
Escrevo a vocês com mais notícias sobre a situação no Sudão
do Sul. Primeiramente, quero agradecer a todos vocês pelas orações e manifestação
de solidariedade para com o povo sul-sudanês e para connosco missionários no
Sudão do Sul. Em segundo lugar, quero dizer que estamos ‘bem’ na missão de
Leer, mas bastante preocupados porque a situação parece piorar. No geral, a
situação não vai muito bem. Chega a 200 mil desabrigados e refugiados.
Acredita-se que o número de mortos chega a milhares.
Em Juba, capital do país, a situação é relativamente
tranquila. Em Malakal, capital da nossa Diocese, as tropas do governo estão no
controle, mas volta a ter conflitos. Em Bor, capital do vizinho estado de
Jonglei, os rebeldes estão no controle e pode haver mais conflitos. As tropas
do governo estão agora no controle de Bentiu, a capital do nosso estado, mas
isso não significa paz.
Com medo dos confrontos entre as tropas, o povo teve que
fugir de Bentiu. A cidade foi saqueada e destruída. Centenas de pessoas vieram
para Leer em carros, mas a maioria a pé (130km). Muitos foram assaltados no
caminho. Há uma situação de insegurança quase generalizada. Muitos soldados
foram trazidos feridos para o hospital de Leer. Não sabemos quantos morreram
nos combates.
Enquanto Leer recebia centenas de pessoas fugindo de Bentiu,
muita gente deixava Leer em fuga para povoados ou outros lugares mais ‘seguros’
por medo de um possível ataque em Leer. De facto, tivemos na missa de hoje
metade do povo que costuma vir e metade deles era gente que veio de Bentiu.
Muitos soldados chegaram a Leer também. Os dois padres de Mayom e um de Rubkona
vieram para nossa missão. O padre de Bentiu foi para Juba.
A situação que era relativamente calma ficou tensa e
temerosa em Leer. O clima é de guerra e insegurança. O medo e a tristeza no
rosto das pessoas são quase palpáveis. O mercado de Leer continua fechado por
medo de saques. Se saquearem o mercado vai faltar comida e não tem como chegar
mais alimentos porque estamos isolados.
Nós missionários fizemos uma reunião de emergência para
saber o que fazer, se ficamos ou se deixamos a missão. Consultamos os
catequistas e o comissário, autoridade local que funciona como prefeito, e nos
disseram que não há perigo de as tropas virem a Leer para um ataque, mas se
houver perigo nos informarão em tempo. Leer é a cidade natal do líder dos
rebeldes, o vice-presidente deposto.
A nossa decisão por enquanto é de ficar na missão de Leer,
mas estamos em alerta e monitorando a situação. Se for preciso, deixaremos a
missão e iremos para Juba num avião de resgate. Essa é uma decisão muito
dolorosa, ter que partir e deixar o nosso povo. Porém, as suas vidas, assim
como as nossas, são preciosas e não podemos arriscar demais. É também dolorido
saber que a missão pode ser saqueada. Tudo aqui é difícil de se conseguir e de
construir. Foram anos de trabalho. Isso gera angústia. A nossa esperança é que
a situação se acalme e tudo volte ao normal.
Porém, as negociações de paz na Etiópia avançam muito
devagar. A nossa proteção e esperança estão mesmo em Deus. Por isso,
intensificamos nossas orações por paz e reconciliação com o povo da missão. O
mundo todo reza por nós e conosco. Convidamos vocês a fazerem o mesmo. Espero
poder escrever com boas notícias na próxima vez.
Fiquem com Deus.
Pe. Raimundo Rocha, Missionário Comboniano em Leer, Sudão do
Sul
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