Muita coisa se passa numa
semana!
Os meus colegas e eu
passámo-la em retiro a refletir e a rezar os desafios que a independência da
República do Sudão do Sul nos vai colocar e ao nosso trabalho missionário.
Fomos espevitados nesta reflexão pelo teólogo comboniano padre Francesco
Pierli, que ensina na Universidade de Tangaza, em Nairobi-Quénia.
Escutámos, rezámos,
lemos, vimos alguns documentários interessantes sobre a situação nesta parte do
Sudão e da relação com o Norte. Dias de paz e de sossego. De bênção também.
No fim, plantámos a
árvore da vida, juntando-nos à campanha de preparação para a independência
proposta pelos bispos do Sudão meridional. O Pentecostes era dia de oração
pelos líderes do país e de plantar árvores.
Entretanto, Juba ficou às
escuras a semana quase toda. A central elétrica não tinha gasóleo para
alimentar os geradores. A eletricidade voltou mas os postos de combustível
continuam secos.
Hoje visitei uma dúzia de
bombas e encontrei gasolina em duas. Gasóleo nem gota. Amanhã a Paola e eu
vamos de bicicleta para o trabalho para pouparmos o combustível que resta no
tanque do carro para alguma emergência.
Claro que o Governo de
Juba acusa Cartum por ter decretado um bloqueio de combustíveis e de comida ao
sul. E é verdade: desde Maio que nada ou quase nada passa a fronteira. Mas o
governo também ficou mal porque se limita a gerir a situação sem um plano B de
abastecimento. Não há planeamento nem reservas estratégicas.
E a guerra voltou ao
Cordofão do Sul desde o outro domingo. O SPLA – o exército do Sul – aponta o
dedo às SAF – as forças armadas do Norte – e diz que foram eles que deram o
primeiro tiro. Mas enquanto os militares esgrimem acusações a situação piorou
dramaticamente: mais de 40 pessoas puseram-se em fuga de Kadugli e Dilling – terra
núbia onde Daniel Comboni estabeleceu uma missão – e mais de 300 mil estão
isolados de qualquer ajuda humanitária.
Uma autoridade religiosa
anónima acusou os capacetes azuis do Egito de se colocaram ao lado das tropas
de Cartum na caça a simpatizantes do SPLM, o partido no poder em Juba, e cuja
fação norte diz ter ganho as eleições no Estado.
Duas combonianas que
viviam em Kadugli e foram apanhadas nos confrontos militares – que metem armas
pesadas, caças e bombardeiros do Norte – chegam hoje sãs e salvas a El Obeid. O
bispo Michael Didi deu-me a notícia esta tarde. Mas lamentou que não sabe o
paradeiro do pároco de Kadugli que devia ter chegado a El Obeid ontem.
A força aérea de Cartum aproveitou
a confusão para bombardear uma aldeia piscatória no Sudão do Sul.
Mas em sete dias também
acontecem muitas coisas boas: Juba alinda-se a alta velocidade para receber os
convidados da independência: o aeroporto deve começar a funcionar de noite esta
semana depois de iluminarem a pista – gastaram mais de sete quilómetros de fio –,
o novo terminal vai crescendo, começaram a colocar postes para a iluminação
noturna, as ruas estão mais limpas e marcadas. Enfim: há sempre um rebordo de
prata numa nuvem escura – dizem os ingleses na sua infinda sabedoria.
1 comentário:
Palavra de ordem:
Esperança!!! ELA irá crescer junto á árvore que foi plantada!!!!
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