31 de outubro de 2020

COM O PAI E CONNOSCO


A irmã comboniana Maria Ângela Séregni há muito que aprofunda o mistério da ascensão de Jesus a partir de um antigo hino cristão inserido na primeira carta que São Paulo escreveu a Timóteo, seu amigo e discípulo.

O texto diz: «Grande é — todos o confessam — o mistério da piedade: Aquele que foi manifestado na carne, foi justificado no Espírito, apresentado aos anjos, anunciado às nações, acreditado no mundo, exaltado na glória».

Desde maio de 1980 que a Ir. Mariângela anda às voltas com este hino litúrgico da primeira comunidade cristã.

«O mistério de Cristo torna-se o centro da minha atenção», confessa.

E começou a anotar aquilo que ia descobrindo na contemplação da subida de Jesus ao Pai através da leitura orante do mistério.

«Está connosco aquele que subiu ao Pai» partilha o resultado da oração do mistério da Ascensão de Jesus, uma espécie de diário contemplativo.

Os textos são curtos, profundos, inspiradores e incisivos.

Foram escritos entre 2015 e 2018.

A obra tem 64 páginas e está escrita em português e italiano (a língua original das reflexões).

Cada livro custa seis euros mais o custo do envio.

Pode ser pedido para as Missionárias Combonianas de Lisboa através do telefone número 218 517 640.

26 de outubro de 2020

OUTONO

Os dias minguam
em noites longas, resfriadas,
a pedir aconchego
de corpo e coração.
As folhagens pintam-se,
vaidosas,
de ocres, castanhos, rubros,
fogo de artifício
de fim de festa...
Restam os dióspiros, solitários,
fogo-de-Deus,
bolas de natal ao natural
a decorar árvores nuas.


O sol,
esgotado dos fulgores estivais,
arrefece
pálida luz,
que acaricia a pele
sem o ardor estiolado
do verão passado.

Outono,
o ícone colorido do ocaso
que vai ressuscitar
na erupção da Primavera
depois do hibernar invernal.

A vida decorre:
estação segue estação,
coração cura coração.

22 de outubro de 2020

DEHONIANO ASSASSINADO NA VENEZUELA

Foi com profunda tristeza que esta manhã recebi a notícia: o Padre José Manuel de Jesús Ferreira, Dehoniano, fora assassinado na Venezuela, no exercício da sua missão na Paróquia do Santuário Eucarístico de São João Baptista, na Diocese de São Carlos, onde era Pároco.

O acto criminoso aconteceu durante um assalto violento às instalações da Paróquia, na noite passada, 20 de Outubro.

O P. José Manuel tinha 39 anos, faria 40 no próximo dia 25 de Novembro e era filho de emigrantes portugueses, oriundos de Câmara de Lobos, Ilha da Madeira.

Neste mês de Outubro, mês das Missões, o P. José Manuel paga com a vida a sua dedicação à Missão.

Infelizmente, não é caso isolado, porque a Venezuela, a atravessar grave crise de que quase já ninguém fala, tornou-se um sítio muito violento e demasiado perigoso para viver.

Que descanses em paz, José Manuel, junto do Deus da Vida e da Misericórdia. E que o teu sangue derramado possa ser grito de alerta e chame a atenção para a violência gratuita que tantas vidas vai ceifando...
P. José Agostinho Sousa 
Provincial dos Dehonianos em Portugal

15 de outubro de 2020

PEGADA SUJA

 

Indústrias extractivas têm «dívida ecológica» com a África.

A África é um continente muito rico em minerais: ouro (89 por cento da produção mundial), tântalo (vêm da RD do Congo 80% deste metal fundamental para a indústria digital), platina (mais de 60% é produzida na África do Sul), diamantes (metade da produção global), bauxite (a Guiné detém 25% das reservas mundiais), carvão (Moçambique tem um dos maiores depósitos por explorar do mundo), cobalto, urânio, petróleo, gás natural e muito mais.

Muitas economias africanas dependem demasiado da exploração dos minérios que têm um impacto ecológico negativo como, por exemplo, nos casos do ouro, carvão e petróleo. As minas crescem à custa da deflorestação, da biodiversidade e da vida selvagem, de pastagens e terrenos agrícolas. A actividade ainda é responsável pela poluição dos solos, subsolos, água e ar que causa problemas graves de saúde, além da violência e corrupção. Noventa por cento dos africanos dependem da terra para viverem.

O Papa Francisco denunciou num curto vídeo que publicou em Setembro nas redes sociais o que chamou de «dívida ecológica» dos países e empresas do Norte, que enriquecem com a exploração dos bens naturais do Sul. Qualificou de ultrajante a prática de multinacionais que fazem no estrangeiro aquilo que lhes é proibido no próprio país.

A extracção de petróleo no delta do Níger e no Sudão do Sul são dois casos emblemáticos. A Shell, que explora o petróleo na Nigéria desde 1956, é responsável por inúmeros acidentes que contaminaram vastas áreas de solos e rios do delta, pondo em risco a subsistência dos povos locais.

No Sudão do Sul, dois relatórios encomendados pelo Governo denunciam a existência de águas e terras contaminadas com níveis muito perigosos de produtos tóxicos derivados da extracção do crude que podem estar na origem de malformações em bebés, abortos e outros problemas de saúde nos habitantes das áreas dos campos petrolíferos. As jazidas são exploradas por consórcios encabeçados por empresas chinesas com parceiros da Malásia, Índia, Egipto e Sudão do Sul. O Governo meteu os relatórios na gaveta, porque o petróleo cobre 98% das entradas do orçamento do país. Egbert Wesselink, da Pax Christi holandesa, que investigou o assunto, afirma que o país está a realizar uma das operações de extracção de petróleo mais sujas do mundo.

Entretanto, com a crise climática a mudar os motores movidos a combustíveis fósseis para eléctricos e a hidrogénio, as grandes petrolíferas procuram no plástico a alternativa para o uso do crude. O New York Times noticiou que um grupo das maiores firmas da petroquímica estava a pressionar a administração Trump para forçar o Governo queniano a importar plástico novo e em lixo. O Quénia tem uma das leis antiplásticos mais duras (usar sacos de polietileno dá prisão). Em 2019, empresas americanas exportaram mais de 450 mil toneladas de lixo plástico para 96 países para reciclagem. Muito acaba em lixeiras, rios ou no mar.

Mas também há sinais de esperança! O Zimbabué acaba de proibir a mineração em parques nacionais incluindo na reserva de Hwange, onde tinha concessionado a exploração de carvão a duas empresas chinesas. E tornou ilegal a exploração manual de ouro no leito dos rios.