Yida: Crianças da Pré-primária © JVieira
Yida, na parte norte do estado sul-sudanês de Unity, acolhe refugidos dos Montes Nubas, no estado sudanês do Cordofão do Sul, desde Agosto de 2011, depois de a guerra ter começado naquela região a 5 de Junho de 2011. Desde então, as tropas do Governo têm bombardeado sistematicamente alvos civis, incluindo aldeias, mercados, áreas agrícolas e rebanhos. Hoje o campo tem uma população de mais de 70 mil.
Visto do céu, o campo é
uma coleção de pequenos pontos brancos e azuis espalhados por uma área de 38 quilómetros
quadrados por entre esparsas árvores que restam do que era uma floresta
espessa. As casas são feitas de paus e erva seca e coberta com plásticos
fornecidos por agências humanitárias como a Samaritan´s Purse e as Nações Unidas.
Algumas casas são de blocos de barro secos ao sol.
O campo é um espaço
aberto, sem arame farpado. As crianças estão bem nutridas e limpas e são
muito simpátricas. Há 20 mil em idade escolar que frequentam oito escolas
primárias e uma secundária feitas de paus, palha e plásticos. Os da
pré-primária contentam-se com a sombra de uma árvore. Um dos dez professores
quenianos que ensinam os 270 alunos do décimo ano – a escola abriu em Janeiro –
disse-me que os Nubas levam a educação muito a sério apesar da precariedade em
que vivem.
Tanto o Governo do Sudão
do Sul como o ACNUR, a agência para refugiados da ONU, querem mudar o campo
para Ajuong, mais para sudeste. Razão? Yida está demasiado perto da
fronteira – a um dia de caminhada – e não oferece segurança. Depois,
Yida é ponto de passagem para as forças do SPLA-North que combatem o Governo de
Cartum, e que recrutam entre a população jovem dos refugiados.
O Governo ordenou ao
ACNUR para parar de registar novos refugiados a partir de 4 de Abril para
forçar as pessoas a irem para Ajuong. Mas os refugidos vão ficando por Yida
mesmo que não possam receber comida e outras ajudas porque não estão
registados. Um agente humanitário disse-me que já há 3000 pessoas a viver da
comida que recebem de familiares e amigos. Casos de malnutrição começam a
aparecer. A falta de comida pode vir a trazer violência e banditismo ao campo!
Toda a gente sabe onde a comida está guardada e os famintos podem ser tentados
a saquear as mais de 30 tendas gigantes com comida para 100 mil pessoas até
final de Dezembro.
O campo também precisa de
mais 500 latrinas para reforçar a saúde pública durante a estação da chuva,
que já começou. As cerca de 2000 latrinas contraídas não chegam para as
necessidades e a diarreia e a hepatite E são recorrentes durante as chuvas por
falta de condições sanitárias.
Ajuong – que abriu em
Março – tem cerca de 1,200 residentes, a maioria rapazes dos 18 aos 20 e poucos
que são pagos para cavar latrinas e preparar outras estruturas no novo campo.
Os residentes de Yida não querem nem ouvir falar da mudança: dizem que lhes
custou muito trabalho chegar a um acordo sobre a partilha de água, lenha e
outros recursos naturais com a comunidade local e não querem ser guardados
pelos soldados sulistas que têm fama - e proveito - de más maneiras.
1 comentário:
Uma estória triste mas realista da vida dos refugiados de Nuba Mountains. Obrigada Joe!
Sandra
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