Quase 14 menores dão
à luz por minuto – muitas são africanas – e cerca de 200 morrem por dia devido
à gravidez ou parto.
O Fundo de População
das Nações Unidas publicou no final de Outubro um relatório sobre o Estado da
População Mundial 2013 com o título «Maternidade na Infância: Enfrentando os
Desafios da Gravidez na Adolescência.»
O relatório apresenta
uma realidade cruel: 7,3 milhões de raparigas com menos de 18 anos dão à luz
por ano nos países em desenvolvimento e mais de um terço, dois milhões delas,
têm 14 anos ou menos. Se as tendências actuais persistirem, em 2030 o número de
partos de meninas com menos de 15 pode chegar aos 3 milhões.
A gravidez precoce traz
problemas psicológicos e físicos terríveis, incluindo a morte. No Sudão do Sul,
onde eu vivo, mais de duas mil mulheres-meninas morreram por ano durante o
parto ou de complicações pós-parto por cada cem mil nascimentos porque o
casamento de crianças é culturalmente praticado e os corpos das meninas-mães
ainda não estão prontos para o trabalho de parto. A fístula obstétrica é outra
consequência comum da maternidade precoce.
O relatório revela
dados preocupantes sobre a gravidez de adolescentes em África:
• 51 por cento das
meninas do Níger engravidam antes dos 18 anos, 48 por cento no Chade e 46 por
cento no Mali;
• 28 por cento das
meninas da África Ocidental e Central concebem antes dos 18 anos;
• Dez por cento das
meninas no Chade, Guiné, Mali, Moçambique e Níger têm um bebé antes dos 15
anos;
• Seis por cento das
meninas da África Ocidental e Central engravidam antes dos 15 anos;
• Um terço das
meninas no Chade e Níger é obrigado a casar antes dos 15 anos;
• Na Etiópia, Malauí,
Níger e Nigéria, um terço dos casos de fístula são em adolescentes;
• 1,4 milhões de
adolescentes africanas entre os 15 e os 19 anos submetem-se a abortos de risco
anualmente e 36 mil mulheres e adolescentes morrem;
• 35 por cento de
raparigas na Guiné com idades entre os 15 e os 19 anos sofrem de doenças
sexualmente transmitidas, 29 por cento no Gana e no Congo;
• 1,2 milhões de
menores africanos sofrem de sida, representando mais de metade dos casos da
população mundial nessa faixa etária (dois milhões).
O relatório aponta algumas
razões para a gravidez precoce, destacando a pobreza, tradição que encoraja o
casamento de meninas logo na puberdade, falta de escolaridade e puberdade mais
cedo. E indica caminhos para resolver o fenómeno que incluem desmantelar as
barreiras que não permitem às adolescentes realizar os seus potenciais e
desfrutar dos seus direitos; manter as meninas na escola; não permitir o
casamento antes dos 18 anos; pôr termo a coerção e violência sexuais; e
permitir o acesso das adolescentes a contraceptivos. Da minha experiência de
uma dúzia de anos em África, a escolarização é o instrumento mais importante
para proteger as meninas e adolescentes e prepará-las para encararem o futuro e
a maternidade com mais calma.
Neste Natal,
juntamente com a maternidade gloriosa de Maria de Nazaré, recordemos as
maternidades problemáticas de 20 mil menores que vão dar à luz nesse dia e as
cerca de 200 que vão morrer de complicações da gravidez ou do parto em países
em desenvolvimento. Um Natal diferente…
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