Passei o Natal em Barguel com um colega que dirige uma escola profissional financiada por Sudin, uma ONG italiana.
O padre Giovanni Girardi
foi buscar-me ao aeródromo de Rumbek e depois de fazermos as compras para as
festas – uma oportunidade para conhecer o mercado da capital do Estado de Lakes
– pusemo-nos a caminho para Barguel.
A escola fica camuflada
numa pequena floresta de árvores variadas entre a estrada que vai para Wau e
uma clareira feita pelas inundações anuais do rio Guel. Um pequeno paraíso
tranquilo, cheio de pássaros e de paz.
Na sexta-feira aproveitei
para visitar a Rádio Don Bosco de Tonj, que fica a uns 60 quilómetros de
Barguel. A picada recentemente reabilitada está em ótimas condições. Veio-me ao
coração um imenso sentido de liberdade enquanto fazia a estrada sozinho por
entre a savana equatorial.
Fiquei admirado com as
movimentações das forças da ordem – polícia e militares – em preparação para o
Natal. Aliás, acabei por dar boleia a cinco polícias que vinham de Juba – dois dias
de viagem – e cujo camião avariou perto de Tonj.
A Don Bosco é uma estação
modesta mas a fervilhar de vida. O apresentador de serviço aproveitou a minha
passagem para fazer uma entrevista sobre o sentido do Natal. Gostei!
De volta a Barguel,
comecei a minha rotina de férias com «Clarabóia» do José Saramago: um livro
interessante, com partes muito rebuscadas, outras páginas que me remeteram para Camus
e Sartre, uma estória tecida de vidas no tear de um prédio de Lisboa nos
anos 50. Sendo uma obra antiga, destoa ser grafado no português do acordo
ortográfico.
Li, caminhei,
conversei com os alunos que frequentam a escola, ouvi o silêncio, passeei
por entre a erva alta da clareira – o rio tinha voltado ao leito fechado há
pouco tempo –, dormi, rezei, brinquei com os cabrititos que vinham pedir a
minha atenção…
A Missa do Galo
impressionou-me pela participação caótica dos fiéis que encheram um dos grandes
pavilhões da escola até transbordar. O Giovanni lá levou a celebração a bom termo em hora e
meia apesar dos gritos e corridas dos miúdos traquinas e das conversas animadas
em dinka dos adultos…
Vivem com o Giovanni três
voluntários italianos que o assistem na administração da escola. A Lisa
preparou uma lasanha inteiramente artesanal para o almoço de Natal, que foi
mais um lanche.
Depois da missa, das
11h30 às 13h00, os alunos da escola receberam os diplomas do primeiro ano de
construção civil e os da sexta à oitava os boletins com as notas do ano mais uns prémios. Uma
cerimónia que meteu muitos discursos – o ministro da educação do estado de Lagos
apareceu a meio – e alguns jogos com os alunos.
A meio da função pediram-me para levar um
bebé com um ataque de malária a Cueibet, uma vila a uns dez quilómetros de
Barguel, e assim pude safar-me por um bocado ao enfado de estar numa cerimónia longa
totalmente conduzida em dinka e cheio de fome!
Almoçámos já passava das
16h00. A lasanha da Lisa estava uma delícia. Havia também carne de vaca – o Giovanni
mandou matar um boi para o almoço dos alunos e ficou com uma perna –, alface e couves cozidas do
horto da escola, o famoso «panetone» - primo italiano do bolo-rei… E
um bom branco para regar tudo porque o diretor de Sudin é produtor de vinhos de
qualidade e mete umas caixas nos contentores que anualmente envia para a escola
com material diverso.
No dia 26, segunda-feira, fui visitar as Combonianas a Cueibet. A Maria do Carmo, de Rio Caldo – Gerês, fez as honras da casa e mostrou-me o quintal cheio de árvores a crescer: uma nespereira e uma nogueira têm lugar de destaque entre os lulus, uma árvore local muito apreciada pela sombra e pelos frutos, pés de manga, papaieiras, mognos, nimes… Um verdadeiro jardim do Éden em termos botânicos numa região bastante seca e desflorestada.
No dia 26, segunda-feira, fui visitar as Combonianas a Cueibet. A Maria do Carmo, de Rio Caldo – Gerês, fez as honras da casa e mostrou-me o quintal cheio de árvores a crescer: uma nespereira e uma nogueira têm lugar de destaque entre os lulus, uma árvore local muito apreciada pela sombra e pelos frutos, pés de manga, papaieiras, mognos, nimes… Um verdadeiro jardim do Éden em termos botânicos numa região bastante seca e desflorestada.
Regressei a Juba no dia
27 com as baterias recarregadas e o coração tranquilo para mais um período de
trabalho à frente da redação da Rede Católica de Rádios – porque os bispos na
assembleia plenária de Outubro decidiram tirar a palavra Sudão do nosso nome. Tínhamos
proposto mudar o nome para Rede Católica de Rádios do Sul do Sudão depois da
independência, mas uma das estações – a Voz da Paz – encontra-se em Gidel, que
é parte do Sudão!
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