6 de maio de 2012

SUDÃO DO SUL – SUDÃO



DE MAL A PIOR


A SITUAÇÃO POLÍTICA entre o Sudão do Sul e do Sudão resvalou para pior em finais de Janeiro quando o Governo de Juba decidiu fechar as torneiras dos campos de petróleo, acusando Cartum de roubar o crude e exigir tarifas absurdas para exportar o petróleo do Sul através das suas infraestruturas. 
Em Fevereiro, negociações sobre os assuntos pendentes pós-independência entre os dois países, mediadas pelo Painel da União Africana, pararam.
Em Março, o ambiente negocial mudou em Adis-Abeba e as equipas de Juba e Cartam chegaram a acordo sobre dois assuntos importantes: princípios de nacionalidade e cidadania e segurança fronteiriça. Políticos da linha dura em Cartum criticaram os acordos – e Juba acusa – boicotaram uma cimeira presidencial que devia ter acontecido a 3 de Abril para os presidentes Salva Kiir e Omar Al Bashir rubricarem os dois documentos e continuar com as negociações sobre o estatuto de Abyei, fronteiras e petróleo.
Em finais de Março, as Forças Armadas Sudanesas (SAF na sigla em inglês) intensificaram os bombardeamentos ao longo da fronteira comum usando artilharia pesada e aviões. O exército do Sudão do Sul (SPLA na sigla em inglês) tomou uma posição de ataque, repeliu as forças SAF para além de Higlig, uma zona-chave rica em petróleo. O Sudão do Sul chama Panthou a Higlig e diz que a área – que produz metade do petróleo do Sudão – lhe pertence.
O Sudão não estava preparado para tão grande humilhação. Normalmente o SPLA tomava uma posição defensiva quando SAF atacava para proteger a integridade territorial do Sul. SAF intensificou os bombardeamentos e o SPLA retomou Higlig-Panthou pela segunda vez em menos de uma semana. O Presidente Kiir disse à Assembleia Nacional que desta vez a ocupação era permanente. A comunidade internacional condenou a invasão, a ONU ameaçou com sanções e dez dias mais tarde Kiir ordenava a retirada ordeira das forças de Higlig-Panthou. Cartum imediatamente anunciou que tinha expulsado o SPLA da zona do petróleo, matando 1.500 soldados.
Entretanto, a 8 de Abril o período de graça para os Sulistas a viverem no Sudão terminou. Mais de 500 mil pessoas têm que obter documentos pessoais e registarem-se como estrangeiros ou deixarem o país. No mesmo dia, o Sudão suspendeu voos diretos entre Cartum e Juba.
Depois da ocupação de Higlig-Panthou, Bashir ordenou a suspensão das negociações com o Sudão do Sul acusando Juba de só entender a linguagem da guerra e prometeu libertar o novo país dos ‘insetos’ do partido dominante. A Assembleia Nacional do Sudão declarou o Sudão do Sul país inimigo.
A meados de Abril, islamistas atacaram e queimaram uma igreja protestante em Cartum usada sobretudo por Sulistas. Em Nyala, a capital do Darfur do Sul, os escritórios da Sudan Aid – a Caritas Sudanesa – e do Conselho das Igrejas do Sudão foram fechados pela segurança nacional, alguns bens incluindo carros confiscados e pelo menos três Sulistas a trabalhar para a Sudan Aid presos. No estado de Gaderef, um seminarista e um catequista católicos foram acusados de apoiarem os rebeldes do SPLM-Norte e presos.
Em finais de Abril, Bashir declarou o estado de emergência ao longo da fronteira com o Sudão do Sul e o Governador do Estado do Nilo Branco deu a mais de 12.000 Sulistas em encalhados em Kosti à espera de transporte por terra ou por rio para o Sudão do Sul uma semana para abandonar a área acusando-os de porem em risco a segurança e o meio ambiente.
No início de Maio, o Conselho de Segurança da ONU aprovou uma resolução obrigando os dois países a suspenderem os ataques em 48 horas, criarem uma zona de segurança ao longo da fronteira comum numa semana, retomarem as negociações em duas semanas e concluí-las dentro de três meses. Caso contrário, poderão sofrer sanções não militares.
Observadores internacionais estão de acordo que a situação entre o Sudão do Sul e o Sudão atingiu um patamar perigoso e poderá evoluir para guerra total. O Governo do Sudão do Sul está a mobilizar o país para apoiarem o exército com comida, dinheiro e novos recrutas. O Governador de Equatória Oriental prometeu alistar 12 mil jovens. Os estados de Lagos e Warrap também estão a mobilizar jovens para o exército, sobretudo os que estão envolvidos em razias de gado e outras formas de conflitos intertribais.
O Governo do Sudão do Sul aprovou um orçamento de austeridade para conter a falta de dinheiro depois de ter fechado os poços de petróleo que produziam 98 por cento da receita pública do país. Há falta de dólares no mercado e combustíveis e medicamentos começam a faltar. A inflação entre Março de 2011 e de 2012 atingiu quase os 51 por cento.

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