30 de abril de 2017

MENSAGEM DO SUPERIOR GERAL PARA OS 70 ANOS DOS COMBONIANOS EM PORTUGAL


Aleluia!
Louvai a Deus em seu Santuário, louvai-o no seu majestoso firmamento!
Louvai-o por seus grandes feitos, louvai-o por sua infinita grandeza!
Louvai-o ao som de trombetas, louvai-o com harpas e cítaras!
Louvai-o com tamborins e danças. Louvai-o com instrumentos de cordas e com flautas!
Louvai-o com o clangor dos címbalos, louvai-o, altissonantes trombetas!
Que todos os seres vivos louvem ao Eterno! Louvado seja o Senhor!
Aleluia!
(Salmo 150)


Sua Excelência Reverendíssima, Dom llídio Pinto Leandro, Bispo de Viseu,

Reverendo P. José da Silva Vieira, Superior Provincial dos Missionários Combonianos, em Portugal,

Prezados confrades combonianos,

Estimadas Irmãs Missionárias Combonianas e Missionárias Seculares Combonianas,

Estimados Leigos Missionários Combonianos,

Estimados sacerdotes, religiosos e religiosas, benfeitores e amigos, familiares dos nossos confrades combonianos, e a todos os aqui presentes,

Vos saudamos com afeto fraterno no nome do Senhor Jesus e do nosso Instituto comboniano.

Tudo quanto queremos, hoje, é que este seja um dia particular de ação de graças. Juntos, queremos agradecer a Deus pelos setenta (70) anos da presença e da vida dos Combonianos em Portugal. Uma efeméride ainda mais notável e jubilosa se a associarmos às celebrações que estão a decorrer, neste ano, para fazermos memoria dos 150 anos da fundação do nosso Instituto Missionário Comboniano.

Sim. Queremos agradecer, de modo especial, a todos os combonianos que, com as suas vidas, a sua participação, a sua contribuição e o seu sacrifício, escreveram as belas paginas da história dos 70 anos de presença comboniana neste País; e que, daqui, partiram para outras paragens de além-mar, de Moçambique ao Brasil, a Macau, e a tantas outras partes do mundo.

Isto significa que, destes 70 anos de história comboniana, em Portugal, fazem parte, também, outras histórias, que ultrapassam as fronteiras portuguesas, e são elas as histórias do Instituto e das Igrejas locais, em outros países e continentes, onde os confrades portugueses trabalharam e deram a vida ao serviço da Missão.

Queremos agradecer aos primeiros confrades que tiveram a inspiração de vir para Portugal para partilhar, com a Igreja e a sociedade portuguesas, o carisma missionário do nosso Pai e Fundador, São Daniel Comboni. Sim, agradecemos aos confrades que deram início a esta presença, tais como os padres Giovanni Cotta, Giorgio Ferrero e Ernesto Calderola, e, depois, a todos os outros que deram continuidade a esta obra maravilhosa, alistando tantas vocações combonianas entre os rapazes e jovens portugueses, que se tornaram uma grande bênção para a Missão e para as Igrejas e os povos para onde foram enviados.

Agradecemos a cada um dos confrades portugueses pelo seu SIM ao Senhor Jesus, pela sua proximidade a São Daniel Comboni e pela sua paixão pela Missão, no seio do Povo de Deus. Os confrades de origem portuguesa serviram o Senhor e o Povo de Deus, no passado e no presente do nosso Instituto, nos mais diversos sectores da pastoral, da formação, da animação missionária e da administração. Estes confrades deram o seu melhor como discípulos missionários nas Igrejas locais, nas comunidades, nas escolas e universidades, nas clínicas, nos hospitais, e nos Meios de Comunicação Social. Estiveram ao serviço da autoridade como superiores provinciais e como membros do Conselho Geral - caso do ex-Superior Geral, P. Manuel Augusto Lopes Ferreira, e do atual Vigário Geral, P. Jeremias dos Santos Martins - e ainda outros confrades que estiveram ou estão ainda empenhados nos serviços da Direção Geral.

Agradecemos também aos confrades de outras nacionalidades, e de modo especial aos italianos e espanhóis, que muito contribuíram para a vida da Província comboniana portuguesa. Do mesmo modo, agradecemos também aos outros confrades das demais circunscrições da Europa, da América, da África e da Ásia, que passaram por Portugal e que, de algum modo, também fizeram parte da história destes 70 anos.

Queremos agradecer ainda ao Senhor da vida pelos catorze (14) confrades portugueses já falecidos, os quais agora, desde a casa do Pai, continuam a exercer a missão de intercessão por cada um de nós e pela vida do Instituto: desde o mais jovem, o escolástico Daniel Fernando Ferreira da Rocha, falecido aos 23 anos de idade, ao mais idoso, o Irmão António Figueiredo da Silva, que partiu para a casa do pai, no ano passado. Agradecemos pelo dom da vida e do testemunho de cada um deles. E permitam-me recordar, em particular, um nome: o P. Ivo Martins do Vale, irmão do P. José Augusto Martins do Vale. Sim, queremos recordar o P. Ivo porque, no nosso país, a Etiópia, ele deu testemunho de um missionário comboniano alegre, de um gentil e dedicado sacerdote de Cristo ao serviço do povo Sidamo.

Recordamos ainda os confrades que abandonaram o Instituto e escolheram outras formas de vida. Para eles, deixamos aqui uma oração de agradecimento, porque também eles fizeram parte destes 70 anos de vida comboniana que agora estamos a celebrar. Obrigado pelo que fostes e fizestes pela vida do nosso Instituto. Na mesma linha de pensamento, lembramos todos os que passaram pelos nossos seminários, os ex-seminaristas combonianos, que, hoje, continuam a ser fermento de uma fé missionária, na sociedade portuguesa. Continuai a apoiar-nos com a vossa proximidade e amizade, e não percais, nunca, o espírito missionário comboniano.

Agradecemos às Irmãs Missionárias Combonianas, pelo facto de, ao longo destes 70 anos de vida, o Senhor nos ter abençoado e nos ter permitido partilhar do mesmo carisma de Comboni e da mesma vocação missionária. Obrigado, combonianas portuguesas, pela colaboração e por termos caminhado juntos todos estes anos de anúncio, de testemunho e de serviço missionário neste território.

Em Portugal, o carisma de São Daniel Comboni, dom do Espírito Santo, atraiu, ao longo destes últimos 70 anos, muitos outros homens e mulheres, leigos e leigas, que se consagraram e dedicaram à missão. Referimo-nos, em particular, às Missionárias Seculares Combonianas e aos Leigos Missionários Combonianos. O nosso sincero obrigado a todos e a todas, Seculares e Leigos, pela colaboração e pelo vosso exemplo e apoio. Obrigado pelo caminho que estamos a percorrer juntos.

O nosso agradecimento carinhoso também aos familiares dos nossos confrades e ainda aos benfeitores, colaboradores e amigos por nos terem apoiado - humana, espiritual e materialmente - no serviço missionário. Obrigado por nos terem proporcionado os meios para as nossas atividades de evangelização e animação missionária. Obrigado por nos terdes acompanhado, com perseverança e abnegação, ao longo destes 70 anos da nossa história em Portugal.

Queremos agradecer à Igreja local deste País, às dioceses e às comunidades paroquiais que nos receberam, nos incentivaram e apoiaram a nossa presença e as nossas atividades. Agradecemos a todos os senhores Bispos - e aqui gostaríamos de mencionar o primeiro, Dom José da Cruz Moreira Pinto, Bispo de Viseu, que nos recebeu e deu as boas-vindas, no dia 23 de Abril de 1947 -, a todos os reverendos párocos e demais agentes de pastoral pela amizade e pelo acolhimento na Igreja de Portugal.

Obrigado pelos sinais particulares de vida e de compromisso ao longo de todos estes anos, tais como, por exemplo: a formação de tantos jovens nos seminários, no Postulantado e no Noviciado; a publicação das revistas Além-Mar e Audácia; a animação e a formação missionária de grupos de jovens - como o JIM (Jovens em missão); os Cenáculos de Oração Missionária; o empenho na pastoral paroquial, dando particular atenção aos mais vulneráveis e aos imigrantes, como é o caso, por exemplo, da nossa presença em Camarate; as atividades realizadas em colaboração com outros Institutos religiosos e missionários e com outras organizações civis e religiosas, empenhadas na promoção da justiça social e ambiental, da paz e da reconciliação, e do dialogo entre as diferentes culturas e religiões. Obrigado por estes e por todos os outros sinais que revelaram e revelam ainda o dinamismo e a criatividade do nosso trabalho, neste País de grande tradição missionária e de grandes missionários.

A celebração dos 70 anos de história comboniana, em Portugal, ajuda-nos a preservar a confiança no Senhor, que continua a incentivar-nos e a realizar coisas belas através da vida de cada um de nós e do nosso Instituto. Esperamos e rezamos para que o Senhor continue a suscitar novas vocações missionárias, na Igreja portuguesa, e continue a chamar jovens, homens e mulheres, para seguirem a Cristo, na esteira de São Daniel Comboni.

Obrigado por tudo. E que São Daniel Comboni, São José e, muito em especial, a Nossa Senhora de Fátima - no centenário da sua visita aos pastorinhos, na Cova da lria -, intercedam por cada um e cada uma de nós!

P. Tesfaye Tadesse, MCCJ
Padre Geral

26 de abril de 2017

MEMÓRIAS DOS BONS «PERAS»


Decorria o ano de 1950 quando conheci os Missionários Combonianos do Coração de Jesus, que tinham vindo de Itália e haviam escolhido a diocese de Viseu, para sede da sua Ordem, três anos antes, em 23 de Abril 1947.

Os meus primeiros contatos com eles, aos meus 11 anos, tiveram lugar em Repeses nas Eucaristias Dominicais. O então meu Pároco, P.e Amadeu Lopes Gonçalves, entregara-lhes a capelania de Repeses a troco das aulas de português que dava no Seminário das Missões. O bom sacristão, o Sr. José «Loirinho», estava já idoso; e eu, desde cedo comecei a ajudar à Missa aos bons «peras» (nome que era dado aos Combonianos dado usarem ou farta barba ou «cavanhaque»). Eram ricas aquelas celebrações, onde as homilias num português meio italianizado, como, por exemplo, «una arranha»(=aranha) tejia una teiia»… Foi nessa altura que conheci os padres Ferrero, Peano, La Salandra, Calderola,Malaspina, Naldi, Sório… Com eles, nas Eucaristias dominicais, os cristãos passaram a ouvir um jovem a ler, em português, as partes que o celebrante, baixando a voz, lia em latim. E estávamos longe do Concílio Vaticano II.

Inicialmente nas suas bicicletas com proteção de rede para não se prenderem as batinas e, mais tarde nas suas «Cociolo» (bicicletas com motor a petróleo, mudanças de manete no quadro e pedais para os auxiliar nas subidas) aí estavam eles, pontualmente, para as eucaristias dominicais (às 8 horas da manhã) ou semanais (por volta das 6).

Os cristãos praticantes de Repeses, a que se juntavam, em maior quantidade, os de Paradinha, tinham pelos «peras» grande respeito e admiração. De igual modo, eram muito queridos pelo povo cigano, que, nessa altura, ainda nómada, acampava ao abrigo da capelinha de Santa Eulália. A prova desse respeito está nas dezenas dos que, quando o P.e Ângelo de La Salandra, com o seu «Cociolo», teve um desastre na curva de Fail ao regressar de um ato litúrgico em Canas de Sabugosa (hoje Canas de Santa Maria), enchiam a enfermaria do Hospital onde ele ficara internado. Uma cristã mais idosa, numa dessas visitas, ao vê-lo de barba a despontar e cheio de chagas disse: «Parece mesmo Nosso Senhor Jesus Cristo.»

Eu, que sempre os admirei, aproveitava os meus tempos livres para os ir visitar ao Seminário das Missões. Foi ali que vi o trabalho dos Irmãos a tratar das galinhas «ligorne» e de coelhos de raça, que eu nunca vira, e o cuidado numa agricultura aprimorada. Vi também o primeiro trator, a plantação do pomar e da vinha. Nesses trabalhos mais duros, trabalharam alguns sacerdotes.

No Seminário das Missões, os sacerdotes eram, diariamente, procurados para confessarem, já que os cristãos viseenses os encontravam mais disponíveis. Alguns jovens das escolas viseenses (Colégio da Via Sacra, Escola do Magistério Primário, Liceu Nacional de Viseu, Colégio de Santo Agostinho, Colégio Português, Escola Industrial e Comercial de Viseu e os seminaristas do Seminário Maior) também gostavam de aí se confessar..

A porta do Seminário das Missões estava sempre aberta. Depois de aprenderem melhor a língua portuguesa, muitos desses missionários eram solicitados para pregadores nas festas em diversas paróquias da diocese.

Visitei, desde muito jovem, e por várias vezes, a construção do novo Seminário e a sua capela. Foi lá que conheci os Irmãos Eligio Locatelli e Igino Antoniazzi, mestres pedreiro e carpinteiro, respetivamente. O primeiro acabou por ir para as missões no Brasil; o segundo, encontrei-o em Carapira (Moçambique), já com quase 90 anos, deslocando-se diariamente para a carpintaria da Missão na sua já velha motorizada.

As técnicas por eles usadas na construção do Casa e Seminário, nos anos 48, eram mais aperfeiçoadas que as usadas em Viseu.

A primorosa pintura do retábulo do altar-mor da atual Capela do Seminário foi da autoria do P.e Alfredo Bellini, o mesmo sacerdote que mais tarde pintou um lindo quadro de Pedro a lavar os pés a Jesus e fez a decoração total da Igreja de Carapira. Foi um dos sacerdotes de quem fui muito amigo e a quem fiquei a dever muitos favores de amizade e orientação de vida; tal como aconteceu, entre outros, com os italianos padres Tarciso Zoia, Afonso Cigarini, Miguel Celis, Jorge Cosner…

Os anos da minha adolescência e juventude correram. Vieram os anos em que, no Natal e em Viseu, os Combonianos construíram um gigantesco presépio. Nessa altura, Viseu enchia-se de autocarros para visitarem este admirável presépio.



Trabalhando para e com os combonianos…
No ano de 1964 os alunos do Seminário das Missões, em Viseu, eram cerca de 200, vindos das mais diversas localidades de várias dioceses. O ensino era feito, sob a direção do P.e Gino Centis, com apoio e orientação da Telescola e a monitorização de sete professores (entre os quais a minha esposa e eu.

Os aspirantes a Irmãos, chegaram a Viseu vindos de Moncada, para aqui continuaram a sua formação. Formação que foi feita por Irmãos tecnicamente bem preparados, usando máquinas importadas de Itália, que eram ainda pouco conhecidas por cá. Delas destacamos um automóvel, que serrado ao meio, no sentido longitudinal, permitia aos alunos verem e manobrarem todas as peças que o constituíam. Dava gosto vê-los, com suas mãos sempre cheias de óleo, com grande alegria, seguirem as lições dos Irmão João Grazian e Gaspar Cebola. Ao receber como aluno o Irmão Gaspar Cebola, que aí acabou o Curso Industrial, a Escola Industrial e Comercial de Viseu entrava na vida do Seminário das Missões.

Falar do Irmão Gaspar é recordar o tempo em que batemos à porta dos Combonianos para ajudarem uma equipa de que fiz parte, na transformação do velho Asilo da Infância Desvalida no Internato Viseense de Santa Teresinha. Nessa altura, tomou ele conta da secção masculina do Internato, antes dos utentes serem, por favor, aceites no Lar Escola de Santo António. A ele se ficou a dever o evitar que os utentes durante a noite fossem cometer alguns roubos nas lojas da cidade. Os aspirantes a Irmãos foram também importantes na agricultura do quintal daquela casa.



…Após a minha aposentação

A minha ligação com os Combonianos nunca arrefeceu. Nas minhas horas vagas, como voluntário, deslocava-me ao Seminário para tirar dúvidas de Matemática.

Quando em 1996, estando a minha esposa já aposentada, me aposentei, e estando os nossos filhos com a sua vida orientada, dada a falta de professores de Português, fomos convidados pelo P.e Jeremias Martins, então Provincial dos combonianos em Moçambique, a ir em missão, como voluntários, para o Seminário Interdiocesano de Nampula. A vivência que aí tivemos enriqueceu muito as nossas vidas e as de toda a família.

Hoje, a minha esposa e eu pertencemos à Família Comboniana como Leigos Missionários Combonianos.
Prof. Valente

24 de abril de 2017

Combonianos 70 anos em Portugal: OS PRIMEIROS PASSOS



Estava em Viseu um só comboniano italiano, o Pe. João Cotta, desde 22 de Abril de 1947. Com a chegada, a 3 de Novembro daquele ano, de mais três sacerdotes, os combonianos formaram a primeira comunidade em Viseu. Eram todos padres: João Cotta, Ézio Imoli, Ângelo La Salandra e Rino Carlesi.

Dias depois, o bispo senhor Dom José da Cruz Moreira Pinto nomeou-os para trabalhar nas paróquias de Mangualde (P.e Ezio Imoli), Bodiosa (P.e Rino Carlesi) e Canas de Sabugosa (P.e Ângelo La Salandra).
O P. Rino Carlesi, que viria a ser bispo de Balsas, no Brasil, descreveu as primeiras ações apostólicas na diocese de Viseu: «Conheci e fiz amizade com todos os padres de Viseu e redondezas, por causa dos funerais, da pregação, das festas religiosas. Foi o começo da minha vida de cigano, de animação missionária nas paróquias. Depois o senhor bispo levou-me, como seu missionário, para pregar ao povo nas visitas pastorais. Fui pescador de vocações e pregador de missões.»
Em Janeiro de 1948 o grupo alugou uma casa em Viseu e começa a arranjar-se a casa do caseiro.
O segundo grupo de combonianos italianos (um sacerdote e dois Irmãos construtores) veio em Março de 1948.
Passaram pelo Seminário Menor de Fornos de Algodres. No diário da viagem deixaram a seguinte impressão: «Ajoelhámo-nos aos pés da imagem de S. José, no claustro interno do Seminário sentindo tantos motivos para agradecer; pensámos nos nossos futuros seminaristas e agradecemos a S. José por nos ter trazido a esta terra tão rica de vocações.»
A 14 de março, na igreja matriz da paróquia de Ranhados (à qual pertencia a quinta onde se instalaram os combonianos), a chegada deste grupo foi celebrada festivamente com uma eucaristia. Os Combonianos cedo se inseriam na sua comunidade paroquial.
A 1 de junho de 1948 foi lançada a primeira pedra da casa (hoje «casa velha»), com técnicas muito avançadas. O edifício está pronto a habitar em 28 de Junho de 1949. Menos de dois meses depois, a 14 de Agosto, é inaugurada a primeira capela.
Nessa altura, a 27 de Fevereiro de 1949, o P.e João Cotta, que fizera «milagres», com o grande apoio do Bispo de Viseu, D. José da Cruz Moreira Pinto, nos 22 meses em que nesta diocese permaneceu, de 23 de abril de 1947 a 27 de fevereiro de 1949, já havia partido para a Inglaterra.
Em Maio daquele ano, durante a Semana Nacional das Missões, são distribuídos pela diocese 250 cartazes que dão a conhecer o futuro Seminário das Missões e o Instituto Comboniano. Estavam decorridos dois anos cinco meses e dezassete dias depois da chegada do P. João Cotta a Viseu…
A 10 de Outubro daquele ano de 1949, e após uma semana de estágio em Setembro, iniciava-se o 1º ano letivo no Seminário das Missões com 16 alunos no primeiro ano e um no 5º ano, vindo do Seminário Diocesano.
Se no final de 1952 o Seminário atual já estava construído, só em 11 de Dezembro de 1955, ao terminar da nova Capela, foi considerado completo, oito anos sete meses e dezanove dias depois da chegada do primeiro comboniano a Viseu.

Os primeiros combonianos portugueses
Os primeiros sacerdotes combonianos portugueses, tinham passado pelo Seminário Diocesano.
O P. Rogério Artur de Sousa, natural de Sargaçais, Soito, Aguiar da Beira, que, depois de ter feito o seu noviciado e a teologia em Itália, foi ordenado pelo Senhor D. José da Cruz Moreira Pinto , na Igreja do Seminário das Missões em Viseu a 27 de Julho de 1958.
O P. Ramiro Loureira da Cruz, natural de Barbeira, Rio de Loba, Viseu, fez também o noviciado e teologia em Itália e foi ordenado sacerdote na Catedral de Milão pelo Cardeal Montini (futuro Beato Paulo VI) a 14 de Março de 1959.
O primeiro Irmão Missionário Comboniano Português foi o Irmão António Martins, natural de Cepões, Viseu, que fez a sua Profissão perpétua em VN de Famalicão a 9 de Setembro de 1960.
Ao longo destes 70 anos a diocese deu muitas vocações aos missionários combonianos.

Prof. Valente

22 de abril de 2017

PARA MOÇAMBIQUE POR VISEU



P. João Cotta e D. José da Cruz M. Pinto,
protagonistas da fundação comboniana em Viseu

Os Missionários Combonianos chegaram a Portugal, numa primeira fase, a fim de aprenderem o Português para a evangelização em Moçambique. Estávamos no ano de 1946.

O bispo de Nampula, D. Teófilo de Andrade, frente às dificuldades de uma missionação numa população com maioria muçulmana, pretende missionários habituados ao contacto com população deste tipo.

Com a proteção de D. Teodósio de Gouveia, arcebispo de Lourenço Marques (atual Maputo) – que conhecera a ação dos combonianos em Cartum (Sudão), conseguiu que o Superior Geral lhes mandasse em Julho de 1946 um primeiro missionário: o P.e José Zambonardi.

Do acordo então estabelecido do bispo com os Combonianos estabeleceu-se a chegada de um grupo de missionários e a fundação de um seminário menor em Portugal, para formação de futuros missionários combonianos portugueses, de acordo com o exigido no Acordo Missionário de 7/5/1940 entre a Santa Sé e o Governo Português.

Para preparar o grupo de missionários, vieram para Lisboa, para aprender português, em Janeiro de 1947, os Padres Miguel Selis (que os viseenses vieram a conhecer muito bem e tem o seu nome numa das ruas da nossa cidade), Sílvio Caselli, Quinto Nanneti e os Irmãos Lamberto Agostini e José Bagiolli e em Abril, desse mesmo ano, o Pe. Ângello Velloso.

Na sua estadia em Lisboa, são apoiados, entre outros, pelos Franciscanos, Irmãs de S. José de Cluny e Salesianos.

Sete meses depois, em Julho de 1947, é estabelecida em Nampula a primeira comunidade Comboniana constituída pelos Padres Miguel Zambonardi, Miguel Selis e Quinto Nannetti.


Viseu: Casa-mãe

Havia que cumprir a segunda parte do acordo estabelecido em Nampula: fundar um seminário menor comboniano em Portugal.

Nomeia-se o P.e João Cotta, comboniano de 63 anos, com muita experiência neste tipo de trabalhos, em dezembro de 1946. Só em fins de Março de 1947 consegue o visto para Portugal. No dia 1 de Abril é recebido pelo Pe. Miguel Selis na estação de comboios de Santa Apolónia. Durante 15 dias procura aprender algumas palavras em português.

A 15 de Abril é recebido na Nunciatura Apostólica e no Patriarcado. Dão-lhe como pistas de criação do seminário menor: Évora, Guarda ou Porto.

No dia 16 de Abril dirige-se a Fátima, onde celebra na Capelinha das Aparições e entra em contacto com os missionários da Consolata.

A 17 de Abril está em Aveiro; e, no dia 20 é recebido pelo bispo, D. João Evangelista, que conhecera os combonianos em Verona e para o qual trazia uma carta de apresentação. Este bispo, vendo a dificuldade de o apoiar na sua diocese, oferece-se para escrever uma carta de apresentação ao bispo de Viseu, D. José da Cruz Moreira Pinto. No dia 21 ainda visita os seminários de Cucujães e Mogofores. Mas fica desiludido.

No dia 22 à noite chega a Viseu ao fim de pouco mais de 23 dias da sua chegada a Portugal… No dia 23 às 10 h da manhã o secretário de D. José vai buscá-lo ao hotel Portugal onde dormira, leva-o à Sé Catedral e dali para o paço episcopal. Aí se agenda uma entrevista com o Bispo para as 14h. Essa entrevista vai demorar cinco horas, dada a satisfação de D. José da Cruz Moreira Pinto, que via resposta à sua ânsia de ter uma congregação masculina na sua diocese, objetivo pelo qual há muito rezava. Era dia da festa do Patrocínio de S. José. O único senão que o bispo via era a falta de vocações na diocese.

Logo, nesse mesmo dia, foi apresentado pelo bispo ao vice-reitor do Seminário, Monsenhor João Crisóstomo, e ao Cónego Luís Alves, pároco da Catedral. D. José pediu a ambos que ajudassem o P.e João Cotta a encontrar local para estabelecer o Seminário Comboniano. A opinião do bispo era de que esse local se deveria situar nas cercanias de Viseu ou quando muito em Mangualde. O comboniano ficou hospedado no Seminário, mas não parou. Na companhia de Mons. João Crisóstomo e alguns padres de Viseu, visita Mangualde e arredores, S. Pedro do Sul e a zona das Termas de S. Pedro.

Depois de algumas dificuldades era comprada a atual quinta onde se situa o Seminário das Missões de Viseu, registada a 20 de Setembro , onde outorgaram pelos Combonianos o P.e João Cotta e o P.e Dr. Serrano, ecónomo que foi da Diocese de Viseu

A 17 de Outubro o Governo Civil reconhece e regista oficialmente o Instituto Comboniano como «corporação missionária ao abrigo do Acordo Missionário de 7/5/ 1940 entre a Santa Sé e o Governo Português».

24 de Outubro, daquele ano de 1947, considera-se data da fundação do Seminário das Missões de Viseu sob a invocação do Imaculado Coração de Maria.

Havia decorrido o pequeno período de meio ano desde a chegada do P.e João Cotta a Viseu, pela primeira vez, tendo vindo desiludido da sua tentativa de Aveiro.


Primeiras impressões sobre Viseu

O P. João Cotta descreveu ao superior geral as primeiras impressões de Viseu numa carta de abril de 1947: «O panorama é verde, como na Suíça. A diocese é uma das melhores, em espírito cristão e bondade do clero. A cidade tem 20 mil habitantes e a diocese conta com trezentos mil. Estamos no centro-norte de Portugal, com boas comunicações. Sua Excelência [o Senhor D. José da Cruz Moreira Pinto] deseja que a casa [onde se estabeleceria o Seminário menor comboniano] tenha alguns sacerdotes para o apostolado na cidade e na diocese.»

Prof. Valente

18 de abril de 2017

AMARAM, VIVEMOS!


O Livro do Ben Sira termina a evocação do glorioso profeta Elias com um versículo enigmático, um dizer (quase) perdido: «Felizes os que te viram e os que morreram no amor; pois, nós também viveremos certamente» (Sir 48,11).

Este é o ícone bíblico que para mim melhor evoca os 70 anos de história dos combonianos em Portugal: porque os nossos antepassados no Instituto amaram, também nós vivemos. A nossa consagração é energizada e nutrida pelo amor que dedicaram a Jesus Cristo e ao serviço missionário em Portugal e no mundo, a seiva que nos alenta. São «parábolas existenciais» e pontos de referência como no-lo recorda o nº 14 dos Documentos Capitulares 2015.

Revisitar, escrever a história da província não é encenar com trajes da época algum evento medieval tão em moda. A história não se simula ou representa; evoca-se, recorda-se para resgatar a memória, para lançar o futuro.

O Papa Francisco alerta que «a falta de memória histórica é um defeito grave da nossa sociedade». E ajunta: «Conhecer e ser capaz de tomar posição perante os acontecimentos passados é a única possibilidade de construir o futuro» (Amoris Laetitia 193).

Assim, revisitar a história da província portuguesa dos Missionários Combonianos do Coração de Jesus não é tão-pouco embandeirar em arco, pavonear-se no passeio das vaidades.

É celebrar o passado por inteiro, com as suas luzes e sombras, com a sua graça e pecado, com as conquistas e as derrotas para nos inspirarmos e ousarmos caminhos novos de animação missionária, pastoral vocacional de rosto comboniano e governo com a mesma audácia inovadora, generosa, alegre, inserida e próxima dos que nos precederam.

O meu muito bem-haja reconhecido ao P. Manuel Augusto Lopes Ferreira por ter aceitado o convite do Conselho Provincial para aprofundar e escrever a história dos 70 anos da presença comboniana em Portugal.

Durante mais de um ano fez um trabalho aturado e meticuloso de investigação nos arquivos gerais em Roma, nos arquivos provinciais em Lisboa e nos das comunidades. Espirrou com o pó, leu imenso, entrevistou, verificou nomes, datas e factos. Produziu um trabalho persistente e consistente de análise crítica de uma fita do tempo de 70 anos que atravessa momentos históricos, sociais e eclesiais muito contrastantes.

A todos os leitores, sobretudo aos confrades, auspico que esta viagem pelas avenidas da memória comboniana em Portugal sirva de inspiração para gizar caminhos novos de amor missionário.

Somos convocados a amar hoje para que os de amanhã também possam viver o carisma comboniano!

11 de abril de 2017

ANO COMBONIANO

2017, além de mariano é também ano comboniano. Celebramos os 150 anos da fundação do Instituto e 70 anos de presença em Portugal. Para embandeirar em arco? É melhor não! Um ano jubilar é uma estação de acção de graças pelo passado de luzes e sombras; pelo presente de alegrias e tristezas; pelo futuro que já é no coração de Deus. Ou melhor: «Com Comboni, celebrar o passado, sonhar o futuro com gratidão e esperança» – como proclama o logótipo do jubileu comboniano português.

Percorrer as avenidas da memória numa peregrinação de afetos e de saudade, recordando as pessoas que construíram a história comboniana, rever os acontecimentos que fazem a história, é um exercício fundamental para vivermos o presente com serenidade e projetarmos o futuro com esperança.

«A falta de memória histórica é um defeito grave da nossa sociedade. É a mentalidade imatura do “já está ultrapassado”. Conhecer e ser capaz de tomar posição perante os acontecimentos passados é a única possibilidade de construir um futuro que tenha sentido», adverte o Papa Francisco no n.º 193 da Amoris Laetitia.

Celebramos o ano comboniano num contexto de crise vocacional: a província envelhece e diminui e um escolástico e um noviço decidiram dar rumo novo às suas vidas em março. O que é que Deus nos quer dizer através destes factos, Ele que é o Senhor da História?

Quando soube a notícia das saídas peguei nas 50 contas azuis que me ofereceram e disse Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo… outras tantas vezes. Mais não sabia que rezar… Aliás, esta é uma situação bastante comum na minha experiência de liderança. O que me leva a pensar que temos que viver o ano jubilar em duas perspectivas bem combonianas: a obra é de Deus e somos um (pequeno) cenáculo de apóstolos.

Muitos anos antes do P. Josemaría Escrivá se assenhorear do termo Opus Dei para a sua prelatura, Comboni usou-o para definir o Instituto, o Plano e o seu serviço missionário. O termo obra de Deus aparece citado 39 vezes nos Escritos.

Numa extensa Relação histórica e estado do vicariato da África Central que enviou à Sociedade de Colónia (Alemanha) em 1877 Daniel Comboni escreve: «O quadro histórico que preparei para os senhores e no qual passei por alto muitas coisas, é testemunho de que esta obra surgiu ao pé da cruz e que traz o selo da cruz adorável, pela qual se converte em obra de Deus» (E 4972).

A 20 de abril de 1881, meio ano antes da sua morte, comenta numa carta ao P. José Sembianti: «o instituto de Verona conseguiu algo na mais difícil de todas as obras do apostolado católico, de que a nossa obra recebeu certamente a bênção divina e de que, na verdade, é obra de Deus» (E 6663).

O Instituto Comboniano é de Deus: coloquemo-lo nas mãos de quem pertence e vivamos com alegria e dedicação o serviço que a Igreja portuguesa nos pede: a sua animação missionária através «do crisol do sofrimento, da cruz e do martírio» (E 6339) que é feito de cansaço, falta e envelhecimento dos missionários, dificuldade em responder adequadamente aos desafios da missão na Europa de hoje, comunicação com uma sociedade cada vez mais estranha à linguagem de e sobre Deus, medo dos desafios, comodismo da zona de conforto… O conselho de Pedro é actual: «No íntimo do vosso coração, confessai Cristo como Senhor, sempre dispostos a dar a razão da vossa esperança a todo aquele que vo-la peça; com mansidão e respeito» (1 Pedro 3, 15-16a).

Por outro lado, Comboni sonhou o Instituto como um (novo e pequeno) cenáculo de apóstolos. O fundador usa essa descrição cinco vezes nas suas cartas em relação ao Colégio Urbano (E 2027), ao Colégio/Instituto das Missões da Nigrícia (E 2622, 2648, E 4088) e ao Seminário Mastai de Roma (E 4763).

A nossa carta de identidade mais importante encontramo-la no Capítulo I das Regras do Instituto das Missões para a Nigrícia de 1871 sobre a sua natureza e objectivo: «Este Instituto torna-se, pois, como um pequeno cenáculo de apóstolos para a África, um ponto luminoso que envia até ao centro da Nigrícia tantos raios quantos os solícitos e virtuosos missionários que saem do seu seio. E estes raios, que juntos resplandecem e aquecem, revelam necessariamente a natureza do centro de onde procedem» (E 2648).

Comboni começa por nos definir como pequenos, homens atenciosos de virtude: a idade e o tamanho não nos devem complexar ou preocupar, mas sim a atenção e a retidão. O importante é estarmos em estado permanente de missão como cenáculo de apóstolos que aquecem o mundo com o amor de Deus através dos seus corações. Podemos descrever o Instituto como uma aliança ou rede cordial para acalentar o mundo, sobretudo os mais pobres e abandonados.

Os Documentos Capitulares 2015 citam a definição duas vezes. No nº 3 lemos: «São Daniel Comboni, nosso pai na missão, chama-nos a ser um «pequeno cenáculo de apóstolos» (E 2648), sempre prontos a actualizar o nosso carisma perante os novos desafios missionários (RV 1,3)».

O nº 33 define as coordenadas da expressão, o GPS da vida comum: «Sentimos necessidade de recuperar o sentido de pertença, a alegria e a beleza de ser verdadeiro “cenáculo de apóstolos”, comunidade de relações profundamente humanas. Somos chamados a valorizar, primeiro entre nós, a interculturalidade, a hospitalidade e “a convivialidade das diferenças”, convencidos de que o mundo tem imensa necessidade deste testemunho.»

Pertença, alegria, beleza, relações humanas profundas, interculturalidade – se o Conselho Geral cumprir a obrigação capitular de internacionalizar a província, hospitalidade, diferenças aceitadas e integradas são as peças com que construímos o puzzle do testemunho missionário, da comunidade evangelizadora.

2017 também é ano mariano: celebra 300 anos da Aparecida, no Brasil, e o centenário do acontecimento de Fátima. Também é uma festa comboniana. O P. João Cotta visitou Fátima duas semanas depois de ter chegado a Portugal para «confiar a Maria a congregação, as missões e esta nova obra» como escreveu. E sonhava estabelecer uma presença comboniana na Cova da Iria, mas foi «levado» a assentar arraiais noutras paragens. O resto é Uma história singular!

Uma santa Páscoa na alegria e na paz do Ressuscitado.

Com carinho!

8 de abril de 2017

PÁSCOA 2017


A morte e a vida confrontam-se num duelo prodigioso.
O Senhor da Vida estava morto, mas agora, vivo, triunfa
(Liturgia pascal)

Roma, 16 de abril de 2017
Queridos irmãos,

A celebração da ressurreição do Senhor Jesus vos dê paz e alegria para anunciar o seu Evangelho até aos confins remotos da terra.

Há 150 ano que o nosso Instituto dos Missionários Coimbonianos do Coração de Jesus anuncia a vitória da Vida sobre a morte. Esta vida, que foi vendida por um preço barato, atraiçoada, condenada, cravada na cruz e fechada na escuridão de um sepulcro, encontrou a força para ressurgir e dar-se a cada pessoa humana que se deixa invadir pelo amor incondicional de Deus.

Como outrora, também hoje a vida continua a ser atraiçoada e vendida. Vivemos num mundo onde os radicalismos parecem triunfar, onde não há lugar para os empobrecido e crucificados da história, onde se levantam muros e derrubam pontes. Um mundo onde a economia do egoísmo e da morte cria desperdícios de humanidade, na busca de um bem-estar egoísta no qual nos tornamos incapazes de nos abrirmos ao dom que se faz bênção e é partido para ser partilhado.

Nesta Páscoa de 2017, pensamos em vocês, irmãos nossos, que sabemos que a ides viver aí com os povos aos quais fostes enviados anunciando que outro mundo é possível, um mundo onde vence a vida, um mundo onde todos tenhamos a vida em abundância. Pensamos, sobretudo, nos nossos irmãos que vivem em zonas de guerra, fome, calamidades naturais, em zonas onde nem sempre é fácil descobrir a vida que ressurge. A todos vós queremos recordar as palavras do último Capítulo Geral: «A nossa presença é significativa quando estamos próximos dos grupos humanos marginalizados ou em situações de fronteira» (DC ’15, nº 45.2).

Que esta festa da Páscoa nos encontre prontos para anunciar a vitória da Vida sobre a morte, nos encontre disponíveis para sermos solidários com os que são descartados ou rejeitados, nos encontre prontos a deixar-nos invadir pela Vida de Deus para partilhá-la com os esquecidos da história.

Feliz Páscoa da Ressurreição!
O Conselho Geral

5 de abril de 2017

PRÉMIO SEM VENCEDOR


O Prémio Ibrahim ficou mais um ano em branco.


Mohammed Ibrahim nasceu no Sudão há 70 anos e fez um pé-de-meia considerável no sector das redes móveis de telecomunicações. A revista Forbes coloca-o no lugar número 1577 da lista de 2016 das pessoas bilionárias, com uma fortuna avaliada em 1,14 mil milhões de dólares. É o 46.º mais rico do Reino Unido, onde vive por ser cidadão de sua majestade. Ocupa a posição número 71 da lista dos mais poderosos de 2013.

Em 2006, Ibrahim criou a própria fundação, a Mo Ibrahim Foundation, para apoiar e galardoar a boa governação e a liderança excepcional na África com o Prémio Ibrahim. O galardão distingue líderes africanos que desenvolvem o país, fortificam a democracia e os direitos humanos e promovem a prosperidade equitativa e sustentável.

O prémio é generoso: a personalidade laureada recebe cinco milhões de dólares num período de dez anos (500 mil dólares por ano); depois fica com uma reforma vitalícia de 200 mil dólares por ano.

Um comité de 16 membros tem a missão de passar em revista os mandatos e premiar ex-chefes de Estado ou de governo africanos democraticamente eleitos que exerceram uma liderança excepcional no cumprimento do mandato constitucional e que deixaram o poder nos três anos anteriores à atribuição do prémio.

Com critérios tão apertados, é aceitável que numa década o Prémio Ibrahim só tenha tido quatro vencedores e um laureado honorário. A lista inclui dois ex-presidentes dos países africanos de expressão portuguesa.

Nelson Mandela, «um líder excepcional reconhecido mundialmente», recebeu o prémio honorário em 2007, porque já tinha deixado a presidência sul-africana havia oito anos quando o prémio foi instituído.

Joaquim Chissano embolsou o primeiro Prémio Ibrahim em 2007 «por conduzir Moçambique do conflito à paz e democracia». O seu sucesso? «Trazer paz, reconciliação, democracia estável e progresso económico a Moçambique depois da guerra civil», lê-se na citação.

Festus Mogae foi laureado em 2008 «por manter e consolidar a estabilidade e prosperidade do Botsuana face à pandemia da sida que ameaçava o futuro do seu país e do seu povo».

O comité acrescenta na sua citação que «sob a liderança do presidente Mogae, o Botsuana demonstrou como um país com recursos naturais pode promover desenvolvimento sustentado com boa governação, num continente onde frequentemente a riqueza mineral se tornou maldição».

Depois de dois anos em branco, em 2011 o Prémio Ibrahim foi para Pedro Pires «por transformar Cabo Verde num modelo de democracia, estabilidade e prosperidade crescente» e pelo seu serviço à diáspora cabo-verdiana.

Em 2014, Hifikepunye Pohamba ganhou o prémio «pelo papel no forjar da coesão nacional e reconciliação num momento-chave da consolidação da democracia na Namíbia».

Salim Ahmed Salim, que encabeça o comité do prémio, anunciou que «depois de cuidada deliberação o comité decidiu não atribuir o prémio em 2016».

Para o comité, entre 2015 e 2016 não houve nenhum líder excepcional («que por definição é incomum» – sublinhou Salim) a terminar o mandato de governo na África.

Talvez em 2017 haja melhores notícias!