20 de novembro de 2009

ATÉ JÁ

Com o por-do-sol sobre o Nilo Branco © SAmado

Até dia 1 estou em Nzara, Equatoria Ocidental, numa paragem de abastecimento. Até já, então.

INFÂNCIA MUNDIAL

© JVieira

A Convenção dos Direitos da Criança fez hoje 20 anos.
A UNICEF, a agência da ONU para a Infância, apresentou o Relatório sobre o Estado da Infância Mundial para assinalar a efeméride e faz um balanço positivo da situação.
A Convenção dos Direitos da Criança foi dos tratados mais ratificados pela comunidade internacional, e transformou o modo como as crianças são vistas e tratadas.
Mais de 70 países integraram nas suas leis os princípios da Convenção e os resultados estão à vista: o número de óbitos de crianças com menos de cinco anos caiu drasticamente e cerca de um quinto da humanidade tem acesso a água potável.
Globalmente, 84 por cento das crianças em idade escolar andam na escola e a diferença entre meninas e meninos no campo da educação foi reduzida. O número de crianças-soldados e escravas ou prostitutas foi reduzido.
Contudo, há ainda muito caminho a fazer: milhares de crianças morrem de pneumonia, malária, sarampo e malnutrição. Mortes inaceitáveis, porque estas doenças podem ser tratadas facilmente e com pouco dinheiro.
No Sul do Sudão a data foi marcada com o lançamento da campanha «Aprende sem medo», «Learn without Fear.»
Os maus tratos físicos, sexuais e psicológicos são a causa fundamental para o abandono escolar na região, revela um inquérito feito nas escolas do sul do Sudão.
Só em Setembro mais de 100 meninas deixaram a escola por causa de abusos sexuais – a maioria engravidou de professores ou de colegas.

19 de novembro de 2009

LOVE

© JVieira
Do I know how to love?
May be we can’t because we are frightened of love. Maybe we are all frightened of relationships. May be it’s easier to do things rather than to accept love and give to love. We are frightened to enter into a relationship of love because we will become vulnerable. I will have to open up my heart to you. It’s easier to do things than enter into a relationship of love. As soon as we enter into a relationship of love, we become vulnerable and we can be hurt. Our human hearts are very vulnerable. We’ve all experienced love, and maybe we’ve all experienced rejection. Or rather we’ve entered into relationships of love and we’ve been wounded because we’ve been disappointed and disillusioned.
Jean Vanier in “From Curse to Blessing”

REFRIGERANTES



© JVieira

A Southern Sudan Beverages Limited (SSBL) lançou no início do mês de Novembro uma linha de refrigerantes para alargar a oferta aos consumidores de bebidas de Juba.
A companhia começou a produzir em Maio a White Bull, uma cerveja sua, e mais tarde juntou-lhe a Nile Special, um produto da empresa-irmã do Uganda.
Ontem, o administrador geral Ian Alsworth-Elvey apresentou à imprensa a linha de refrigerantes Club Mimerals com quatro sabores: maçã, ananás, bagas e «muscatella».
Disse que a fábrica está a atingir a capacidade plena de laboração, produzindo 350 mil litros de bebidas por dia.
Alsworth-Elvey adiantou que os produtos da SSBL estão a ser bem recebidos, especialmente a cerveja White Bull, um produto para o mercado local com pouco mais de quatro por cento de volume alcoólico.
A fábrica emprega cerca de 200 trabalhadores e indirectamente cerca de 1000 pessoas na distribuição e comercialização dos seus produtos.
Os trabalhadores têm direito a refrigerantes para o almoço e nas quartas, das 17h00 às 19h30 a cerveja é por conta da casa.
A SSLB paga à comunidade onde foi construída um euro por cada 600 litros produzidos na fábrica além de fornecer água potável à vizinhança.
A fábrica custou 40 milhões de dólares.
A SSBL vai começar a comercializar água engarrafada para consumo e uma terceira marca de cerveja, com sete por cento de volume de álcool.
A SSBL pertence à sul-africana SAB Miller que está presente em 90 países em seis continentes (sic).

15 de novembro de 2009

CAIM


Li «Caim», o mais recente romance de José Saramago, em quatro fôlegos e gostei e des-gostei da obra.
Saramago está a escrever melhor que nunca, a anos-luz de «Todos os Nomes», o seu romance mais chato e mal conseguido.
Adoro ou seu português rústico – aquele em que nasci –, a sua capacidade de nos surpreender no virar de uma frase ou parágrafo. A capacidade de contar uma estória abrangente e rica de apartes que divertem e deliciam.
Quanto ao conteúdo, fiquei surpreendido que alguém que vem das bandas do marxismo e do socialismo científico, tenha encarreirado por uma leitura revisionista, reaccionária e fundamentalista do texto bíblico. Um homem de esquerda a dar a mão à ultra-direita cristã.
Saramago escreve na página 142: «Estou cansado da lengalenga de que os desígnios do senhor são inescrutáveis, respondeu Caim, deus devia ser transparente e límpido como cristal em lugar desta contínua assombração, deste constante medo, enfim, deus não nos ama.»
Esta é a experiência de Deus que Saramago tem feito e respeito-a. Mas não é a única, graças a Deus. E não é a minha, não!
Quando chamamos nomes a uma determinada pessoa – e ao correr de «Caim» Saramago chama muitos nomes a Deus por procuração – quer dizer que estamos zangados com aquela pessoa, que lhe temos raiva. Os nomes não mudam a pessoa, mostram sim os nossos sentimentos e iras, a nossa realidade mais profunda.
Saramago tem um problema grande com o «senhor». Por isso lhe chama tantos nomes e o provoca pelo que ele fez e pelo que contam acerca d’Ele, em tantos mitos culturais que engrossaram o grande caudal da experiência religiosa humana que é a Bíblia.
Já agora fiquei muito desiludido como Saramago arrematou o capítulo sobre Job. Ficou-se por uma estória a meio, esquecendo a essência da parábola: a nossa luta com Deus por causa da experiência do mal fora e dentro de nós.
Nesse aspecto Saramago tem razão: «a história dos homens é a história dos seus desentendimentos com deus» – mas Ele entende-nos a nós apesar de nós o desentendermos constantemente.
Vá por mim que é assim mesmo.

E Saramago intuiu-o quando escreveu na página 126: «E tu senhor, Eu limparei o céu das nuvens que neste momento o cobrem, isso posso fazer sem nenhuma dificuldade, mas a batalha terás de ser tu a ganhá-la.»

12 de novembro de 2009

JEJUM

O director-geral da FAO, a organização da ONU para a Agricultura, anunciou que no sábado vai fazer um dia de jejum em solidariedade com um mil milhão de pessoas que passam fome.
Jacques Diouf, senegalês de 71 anos, disse que inicia uma greve de fome de 24 horas no sábado de manhã e convida os cidadãos do mundo a juntarem-se à sua iniciativa.
Diouf lançou também uma campanha de recolha de assinaturas contra a fome crónica de mais de mil milhões de pessoas, porque - diz- é inaceitável.
As campanhas contra a fome visam sensibilizar os participantes na Cimeira Mundial sobre a Segurança Alimentar, que começa na segunda-feira em Roma.
Chefes de estado de 192 países foram convidados a debater a questão da fome e malnutrição.
Diouf queixa-se que foram feitas muitas promessas para combater a fome mundial mas pouco se fez de concreto para erradicar a malnutrição e que chegou a hora de os líderes mundiais tomarem uma atitude.
Assina a petição
AQUI.
Basta colocares o teu endereço electrónico no primeiro rectângulo ao fundo da página Web, o país no segundo e clica em «SEND» depois de veres a mensagem de Diouf.

11 de novembro de 2009

CRUCIFIX


© JVieira

What is a CRUCIFIX? It is not a symbol of the almighty power of the Catholic Church, but a representation of one innocent man’s agonising death at the hands of the state, after torture and a sham trial – in other words, a gross human-rights violation. Catholics believe that that innocent man is also the Son of God, but the depiction is realistic, not metaphysical. The decision of the European Court of Human Rights to order the removal of crucifixes from the walls of state schools in Italy is therefore one of the worst examples of human-rights legislation bringing the wrong result for the wrong reasons. The real damage is to the cause of human rights itself: the decision makes not only the law look an ass but also the court and the convention it is supposed to uphold. To Catholics, moreover, Christ’s suffering on the Cross is a sign of his human and divine solidarity with all who suffer cruelty and injustice, an example that has comforted and encouraged countless victims of torture and oppression down the centuries.
In Italy, the decision has provoked real anger, and is seen as an attack not only on Italian identity but also on the country’s culture and history. The complainant, a Finnish-born immigrant, started the proceedings because she said that she was offended by crucifixes on display in the school her children attended. Presumably she is offended every time she goes down the street, as it is impossible to walk far in any Italian town or city without encountering a church. Christianity is woven into the very fabric of Italian life. If anyone were to take the court’s decision at face value, all that would have to be somehow unravelled. And what about the manifestation of religion elsewhere in Europe – the establishment of the Church of England, indeed? Is that now safe from challenge by the interfering judges of Strasbourg?
The European Convention on Human Rights, which is now part of United Kingdom law under the Human Rights Act, has brought vast benefit to the peoples of Europe, in both correcting abuses and ensuring that people may live without fear of the state. It is too valuable for its reputation to be thrown away on the back of one case. What the interpretation of the convention lacks, in the hands of lawyers and judges, is a proper sense of proportion. It cannot balance the offence felt by one woman against the outrage given to millions of Italians, on this occasion including many who are far from identifying with the interests of the Catholic Church. What they are saying is that what images they choose to put on the walls of their state schools is their business and nobody else’s. And if France bans crucifixes in such situations, as it does, that is up to the French.
The European Convention – which has nothing to do with the European Union – has become controversial in British politics too. The Tories want to replace the Human Rights Act with another, more carefully drafted. Defenders of the act as it is now will know that the Italian crucifix decision makes their task much harder. If this judgment survives one final appeal, not just the Human Rights Act in Britain will need a review, but the entire Convention itself.


"Making an ass of human righ" in The Tablet

10 de novembro de 2009

RECENSEAMENTO

© JVieira

O recenseamento para as eleições de Abril de 2010 começou a 1 de Novembro e decorre durante 30 dias, mas está a deixar a classe política do Sul à beira de um ataque de nervos.
Ontem o ministro dos Assuntos Interno disse aos líderes religiosos que a adesão dos cidadãos é baixíssima e em alguns estados ainda nem seque começou.
O Governo do Sul contava usar os resultados dos cadernos eleitorais para provar que o recenseamento da população estava errado, mas por este andar não vai longe.
A situação está tão difícil que o presidente Salva Kiir declarou uma semana de feriado para as pessoas se poderem recensear ao mesmo tempo que apelou à classe politica e aos funcionários públicos que se empenhem e motivem os cidadãos a inscreverem-se nos cadernos eleitorais.
O católico Arcebispo de Juba, dom Paolino Lukudu Loru, disse mesmo que não participar no recenseamento e nas eleições é pecado.
As razões para o aparente boicote são muitas: falta de verba para mobilizar os cidadãos, desorganização endémica, mudança constante dos postos de recenseamento – são móveis, alguns registadores pedem dinheiro pelo serviço, mal-estar social pelos salários em atraso e pela falta de dividendos da paz, apatia, politização do recenseamento, falta de consciência cívica, 21 anos de guerra…
A lista pode continuar por aí adiante…
Mas a classe política está em pânico porque não esperava uma falta de adesão tamanha. O Governo do Sul do Sudão já pediu à Comissão Nacional de Eleições que alargue o período do recenseamento eleitoral por mais um mês até finais de Dezembro.
Contudo, duvido que vá atrair muito mais gente a registar-se para votar: o que se passa é um voto de não confiança numa classe política que passou quatro anos a ignorar as bases e agora as bases desforram-se.
Estarei enganado? Sinceramente espero que sim, porque são as eleições que vão dar legitimidade democrática a uma classe política que chegou ao poder de arma em punho.

9 de novembro de 2009

PORTA-VOZES

Ministro Chuang (à direita) com representantes das Igrejas em Juba
© JVieira

O Ministro dos Assuntos Interiores do Governo do Sul do Sudão chamou aos líderes religiosos porta-vozes da maioria silenciosa do Sul do Sudão.
O Ministro Gier Chuang Aluong convidou os chefes das igrejas presentes em Juba para discutir o seu papel na pacificação, reconciliação e cura no Sul do Sudão. Os muçulmanos ficaram de fora.
Oito líderes – entre os quais se encontravam os arcebispos católico e anglicano – aceitaram e convite e discutiram a situação actual no Sul do Sudão desde a insegurança à juventude, passando pela relação nem sempre tranquila com o poder.
Chuang disse que o Sul está a perder mais gente agora com as lutas inter-tribais que durante a guerra.
Disse que depois de uma mega-rusga a Juba, acredita que conseguiu apreender apenas cerca de 40 por cento das armas ilegais nas mãos dos civis e que os grupos religiosos devem promover o desarmamento voluntário.
Disse também que tem andado a observar a noite de Juba e para salvar a geração mais jovem vai impor o encerramento das discotecas às 11h00 da noite.
Os lideres religiosos pediram que o Governo os escutem – inclusive que escreveram ao presidente Salva Kiir para terem uma reunião com ele há quatro anos e a resposta ainda não chegou – e que dêem espaço a Deus no sul do Sudão, que não sejam completamente laicos, que lhes dêem os meios para trabalharem as bases de modo que o país não resvale para nova guerra.
O ministro - que convidou a esposa a estar presente na reunião juntamente com três chefes da polícia e me permitui cobrir o evento sendo o único jornalista presente - prometeu passar os anseios dos líderes religiosos ao presidente e estabelecer um ponto focal entre o ministério, a Comissão da Paz e os líderes religiosos para trabalharem juntos as situações de conflito.
Chuang está há quatro meses com a pasta do Interior - antes era responsável pelas Telecomunicações e Serviços Postais - mas tem-se revelado um ministro activo, preocupado com a situação de (in)segurança e com vontade de mudar o rumo das coisas.
E quiçá algo ambicioso com vontade de mostrar serviço ao chefe para ser admitido no círculo mais restrito do poder.
Pelo menos é assim que alguns analistas enquadram as muitas intervenções que vai protagonizando.

6 de novembro de 2009

MONKS

© JVieira

New forms of monastic life are necessary and inevitable. Ideally, they will be supported by the old institutions practicing the renunciation of self-will that Benedict urges. Or they will come to birth anyway because the monk within each person must seek expression. Either way the world needs new religious forms that breathe peace as much as our ailing planet needs trees.
Contemplative life, however peripheral it may be to institution, is the purifying element in religion. The new forms may be smaller, more mixed and flexible in commitment and work. Certainly they will be more focused in the practice and sharing of the contemplative experience that we hunger for today. This experience elevates the sense of time. In such places we will have time to take tea and say Mass with delight.

Laurence Freeman, OBS in The Tablet

SOLIDARIEDADE



© JVieira

Solidariedade com o Sul do Sudão (SSS) é um grupo de 20 mulheres e homens religiosos de 13 congregações provenientes de cinco continentes a trabalhar em quatro comunidades na região.
O grupo conta com o apoio de mais de 90 institutos religiosos ao mais alto nível e foi formado durante o Sínodo sobre a Vida Consagrada em resposta ao apelo do bispo de Yambio que pediu aos religiosos que acolhessem o
clamor do Sul do Sudão.
SSS dedica-se à formação de professores (Malakal e Rimenze) e de enfermeiros (Wau). A sede está em Juba.
Os membros estão desde domingo a fazer a segunda assembleia em Juba para se familiarizarem com a situação política e cultural no Sudão e partilharem experiências.
Na agenda está também o alargamento do grupo e das actividades a outras dioceses.
Interessante: o que estes 20 homens e mulheres estão a fazer é o que Daniel Comboni sonhou há mais de 100 anos: unir as forças vivas da Igreja num projecto comum para a regeneração da África.

4 de novembro de 2009

PNEUMONIA

© JVieira

As Nações Unidas lançaram no início do mês um plano de acção para salvar mais de cinco milhões de crianças da morte até 2015 através do combate à pneumonia.
A UNICEF e a Organização Mundial de Saúde estão por detrás do novo plano de prevenção da pneumonia pela promoção da amamentação, vacinação e distribuição de antibióticos específicos.
O Plano de Acção Global custa 39 mil milhões de dólares americanos.
A pneumonia mata mais crianças que a malária, a sida e o sarampo juntos: cerca de 1,8 milhões de crianças com menos de cinco anos por ano, representando uma média de 4000 vítimas mortais infantis por dia.

2 de novembro de 2009

INDEPENDÊNCIA

A declaração pró-independência do presidente do governo do Sul do Sudão está a causar muitas ondas.
Salva Kiir Mayardit disse na catedral católica de Juba no sábado que votar pela unidade no referendo de 2011 é escolher ser cidadão de segunda no próprio país enquanto que o voto pela independência representa a liberdade.
Eu passei as declarações à
Reuters e a BBC encarregou-se de as divulgar através do serviço mundial.
A avaliar por um artigo no portal
Sudan Tribune, as declarações independentistas de Kiir caíram como uma bomba em Cartum e deixaram diplomatas árabes e egípcios preocupados.
Um ministro do Governo do Sul do Sudão, conotado com posições unionistas, disse à representante da Reuters que o que o presidente disse não é bem o que queria dizer, que a análise da agência não era correcta.
Ontem, o presidente Kiir falou aos católicos que se reuniram na igreja patoquial de Rejaf para celebrarem a festa de Todos os Santos, encorajando-os a recensearem-se para as eleições.
A celebração contou ainda com a presença do presidente da Assembleia Legislativa do Sul do Sudão, alguns ministros do governo regional, comissário do condado de Juba, o representante especial dos Estados Unidos para o Sudão, Scott Gration, e a cônsul-geral dos Estados Unidos em Juba.
A igreja, construída há mais de 70 anos pelos Missionários Combonianos, encontrava-se repleta de fiéis e a celebração, presidida pelo arcebispo de Juba, Dom Paolino Lukudu Loro, foi muito interessante. E longa: quase três horas!
Contudo, as celebrações foram ensombradas pelo despiste de um camião que fez oito mortos e inúmeros feridos entre os participantes que regressavam a Juba depois da festa. A estrada de terra batida tinho sido aplanada, um risco para os aceleras junatmente com carradas de pó e bermas muito moles.