21 de fevereiro de 2019

IRMÃO DO OUTRO, MEU IRMÃO


Como irmão religioso missionário comboniano o que me move é fazer a vontade de Deus e evangelizar através das minhas acções. O Senhor chama-me a ser as suas mãos, os seus pés neste mundo e em particular em Matany, Uganda onde vivo desde 2013. Move-me o desejo de encontro e de “entrar” no profundo do outro, do doente, e descobrir que energias a pessoa possui e quais são as necessárias despertar para brotar saúde na pessoa. Ser irmão do outro, meu irmão.

Missão é ir ao encontro do outro. Missão é encontro de corações. Em Matany o meu serviço como irmão enfermeiro passa por organizar a farmácia do hospital. Compro medicamentos, distribuo-os pelos diferentes serviços que o Hospital oferece (medicina geral, maternidade, cirurgia, consultas, etc.), controlo os stocks e registo de medicamentos, participo nas reuniões da equipa médica sugerindo opções de tratamento e no serviço de tuberculose. Cada terça feira dispenso da farmácia principal (central) para todos os serviços e nos outros dias vêm para emergências ou medicamentos especiais que não são pedidos regularmente.

No momento, coordeno a equipa de farmacêuticos do Hospital: somos quatro. Um deles, Jonathan, trabalha a tempo inteiro na farmácia comigo; os outros dois, Christine e Joseph, estão encarregados de dispensar os medicamentos aos doentes nas consultas diárias. Encontramo-nos cada manhã para um momento de oração, partilhar dificuldades e alegrias e a realidade do dia anterior. Procuramos ter disponíveis os medicamentos necessários para levar para a frente a missão à qual o Senhor nos chama a viver aqui: oferecer serviços médicos com qualidade a esta população a um preço acessível.

Sinto que o meu serviço na farmácia é importante e é a forma como participo na construção do Reino de Deus entre os Karimojon.

Ir. José Eduardo Freitas (Uganda)

15 de fevereiro de 2019

PARAR, PARTILHAR PARA (RE)PARTIR



O Curso Comboniano de Renovação decorre de Janeiro a Maio de 2019 e decorre na Casa Geral em Roma. O curso realiza-se cada dois anos para Combonianos dos 45 aos 65 anos, que nesta fase da vida em missão, aceitam a proposta de um tempo de encontro consigo mesmos e com Deus. Nesta perspetiva, procuram assim responder na linha do convite de Jesus aos seus discípulos missionários: «Vinde comigo para um lugar isolado e descansai um pouco» (Marcos 6,30-34)

Os participantes deste ano são 17, vindos de 13 países diferentes e a trabalhar nos mais diversos áreas e lugares de missão. Têm idades entre os 48 e 68 anos. Entre eles estão os padres portugueses Feliz Martins, Joaquim Pereira e Carlos Nunes.

O curso é coordenado pela equipa de Formação Permanente, com larga experiência em acompanhamento de pessoas e grupos, constituída pelos padre Siro Stocchetti e Elias Sindjalim e pelo irmão Guillermo Casas.

A proposta do Curso é de «Parar, Partilhar para Re-Partir em missão»!

Este tempo vive-se muito em espírito de comunidade comboniana, vida em grupos com partilha de experiências, reflexão e oração! A variedade dos temas apresentados nas manhãs é orientada para ajudar os participantes e revisitar as várias dimensões da vida pessoal, comunitária e missionária.

Temas divididos em várias semanas incluem uma re-leitura da própria vida, o discernimento comunitário, o carisma comboniano, a saúde e a economia. Uma semana é dedicada à partilha e interpretação das experiências missionárias dos participantes. O passo a passo da vida do curso é também acompanhado por pessoas especializadas e escolhidas de outros quadrantes da vida da Igreja consagrada e missionária que acompanham individualmente cada participante.

O curso inclui também diversas visitas de estudo, reflexão, oração e convívio que muito contribuem para criar o espírito comunitário.

Visitámos já terras palmilhadas por S. Francisco de Assis, grande inspirador de vida e missão. Visitámos e participámos em várias celebrações na Basílica vaticana de S. Pedro e na área de “Tre Fontane” onde vivemos!

Outras visitas bem mais especiais e prolongadas levar-nos-ão às terras do nosso Pai e Fundador D. Daniel Comboni e, na conclusão do Curso, passamos três semanas na Terra Santa para palmilhar em missão, com Jesus, os caminhos da Bíblia. É com grande expectativa que todos e cada um espera por estes tempos especiais de graça!

O espírito do grupo de participantes neste curso 2019 é francamente positivo, com os tons das várias origens e experiências de missão, completando um quadro enriquecido por tantos dons e graças.

A vida de comunidade é sempre respeitadora e aberta, com alegria, partilha e ajuda entre todos.

A oração pessoal, comunitária e as várias celebrações têm sido bem preparadas e vividas, tornando-se fonte de vida espiritual para todos.

Os temas dos encontros e partilha em grupos ajudam a tomar consciência e a aprofundar aspetos da nossa vida humana, religiosa e missionária que nesta altura das nossas vidas, consideramos muito necessárias e úteis.

A comunidade cresce em espírito e vida. Estamos todos, tudo e sempre em missão! O caminho faz-se caminhando, escutando, partilhando e avaliando a realidade pessoal e comunitária de cada um. Só assim nos podemos preparar em conjunto para (re)partir em missão. Essa é a nossa vida e vocação. Esse é o desafio do curso e missão que continuamos a percorrer em Peregrinação de vida!

Penso exprimir um sentimento comum a esta comunidade do CCR 2019 quando digo: «Dou graças a Deus por esta oportunidade que me concede. Sinto-me feliz por estar aqui! Espero e sinto-me já seguro, de que esta vida nova, me ajudará a viver renovado a missão para que vou (re)partir.»


P. Carlos Alberto Nunes, mccj

7 de fevereiro de 2019

«CAI, CAI, BASHIR!»



Sudaneses querem mudança de regime, já.

As palavras de ordem de manifestantes a pedir a renúncia do presidente Omar al-Bashir e o fim da ditadura do seu partido ecoam por todo o Sudão desde finais de Dezembro num troar de descontentamento.

O levantamento popular teve início a 19 de Dezembro na cidade de Atbara, no Nordeste do país. A população foi para a rua protestar contra o aumento do preço do pão e a falta de combustíveis e de dinheiro nas caixas multibanco. Os manifestantes incendiaram a sede do NCP (o Partido do Congresso Nacional, no poder) enquanto exigiam a queda do presidente há quase três décadas no poder.

De Atbara os protestos estenderam-se à capital e ao país. Multidões cada vez maiores cantam «Cai, cai» enquanto nas paredes aparecem grafitos com a silhueta do ditador e a legenda «Vai, Bashir» em árabe.

O aparato de segurança (polícia, segurança nacional e milícias) confronta os protestos à bastonada, balas e gás lacrimogénio. Al-Bashir pediu-lhes que «extraíssem penitência» dos opositores e as suas forças levam-no a sério: além da violência desmedida contra os manifestantes, prenderam médicos, jornalistas, activistas, políticos da oposição e líderes da sociedade civil, invadiram residências privadas e atacaram mesmo o Hospital de Omdurmã com granadas de gás. Até meados de Janeiro, o Governo contava 24 mortos, mas a oposição dizia que foram pelo menos 55.

Um missionário escrevia há dias: «Os problemas de manifestações continuam (e os mortos aumentam). O pão vai-se conseguindo com grandes filas de espera, nem que seja preciso esperar todo o dia. A Internet tem estado bastante alterada e fechada por causa das manifestações antigovernamentais já há três semanas. A gente quer justiça, pão, novo governo. A nossa oração é para que se saibam resolver da melhor forma, com justiça e dignidade, os problemas do Sudão.»

As manifestações são menos contra a inflação (oficialmente nos 70 por cento) e a falta de combustível e de liquidez e mais contra os excessos do regime de al-Bashir e pela sua mudança. A presença feminina nas ruas é maciça. Num exercício de subversão criativa ao regime, fazem-se anéis com as cápsulas de metal das balas e vasos de flores com as latas do gás lacrimogéneo.

É muito difícil de prever como o levantamento vai acabar: as manifestações crescem em tom e tamanho e as forças do Governo enfrentam-nas com mais violência (e de rosto coberto para evitar serem identificados).

A chave da crise está no Exército, que se tem mantido à margem da repressão. Na Internet circulam vídeos de soldados a saudar os manifestantes no início da revolta e até a proteger manifestantes. Mas as chefias militares foram promovidas pelo presidente al-Bashir, um coronel que tomou o poder em Junho de 1989 por meio de um golpe.

As redes sociais estão cheias de vídeos, fotos e mensagens a cobrir as manifestações diárias, mas pouco sai nas páginas ou ecrãs das fontes de informação mais importantes. A polícia, essa continua a confiscar os telemóveis para tentar arrestar o registo vídeo dos protestos.

1 de fevereiro de 2019

CONTEMPLATIVA MISSIONÁRIA



A Irmã Maria Teresa é uma Carmelita de 44 anos, em Braga. No início do Ano Missionário, soube da importância decisiva que São Daniel Comboni atribui à oração missionária das pessoas em vida contemplativa. «Tenho, diz ele, mais de 200 mosteiros e institutos» a rezar «para eu conseguir levar a luz da santa fé ao interior da África». No seu longo retiro espiritual,  Teresa mergulhou nos Escritos do santo missionário: 


«Impressionei-me muito com o que li dos Escritos de Comboni. E mais ainda por desconhecer o seu tão rico, profundo e ardente vigor missionário, visível nos combonianos que conheço. 

Ao ler algumas das suas belíssimas cartas, cheias de paixão pela "Nigrícia", e aperceber-me de quão valiosa era para ele a oração feita nos mosteiros pelo seu trabalho, senti-me... envergonhada, por viver tão pouco a dimensão missionária da minha vida contemplativa! E pensei: realmente, este ano Missionário, só pode ser uma grande GRAÇA para nós, Consagradas contemplativas! Sim, porque a contemplação não se alimenta de utopias, sonhos, idealismos... mas da relação pessoal e amorosa com Jesus e simultaneamente com as dores, anseios e esperanças da Humanidade inteira! – Meu Deus, disse, quantas vezes eu vivo no meu pequeno mundo, tão ‘longe’ dos meus irmãos e pouco atenta aos seus clamores!... 

Decerto, Santa Teresa de Jesus, minha Santa Madre, não se ofendeu por eu ter passado um bom bocado a ler Comboni, durante o retiro espiritual... De facto, não foi uma interrupção nas meditações do retiro, mas um alerta, uma tomada de consciência mais profunda da minha vida contemplativa chamada a ser REALMENTE missionária! Pois, afinal, tanto ela como a minha “mana” Santa Teresinha do Menino Jesus e outros santos/as do Carmelo desejaram tão intensamente dar a conhecer Jesus e o Evangelho e entregar-se pela salvação das pessoas, que familiarizar-me com S. Daniel Comboni e os seus apelos à intensa oração pelo seu trabalho apostólico, só me assemelhará mais aos que me precederam no Carmelo e manterá vivo em mim o ideal eclesial-apostólico de Sta. Teresa.» 


Pensei também em Comboni e Teresinha. Esta quis «ser Apóstola, Missionária, não apenas durante alguns anos, mas desde a criação do mundo (e) até ao fim dos séculos.» Comboni disse que daria mil vidas pela Missão, em resposta à sede de Jesus na Cruz.

S. João Paulo II une a carmelita e o missionário num único movimento espiritual: «Esta sede de almas a salvar foi sempre fortemente sentida pelos Santos: pensemos, por exemplo, em santa Teresa de Lisieux, padroeira das missões, e em D. Comboni, grande apóstolo da África.»

Do Coração de Jesus, onde vivem, Teresinha e Comboni urgem agora os Cenáculos de Oração Missionária e as Famílias Carmelita e Comboniana, a unirem empenho pela santidade, oração missionária em profunda comunhão com o Senhor e inesgotável dedicação à evangelização.

Ir M. Teresa E.S. da Imaculada Conceição 
P. Claudino Ferreira Gomes, Missionário Comboniano