A LIÇÃO DE ASSIS
A paz tem de ser construída nos corações. É lá que se desenvolvem os sentimentos que podem dar-lhe alento ou, pelo contrário, ameaçá-la, debilitá-la, sufocá-la.
Há 20 anos, João Paulo II surpreendeu o mundo e a Igreja ao convidar os líderes religiosos mundiais a reunirem-se em Assis, Itália, para rezarem pela paz. Vivia-se em plena Guerra Fria e o Papa polaco quis afirmar que a paz não se construía a partir do equilíbrio periclitante dos arsenais atómicos, mas através do diálogo e do respeito mútuo.
A Jornada Mundial Inter-Religiosa de Oração pela Paz decorreu a 27 de Outubro de 1986 e juntou cerca de 150 individualidades representantes de várias religiões e confissões cristãs. No discurso de boas-vindas, João Paulo II disse que «o congregar de tantos dirigentes religiosos a orar é em si um convite ao mundo para se dar conta de que existe uma outra dimensão da Paz».
A cidade medieval que serviu de berço a Santa Clara e São Francisco transformou-se numa imensa catedral. Os fiéis das diversas religiões encontraram-se numa dúzia de lugares para rezarem e jejuarem pela paz de acordo com as suas tradições. A meio da tarde, peregrinaram para a esplanada da Basílica de São Francisco para a oração de encerramento. Nessa altura, o Papa fez um apelo veemente: «Abramos os braços aos nossos irmãos e irmãs, para os encorajar a construir a Paz sobre os quatro pilares da verdade, justiça, amor e liberdade.»
Entretanto, o Muro de Berlim caiu e foi enterrado o machado da Guerra Fria. Mas os ataques de 11 de Setembro de 2001 trouxeram de volta as nuvens negras da violência, da insegurança e do medo. A Al-Qaeda, ao atingir o único império e o coração do sistema económico global, abriu as jaulas do terrorismo planetário. O fenómeno tem sido interpretado como uma guerra de religiões ou choque de civilizações, mas também como uma redefinição da geoestratégia capaz de fazer emergir novas potências e novos conflitos, regionais ou mesmo mundiais. De qualquer forma, o planeta foi-se transformando num cenário de terror, onde bombas e bombistas suicidas matam indiscriminadamente, nos vários continentes e nos mais diversos países, turistas e civis, mulheres e crianças, crentes da mesma e de outras fés.
Num momento tão crítico para toda a humanidade, a Comunidade de Santo Egídio assinalou os 20 anos do encontro inter-religioso de Assis com umas jornadas subordinadas ao tema «Por um mundo de paz. Religiões e culturas em diálogo». Numa mensagem aos participantes, Bento XVI escreveu que «a paz tem de ser construída nos corações. É lá que se desenvolvem os sentimentos que podem dar-lhe alento ou, pelo contrário, ameaçá-la, debilitá-la, sufocá-la».
No final, os participantes subscreveram um «Apelo pela Paz», em que declaram: «Todos nós afirmamos que [...] a guerra não é inevitável. As religiões não justificam nunca o ódio e a violência. Quem usa o nome de Deus para destruir o outro afasta-se da religião pura. Quem semeia terror, morte, violência em nome de Deus, recorde-se de que a paz é o nome de Deus. Deus é mais forte do que quem quer a guerra, cultiva o ódio, vive da violência.»
O gesto profético de João Paulo II tornou-se ainda mais significativo no actual contexto, em que o medo, a insegurança e a desconfiança infectam as relações entre os povos e os crentes das grandes religiões monoteístas. Ao sublinhar o valor da oração na construção da paz, continua a remeter a reflexão para uma das suas dimensões fundamentais: a paz não é a ausência de guerra nem um equilíbrio precário assente no terror e na resposta antiterrorista. É o bem-estar harmonioso de toda a criação, que se constrói a partir do coração de cada criatura e mergulha as suas raízes no amor de Deus. Tudo o resto tem apenas que ver com interesses e com a hegemonia de uns grupos humanos sobre outros.
A grande lição de Assis: o diálogo inter-religioso representa a pedra angular da paz global.
A paz tem de ser construída nos corações. É lá que se desenvolvem os sentimentos que podem dar-lhe alento ou, pelo contrário, ameaçá-la, debilitá-la, sufocá-la.
Há 20 anos, João Paulo II surpreendeu o mundo e a Igreja ao convidar os líderes religiosos mundiais a reunirem-se em Assis, Itália, para rezarem pela paz. Vivia-se em plena Guerra Fria e o Papa polaco quis afirmar que a paz não se construía a partir do equilíbrio periclitante dos arsenais atómicos, mas através do diálogo e do respeito mútuo.
A Jornada Mundial Inter-Religiosa de Oração pela Paz decorreu a 27 de Outubro de 1986 e juntou cerca de 150 individualidades representantes de várias religiões e confissões cristãs. No discurso de boas-vindas, João Paulo II disse que «o congregar de tantos dirigentes religiosos a orar é em si um convite ao mundo para se dar conta de que existe uma outra dimensão da Paz».
A cidade medieval que serviu de berço a Santa Clara e São Francisco transformou-se numa imensa catedral. Os fiéis das diversas religiões encontraram-se numa dúzia de lugares para rezarem e jejuarem pela paz de acordo com as suas tradições. A meio da tarde, peregrinaram para a esplanada da Basílica de São Francisco para a oração de encerramento. Nessa altura, o Papa fez um apelo veemente: «Abramos os braços aos nossos irmãos e irmãs, para os encorajar a construir a Paz sobre os quatro pilares da verdade, justiça, amor e liberdade.»
Entretanto, o Muro de Berlim caiu e foi enterrado o machado da Guerra Fria. Mas os ataques de 11 de Setembro de 2001 trouxeram de volta as nuvens negras da violência, da insegurança e do medo. A Al-Qaeda, ao atingir o único império e o coração do sistema económico global, abriu as jaulas do terrorismo planetário. O fenómeno tem sido interpretado como uma guerra de religiões ou choque de civilizações, mas também como uma redefinição da geoestratégia capaz de fazer emergir novas potências e novos conflitos, regionais ou mesmo mundiais. De qualquer forma, o planeta foi-se transformando num cenário de terror, onde bombas e bombistas suicidas matam indiscriminadamente, nos vários continentes e nos mais diversos países, turistas e civis, mulheres e crianças, crentes da mesma e de outras fés.
Num momento tão crítico para toda a humanidade, a Comunidade de Santo Egídio assinalou os 20 anos do encontro inter-religioso de Assis com umas jornadas subordinadas ao tema «Por um mundo de paz. Religiões e culturas em diálogo». Numa mensagem aos participantes, Bento XVI escreveu que «a paz tem de ser construída nos corações. É lá que se desenvolvem os sentimentos que podem dar-lhe alento ou, pelo contrário, ameaçá-la, debilitá-la, sufocá-la».
No final, os participantes subscreveram um «Apelo pela Paz», em que declaram: «Todos nós afirmamos que [...] a guerra não é inevitável. As religiões não justificam nunca o ódio e a violência. Quem usa o nome de Deus para destruir o outro afasta-se da religião pura. Quem semeia terror, morte, violência em nome de Deus, recorde-se de que a paz é o nome de Deus. Deus é mais forte do que quem quer a guerra, cultiva o ódio, vive da violência.»
O gesto profético de João Paulo II tornou-se ainda mais significativo no actual contexto, em que o medo, a insegurança e a desconfiança infectam as relações entre os povos e os crentes das grandes religiões monoteístas. Ao sublinhar o valor da oração na construção da paz, continua a remeter a reflexão para uma das suas dimensões fundamentais: a paz não é a ausência de guerra nem um equilíbrio precário assente no terror e na resposta antiterrorista. É o bem-estar harmonioso de toda a criação, que se constrói a partir do coração de cada criatura e mergulha as suas raízes no amor de Deus. Tudo o resto tem apenas que ver com interesses e com a hegemonia de uns grupos humanos sobre outros.
A grande lição de Assis: o diálogo inter-religioso representa a pedra angular da paz global.
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