14 de maio de 2012

BISPOS


© JCDaau
Os líderes católicos e anglicanos do Sudão do Sul prepararam uma mensagem sólida pedindo o fim da guerra e o restabelecimento da paz entre os dois Sudãos.
A mensagem com o título «Temos um sonho de Paz, Justiça e Liberdade» foi assinada por 15 bispos de ambas as comunhões depois de três dias de oração e reflexão em Yei na semana passada para fortalecerem os laços ecuménicos.
Durante a guerra, os líderes das duas comunhões mantiveram uma comunhão estreita, mas nos primeiros anos da paz viraram-se para o interior das suas comunidades e agora querem relançar a colaboração ecuménica.
 Os bispos escrevem que têm um sonho, uma visão e uma convicção baseados nos valores evangélicos sobre o papel profético da Igreja sobre a justiça, paz e dignidade de cada ser humano, criado à imagem e semelhança de Deus.
O documento afirma que o sonho dos bispos católicos e episcopalianos para os povos do Sudão do Sul e do Sudão é que possam apreciar a democracia e liberdade e que todas as religiões, grupos éticos, culturas e línguas tenham direitos humanos iguais baseados na cidadania.
Os bispos acrescentam que sonham com as duas nações em paz e cooperando para usarem da melhor maneira os recursos que Deus lhes deu, promovendo a interação livre entre os seus cidadãos, vivendo lado a lado em solidariedade respeito mútuo.
Os bispos dizem que acolheram a Resolução 2046 do Conselho de Segurança da ONU de 2 de Maio que trata compreensivamente dos muitos assuntos-chave entre os dois Sudãos, incluindo Abyei, exige que as fronteiras sejam marcadas e que criem uma zona desmilitarizada ao longo da fronteira para prevenir mais escaramuças e a retomada de negociações.
A líder da Missão das Nações Unidas no Sudão do Sul, Hilde Johnson, encontrou-se com os bispos durante o encontro ecuménico para lhes pedir que transmitam aos seus rebanhos que as Nações Unidas não abandonaram nem atraiçoaram o país. A mensagem vem no seguimento de uma onde de indignação pela posição da ONU durante as últimas escaramuças fronteiriças. O Sudão do Sul acusa as Nações Unidas de favorecerem o Sudão e de não protegerem a população dos ataques da Força Aérea Sudanesa.

13 de maio de 2012

CATÓLICA


© ALamana

O primeiro grupo de alunos da Universidade Católica do Sudão do Sul foi graduado no sábado, 12 de Maio, em Juba, durante uma cerimónia colorida e marcada pela alegria de quem chega ao fim de uma caminhada difícil de quatro anos.
Os 25 graduados iniciaram o bacharelato em Ciências Económicas e Administração em 2008 e formam o grupo pioneiro da Católica.
A cerimónia de graduação começou com a eucaristia presidida por Dom Eduardo Hiiboro, bispo de Tombura-Yambio. Seguiu-se o desfile dos graduandos, leitura do Acordo de Filiação com a Universidade Católica da África Oriental, sediada em Nairobi, Quénia, e distribuição dos certificados.
A cerimónia foi abrilhantada pelo Coro da Universidade e por músicas e danças tradicionais e contou com uma grande assistência entre figuras públicas e familiares e amigos dos graduados.
A Faculdade de Artes e Ciências Sociais, em Juba, oferece bacharelatos em Económicas e Ciências da Educação. No polo de Wau funciona a Faculdade de Agricultura.
A Católica tem mais de quinhentos alunos matriculados nos três cursos.
Planeia abrir a Faculdade de Ciências do Petróleo e Minas, em Malakal, e iniciar um mestrado em economia.
Funciona provisionalmente no antigo postulantado dos Combonianos em Juba. Um irmão comboniano faz parte do corpo docente e administrativo da instituição.
Durante a graduação, o vice-governador de Equatória Central anunciou que o lote atribuído pelo governo para a construção da Universidade Católica está finalmente disponível.

6 de maio de 2012

SUDÃO DO SUL – SUDÃO



DE MAL A PIOR


A SITUAÇÃO POLÍTICA entre o Sudão do Sul e do Sudão resvalou para pior em finais de Janeiro quando o Governo de Juba decidiu fechar as torneiras dos campos de petróleo, acusando Cartum de roubar o crude e exigir tarifas absurdas para exportar o petróleo do Sul através das suas infraestruturas. 
Em Fevereiro, negociações sobre os assuntos pendentes pós-independência entre os dois países, mediadas pelo Painel da União Africana, pararam.
Em Março, o ambiente negocial mudou em Adis-Abeba e as equipas de Juba e Cartam chegaram a acordo sobre dois assuntos importantes: princípios de nacionalidade e cidadania e segurança fronteiriça. Políticos da linha dura em Cartum criticaram os acordos – e Juba acusa – boicotaram uma cimeira presidencial que devia ter acontecido a 3 de Abril para os presidentes Salva Kiir e Omar Al Bashir rubricarem os dois documentos e continuar com as negociações sobre o estatuto de Abyei, fronteiras e petróleo.
Em finais de Março, as Forças Armadas Sudanesas (SAF na sigla em inglês) intensificaram os bombardeamentos ao longo da fronteira comum usando artilharia pesada e aviões. O exército do Sudão do Sul (SPLA na sigla em inglês) tomou uma posição de ataque, repeliu as forças SAF para além de Higlig, uma zona-chave rica em petróleo. O Sudão do Sul chama Panthou a Higlig e diz que a área – que produz metade do petróleo do Sudão – lhe pertence.
O Sudão não estava preparado para tão grande humilhação. Normalmente o SPLA tomava uma posição defensiva quando SAF atacava para proteger a integridade territorial do Sul. SAF intensificou os bombardeamentos e o SPLA retomou Higlig-Panthou pela segunda vez em menos de uma semana. O Presidente Kiir disse à Assembleia Nacional que desta vez a ocupação era permanente. A comunidade internacional condenou a invasão, a ONU ameaçou com sanções e dez dias mais tarde Kiir ordenava a retirada ordeira das forças de Higlig-Panthou. Cartum imediatamente anunciou que tinha expulsado o SPLA da zona do petróleo, matando 1.500 soldados.
Entretanto, a 8 de Abril o período de graça para os Sulistas a viverem no Sudão terminou. Mais de 500 mil pessoas têm que obter documentos pessoais e registarem-se como estrangeiros ou deixarem o país. No mesmo dia, o Sudão suspendeu voos diretos entre Cartum e Juba.
Depois da ocupação de Higlig-Panthou, Bashir ordenou a suspensão das negociações com o Sudão do Sul acusando Juba de só entender a linguagem da guerra e prometeu libertar o novo país dos ‘insetos’ do partido dominante. A Assembleia Nacional do Sudão declarou o Sudão do Sul país inimigo.
A meados de Abril, islamistas atacaram e queimaram uma igreja protestante em Cartum usada sobretudo por Sulistas. Em Nyala, a capital do Darfur do Sul, os escritórios da Sudan Aid – a Caritas Sudanesa – e do Conselho das Igrejas do Sudão foram fechados pela segurança nacional, alguns bens incluindo carros confiscados e pelo menos três Sulistas a trabalhar para a Sudan Aid presos. No estado de Gaderef, um seminarista e um catequista católicos foram acusados de apoiarem os rebeldes do SPLM-Norte e presos.
Em finais de Abril, Bashir declarou o estado de emergência ao longo da fronteira com o Sudão do Sul e o Governador do Estado do Nilo Branco deu a mais de 12.000 Sulistas em encalhados em Kosti à espera de transporte por terra ou por rio para o Sudão do Sul uma semana para abandonar a área acusando-os de porem em risco a segurança e o meio ambiente.
No início de Maio, o Conselho de Segurança da ONU aprovou uma resolução obrigando os dois países a suspenderem os ataques em 48 horas, criarem uma zona de segurança ao longo da fronteira comum numa semana, retomarem as negociações em duas semanas e concluí-las dentro de três meses. Caso contrário, poderão sofrer sanções não militares.
Observadores internacionais estão de acordo que a situação entre o Sudão do Sul e o Sudão atingiu um patamar perigoso e poderá evoluir para guerra total. O Governo do Sudão do Sul está a mobilizar o país para apoiarem o exército com comida, dinheiro e novos recrutas. O Governador de Equatória Oriental prometeu alistar 12 mil jovens. Os estados de Lagos e Warrap também estão a mobilizar jovens para o exército, sobretudo os que estão envolvidos em razias de gado e outras formas de conflitos intertribais.
O Governo do Sudão do Sul aprovou um orçamento de austeridade para conter a falta de dinheiro depois de ter fechado os poços de petróleo que produziam 98 por cento da receita pública do país. Há falta de dólares no mercado e combustíveis e medicamentos começam a faltar. A inflação entre Março de 2011 e de 2012 atingiu quase os 51 por cento.

1 de maio de 2012

FALHA




A África é atravessada de costa a costa por uma zona de altas tensões e abalos sociais que vai da Somália ao Senegal. Não se trata de uma depressão geológica como o Vale de Rift que corre do Jordão, em Israel, ao Lago Niassa, em Moçambique, mas da Falha da Religião onde o Islão e o Cristianismo se encontram e esbarram.
A Somália é território DE todos os excessos desde que Mohamed Siad Barre caiu em 1991. Primeiro foram os Tribunais Islâmicos a opor-se ao Governo Federal Transicional, depois os Al-Shabaab - os Jovens - que desde 2006 movem uma guerra santa contra elementos moderados no país e os vizinhos Uganda, Quénia e Etiópia.
Na Etiópia o Islão cresce e radicaliza-se. A Arábia Saudita está a impor a sua versão do Islão, intolerante e radical, com a ajuda dos petrodólares.
O Sudão perdeu o Sul depois meio século de guerras de devido à intransigência hegemónica da elite árabe e muçulmana que controla o poder em Cartum que impôs a religião, a língua e a lei islâmica às tribos africanas do Sul. 
O Chade, como o Sudão, está dividido entre o norte árabe muçulmano e o sul africano e cristão. Os primeiros três presidentes foram cristãos, mas agora a maioria muçulmana controla o poder.
A Nigéria é palco de constantes ataques do movimento Boko Haram (literalmente educação ocidental proibida) a templos e alvos cristãos provocando retaliações com enormes perdas de vidas e de bens. Há quem ligue o Boko Haram ao Al Qaeda do Magrebe Islâmico.
No Mali, rebeldes tuaregues controlam o norte do país desde Março com a ajuda da Al Qaeda do Magrebe Islâmico e declararam independência. Durante os combates pelo controlo das capitais regionais algumas igrejas foram destruídas. A liderança tuaregue prometeu um governo secular para a República Azawad mas alguns chefes locais aproveitaram o vazio do poder para impor a charia, Lei Islâmica.
Finalmente, o Senegal destoa neste cenário de alta clivagem religiosa: a corrente islâmica do país está ligada aos místicos do Sufismo, tolerante. Os muçulmanos representam 94 por cento da população mas o primeiro presidente foi o católico Leopoldo Senghor.
Nesta zona conturbada por altas tensões religiosas há dois atores a notar: a Al Qaeda e a Arábia Saudita. A primeira impõe uma versão terrorista do Islão e a segunda financia a sua versão puritana e ultraconservadora, o Salafismo, da religião. Ambas atitudes contrastam com o Islão tradicional africano: sincretista, tolerante, de boa vizinhança quer com cristãos quer com religiões tradicionais africanas.