Os bispos missionários combonianos, o Superior Geral e a Superiora Geral dos dois Institutos Combonianos, reunidos em Jerusalém de 21 a 30 de Julho, movidos pela situação dramática em que vive a maioria das populações africanas, decidiram no fim do encontro elaborar um comunicado a favor do Continente africano, flagelado e enfraquecido pela fome, guerras, violências, pobreza, doenças, prepotências e outras injustiças.
COM A ÁFRICA NO CORAÇÃO
Por ocasião do nosso encontro em Jerusalém, nós bispos missionários
combonianos, provenientes da América Latina (3) e da África (9), e presentes
também o Superior Geral e a Superiora Geral dos dois Institutos Combonianos,
sentimos fortemente a exigência de lançar um apelo a favor da África.
Parece-nos que a África, além das suas potencialidades e da imensidade
dos seus recursos naturais, permanece ainda o continente onde guerras,
violências, prepotências, pobreza e doenças estão na ordem do dia e continuam a
criar situações crescentes de injustiça e de miséria cada vez mais dramáticas,
mesmo em comparação com o resto do mundo.
Numerosos problemas internos de subdesenvolvimento tornaram-se em grande
parte o destino sinistro exclusivo da África: má governação, ausência de estado
de direito, conflitos e violências sob todas as suas formas, o fraco nível da
taxa de escolarização, a grande mortalidade infantil, as doenças endémicas,
como a malária e o HIV/SIDA, a delapidação dos recursos, a pobreza em que vive
a maior parte da população e a dramática situação dos refugiados e das pessoas
deslocadas.
No entanto, hoje a África tornou-se de novo num continente cobiçado e disputado
entre as grandes potências mundiais, incluindo também as multinacionais. O
objectivo é um só: saquear sistematicamente os recursos naturais das suas
florestas, do seu subsolo, tão rico em petróleo, diamantes, urânio, ouro,
coltan, etc, apoderando-se de toda a espécie das diferentes matérias-primas com
o aval das autoridades locais, dispostos a vender ao desbarato os seus diversos
países em troca de dividendos pessoais, étnicos ou partidários.
Constatamos ultimamente, e com consternação, um erro cometido
intencionalmente: a implementação dos chamados «projectos modelo», divulgados como meios para utilizar os novos
recursos descobertos e para dar lugar a um desenvolvimento renovado, em vez de
contribuir para o benefício da população, aumentam-lhe a pobreza material,
ética e social.
Ninguém pode fechar os olhos sobre o que está a acontecer nas terras
africanas. Tudo é baseado na mentira. Sistemática é a falta de informações
sobre o que está a acontecer no sector da exploração mineira e da provisão dos
recursos.
Desconcertante é o desprezo pelas condições de vida cada vez piores das
populações que estão presentes no local. Arrogantes e violentas são as
expropriações selvagens das terras, em detrimento especialmente dos mais pobres
como os camponeses. Numerosos são também os conflitos de terras e sociais com
frequentes perdas de vidas humanas. Gradual é o desaparecimento dos valores da
solidariedade em benefício do lucro individual, desenfreado e não
regulamentado. Impressionante é o aumento da corrupção a todos os níveis,
prejudicando e subvertendo a mentalidade das pessoas.
Em suma, a degradação não é só social mas ético e moral: prostituição,
sobretudo entre os jovens, em preocupante aumento; situação de extrema
fragilidade da família minada de casos de infidelidade cada vez mais frequentes
por causa do dinheiro fácil; abandono por parte do marido dos seus compromissos
familiares em detrimento da mulher deixada sozinha; conflito de competências
entre os pais e a demissão dos seus compromissos familiares e educativos, etc.
As novas riquezas portanto, em vez de contribuir para a luta contra a
pobreza, serviram e servem abertamente para a degradação, o desequilíbrio, a
compra de armamento, alimentando assim conflitos intermináveis. Em vez de serem
uma bênção, elas tornaram-se, infelizmente, numa maldição para a maioria da
população.
A África, portanto, precisa de ser ajudada para começar, finalmente, após
tantos anos de injustiças e de exploração, a poder utilizar todas essas
riquezas que lhe pertencem, para si mesma, para os seus filhos e as suas
filhas. Com energia profética precisa de reencontrar e de propor aos grandes da
terra o caminho do homem e de uma economia para o homem, que respeite a sua
dignidade e a sua liberdade de autodeterminação.
Numa situação deste género, como bispos missionários combonianos,
herdeiros da sensibilidade de Comboni «para
os mais pobres e abandonados», sentimos que a Igreja não pode calar, mas
deve falar. Em nome de Jesus de Nazaré, que nesta terra da Palestina pregou o
amor pelos últimos, também a ele compete o direito de se perguntar e de
perguntar: «A quem pertencem os recursos
naturais da África?» Para nós bispos não há dúvida de que os recursos
naturais pertencem a todos os povos africanos. Uma intervenção impõe-se então à
Igreja. «A África já se pôs em marcha e a
Igreja move-se com Ele oferecendo-lhe a luz do Evangelho. As águas podem ser
tempestuosas, mas com o olhar fixo em Cristo Senhor chegaremos ao porto seguro
da justiça e da paz» (Mensagem conclusiva do II Sínodo africano, nº 42).
Enquanto esperamos com confiança a mensagem à África e ao mundo do nosso
pastor, o Papa Bento XVI, façamos nosso o apelo dos Bispos, reunidos no Sínodo
para a África em Outubro de
2009: «Aos grandes poderes deste mundo
dirigimos uma súplica: tratar a África com respeito e dignidade» (id., n° 32).
D. Aguirre Muñoz
Juan José, Bispo de Bangassou (República Centro-Africana)
D. Arellano
Fernández Eugenio, Vigário Apostólico de Esmeraldas (Equador)
D. Ballin
Camillo, Vigário Apostólico de Nord Arabia (Kwait)
D. Filippi
Giuseppe, Bispo de Kotido (Uganda)
D. Franzelli
Giuseppe, Bispo de Lira (Uganda)
D. Girardi
Vittorino, Bispo de Tilarán (Costa Rica)
D. Migliorati
Giovanni, Vicario Apostolico di Awasa (Etiópia)
D. Perin
Guerrino, Bispo de M'baïki (República Centro-Africana)
D. Rodríguez
Salazar Jaime, Bispo de Huánuco (Peru)
D. Russo Michele, Bispo de Doba (Chade)
D. Sandri
Giuseppe, Bispo de Witbank (África do Sul)
D. Sebastián
Martínez Miguel Angel, Bispo de Laï (Chade)
P. Enrique
Sánchez González, Superior Geral dos Missionários Combonianos
Madre Premoli
Luzia, Superiora Geral das Irmãs Missionárias Combonianas
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