28 de novembro de 2016

SÃO TIAGO DE ANTAS DEDICA IGREJA NOVA


A paróquia de São Tiago de Antas, em Vila Nova de Famalicão, dedicou e inaugurou a nova igreja no primeiro domingo do advento através de uma celebração bem preparada e colorida segundo o ritual da solene sagração e bênção em missa pontifical.

O novo templo em forma oval com a capacidade para sentar 500 pessoas começou a ser construído em dezembro de 2010.

Dom Jorge Ortiga, arcebispo primaz de Braga, presidiu à sagração solene e bênção do novo templo, acompanhado por uma vintena de padres, quatro diáconos e uma grande multidão que enchia a nova igreja, incluindo individualidades locais.

Durante a homilia o arcebispo deu os parabéns à comunidade pela obra levantada e sublinhou a necessidade de continuar a trabalhar para pagar os empréstimos.

Recordou que a forma oval da igreja faz lembrar os braços humanos, o abraço de Jesus à comunidade e o abraço de acolhimento da comunidade às pessoas que procuram o novo templo para se encontrarem com Deus.

A igreja está decorada com alguns anéis exteriores que, no dizer do Arquiteto Hugo Correia – que desenhou a construção – representam a coroa de espinhos.

Dom Jorge recordou que a comunidade tem de sair ao encontro dos coroados de espinhos de hoje.

Frisou que o facto de os Missionários Combonianos estarem à frente da paróquia desde 2009 faz com que a saída seja global, mais para além da comunidade humana da paróquia.

O P. Agostinho Carvalho Alves, missionário comboniano, é o pároco de São Tiago de Antas há sete anos e liderou a construção desde o início.

No discurso de agradecimento sublinhou que «a comunidade cristã de Antas dispõe de espaço amplo, luminoso e cómodo para celebrar a sua fé condignamente e de locais adequados para seus compromissos pastorais.»

A celebração terminou com um verde de honra.

A nova igreja tem dois pisos.

O piso superior é destinado às celebrações litúrgicas, amplo e bem iluminado. Tem como pano de fundo a imagem estilizada do Senhor Ressuscitado sobre uma cruz de luz, ladeada pelos retábulos de São Tiago e da Imaculada Conceição.

O piso inferior contra com salas para a catequese e um salão multiusos para 200 pessoas além de instalações sanitárias e arrumos.

A nova igreja está bem integrada através de um arranjo paisagístico bem conseguido que a relaciona com grande harmonia com a igreja românica do século XIII e com o espaço circundante.

19 de novembro de 2016

Ir. ANTÓNIO SILVA: TRIBUTOS

Ir. ANTÓNIO FIGUEIREDO DA SILVA
Santa Eulália (Seia) 1-5-1936; Viseu 16-11-2016

P. Arlindo Pinto (Itália): Mais um comboniano e amigo a quem o Senhor da Vida decidiu chamar para a Felicidade eterna, na casa do Pai, a morada prometida para cada um dos filhos e filhas de Deus! Com algumas lágrimas, recordo tantos bons momentos passados juntos, sobretudo nas cidades moçambicanas de Maputo e Beira. Que Deus de misericórdia infinita o acolha no seu Amor eterno. O meu último abraço, nesta terra, querido irmão Silva.

P. José Manuel Brites (Brasil):
Rezemos pelo nosso amigo irmão Silva! Foi ele que me acolheu em Moçambique! Agradecer pelo jeito serviçal e alegre de viver! Que contemple a Glória do Pai.

Equipa coordenadora LMC: Em nome dos Leigos Missionários Combonianos, expressamos o nosso profundo pesar pelo falecimento do irmão Silva. Foi um privilégio para muitos de nós ter conhecido, trabalhado e privado com uma pessoa tão bela e dinâmica. Hoje a FC perde um exemplo de dedicação sem medida à Missão e ao seu Instituto. Ganha o céu, que hoje conta com mais uma alma, e que certamente rezará e velará por todos nós. O Senhor já o acolheu junto de Si e goza agora da sua morada eterna.

P. Claudino Gomes (Lisboa):
Exprimo à Província toda e à família de sangue do Ir. António Silva os meus sentimentos. O Irmão deu-se com alma e coração toda a sua vida. Foi uma doação sincera, revestida das características da sua personalidade (como acontece com cada um de nós). Oxalá eu possa ser fiel até ao fim, como ele.

Maria José Martins (LMC-Portugal): Foi uma honra conviver com o Irmão Silva. O céu está em festa para o receber. Obrigada pela pessoa maravilhosa com que nos habituámos a privar. Estamos todos de luto.

Ir. Lurdes Ramos (IMC-Viseu):
Os nossos sentidos pêsames pela partida para a casa do Pai do irmão António Silva de todas as Irmãs da Província Europa e em particular de Portugal. Com certeza que já está a gozar do imenso bem que fez como missionário, seja em Portugal que em Moçambique.

Flávio Soares (LMC-Portugal): Uma notícia que abanou o meu dia e ficará presente. Sinto-me agradecido pelo dom da sua vida, embora as nossas vidas se tenham cruzado pouco. A sua alegria é a prova de uma vida feliz e de amor ao outro. Mais uma estrelinha no céu.

P. José Arieira (RD do Congo): Quero unir-me à Província Portuguesa na oração pelo nosso querido Ir. Silva. Recordo os meus primeiros anos de sacerdote em que tive a alegria trabalhar com ele na animação missionária. O seu zelo missionário e paixão pela missão contagiou-me seja nos encontros de colaboradoras que fizemos juntos, seja nos dias missionários. Que o Senhor o acolha na sua misericórdia.

Mário Breda (LMC-Portugal): Foi uma surpresa que não esperava, apesar de o irmão Silva já se encontrar ultimamente debilitado. Mas aceitava a sua doença com serenidade e paz. Perdemos a sua presença sempre dedicada e o seu sorriso terno, que nos habituámos a ter nos encontros em Viseu. Continua presente nos nossos corações.

P. Bruno Brunelli (Itália): Tenho a certeza que este nosso irmão está a gozar plenamente a vida com Cristo porque deu um bom testemunho e espalhou alegria e verdadeira animação missionária por onde passou. Irmão António, intercede por nós. Obrigado.

P. Feliz Martins (Sudão): O Ir. António Silva foi-se e desapareceu deste mundo. Não foi ao acaso nem se perdeu da sua família nem dos amigos, nem de ninguém. Não se perdeu. Foi para casa, a casa do Pai, a sua casa. Mas sabemos quanto dolorosa é a partida e a separação para nós, sua família religiosa e, mais ainda, a sua família de sangue. Diante da nossa fraqueza e impotência, neste momento de dor, venha de Deus a grande consolação. A Ele peço e rezo na Santa Eucaristia pelo nosso Ir. A. Silva e por toda a sua querida família.

P. José Vieira (Lisboa): O Ir. Silva era conhecido pelo «corredor do Maputo» pela generosidade com que se dedicava ao serviço missionário. Damos graças a Deus pela sua vida, pele seu sorriso e pelo seu zelo missionário. Pedimos a misericórdia do Pai: que o acolha no abraço terno e eterno. Descansa em paz, Mano!

Neuza Francisco (LMC-Portugal):
Como foi bom a partilha da vida com o Irmão Silva. Sim, para mim um exemplo de dedicação de trabalho de ajuda de disponibilidade e amor para com o outro. Como são belos os Dons de Deus, e como Lhe estou grata por ter cruzado o seu caminho... Permanece no coração daqueles que com ele privaram. Juntos em oração...

Ir. Franca Venturi (IMC – Lisboa): Com as Irmãs da comunidade de Lisboa e de toda a nossa Zona de Portugal apresento os nossos sentimentos pelo falecimento do Ir. Silva que recordamos pela sua disponibilidade e dedicação missionária. Em comunhão de fé e oração pela alma do nosso Irmão.

P. António Carlos Ferreira (Filipinas): Os meus profundos sentimentos de dor pelo falecimento do Ir. António Silva. Estou unido à sua família de sangue e família espiritual comboniana em oração para que Deus console a todos, especialmente os que lhe eram mais próximos. Paz à sua alma. Descanse em paz.

P. Manuel dos Anjos (Moçambique): Que o Ir. António Silva descanse em Deus, e reze por nós todos, especialmente os velhotes, ele que foi escolhido como primogénito da Comunidade de Viseu.

Escolásticos Torres José Bonjesse e Mponda Joao Mponda (Peru):
Toca o nosso sentimento de tristeza quando lembramos o seu rosto físico e quando lembramos de tudo que fez por nós. Na comunidade da Beira estavam ele e P. Emílio. Os dois nos acompanharam na nossa caminhada vocacional desde inicio até ao pré-postulantado. O irmão António Silva era como mãe da casa nas catequeses e as viagens que fazíamos era com ele. Sempre disposto para trabalhar, com o rosto sempre entusiasmado. Irmão António Silva era uma pessoa organizada e responsável. Entretanto, queremos agradece-lhe por tudo quanto nos deu, sobretudo o seu afeto que tinha por nós e pelos valores que nos transmitiu. Agradecemos a Deus que lhe deu a vontade e a força de seguir a sua missão.

P. Luis Albuquerque (Moçambique): Estamos unidos a toda a província portuguesa pela morte do Ir. Silva. Por um lado, «a certeza da morte nos entristece, conforta-nos a promessa da imortalidade». Assim dizemos no prefácio da missa de defuntos. Perdemos uma pessoa na terra, mas ganhámos um intercessor no céu, porque apesar das nossas faltas e limites em corresponder à vontade de Deus, sabemos que a sua misericórdia é infinita.

Rufina Garcia (LMC-Portugal): «Os amigos não morrem: andam por aí, entram por nós dentro quando menos se espera e então tudo muda: desarrumam o passado, desarrumam o presente, instalam-se com um sorriso num canto nosso e é como se nunca tivessem partido. É como, não: nunca partiram» (António Lobo Antunes). E, porque o sorriso era uma constante, no Irmão Silva, agradeçamos ao Senhor a passagem deste querido Irmão pela vida de todos nós.

Ir. Aristides Holgado (Granada-Espanha): Ao final foi o Ir. Silva, não pensava eu que estava já para marchar. O vi em Viseu no último encontro que tivemos, mas embora fraquito não me pareceu assim para ir tão cedo aos braços do Pai. Que Deus o tenha na sua gloria. O conheci na Beira em janeiro de 1976. O meu mais sentido pêsame a toda a província portuguesa.

Ir. Alberto Lamana (Conselho geral-Roma): Ayer hemos recordado en la oración al Ir. António Figueiredo da Silva. Estamos cercanos a tu Provincia en el momento de recordar un Hermano que nos deja un bello testimonio de fidelidad y amor a la misión. Que el Señor lo acoja en su seno e interceda por nosotros.

Carolina Fiúza (LMC-Portugal): Ânimo. Haja ânimo pela vida deste nosso irmão que, certamente, está num lugar maior e melhor. Recordo-o com a sua voz e expressões sempre muito doces. Permanece entre nós. Um abraço forte a todos. Estamos juntos.

P. Jeremias Martins (Vigário Geral-Roma): Obrigado pela noticia triste da passagem do Irmão Silva. Foi um grande missionário. Muito zelo e dedicação, sempre pronto a socorrer a todos. Era conhecido como "o correio do Maputo" pelo trabalho que fazia para tantos institutos. Que descanse em paz. O Senhor lhe dará a recompensa de tantos trabalhos e também das grandes lutas que travava sempre que tinha de mudar de comunidade ou província. Rezo por ele e família e também por cada um de vós.

16 de novembro de 2016

PROFECIA DA INTERCONGREGACIONALIDADE


Pertencemos a uma sociedade feita de grandes contrastes: vivemos numa aldeia globalizada, à distância de um clique, cada vez mais ensimesmados, medrosos, inseguros. As campanhas eleitorais para a permanência do Reino Unido na União Europeia e as presidenciais americanas são dois exemplos recentes de como o medo e o egoísmo cortam as asas do sonho e da cidadania.

O Papa Francisco descreve o planeta em que vivemos como um mundo «dilacerado pelas guerras e a violência, ou ferido por um generalizado individualismo que divide os seres humanos e põe-nos uns contra os outros, visando o próprio bem-estar» (EG 99).

Por outro lado, na Carta Apostólica às pessoas consagradas para proclamação do Ano da Vida Consagrada, define a profecia como a especialidade da vida consagrada. «Espero que “desperteis o mundo”, porque a nota característica da vida consagrada é a profecia» (nº 2), diz-nos.

Estas duas citações enquadram bem a dimensão profética da intercongregacionalidade. Num mundo marcado pelo individualismo globalizado as consagradas e consagrados são chamados a despertar a sociedade para a mística do encontro e da convivialidade através de sinais proféticos de comunhão.

A intercongragacionalidade – o trabalho conjunto de congregações diferentes em prol do bem comum – é uma maneira de ser profecia num mundo cada vez mais virado para a imagem. Somos chamados a passar do selfie narcisista da moda ao retrato completo (e complexo) do conjunto.

Não é um sonho novo! Daniel Comboni propô-la como o caminho para «fortalecer» a evangelização da África Central há mais de 150 anos. Explica que o Plano para a Regeneração da África através da África – que escreveu em 1874 – «tende a pôr em jogo em favor da África todos os elementos e forças já existentes do catolicismo e criar mais» (Escritos 1343).

Conseguiu arrolar as Irmãs de São José da Aparição e os Camilianos durante uma dúzia de anos, mas acabou por ter que fundar os dois institutos combonianos para o levar para a frente, insurgindo-se contra a «mentalidade fradesca» que fechava o horizonte dos institutos no umbigo nos próprios interesses.

A intercongrecionalidade é uma maneira prática de usar os recursos humanos dos institutos – a envelhecer e a diminuir – em favor de sonhos comuns, do passar cada um por si e Deus por todos ao todos por um e um por todos, para fazer mais e fazer melhor, sinais concretos de que o Reino já está no meio de nós.

São Paulo diz que os carismas são plural mas partilham a origem comum no Espírito Santo e estão ordenados para o bem comum (1 Coríntios 12, 4-11). A intercongregacionalidade, vivida como gesto profético, não dilui ou anula as inspirações carismáticas históricas de cada instituto, mas celebra a complementaridade e subsidiariedade dos muitos carismas para o bem de todos.

Hoje, há bastantes e lindas experiências de intercongregacionalidade.

A que melhor conheço é Solidariedade com o Sudão do Sul (na foto) que vi nascer: 30 pessoas (17 mulheres e 13 homens de 15 países dos cinco continentes, leigos e consagrados de 17 congregações), apoiadas por 260 congregações a nível de direção geral e umas 30 ONGs formam professores, enfermeiros, obstetras, agricultores e líderes comunitários no país mais jovem do mundo há oito anos, vivendo, trabalhando e celebrando juntos em quatro comunidades.

O Ir. António Nunes, um enfermeiro comboniano, faz parte desse consórcio. «Estou a viver esta nova maneira de ser comboniano: tenho a dizer que tem sido uma agradável surpresa! Os meus receios de viver numa comunidade de freiras e frades de outras congregações foi-se dissipando com o tempo... Afinal de contas o viver em comunidade tem muito a ver com o que nos une: a missão que Jesus nos deixou», atesta.

Na Itália, há pelo menos duas comunidades femininas intercongregacionais dedicadas ao acolhimento dos refugiados e uma comunidade mista que sensibiliza a Igreja e sociedade locais para os acolher.

No Brasil, há muito que noviças e noviços fazem parte do caminho formativo juntos durante sessões temáticas de formação prolongadas.

É interessante notar que o Papa convida os mosteiros de clausura a federarem-se e a «promover casas de formação inicial comuns a vários mosteiros» nas disposições da Constituição Apostólica Vultum Dei quaerere sobre a vida contemplativa feminina de 29 de junho deste ano.

Finalmente, a intercongregacionalidade só faz sentido se for um exercício de comunhão eclesial à volta de uma acção comum. Não pode ser assumida como estratégia de sobrevivência. Quando deixamos de nos preocupar com o carisma e usamos as energias para a autopreservação estamos condenados ao fracasso.

A intercongregacionalidade pode parecer um grande desafio, mas – como escreveu o António – torna-se fácil e dissipa todos os receios se partir do dominador comum que nos une: de Jesus e do seu Evangelho como a Regra de Vida que todos partilhamos.

12 de novembro de 2016

860 PORTUGUESES EM VOLUNTARIADO MISSIONÁRIO


Em 2016, cerca de 860 portugueses envolveram-se em acções de voluntariado missionário a curto, médio e longo prazo no país e no estrangeiro. Quase dois terços são mulheres.

Os números vêm da FEC, a fundação Fé e Cooperação, a ONGD da Conferência Episcopal que dinamiza a Rede do Voluntariado Missionário desde 2002.

341 voluntários portugueses partiram para os espaços lusófonos da África, América Latina e Ásia. Desses, 305 estão envolvidos em projectos de curta duração (de 15 dias a seis meses) e 36 assumiram compromissos de sete meses até dois ou mais anos.

Cabo Verde é o grande destino dos voluntários missionários portugueses: 119. Os restantes estão repartidos por Moçambique (66), São Tomé e Príncipe (64), Angola (40), Guiné-Bissau (25), Timor-Leste (13) e Brasil (12). Dois partiram para a República Centro Africana.

A maioria dos voluntários tem entre 18 e 35 anos, 73 por cento são mulheres e 27 por cento homens.

Setenta são repetentes.

85 por cento são estudantes, recém-licenciados ou pessoas empregadas que usam as férias para se dedicarem ao voluntariado missionário internacional.

14 pessoas deixaram o emprego e nove pediram licença sem vencimento para poderem partir. 

Os voluntários fazem muitas coisas nas missões. Um quarto dedica-se à educação e formação, 15 por cento a actividades de pastoral e 13 por cento à animação sociocultural.

Em Portugal, 519 jovens e adultos realizam ao longo do ano acções de regularidade assegurada que pode ir de uma vez por dia a uma vez por semana ou por mês ou a uma semana por ano.

Lisboa e Vale do Tejo é a zona mais coberta com 126 voluntários em acção. O Minho, Douro Litoral, Beiras e Alentejo em conjunto beneficiam da acção de 298 pessoas.

Dois terços dos voluntários no país desenvolve actividades de animação sociocultural e de trabalho na área da educação com crianças e jovens. O resto assistem idosos e famílias.

Segundo os dados da FEC, desde 2003 4677 pessoas participaram em projectos internacionais de voluntariado missionário, uma média de 334 pessoas por ano.

2014 foi o ano com mais voluntários no estrangeiro: 548 ao todo. 514 desenvolveram projectos de um a seis meses e 34 até dois anos ou mais.

2004 foi o ano recorde em estadas de longa duração: 99 ao todo.

11 de novembro de 2016

ÚLTIMAS DO SUDÃO DO SUL


Daqui a cerca de um mês (15 de dezembro) serão três anos desde que uma crise política desencadeou a guerra civil e crise económica responsáveis por milhares de mortes e por uma crise humanitária sem precedentes no Sudão do Sul.

Infelizmente a situação parece piorar a cada dia. O acordo de paz assinado em agosto de 2015 parece não se sustentar mais. As forças do governo e as forças rebeldes continuam a combater-se. Não são confrontos intensos como antes, mas há violência em várias regiões.

O líder da oposição declarou guerra ao governo, caso o acordo de paz não seja retomado.

Estamos no fim da estação chuvosa. Muita gente acredita que com o aproximar da estação seca, os conflitos vão-se intensificar. As forças combatentes estão a preparar-se para mais ofensivas, ou seja, a guerra continua.

A impressão que se tem é que o governo quer continuar no poder e a oposição quer tirar o governo à força.

Como consequência, muita gente continua a deixar o país. O número de refugiados já passa de um milhão.

Dezenas de milhares continuam sob proteção das Nações Unidas em diversos campos pelo país.

Há ainda muitos deslocados que sobrevivem no mato ou em áreas isoladas por medo de ataques e saques.

A crise económica agravou-se e a inflação chega a 700% ao ano. Há muita gente passando fome e doente.

Além disso, a insegurança tem aumentado. Há muito roubo e assaltos a residências, geralmente com vítimas.

Discurso de ódio e incitação à violência entre as diferentes tribos têm aumentado.

Viajar também ficou perigoso. São constantes os assaltos nas estradas e também com vítimas, inclusive mulheres e crianças.

Os criminosos podem ser bandidos ou rebeldes que promovem ataques e depois fogem.

Ser jornalista aqui passou a ser profissão perigosa. Alguns perderam a vida, outros foram presos e torturados e teve quem se viu obrigado a deixar o país. Rádios já foram fechadas várias vezes. Jornais deixaram de circular.

Os serviços básicos funcionam precariamente. Em tudo a população paga um preço muito alto pela guerra gananciosa mantida pelos (des)governantes.

Protestar é muito perigoso. O povo sofre em silêncio, mas está revoltado.

Há, porém, notícias boas e sinais de vida e esperança.

Recentemente foi inaugurado o «Centro para a Paz Bom Pastor», resultado de muita luta e solidariedade das congregações religiosas. Este centro tem a finalidade de investir na formação de lideranças e promoção da paz e reconciliação. Está em pleno funcionamento.

Além disso, o Papa Francisco convidou o Conselho das Igrejas Cristãs para uma reunião sobre a situação do país. Foi muito boa. O Papa quer visitar o Sudão do Sul e ajudar a resolver a crise.

Por fim, as igrejas continuam a sua presença solidária junto ao povo sofredor, até mesmo em situações de riscos. Isso anima o povo.

Aqui em Juba não tem havido combates, mas sentimos que a situação não está boa.

Continuamos nossas orações e esforços para uma solução pacífica dos conflitos e fim da crise. Contamos com as orações e solidariedade de vocês. Com muita gratidão receba um fraterno abraço e as bênçãos e o axé de Deus.

P. Raimundo Rocha, missionário comboniano em Juba


10 de novembro de 2016

CLEPTOCRATAS


As elites sul-sudanesas fazem fortunas com a guerra civil.

The Sentry, um projecto do actor George Clooney e do activista John Prendergast para desmontar o sistema de financiamento dos conflitos africanos mais letais, publicou em Setembro um relatório-investigação sobre a guerra civil que destrói o país mais jovem do continente intitulado «Crimes de guerra não deviam compensar – para parar o saque e a destruição no Sudão do Sul».

O documento usa umas 30 vezes as palavras «cleptocrata» e «cleptocracia» para descrever as elites sul-sudanesas de ambos os lados da trincheira. O termo vem de «cleptos», vocábulo grego para roubo/roubar. Cleptocrata é um governante ladrão e cleptocracia um governo de ladrões.

Os investigadores estudaram as contas e os bens patrimoniais dos líderes político-militares mais influentes, incluindo o presidente Salva Kiir, o seu opositor Riek Machar (ambos na foto), o chefe do Estado-Maior-General Paul Malong e o seu adjunto para a logística, general Malek Reuben. A conclusão? Todos os actores e familiares directos enriqueceram e muito com a guerra civil por meio de negócios obscuros em violação da lei.

As 66 páginas do relatório indispuseram-me muito. Cobri eventos de alguns dos investigados. Nós, missionários e missionárias da Casa Comboni, jantámos duas vezes com Kiir, nosso vizinho. Presidi a algumas missas na Catedral de Juba com o presidente sentado num sofá da frente e trocámos algumas palavras. Inclusive, no fim de uma conferência de imprensa, dirigiu-se para me saudar, para espanto dos camaradas da informação.

Tinha Kiir por pessoa de bem. Admirei o modo como guiou o Sul até ao referendo de autodeterminação de 2011 apesar das muitas armadilhas montadas pelo Governo de Cartum para descarrilar o processo. Surpreendeu-me a crise política que gerou no início de 2013 numa luta intestina para controlar o poder através da manipulação do partido, ele que dera sinais de não querer concorrer às eleições de 2015. Nunca me ocorreu nas análises mais sombrias que usasse a guerra para consolidar o domínio sobre os vastos recursos e negócios do país.

Kiir durante a guerra construiu um grande rancho em Luri, a 16 quilómetros de Juba, e tem uma mansão de luxo num bairro chique de Nairobi. O relatório diz que ele e membros da família detêm participações em duas dúzias de empresas ligadas ao petróleo, mineração, construção civil, apostas, operações cambiais, telecomunicações, aviação... Um filho de 12 anos é dono de 25 por cento do capital de uma sociedade financeira!

Outros figurões do regime e da oposição também têm grandes propriedades no Quénia, Uganda e Austrália, participações em múltiplas empresas, parentes chegados a viverem em grande luxo fora do país como mostram nas páginas nas redes sociais. O KCB (o Banco Comercial do Quénia) é a instituição de referência para transferências nebulosas.

Entretanto, o cidadão comum sofre violência, fome e morte com casas, gado e cultivos destruídos e mulheres e meninas violadas pelas forças de ambas as partes numa orgia de crueldade. A guerra já matou 300 mil pessoas, deslocou 2,7 milhões e tem 4,8 milhões sob ameaça da fome desde 15 de Dezembro de 2013.

Ban Ki-moon, o secretário-geral da ONU, foi contundente na última assembleia geral, em finais de Setembro: «No Sudão do Sul, os líderes traíram o seu povo.» Traíram, sim, pela ganância e corrupção. Infelizmente o Sudão do Sul não é a única cleptocracia africana.

3 de novembro de 2016

Sudão do Sul: LADRÕES ASSALTAM CENTRO DE PAZ


Ladrões assaltaram à mão armada um centro de paz católico inaugurado há duas semanas perto de Juba, a capital do Sudão do Sul.

Um grupo armado não identificado entrou no Centro de Paz Bom Pastor no domingo à tarde exigindo telemóveis, computadores e carteiras aos presentes.

Alguns os trabalhadores ugandeses foram espancados, mas os religiosos residentes e hóspedes não foram molestados.

O roubo aconteceu pelas 19h30 de domingo em Kit, uma localidade a cerca de 14 quilómetros de Juba na margem direita do Nilo Branco.

Uma fonte missionária disse que os residentes do Centro estão bem.

Depois do roubo os presentes fizeram uma breve oração em conjunto e reportaram o incidente às autoridades locais que enviaram uma força para proteger as instalações.



Disse que os ladrões assediaram os religiosos e leigos que se encontravam no Centro de Paz.

O superior provincial dos Missionários Combonianos no Sudão do Sul Daniel Moschetti divulgou uma nota a negar a notícia.

Qualificou a notícia como um ato de propaganda.

O incidente foi um roubo à mão armada, «uma situação normal em Juba hoje», escreveu.

O P. Moschetti adiantou que o Centro está a funcionar normalmente.

A população local está a pedir uma esquadra da polícia em Kit.

O Centro de Paz Bom Pastor foi construído pela Associação de Religiosos do Sudão do Sul com ajudas do exterior.

O Centro foi inaugurado a 15 de outubro pelo Núncio Apostólico do Quénia e do Sudão do Sul, Arcebispo Charles Daniel Balvo.

O centro é dirigido por uma equipa de três padres, uma irmã e um irmão de cinco nacionalidades e congregações.

Funciona como um centro de espiritualidade e de cura de traumas para religiosos e leigos do Sudão do Sul,