A 4 de Março, o Quénia vai a
eleições gerais. As últimas eleições em 2007 deixaram o país à beira da guerra
civil. Em pouco mais de dois meses os conflitos em diversos pontos do país
deixaram mais de 1300 mortos e quase 700.000 deslocados.
Cinco anos depois, pouco foi feito
para reconciliar o país e ninguém foi declarado culpado por qualquer dos crimes
cometidos. Por pressão internacional, o sistema eleitoral bem como a Comissão Eleitoral
e leis eleitorais, consagradas na nova Constituição aprovada em 2010, foram
passos significativos para que se possam realizar eleições justas, corretas e
pacíficas!
Mas na mente da maioria dos
quenianos e principalmente da grande maioria dos políticos, os velhos métodos
de compra de votos, intimidações, violência e fraudes eleitorais continuam na
ordem do dia, mormente nas zonas rurais.
Antevê-se uma segunda volta para
a eleição presidencial.
Pela primeira vez, cada um dos
pouco mais de 14 milhões de votantes registados são chamados a eleger de uma assentada
seis cargos políticos: presidente, governador civil, senador, membro do
parlamento de cada concelho, representante feminina na assembleia concelhia e
concelheiro de cada aldeia na assembleia concelhia! Até agora os quenianos
apenas elegiam o presidente do país e o membro parlamentar. Todos os outros cargos
políticos governativos eram "distribuídos" pelas filiações e amizades
políticas.
A grande questão que se põe neste
momento é esta: estão os quenianos preparados para uma transição eleitoral tão
complexa como esta? Certamente que não, especialmente nas zonas rurais!
Educação cívica e eleitoral foi inexistente nas zonas rurais. Aparte de uma
campanha de educação cívica e eleitoral mais ou menos elaborada através da TV, nada
mais foi feito! A grande maioria dos quenianos a viver nas zonas rurais não tem
acesso à TV. As rádios foram deixadas à sua própria iniciativa no que respeita
a sensibilização e educação cívica eleitoral, o que degenerou, em vários casos,
no apoio a determinados candidatos em base de escolha tribal. Muita da
violência em 2007/2008 foi instigada pelas rádios locais com forte inspiração
tribal.
Finalmente, e segundo as muitas e
suspeitosas sondagens, o maior número de votos é entregue a dois candidatos:
Uhuro Kenyata e Raila Odinga. O primeiro é filho do primeiro presidente do
Quénia. Tanto ele como o seu vice-presidente estão acusados de crimes contra a humanidade
no tribunal internacional de Haia, cometidos nas últimas eleições! O segundo
candidato é o atual primeiro-ministro e concorre a presidente pela terceira vez.
Pertence a uma família e tribo – os Luo - que nunca teve a presidência do país.
Não é segredo nenhum para qualquer queniano atento que a administração
americana e mesmo a EU preferem este candidato. Obviamente, os outros
candidatos chamam a este apoio camuflado um novo colonialismo! Há aqui uma sede
de poder nunca alcançado por esta tribo, o que nunca é um bom prenúncio.
As eleições primárias dos
partidos para eleger os candidatos de cada partido aos vários cargos
governativos foram marcados por violência, fraudes eleitorais e muita confusão
nas nomeações. Tal facto prova que mesmo com leis novas e reformuladas de acordo
com a nova Constituição, não são suficientes para evitar o caos! É preciso que
as mentalidades mudem também, o que não é o facto para a grande maioria!
Em preparação para estas eleições
o país testemunhou sinais preocupantes que também antecederam as últimas
eleições em 2007: alterações à Constituição para acomodar interesses políticos,
lutas tribais em pelo menos zonas zonas do país e que fizeram mais de 200 mortos,
entre eles quase 50 polícias, assassinato de três políticos que pretendiam
concorrer a postos governativos distritais e o caos já mencionado das eleições
partidárias primárias.
Para que um candidato
presidencial seja eleito na primeira volta, ele necessita de 50 porcento dos
votos mais um. Este é um cenário pouco provável à primeira volta, pelo que se
espera uma segunda volta dentro de 30 dias.
Aquilo que o mundo espera é que,
seja qual for o resultado eleitoral, o descalabro das últimas eleições não se
repita! É isso que vos convido a pedir comigo e com os 40 milhões de quenianos:
eleições pacíficas, livres e verdadeiras!
Padre Filipe Resende
Missionário Comboniano
Kacheliba - Quénia
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