13 de junho de 2011

SETE DIAS

Muita coisa se passa numa semana!
Os meus colegas e eu passámo-la em retiro a refletir e a rezar os desafios que a independência da República do Sudão do Sul nos vai colocar e ao nosso trabalho missionário. Fomos espevitados nesta reflexão pelo teólogo comboniano padre Francesco Pierli, que ensina na Universidade de Tangaza, em Nairobi-Quénia.
Escutámos, rezámos, lemos, vimos alguns documentários interessantes sobre a situação nesta parte do Sudão e da relação com o Norte. Dias de paz e de sossego. De bênção também.
No fim, plantámos a árvore da vida, juntando-nos à campanha de preparação para a independência proposta pelos bispos do Sudão meridional. O Pentecostes era dia de oração pelos líderes do país e de plantar árvores.
Entretanto, Juba ficou às escuras a semana quase toda. A central elétrica não tinha gasóleo para alimentar os geradores. A eletricidade voltou mas os postos de combustível continuam secos.
Hoje visitei uma dúzia de bombas e encontrei gasolina em duas. Gasóleo nem gota. Amanhã a Paola e eu vamos de bicicleta para o trabalho para pouparmos o combustível que resta no tanque do carro para alguma emergência.
Claro que o Governo de Juba acusa Cartum por ter decretado um bloqueio de combustíveis e de comida ao sul. E é verdade: desde Maio que nada ou quase nada passa a fronteira. Mas o governo também ficou mal porque se limita a gerir a situação sem um plano B de abastecimento. Não há planeamento nem reservas estratégicas.
E a guerra voltou ao Cordofão do Sul desde o outro domingo. O SPLA – o exército do Sul – aponta o dedo às SAF – as forças armadas do Norte – e diz que foram eles que deram o primeiro tiro. Mas enquanto os militares esgrimem acusações a situação piorou dramaticamente: mais de 40 pessoas puseram-se em fuga de Kadugli e Dilling – terra núbia onde Daniel Comboni estabeleceu uma missão – e mais de 300 mil estão isolados de qualquer ajuda humanitária.
Uma autoridade religiosa anónima acusou os capacetes azuis do Egito de se colocaram ao lado das tropas de Cartum na caça a simpatizantes do SPLM, o partido no poder em Juba, e cuja fação norte diz ter ganho as eleições no Estado.
Duas combonianas que viviam em Kadugli e foram apanhadas nos confrontos militares – que metem armas pesadas, caças e bombardeiros do Norte – chegam hoje sãs e salvas a El Obeid. O bispo Michael Didi deu-me a notícia esta tarde. Mas lamentou que não sabe o paradeiro do pároco de Kadugli que devia ter chegado a El Obeid ontem.
A força aérea de Cartum aproveitou a confusão para bombardear uma aldeia piscatória no Sudão do Sul.
Mas em sete dias também acontecem muitas coisas boas: Juba alinda-se a alta velocidade para receber os convidados da independência: o aeroporto deve começar a funcionar de noite esta semana depois de iluminarem a pista – gastaram mais de sete quilómetros de fio –, o novo terminal vai crescendo, começaram a colocar postes para a iluminação noturna, as ruas estão mais limpas e marcadas. Enfim: há sempre um rebordo de prata numa nuvem escura – dizem os ingleses na sua infinda sabedoria.

1 comentário:

pelina disse...

Palavra de ordem:
Esperança!!! ELA irá crescer junto á árvore que foi plantada!!!!