23 de novembro de 2017

CRER NOS JOVENS


Vivemos tempos de seca vocacional extrema. A não renovação de gerações na vida consagrada preocupa-nos. Há uma escapatória, uma rota de fuga para a frente: condenar esta geração que não quer saber de Deus; que não acolhe propostas vocacionais empenhativas; que não… não… não…

Neste cenário vocacional desafiante, desanimador e desolador somos chamados «a ver o ramo da amendoeira» (Jeremias 1, 11). E a pedir ao Senhor da vinha que envie operários para a sua vinha. Essa é a primeira tarefa do discípulo missionário (Lucas 10, 2).

Há muitas amendoeiras a florir no inverno vocacional que atravessamos, há muitos operários à espera de um convite para irem trabalhar para a vinha do Senhor.

Em fevereiro de 2017 havia 745 candidatos ao presbitério diocesano nos pré-seminários, seminários menores, propedêutico, seminários maiores e no ano pastoral. Os dados são da Comissão Episcopal Vocações e Ministérios.

O inquérito de opinião aos jovens que a CIRP comissionou por ocasião do Ano da Vida Consagrada revelou uma conclusão interessante: os jovens de hoje têm lugar para Deus nas suas mentes e corações e estão disponíveis para acolher histórias de vida. Talvez não haja é tanta paciência para discursos «secantes»…

Os jovens de hoje são tão generosos como nós, mas expressam a sua dedicação de uma maneira diferente, têm a sua maneira de viver a generosidade.

Segundo a FEC, 389 jovens e adultos estão empenhados em projetos de voluntariado missionário de curto, médio e longo prazo no estrangeiro e 1014 desenvolvem atividades de voluntariado/missão em Portugal.

Muitos jovens empenharam-se na ajuda às vítimas dos incêndios desde o lançamento de iniciativas através das redes sociais até à recolha e distribuição de ajudas.

Por outro lado, todos os anos um batalhão de gente nova põe-se ao dispor do Banco Alimentar para recolher donativos nas superfícies comerciais.

Mais de 2000 universitários passaram o carnaval na «Missão país», um projeto católico de universitários para levar Jesus às universidades e evangelizar Portugal através do testemunho da fé, do serviço e da caridade. Em 14 anos, esses universitários já desenvolveram 154 missões de evangelização em 75 localidades diferentes em três anos seguidos.

O papa Francisco escreveu no n.º 8 da sua mensagem para o Dia Mundial das Missões de 2017: «Os jovens são a esperança da missão. A pessoa de Jesus e a Boa Nova proclamada por Ele continuam a fascinar muitos jovens. Estes buscam percursos onde possam concretizar a coragem e os ímpetos do coração ao serviço da humanidade. “São muitos os jovens que se solidarizam contra os males do mundo, aderindo a várias formas de militância e voluntariado. (...) Como é bom que os jovens sejam ‘caminheiros da fé’, felizes por levarem Jesus Cristo a cada esquina, a cada praça, a cada canto da terra!” (Ibid., 106)»

E continua: «A próxima Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, que terá lugar em 2018 sobre o tema «Os jovens, a fé e o discernimento vocacional», revela-se uma ocasião providencial para envolver os jovens na responsabilidade missionária comum, que precisa da sua rica imaginação e criatividade.»

O Papa acredita nos jovens! Na carta que lhes escreveu ao anunciar o Sínodo de 2018 sublinhou: «Um mundo melhor constrói-se também graças a vós, ao vosso desejo de mudança e à vossa generosidade. Não tenhais medo de ouvir o Espírito que vos sugere escolhas audazes, não hesiteis quando a consciência vos pedir que arrisqueis para seguir o Mestre. »

E tem uma palavra para nós: «Também a Igreja deseja colocar-se à escuta da vossa voz, da vossa sensibilidade, da vossa fé; até das vossas dúvidas e das vossas críticas. Fazei ouvir o vosso grito, deixai-o ressoar nas comunidades e fazei-o chegar aos pastores.»

Gostava de sublinhar dois pontos sobre esta atitude de escuta: para comunicar com os jovens necessitamos de um discurso que eles entendam. Muitas vezes falamos uma linguagem demasiado hermética, para iniciados, que pede tradução simultânea. E temos que saber escutar e responder às suas questões existenciais.

Para comunicar temos que dizer presente no areópago da aldeia global: o espaço digital. Há alguma dificuldade em entender a utilidade da presença dos consagradas e dos consagrados nas redes sociais. Mas é lá que os jovens moram, falam, escutam, namoram, compram, vendem… É lá que eles vivem quase 24 horas por dia!

As redes sociais – o Facebook, o Twitter, o Instagram, o YouTube, os blogues, as comunidades digitais – são os espaços onde temos que testemunhar a alegria de sermos seguidores de Jesus em comunidades castas, pobres e obedientes de discípulos missionários que vivem a alegria do Evangelho.

10 de novembro de 2017

TERRAS DA DISCÓRDIA


O negócio da terra afecta comunidades africanas que se vêem privadas de recursos vitais.
Os bispos de Moçambique publicaram em Abril uma carta pastoral muito robusta e corajosa intitulada À tua descendência darei esta terra. Nela denunciam que «a terra em Moçambique está em agonia profunda!». E mais enfaticamente a dado passo: «Chega até nós, cada dia, a preocupação e o desencanto de tantas comunidades cristãs e não cristãs que enfrentam conflitos de terra pondo em perigo a própria segurança alimentar e a estabilidade familiar e social.»

É uma tensão transversal a muitas comunidades africanas. Governos estrangeiros e investidores arrendam ou compram vastas extensões com a cumplicidade das autoridades que lucram com os enormes negócios da indústria agro-alimentar. Desde 2006 mais de 30 milhões de hectares – mais de três vezes a área de Portugal – de solo africano foram arrendados ou vendidos em Madagáscar, Moçambique, Etiópia, República Democrática do Congo, Sudão, Camarões, Gana, Mali, Somália, Tanzânia e Zâmbia. Entre os alugadores destacam-se a China, os países árabes, a Índia e a Coreia do Sul.

Governos estrangeiros e investidores privados usam a África para produzir cereais, frutas, legumes e gado para exportação e culturas para fazer biocombustíveis à custa das comunidades locais que ou são deslocadas violentamente pelas autoridades (como aconteceu no Sul da Etiópia) ou trocam os seus terrenos por promessas vagas.

Em Moçambique, o ProSavana, um megaprojecto para 11 milhões de hectares nas províncias de Nampula, Niassa e Zambézia com dinheiros brasileiros e da cooperação japonesa, está a provocar uma grande oposição local: os residentes temem perder as suas terras. Também se fala de um projecto de plantio extenso de eucaliptos por uma indústria de celulose estrangeira.

Esta nova onda colonizadora da África afecta os pequenos agricultores e as comunidades locais: porque vêem os meios de subsistência a minguar e porque sofrem as consequências de um investimento que não os beneficia, incluindo a escassez de solos e de água e a sua poluição.

Este fenómeno é possível devido à corrupção endémica e ao modo como a gestão dos solos é feita no continente. Desde os tempos coloniais que a terra é considerada propriedade do Estado. E assim se mantém. A Constituição da Eritreia, por exemplo, estipula no n.º 2 do artigo 23 que «toda a terra e todos os recursos naturais sob e sobre a superfície do território da Eritreia pertence ao Estado». Uma percepção que contrasta com o direito tradicional, que considera suas as terras ancestrais. Além da ligação à terra, há a ligação aos antepassados nela sepultados.

Quando construímos a missão de Haro Wato, fizemos um contrato com o Estado etíope que cedeu o espaço por 99 anos: os edifícios são da diocese, mas o terreno não. O que está abaixo dos oito metros da superfície pertence integralmente ao Estado. Os mineiros artesanais de ouro fazem poços até oito metros de profundidade e depois abrem galerias para o Governo não expropriar o ouro que garimpam.

Os bispos moçambicanos terminam a carta pastoral advogando «uma efectiva Reforma Agrária para corrigir os impactos negativos que as políticas económicas agrárias actuais estão a causar nas comunidades rurais em todo o país». E, acrescento eu, para o continente também!

5 de novembro de 2017

ACORNHOEK ACOLHE VOTOS PERPÉTUOS, DIACONADO DO RICARDO GOMES


A paróquia sul-africana de Maria Assunta de Acornhoek, na diocese de Witbank, viveu um fim-de-semana missionário especial ao acolher a consagração perpétua no Insituto comboniano e a ordenação diaconal do escolástico Ricardo Alberto Leite Gomes.

As celebrações mobilizaram muita gente: os pais, a irmã e os párocos do Ricardo, que viajaram da Trofa juntamente com o provincial de Portugal; a província da África do Sul; muitos amigos; e as comunidades comboniana e cristã de Akornhoek que prepararam os espaços e as celebrações com esmero.

O Ricardo emitiu os votos perpétuos na encaristia da tarde de sábado, 4 de novembro de 2017, presidida pelo P. Jude Burgers, superior provincial da África do Sul.

A Igreja paroquial estava cheia de pessoas que quiseram testemunhar o sim para sempre do Ricardo a Deus no Instituto Missionário Comboniano.

O P. Jude explicou durante a homilia que a essência da consagração final é dar a própria vida como uma ato de fé: «Sim, este é o meu corpo, eu dá-lo-ei por ti, Senhor, e pela missão», disse.

O Ricardo, através da fórmula da consagração perpétua, perante o provincial de Portugal, P. José Vieira, em representação do padre geral, agradeceu a Deus por todas as bênçãos recebidas e por todas as pessoas que fazem parte da sua vida.

No final da eucaristia os participantes partilharam um jantar animado sob a magia da lua cheia africana.

A ordenação diaconal decorreu no domingo, 5 de novembro de 2017. O salão Father Angelo Matordes estava completamnete cheio em ambiente de grande alegria, cor e festa. A assembleia cantou, dançou e rezou com grande entusiasmo e devoção. Vuvuzelas, tambores e apitos marcavam o ritmo da celebração.

O bispo de Witbank, D. Giuseppe Sandri, presidiu à eucaristia em três línguas e ordenou o Ricardo como diácono.

O bispo comboniano, que foi pároco de Acornhoek, explicou que «tornar-se diácono significa ser um servo de Deus e um servo do povo de Deus.»

«Tu és abençoado porque Deus te chamou de uma maneira misteriosa e tu respondeste», proclamou na homilia.

No final da eucaristia a assembeia ofereceu presentes e deu os parabéns ao novo diácono.

Na hora dos discursos, o provincial de Portugal recordou o fim-de-semana prolongado que passou na missão em 1990 e agradeceu à comunidade cristã e comboniana o acolhimento e o cuidado dispensados ao Ricardo durante os meses de serviço missionário que viveu em Acornhoek.

O P. Jude, provincial da África do Sul, disse que a celebração da ordenação foi «um momento de Deus.»

O neo-ordenado teve uma palavra de agradecimento a Deus pelo dom que recebeu apesar de não se sentir digno, e um obrigado a todos os que fazem parte da sua história. Terminou com um agradecimento à comunidade através de uma mensagem lida em língua tsonga.

A cerimónia de mais de três horas concluiu com algumas danças por um grupo de bailarinos tsongas e um almoço de confraternização para todos os participantes.

O Diácono Ricardo foi destinado a Portugal a partir de 1 de janeiro de 2018 e vai ser ordenado padre missionário na paróquia natal, São Martinho de Bougado-Trofa, dentro de meio ano.