4 de agosto de 2023

MISSIONAR É EMPODERAR


São Daniel Comboni tinha um plano missionário visionário: salvar a África com a África. Queria fazer dos africanos os protagonistas da própria regeneração através da evangelização e educação envolvendo padres, irmãs, professores e artesãos locais no processo de regeneração dos próprios africanos.

Quase 160 anos depois, na missão comboniana de Qillenso, iniciada há quatro décadas entre o povo Guji no Sul da Etiópia, este sonho continua vivo.

A língua e a cultura da gente que acolhe os missionários estão entre as ferramentas principais da evangelização. Para trabalhar com os Gujis é precioso falar guji e aprender a cultura para traduzir e inculturar as Escrituras Sagradas, o Missal, o catecismo, etc..

O trabalho do comboniano espanhol P. Ramón Navarro e meu nos anos noventa do século passado foi nesse sentido: rever e imprimir os livros litúrgicos, os Evangelhos e o Manual dos Catequistas no alfabeto romano. Antes do golpe de estado de 1981, tudo era escrito no alfabeto etíope cujo uso hoje é restrito às línguas semitas (amárico e tigrino entre outras).

Esta aprendizagem passa também pela investigação aturada e pelo estudo científico para codificar a língua e a cultura. Os missionários católicos e protestantes desempenharam um papel impar na preservação da língua e cultura locais.

O P. Bruno Lonfernini, o comboniano italiano que iniciou a missão de Qillenso, escreveu um livro em italiano a apresentar o povo Guji e a sua cultura ao grande público. Também escreveu sobre os Sidamas, onde começou a presença católica.

Do primeiro bispo de Hawassa, o comboniano Dom Armido Gasparini, saiu a primeira gramática guji com um pequeno vocabulário.

O jesuíta belga P. Joe Van de Loo também publicou uma gramática, os dicionários Guji-Inglês e Inglês-Guji e escreveu extensivamente sobre a sua cultura.

Recentemente, o mexicano comboniano P. Pedro Pablo Hernández editou um Dicionário Inglês-Guji e publicou um livro com provérbios do mesmo povo, com tradução em inglês e espanhol, ilustrados com fotos suas e fez a tese de mestrado em espanhol sobre o conceito guji de Deus.

Os catequistas são o braço direito dos missionários. Todos os meses fazemos dois encontros com eles. As mulheres, os jovens e adolescentes reúnem-se semanalmente em encontros separados para rezar, aprofundar a fé e preparar cânticos para a liturgia dominical. Os anciões, que zelam pela vida das comunidades, também são objeto de seguimento mais próximo.

O Centro Catequético da diocese presta um serviço extraordinário na preparação de líderes leigos.

Porque a Igreja precisa de servidores especializados — padres e missionários entre outros — Qillenso tem um grupo vocacional. Cada dois ou três meses um padre, uma irmã ou um irmão de congregações diferentes partilha o percurso vocacional e o carisma do próprio Instituto.

A missão tem uma noviça e duas candidatas nas Irmãs da Caridade, um postulante nos Combonianos e uma pré-noviça na congregação, local das Servas da Igreja.

Os missionários — dois padres do Togo e de Portugal e um seminarista da Etiópia —além de visitarem a dúzia de capelas da missão regularmente para celebrar a Eucaristia e estarem próximos das pessoas do nascer ao morrer, todas as semanas rezam com os reclusos da prisão de Adola — a capital guji sede do segundo polo da missão — e celebram a missa no centro de acolhimento das Missionárias da Caridade na mesma cidade.

O centro urbano de Adola proporciona uma pastoral diferente no acompanhamento das famílias católicas.

Cada família foi consagrada aos Sagrados Corações de Jesus e de Maria numa cerimonia individual — um lar por semana — com a participação de vizinhos, das Missionárias da Caridade e de um dos padres da equipa. Agora, a Senhora de Fátima vai de família em família durante uma semana. No início da estada rezamos o terço juntos com a família de acolhimento e alguns vizinhos.

A paróquia de Qillenso tem cerca de 1200 estudantes em três escolas: no jardim infantil das Missionárias da Caridade, em Adola, na escola de Gosa (do jardim infantil até à oitava classe) e na escola de Qillenso (com turmas da quinta à oitava). A missão abriu duas bibliotecas públicas em Adola e em Urdata. Os estudantes têm livros, internet (em Adola) e um espaço sossegado para estudar, fazer trabalhos de casa, aprofundar matérias, etc.

A biblioteca de Adola tem uma sala de computadores. Nas férias escolares cerca de 40 jovens estão a aprender a usar o computador e os programas mais comuns através de um curso gratuito de seis semanas orientado por um postulante comboniano.

Um hostel acolhe duas dúzias de rapazes e raparigas das zonas rurais que em Adola fazem a secundária.

Durante as férias grandes, a pequenada dos cinco aos 14 anos todos os anos tem um campo de férias de pelo menos duas semanas em Adola, Qillenso e Soddu Abala, a outra missão vizinha entre os Gujis. O evento é organizado pelas Missionárias da Caridade e conta com a colaboração de jovens voluntários de Adola e de Adis-Abeba.

O plano de São Daniel Comboni continua vivo!

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