P. João Cotta e D. José da Cruz M. Pinto,
protagonistas da fundação comboniana em Viseu
O bispo de Nampula, D. Teófilo de Andrade, frente às dificuldades de uma missionação numa população com maioria muçulmana, pretende missionários habituados ao contacto com população deste tipo.
Com a proteção de D. Teodósio de Gouveia, arcebispo de Lourenço Marques (atual Maputo) – que conhecera a ação dos combonianos em Cartum (Sudão), conseguiu que o Superior Geral lhes mandasse em Julho de 1946 um primeiro missionário: o P.e José Zambonardi.
Do acordo então estabelecido do bispo com os Combonianos estabeleceu-se a chegada de um grupo de missionários e a fundação de um seminário menor em Portugal, para formação de futuros missionários combonianos portugueses, de acordo com o exigido no Acordo Missionário de 7/5/1940 entre a Santa Sé e o Governo Português.
Para preparar o grupo de missionários, vieram para Lisboa, para aprender português, em Janeiro de 1947, os Padres Miguel Selis (que os viseenses vieram a conhecer muito bem e tem o seu nome numa das ruas da nossa cidade), Sílvio Caselli, Quinto Nanneti e os Irmãos Lamberto Agostini e José Bagiolli e em Abril, desse mesmo ano, o Pe. Ângello Velloso.
Na sua estadia em Lisboa, são apoiados, entre outros, pelos Franciscanos, Irmãs de S. José de Cluny e Salesianos.
Sete meses depois, em Julho de 1947, é estabelecida em Nampula a primeira comunidade Comboniana constituída pelos Padres Miguel Zambonardi, Miguel Selis e Quinto Nannetti.
Viseu: Casa-mãe
Havia que cumprir a segunda parte do acordo estabelecido em Nampula: fundar um seminário menor comboniano em Portugal.
Nomeia-se o P.e João Cotta, comboniano de 63 anos, com muita experiência neste tipo de trabalhos, em dezembro de 1946. Só em fins de Março de 1947 consegue o visto para Portugal. No dia 1 de Abril é recebido pelo Pe. Miguel Selis na estação de comboios de Santa Apolónia. Durante 15 dias procura aprender algumas palavras em português.
A 15 de Abril é recebido na Nunciatura Apostólica e no Patriarcado. Dão-lhe como pistas de criação do seminário menor: Évora, Guarda ou Porto.
No dia 16 de Abril dirige-se a Fátima, onde celebra na Capelinha das Aparições e entra em contacto com os missionários da Consolata.
A 17 de Abril está em Aveiro; e, no dia 20 é recebido pelo bispo, D. João Evangelista, que conhecera os combonianos em Verona e para o qual trazia uma carta de apresentação. Este bispo, vendo a dificuldade de o apoiar na sua diocese, oferece-se para escrever uma carta de apresentação ao bispo de Viseu, D. José da Cruz Moreira Pinto. No dia 21 ainda visita os seminários de Cucujães e Mogofores. Mas fica desiludido.
No dia 22 à noite chega a Viseu ao fim de pouco mais de 23 dias da sua chegada a Portugal… No dia 23 às 10 h da manhã o secretário de D. José vai buscá-lo ao hotel Portugal onde dormira, leva-o à Sé Catedral e dali para o paço episcopal. Aí se agenda uma entrevista com o Bispo para as 14h. Essa entrevista vai demorar cinco horas, dada a satisfação de D. José da Cruz Moreira Pinto, que via resposta à sua ânsia de ter uma congregação masculina na sua diocese, objetivo pelo qual há muito rezava. Era dia da festa do Patrocínio de S. José. O único senão que o bispo via era a falta de vocações na diocese.
Logo, nesse mesmo dia, foi apresentado pelo bispo ao vice-reitor do Seminário, Monsenhor João Crisóstomo, e ao Cónego Luís Alves, pároco da Catedral. D. José pediu a ambos que ajudassem o P.e João Cotta a encontrar local para estabelecer o Seminário Comboniano. A opinião do bispo era de que esse local se deveria situar nas cercanias de Viseu ou quando muito em Mangualde. O comboniano ficou hospedado no Seminário, mas não parou. Na companhia de Mons. João Crisóstomo e alguns padres de Viseu, visita Mangualde e arredores, S. Pedro do Sul e a zona das Termas de S. Pedro.
Depois de algumas dificuldades era comprada a atual quinta onde se situa o Seminário das Missões de Viseu, registada a 20 de Setembro , onde outorgaram pelos Combonianos o P.e João Cotta e o P.e Dr. Serrano, ecónomo que foi da Diocese de Viseu
A 17 de Outubro o Governo Civil reconhece e regista oficialmente o Instituto Comboniano como «corporação missionária ao abrigo do Acordo Missionário de 7/5/ 1940 entre a Santa Sé e o Governo Português».
24 de Outubro, daquele ano de 1947, considera-se data da fundação do Seminário das Missões de Viseu sob a invocação do Imaculado Coração de Maria.
Havia decorrido o pequeno período de meio ano desde a chegada do P.e João Cotta a Viseu, pela primeira vez, tendo vindo desiludido da sua tentativa de Aveiro.
Primeiras impressões sobre Viseu
O P. João Cotta descreveu ao superior geral as primeiras impressões de Viseu numa carta de abril de 1947: «O panorama é verde, como na Suíça. A diocese é uma das melhores, em espírito cristão e bondade do clero. A cidade tem 20 mil habitantes e a diocese conta com trezentos mil. Estamos no centro-norte de Portugal, com boas comunicações. Sua Excelência [o Senhor D. José da Cruz Moreira Pinto] deseja que a casa [onde se estabeleceria o Seminário menor comboniano] tenha alguns sacerdotes para o apostolado na cidade e na diocese.»
Prof. Valente
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