31 de janeiro de 2012

LIVRES

Dois padres da arquidiocese de Cartum foram libertados ontem à tarde depois de duas semanas de detenção por rebeldes sul-sudaneses.
O bispo auxiliar de Cartum, Dom Daniel Adwok, disse que os padres Joseph Makwey Mathod e Silvestro Mogga estão bem mas precisam de cuidados médicos.
Os dois sacerdotes foram raptados a 14 de Janeiro na paróquia de Kenana, na zona pastoral de Kosti, e levados para Kweik juntamente com dois jipes e alguns haveres da casa paroquial.
Os raptores – rebeldes Shilluk – exigiam 500 mil libras sudanesas – 100 mil euros – para libertar os padres.
Dom Daniel disse que a arquidiocese não pagou nenhum resgate.
Ele explicou que a Igreja apresentou uma queixa-crime contra os sequestradores e a polícia estava a interrogar os dois sacerdotes sobre o rapto e a detenção.
Um mês atrás, um missionário comboniano ugandês foi raptado por um grupo de rebeldes Nuer e libertado dois dias mais tarde juntamente com um casal sudanês.
O governo de Cartum permite que grupos rebeldes do Sudão do Sul operem em impunidade total, sequestrando jovens sulistas das universidades de Cartum para serem treinados como rebeldes ou resgatados por dinheiro pelas famílias. 
Os rebeldes também roubam viaturas com matrículas do Governo do Sudão do Sul levadas para o Sudão durante o período de transição que preparou o referendo de auto-determinação.

22 de janeiro de 2012

Rede de Rádios Católica (CRN), nove estações ao serviço da vida no Sudão do Sul
e Montes Nubas.

20 de janeiro de 2012

PETRÓLEO

O Governo do Sudão do Sul decidiu hoje em conselho de ministros suspender a produção de petróleo depois de mais uma ronda de negociações sem frutos entre os governos de Juba e Cartum em Adis Abeba sobre as tarifas pelo uso da infra-estrutura sudanesa.
O porta-voz do Governo sul-sudanês, Barnaba Marial Benjamim, disse que o gabinete decidiu suspender a produção de petróleo e o processo fica concluído dentro de duas semanas.
Juba e Cartum não se entendem sobre as tarifas que o Sul tem que pagar ao Norte para exportar o crude através do oleoduto que liga os campos petrolíferos nos estados de Unity e Upper Nile ao porto de Port Sudan, no Mar Vermelho.
As negociações estão paradas e as delegações acusam-se mutuamente pelo bloqueio.
Cartum preferia administrar a venda do crude do Sudão do Sul ou cobrar 35 dólares por cada barril exportado enquanto Juba quer pagar 74 cêntimos do dólar por barril – mais próximo das tabelas internacionais – e compensar Cartum com 2.6 mil milhões de dólares pela perda de entradas.
Juba já tinha ameaçado parar com a extração de petróleo, mas parece que desta vez é a sério.
Com um senão: 98% das entradas do governo sulista vêm da venda de petróleo – o ano passado fizeram mais de 3.1 mil milhões de dólares – e agora como vão manter os cofres do estado a funcionar?

16 de janeiro de 2012

NEGOCIAÇÕES

Tharjath (Unity State) – produção de crude ©JVieira


Os Governos de Juba e Cartum começam amanhã em Adis Abeba, a capital etíope, mais uma ronda de negociações sobre assuntos pós-independência numa altura em que as relações bilaterais estão cada vez mais escorregadias devido ao petróleo.
Os delegados dos dois países devem negociar durante uma semana os dossiers difíceis do petróleo, marcação de fronteiras, enclave de Abyei e o estatuto dos sulistas a viver no Sudão depois de uma alta delegação chinesa ter visitado as duas capitais.
Cartum está a exigir a Juba uma taxa de 35 dólares por cada barril de crude que o Sudão do Sul exporte através da sua infra-estrutura: oleoduto e porto de Port Sudan.
Juba, seguindo o conselho do Painel da União Africana, prefere dar uma assistência económica de 2.6 mil milhões de dólares a Cartum para compensar a perda das entradas do petróleo – o Sudão só produz um quarto do petróleo que exportava antes da independência do Sul – e pagar 74 cêntimos do dólar por cada barril. O preço médio mundial ronda os 40 cêntimos.
Na semana passada, o Governo sudanês obrigou uma empresa chinesa a carregar um navio do Sudão com 650 mil barris de crude do Sul no valor de 650 milhões de dólares sem autorização de Juba. Cartum justificou o ato como uma compensação pelas facturas que Juba não tem pagado para exportar o petróleo devido à falta de acordo entre as partes.
O estatuto de 700 mil sulistas a viver em Cartum e arredores é outro assunto a necessitar de um acordo urgente de ambas as partes. A 9 de Abril, termina o período de graça para os Sulistas a viver no Sudão e não se sabe como Cartum vai reagir.
António Guterres, o homem forte da agência da ONU para os refugiados, visitou Juba e Cartum na semana passada e pediu aos dois governos que encontrassem uma solução dignificante para transportar os sulistas que queiram regressar a casa. Atualmente têm sido transportados de barcaça e de comboio e os casos mais delicados de avião.
O Alto-comissário para os Refugiados pediu a Cartum que atribua documentos legais aos sulistas que pretendam ficar no Sudão como nacionais ou emigrantes.
O traçado final das fronteiras também necessita de um acordo rápido. Oitenta por cento dos mais de 2.000 quilómetros já estão negociados, mas as zonas em falta são ricas em petróleo, água, pastagens, ouro e outros minerais e por isso apetecidas e reclamadas por ambas as partes.

12 de janeiro de 2012

NOBEL DA PAZ

©JVieira

O bispo católico El Obeid (Sudão) encontra-se entre os candidatos ao Prémio Nobel da Paz 2012.
Macram Max Gassis foi proposto para o mais alto galardão Nobel pelo deputado centrista José Ribeiro e Castro em reconhecimento pela luta corajosa que o bispo sudanês tem travado contra a descriminação de cristãos no seu país através de um longo testemunho de coerência, tenacidade e coragem.
Dom Macram nasceu em Cartum há 73 anos e é Missionário Comboniano.
Foi nomeado administrador apostólico da diocese de El Obeid em 1983 e bispo em 1988.
Em 1990, Dom Macram seguiu o caminho do exílio depois de o governo de Cartum o ter posto em tribunal no seguimento do seu testemunho no Congresso dos EUA sobre atrocidades cometidas pelo governo sudanês contra o seu povo.
Dom Macram vive desde então em Nairobi, Quénia, e decida-se à assistência pastoral e social de um número de paróquias nos Montes Nuba (do Sudão) e do Estado de Warrap (no Sudão do Sul).
Além de um número de escolas nas duas áreas, o bispo apoia um hospital com 200 camas em Gidel (Montes Nuba) e uma estação de rádio na mesma localidade.

10 de janeiro de 2012

SOLIDARIEDADE

António Guterres com Lise Grande, coordenadora humanitária da ONU © JVieira

O Alto-comissário das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) terminou hoje uma visita de três dias ao Sudão do Sul com um apelo à comunidade internacional para assistir o país mais jovem do mundo com apoio humanitário massivo.
António Guterres esteve três dias No Sudão do Sul para marcar o sexto aniversário da presença da ACNUR na região.
O ex-primeiro ministro português visitou os retornados apinhados no porto de Juba, sob os pés de manga, à espera que as autoridades lhes atribuam uma parcela de terra.
Também vistoriou um campo no norte do país para se inteirar das dificuldades com que os refugiados sudaneses dos estados do South Kordofan e Blue Nile se deparam.
Esta manhã, antes de partir para Cartum para uma ronda de conversações com as autoridades sudanesas sobre o futuro dos cerca de 700 mil sulistas a viver no Sudão e sobre a assistência humanitária aos deslocados da guerra civil, Guterres lançou um apelo à comunidade internacional para que seja solidária com o Sudão do Sul.
O alto-comissário disse que o país tem em mãos uma enorme crise humanitária com cerca de 900 mil pessoas entre refugiados, retornados e descolados internos a necessitarem de ajuda imediata.
Guterres pediu também aos governos de Juba e Cartum para que cooperem em ordem a encontrem uma solução dignificada e que respeite os direitos humanos para transportar as centenas de milhares de sulistas que vivem no Sudão e que querem voltar a casa.
Ele disse que os problemas humanitários requerem soluções políticas.
Guterres louvou as autoridades e as comunidades do Sudão do Sul por terem generosamente acolhido mais de 75 mil refugiados sudaneses nos estados de Unity e Upper Nile apesar das dificuldades com que se debatem.

9 de janeiro de 2012

DE BRANCO PELA PAZ



© JVieira
Centenas de pessoas desfilaram hoje pelas ruas de Juba vestidas de branco pela paz.
A marcha inseriu-se nas comemorações do sétimo aniversário da assinatura do acordo de paz que pôs termo à guerra civil no sul do Sudão e abrir as portas para a independência do Sudão do Sul.
A iniciativa deveu-se ao grupo Concerned Citizens X South Sudan – Cidadãos Preocupado X Sudão do Sul – que nasceu há uma semana na sequência de mais um recontro sangrento entre duas tribos no Estado de Jonglei que matou mais de 2.000 pessoas e afectou outras 60.000.
O grupo apelou para que os cidadãos se manifestassem pela paz e contra os recontros étnicos, comuns no Sudão do Sul e está a recolher ajudas para os afectados pelos violentos combates no condado de Pibor, no leste do Estado de Jonglei.
UNOCHA, que coordena a ajuda humanitária, anunciou que está a montar a operação humanitária mais cara e complexa para ajudar as vítimas dos recontros étnicos no Estado. As estrada daquela zona do Sudão do Sul estão em muito mau estado e a ONU tem que montar uma ponte aérea para socorrer a população.
O Comissário do Condado de Pibor, Joshua Konyi, disse-me esta manhã que sete pessoas morreram de fome porque há cinco dias que não há comida para distribuir entre as pessoas que estão a regressar do mato – onde se esconderam – à cidade de Pibor.
Mais de 6.000 jovens da tribo Lou-Nuer atacaram o território da tribo Murle no início do ano semeando a morte e a destruição. O conflito entre as duas tribos vem de longe e tem dado origem a ondas de vingança e contra-vingança que fez milhares de vítimas.