9 de fevereiro de 2018
HORA CR17
Ramaphosa conquistou a liderança do ANC. Por fim!
Cyril Ramaphosa, o CR17 da África do Sul, ganhou a liderança do Congresso Nacional Africano – ANC em inglês – para os próximos cinco anos. O combate eleitoral de 18 de Dezembro com Nkosazana Dlamini-Zuma, a ex-mulher do presidente em exercício, foi renhido e dramático. O resultado do escrutínio foi anunciado depois de sucessivos adiamentos. A vitória foi curta: de 179 votos num colégio de quase 5000 eleitores-delegados vindos de todo o país.
Estive na África do Sul no início de Novembro e deu para perceber pelos jornais e pelos colegas missionários que a eleição da liderança do ANC prometia luta até ao fim, sem um vencedor claro.
Explicaram-me que a vitória de Dlamini-Zuma seria um seguro de vida para o presidente ex-marido a contas com inúmeros processos por corrupção. Se Ramaphosa ganhasse, Jacob Zuma seria o grande perdedor, pois ficava à mercê de novas investigações judiciais. O presidente já sobreviveu a oito moções parlamentares de censura.
Ramaphosa tem um percurso interessante: nasceu no bairro negro de Soweto, nos arredores de Joanesburgo, há 65 anos. Iniciou o activismo político ainda jovem e na recta final do regime branco do apartheid. Foi co-fundador da União Nacional dos Mineiros, um dos maiores e mais poderosos sindicatos do país. Negociador hábil, era o braço-direito de Nelson Mandela nas conversações com o Partido Nacional que pôs termo ao regime de discriminação racial e abriu a África do Sul à democracia.
Tido como sucessor de Mandela, foi preterido em favor de Thabo Mbeki, a escolha do ANC para vice-presidente em 1994 e candidato do partido para as presidenciais de 1999, que ganhou.
Ramaphosa, desiludido, abandonou a política e dedicou-se aos negócios. É apresentado como um empresário de sucesso e um dos sul-africanos mais ricos, embora não conste entre os 22 bilionários africanos da lista da Forbes, que inclui cinco sul-africanos.
Um tribunal absolveu-o de cumplicidade na matança pela polícia de 34 mineiros em Marikana durante uma greve violenta em 2012. Ramaphosa fazia parte da administração da empresa inglesa que explora as minas de platina e enviou um e-mail à polícia para pôr termo à greve.
Em 2012, voltou à política activa e dois anos depois foi eleito vice-presidente. Apesar de integrar a administração do presidente Zuma, é tido como um reformador capaz de guiar o partido e o país para lá dos escândalos de corrupção e relançar a economia do país.
Com a vitória mínima de Ramaphosa, a África do Sul pode começar a recuperar alguma autoridade moral que caracterizou o nascimento da Nação Arco-Íris sob a liderança exemplar de Mandela, mas perdida sucessivamente devido à corrupção e avareza de muitos dos dirigentes do ANC. O país disputa a primazia económica africana com a Nigéria, mas os índices de desemprego (na ordem dos 26 por cento), pobreza e desigualdade social são dos mais altos do mundo.
Ramaphosa será o candidato do ANC às presidenciais de 2019, mas o partido que encabeçou o processo de democratização do país está em queda: nas eleições municipais de Agosto de 2017 perdeu câmaras de cidades importantes para a oposição, incluindo Joanesburgo e Pretória. Além de recuperar a confiança do eleitorado, vai ter de unir o ANC, profundamente clivado pela eleição de Dezembro passado.
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