29 de agosto de 2014

MILAGRE DO SOL


Quando o Sol se põe em África, mesmo assim continua a iluminar milhões de pessoas que têm na sua energia uma alternativa amiga do ambiente e do desenvolvimento.

À noite, o continente, visto de um satélite, assemelha-se a um enorme buraco negro com alguns pontos de luz no Norte e sobretudo a Sul, pois 600 milhões de africanos ainda não têm electricidade e, os que a têm, pagam-na duas a três vezes mais cara que noutras regiões em desenvolvimento, apesar de viverem rodeados de fontes de energia fósseis e renováveis.

A tecnologia solar veio fazer luz na noite africana. Armazenada em baterias, alimenta hospitais, estações de rádio, escolas, lares, moinhos, bombas de água, frigoríficos, fogões, rádios, telemóveis, lanternas...

Há organizações caritativas empenhadas no fornecimento de lanternas solares e pequenos sistemas de iluminação para casas e estabelecimentos de ensino para acabar com a iluminação a petróleo até 2020. Os benefícios são imensos: os estudantes fazem os deveres de casa com boa luz e sem sofrerem com o fumo das lâmpadas a querosene e as famílias vêem as despesas reduzidas – o petróleo para cozinhar e alumiar queima um quinto do orçamento familiar. A economia local e a segurança também beneficiam: os negócios ficam abertos até tarde sem o barulho, a poluição e as despesas dos geradores e os clientes podem movimentar-se em ruas e mercados iluminados e seguros.

A energia solar é limpa, mas exige grandes investimentos porque ainda é uma tecnologia muito cara. Em termos reais, custa muito menos produzir um quilowatt de electricidade a partir do sol do que usando gasóleo, mas o investimento inicial é muito grande: um sistema doméstico simples com três a seis lâmpadas, mais tomadas para alimentar uma televisão, custa entre 500 a 1000 euros.

A África é extremamente rica em horas de sol e já há países a tirar partido dessa fartura natural. Quase um terço dos países africanos (16 em 54) está já a pôr em prática iniciativas amigas do ambiente, com a África do Sul à frente.

A África do Sul já produz 238 megawatts de origem solar e, em 2030, quer chegar aos 18 gigawatts para reduzir a dependência do carvão. O Projecto Jasper Power, financiado pela Google, vai fornecer energia de origem solar a 30 mil casas por 10 milhões de euros.

Marrocos quer que, em 2020, as energias renováveis forneçam 42 por cento das necessidades do país contra os oito por cento de hoje. O sistema custa 9000 milhões de dólares e vai usar tecnologia fotovoltaica e termal para produzir electricidade em cinco locais.

A Mauritânia quer derivar 10 por cento das suas necessidades de energia fotovoltaica e o Gana conta ter uma produção solar de 155 megawatts no fim do ano que vem.

Grupos de mulheres do Uganda, Ruanda e Sudão do Sul estão a receber formação para poderem gerir sistemas solares domésticos. No Uganda, 90 por cento da população não tem electricidade e no vizinho Sudão do Sul a percentagem é ainda maior.

No Quénia, Richard Turere, um jovem maasai de 13 anos, inventou um pastor solar para manter à noite os leões longe das manadas: um painel solar, uma bateria e uma linha de luzes intermitentes de lanternas chegam para assustar os felinos.

A União Europeia também tem planos para se abastecer de energia solar nos desertos do Norte de África. O projecto já está em andamento em Marrocos, unido a Espanha por uma linha submarina.

A administração Obama lançou a iniciativa Power Africa em 2013 para levar luz a 20 milhões de pessoas na África Subsariana. O Governo norte-americano aplicou sete mil milhões de dólares no projecto e espera que a iniciativa privada contribua com os restantes 14 mil milhões. O Power Africa já está a financiar a produção de electricidade limpa na Etiópia, Gana, Quénia, Libéria, Nigéria e Tanzânia aproveitando o sol e os ventos.