27 de novembro de 2008

BOAS FÉRIAS

© JVieira

A directora da Rádio Bakhita partiu esta tarde para os Estados Unidos e México onde vai passar três meses de férias com a família.
A irmã Maria Cecilia Sierra Salcido encontra-se em Juba desde Maio de 2006, depois de um breve período de formação em Roma.
Durante a ausência da Cecy – como a irmã é chamada entre nós – a rádio é gerida pelos outros três elementos da equipa da Rede Católica de Rádios do Sudão. A irmã Paola e o irmão Alberto asseguram a economia e os contactos e eu levo a estação para a frente com os funcionários – que são uns amores!
Cecy, desfruta este tempo de lazer e de convívio por quem mais és amada, vive as festas da Virgem de Guadalupe, Natal e o teu aniversário e volta retemperada e cheia de novas ideias e entusiasmo.
E as saudades vão passar!

25 de novembro de 2008

AVISO À NAVEGAÇÃO

Na semana passada o Ministros da Informação reuniu-se com representantes dos meios de comunicação de Juba.
Os participantes, mais de meia centena entre jornalistas e proprietários, expressaram as dificuldades que o sector passa: censura em Cartum por falta de uma tipografia em Juba, dificuldades económicas, falta de profissionais com formação adequada, problemas com os homens da segurança, falta de meios de apoio aos jornalistas na presidência e no parlamento, falta de uma Lei da Imprensa…
Depois de três horas de debate – e para fechar – o ministro Gabriel Changson Chang trazia recados para a Rádio Bakhita e para a Rádio Miraya, as duas estações concorrentes da emissora do governo fora do seu controlo.
O ministro Changson acusou Bakhita de difundir informação errónea porque um ouvinte telefonou durante um fórum sobre as polícias a dizer que o presidente do Sul, Salva Kiir Mayardit, tinha colocado familiares nos postos-chave da polícia na Great Equatoria.
E acusou Miraya de difundir mensagens de ódio contra Ugandeses em Juba (sem explicar em que contexto) e de notociar que o milhão de dólares que o presidente deu aos estudantes sul-sudaneses nas universidades da África Oriental iam acabar em sabão e cosmética.
Não me chateou o puxão de orelhas em público por uma ofensa que não cometemos. Fiquei preocupado com a atitude: Changson disse que se a Lei de Imprensa estivesse em vigor íamos ter de pagar uma multa pesada, que essa lei vai dar espaço ao governo para responsabilizar os média.
O meu amigo Nyal Bol, um Dinka gigante com uma língua bem maior, disse durante o encontro que o governo do Sul do Sudão tem tendências ditatoriais e que está a seguir o modelo eritreu. Um ponto de vista que partilhou comigo pela primeira vez há dois anos durante uma entrevista de análise política.
Terá razão? O certo é que o Nyal esteve na prisão alguns dias por ter publicado no seu jornal «The Citizen» um artigo um caso de corrupção no Governo semi-autónomo do Sul.
Se a lei estivesse a vigorar, o Nyal tinha direito de exigir compensação ao Governo pela prisão arbitrária, não é senhor ministro? Olhe que a Lei é para todos!

24 de novembro de 2008

MIL PALAVRAS

NZARA: Estudantes de castigo limpam o recereio da escola © JVieira

23 de novembro de 2008

FCP GLOBAL

© JVieira

Um taxista da ilha de Gondokoro, em frente a Juba, veste com garbo uma camisola do FC Porto. Pelo tipo do emblema é bem capaz de ser contrabando «made in China»!
As motorizadas SENKE são os táxis de Juba. Chamam-lhe «boda-boda», degeneração de «border to border» (de fronteira para fronteira).
Explicaram-me que numa das fronteiras da região os transportes públicos não podem passar a «terra de ninguém». Os passageiros fazem o transbordo usando motorizadas! Se não é verdade é bem imaginado...
Os «boda-boda» são os serviços de táxi mais económicos de Juba e também os mais radicais. As SENKE têm uma tendência muito grande para cair por estas paragens. E a secção de ortopedia do Hospital Escolar de Juba chama-se SENKE Ward! Enfermaria Senke!
As SENKE – também se chamam SIMBA e outros nomes parecidos – são fabricadas no Dubai e montadas na República Democrática do Congo. Os modelos mais baratos (125 cc) custam uns 600 euros (750 dólares).

19 de novembro de 2008

HEROÍNAS

Maria Luísa

Rosío

Hospital
Maíte
Senait

Escola

Giovanna (a Eugénia estava de férias)

Grupo Rainbow

A comunidade das Missionárias Combonianas de Nzara é formada por seis irmãs: três italianas, duas mexicanas e uma eritreia. Trabalham duas a duas em sectores diferentes: saúde, educação, promoção da mulher, apoio a seropositivos e pastoral.
A folha de serviço das irmãs é impressionante.
A Maria Luísa, italiana, e a Rocío, mexicana, estão encarregadas do hospital. Cerca de 100 pacientes são atendidos diariamente no estabelecimento de saúde, que conta com um laboratório e algumas enfermarias para internamento.
Mais de 700 seropositivos recebem os medicamentos retrovirais que lhes prolongam a vida com alguma qualidade. E o grupo aumenta de dia para dia!
O hospital tem uma secção para tuberculosos – com internamento – e serviço de atendimento ambulatório a doentes de lepra, incluindo uma sapataria.
A Maité, mexicana, e a Senait, eritreia, levam para diante a escola básica. 1050 alunos da pré-primária até ao oitavo ano. E se mais salas de aulas houvesse mais alunos frequentariam a escola.
A Maité é a directora e também dá aulas. A Senait ensina inglês e matemática. Aos sábados, enquanto os outros professores descansam, as irmãs dão aulas de recuperação aos alunos mais crescidos.
Finalmente, a Giovanna, que é a superiora, e a Eugenia (ambas italianas e mais velhas) orientam o programa de promoção da mulher e a assistência aos pacientes da sida.
O grupo Rainbow (Arco-íris) tem mais de 350 seropositivos que se reúnem todas as sextas-feiras para receberem alguns ensinamentos sobre a sida, nutrição, cuidados de higiene e outros temas e partilharem uma refeição mais substancial e nutritiva.
Além disso, promovem esquemas de auto-financiamento através de actividades de micro crédito. Os elementos estão divididos em pequenos grupos e recebem sal, farinha, açúcar e outros géneros para venderem no mercado e gerarem algumas receitas.
As irmãs são ajudadas por nove voluntários e também dispensam serviço domiciliário aos doentes em fim de vida.
O Grupo Sunshine (Luz do Sol) dá assistência e cerca de 30 crianças, seropositivas ou órfãs e pagam as respectivas propinas e outras ajudas. Algumas famílias estão a adoptar órfãos de casais mortos pela sida.
O programa de promoção da mulher integra uma centena de elementos e também financia esquemas de micro crédito além de outras actividades.
Algumas irmãs também estão empenhadas na paróquia animando a liturgia em algumas capelas e visitando doentes.
As combonianas de Nzara são um testemunho de dedicação total ao Evangelho através do serviço que prestam às pessoas que delas necessitam sem regatearem limites.
Vivem na linha da frente do perigo. Os rebeldes ugandeses do Exército de Resistência do Senhor – que vivem num parque perto de Nzara no Congo – dizem que hão-de atacar a missão e o hospital, mas elas mantêm-se firmes.
São as minhas heroínas!

IN A COUNTRY CHURCH


The one kneeling down no word came,
Only the wind’s song, saddening the lips
Of the grave saints, rigid in glass;
Or the dry whisper of the unseen wings
Bats not angels, in the high roof.

Was he balked by silence? He kneeled long,
And saw love in a dark crown
Of thorns blazing, and a winter tree
Golden with fruit of a man’s body.

R.S. Thomas

17 de novembro de 2008

RETIRO

Nzara à vista

Igreja de Nzara

As irmãs de Nzara

Os meus amiguitos

Candeeiro

Mercado

Funeral de Bibiana

Refugiados © JVieira

Fui para Nzara com um project simples: passar uma semana de descanso e oração. E foi o que fiz.
Nzara é uma aldeia a 25 quilómetros de Yambio, a capital de Western Equatoria. Uma zona verde, com muita chuva. O tempo é bem mais fresco que em Juba.
Os Azandes, os habitantes da área, dedicam-se à agricultura e comércio. A zona é rica em fruta – sobretudo ananás –, alguns cereais, sésamo, mandioca e tem grandes florestas de teca explorada por uma companhia sul-africana.
As Missionárias Combonianas acolheram-me como um irmão e deram-me um quarto num espaço reservado e tranquilo.
Foi tão bom voltar a viver de vagar, simplesmente, usando o candeeiro a petróleo e um balde de água como chuveiro. Voltar a reencontrar o gosto da mandioca frita, trocar saudações alegres com as pessoas com que me cruzava.
Durante o retiro rezei sobretudo a minha vida à luz dos Salmos, a oração milenar de tantos outros crentes. O silêncio e a tranquilidade deram-me o espaço necessário para revisitar a minha história recente e ver nela o dedo de Deus que me continua a conduzir com amor pelos caminhos da vida através de encontros inter-pessoais cheios de significado.
À noite celebrava a Eucaristia com as irmãs. Um momento tranquilo, de partilha. Dois dias, presidi à missa na igreja da missão: usava o inglês e as pessoas respondiam em Azande. As homilias foram traduzidas pelo catequista.
Em Nzara também vi a morte olhos nos olhos.
Através de Bibiana, uma jovem de 20 e poucos anos que morreu no hospital durante a minha estada.
A irmã encarregada do centro de saúde pediu-me para visitar Bibiana e rezar por ela porque estava a morrer. O rosto esquelético, os grandes olhos de dor tocaram-me. Morreu um dia depois. Andava a passear na zona do cemitério quando a sepultaram. O catequista convidou-me a oferecer uma oração. Fi-lo com lágrimas nos olhos. A Bibiana travou uma longa batalha com a SIDA sozinha. A família abandonou-a. Com uma via-sacra daquelas de certeza que está com Deus. E quando alguém morre tem direito a algumas lágrimas.
Através dos refugiados congoleses que visitei. Cerca de 500 pessoas que fugiram ao terror dos rebeldes ugandeses do Exército de Resistência do Senhor – LRA na sigla inglesa – que foram acantonados na fronteira entre o Congo e o Sudão durante as conversações de paz com o governo ugandês.
Os refugiados levaram cinco dias a chegar ao campo onde encontram a cerca de uma hora de motorizada de Nzara. Vivem da caridade da comunidade que os recebeu e que reparte com eles amendoim, mandioca e sésamo. Estão na área há três semanas, mas só tinham recebido ajuda das Missionárias Combonianas que lhes levaram cobertores, sal açúcar e remédios para a malária, gripe e diarreia. No dia que os visitei uma ONG protestante chegou com comida.
Em Nzara choveu quase todos os dias e as trovoadas eram espectaculares. Por isso, tive que passar mais dois dias que o previsto, porque o voo em que devia regressar foi cancelado. Valeu-me um piloto compreensivo que me trouxe para Juba apesar de eu não fazer parte da sua lista de passageiros.
Voltei à vida mais ligeiro, tranquilo e de bem comigo, com a vida e com quem dela faz parte.
As irmãs surpreenderam-me pela maneira como me receberam. Só conhecia uma delas que estava no Uganda a fazer o retiro durante a minha estada na missão. E o que elas fazem é simplesmente espectacular. Mas é tema para o próximo texto que agora já é tarde.

15 de novembro de 2008

CHEGUEI!

Esta tarde consegui voar para Juba depois de nove dias muito especiais em Nzara. Já conto como foi. Até lá um xi-coração!

4 de novembro de 2008

ATÉ JÁ

Durante os próximos dez dias vou estar fora da blogosfera a fazer o meu retiro e a descansar em Nzara, West Equatoria State.
Vou recorder-te ao Senhor com carinho. Reza por mim!

3 de novembro de 2008

RELATIONSHIPS

A blind man and a lame man happened to come at the same time to a piece of very bad road.
The former begged the latter to guide him through his difficulties.
"How can I do that," said the lame man, "as I am scarcely able to drag myself along? But if you were to carry me I can warn you about anything in the way; my eyes will be your eyes and your feet will be mine."
"With all my heart," replied the blind man, "Let us serve one another."
So taking his lame companion on his back, they travelled in this way with safety and pleasure.
Aesop

2 de novembro de 2008

VULNERABILITY

© JVieira

One of the greatest obstacles to intimacy is our propensity to believe that others will love us only when we are impressive and strong. Because of this we go through life trying to impress others into liking us rather than showing ourselves to each other as we really are, vulnerable, tender, lovable. We are for ever trying to be so sensational that others have to love us.
Ronald Rolheiser em «The Restless Heart»

WORLD MISSION

P. José Rebelo, director de WORLD MISSION,
durante a cerimónia de entrega dos prémios
A revista WORLD MISSION, publicada pelos Combonianos em Manila, Filipinas, foi distinguida com mais dois prémio.
Catholic Mass Media Awards atrubuiu à WORLD MISSION os prémios Melhor Pubicação Comunitária/Paroquial Local, pelo segundo ano consecutivo, e Melhor Reportagem Especial.
O texto premiado – «A Farm of Hope» – foi escrito pelos padres portugueses José Rebelo e David Domingues, director e administrador, respectivamente. Trata-se de uma reportagem sobre uma quinta que pertence à Fazenda da Esperança, na ilha de Masbate.
Jovens filipinos são resgatados da droga, álcool e outras dependências através do trabalho, vida comunitária e oração.
A trigésima edição do Catholic Mass media Awards registou 516 candidaturas em 42 categorias para revistas e jornais, televisão, publicidade, música, cinema e sítios da Internet.
WORLD MISSION tem uma tiragem mensal média de 9500 cópias.
Parabéns, companheiros, pelo reconhecimento do vosso trabalho dedicado. Força!

1 de novembro de 2008

ORDENAÇÕES


Dom Paolino fala aos padres neo-ordenados Peter Mawa (E) e Angelo Loku Ware (D) © JVieira

O arcebispo de Juba ordenou esta manhã dois padres para o serviço da arquidiocese.
Dom Paolino Lukudu Loro ordenou sacerdotes os diáconos Angelo Loku Ware e Peter Mawa Wilfred na paróquia de Todos os Santos de Rejaf. O terceiro diácono declinou a ordenação depois do retiro de preparação.
Durante a homilia o arcebispo recordou que a Festa de Todos os Santos é a festa de todos os cristãos.
O amplo templo estava repleto de fiéis que se quiseram associar à alegria dos dois neo-ordenados.
O Presidente da Assembleia Legislativa do Sul do Sudão e um dos comandantes das Unidades Conjuntas Integradas também tomaram parte na celebração.
A cerimónia levou mais de três horas e foi um momento de alegria na vida diocesana. A música esteve excelente a cargo dos coros de Rejaf e da Catedral.
As duas ordenações revestem-se de um carácter especial este ano em que a arquidiocese perdeu alguns padres. Clérigos, religiosos e religiosas estão a trocar o ministério activo por trabalho com o Governo, agências da ONU e ONG.
Rejaf foi a primeira igreja construída pelos combonianos nos anos 20 e por isso tem o estatuto de igreja-mãe. Um monumento à tenacidade dos antigos missionários que tiveram que fabricar no local mais de um milhão de tijolos para erguer a construção.