27 de março de 2018

SINAIS DA RESSURREIÇÃO SÃO MAIS ABUNDANTES



Jesus de Nazaré, Homem acreditado por Deus junto de vós, com milagres, prodígios e sinais … vós o matastes, cravando-o na cruz por meio de gente perversa… Foi este Jesus que Deus ressuscitou, e disto nós somos testemunhas (Actos 2, 22ss)

O Conselho Geral, reunido nestes dias de Consulta, quer desejar a cada um de vós uma Santa Páscoa na Alegria e na Paz de Cristo Ressuscitado.

Este ano, mais do que noutros anos, parece que a Páscoa nos chega de modo veloz, rápido, quase inesperado. Parece que o tempo corre mais rápido ou são talvez os acontecimentos que nos surpreendem e nos fazem sentir a urgência da Páscoa, o desejo de celebrá-la como Jesus e com Jesus: «Tenho de receber um baptismo, e que angústias as minhas até que ele se realize!» (Lucas 12, 50).

Celebramos a Páscoa de Jesus, a Páscoa dos apóstolos e de cada um de nós. Celebramos a Páscoa dos povos que sonham um mundo mais justo e fraterno. Celebramos a Páscoa da criação que espera ser renovada e feita nova criatura em Cristo. Na realidade todos nós gememos com gemidos inefáveis, enquanto esperamos a nossa libertação: «Bem sabemos como toda a criação geme e sofre as dores de parto. Não só ela. Também nós, que possuímos as primícias do Espírito» (Rom 8, 22-23).

Desde o início deste ano de 2018 que o Senhor nos fez experimentar de um modo muito concreto o significado desta Festa através da passagem de alguns dos nossos confrades – seis no total – que o Pai chamou a si. Eles celebraram a sua páscoa definitiva. Alguns, de modo inesperado como o P. Rogelio Bustos Juárez, membro do Conselho Geral. A páscoa para ele veio depressa, sem pré-aviso. Para outros, fez-se anunciar deixando espaço para um caminho de purificação, lento e atribulado. Mas em todas as situações, a Páscoa chega através do sofrimento, do despojamento, do perder-se na vontade do Pai: «Meu Pai, se é possível, afaste-se de mim este cálice! No entanto, não seja como eu quero, mas como Tu queres!».

Nas visitas que fizemos este ano, como Conselho Geral, ao Uganda, Sudão do Sul, Togo, Gana, Benim e República Democrática do Congo, tocámos os sinais da paixão de Jesus na vida desses povos. Contudo, são ainda mais abundantes os sinais da Ressurreição revelados nos sonhos dos jovens, na beleza das crianças, na resistência dos adultos. E na vida doada de tantos pastores, dos catequistas e dos nossos missionários, testemunhas da Ressurreição, verdadeiros sinais do facto que Deus continua a ressuscitar Jesus de Nazaré cada dia.

Caros confrades, queremos convidar-vos a viver a Páscoa de modo simples e humilde, convictos de que Jesus venceu verdadeiramente a morte e o sofrimento, nossos e do mundo. Encorajamos-vos a vivê-la como o grão de trigo que morre para dar fruto abundante; como o peregrino que avança na noite da dor e do desespero tendo os olhos fixos na luz que emana do Ressuscitado; como as mulheres diante do sepulcro que «erguendo os olhos, observaram que a pedra tinha sido rolada, apesar de muito grande»; como os apóstolos no cenáculo que, ouvindo as palavras de Jesus «A paz esteja convosco!», se encheram de alegria; como os discípulos de Emaús que se deixaram acompanhar pelo peregrino desconhecido que lhes faz arder o coração ao explicar-lhes as Escrituras e se lhes revela na fracção do Pão; como Comboni, que viveu a missão sob o sinal da Cruz Gloriosa do Ressuscitado: «A cruz é o único conforto verdadeiro, porque é a marca da obra de Deus. À paixão e morte de J. C. seguiu-se a ressurreição. O mesmo sucederá na África Central» (Escritos 5559).

Queremos desejar-vos um tempo de alegria profunda deixando-nos fascinar pela presença gloriosa do Ressuscitado que venceu a morte e continua também hoje a vencer todos os tipos de morte do nosso mundo. Ele inunda-nos com a sua Luz, enche-nos de esperança e abre os nossos olhos à sua Presença inefável!
O Conselho Geral

26 de março de 2018

COLABORAÇÃO: DENOMINADOR COMUM




ENCONTRO CONSELHOS PROVINCIAIS DE PORTUGAL E ESPANHA 
Viseu, 20 de março de 2018 

Queridos irmãos em Cristo das províncias de Espanha e Portugal,

Os conselhos provinciais de Espanha e Portugal, reunidos em Viseu a 20 de março de 2018, queremos agradecer a Deus este tempo de caminho quaresmal que estamos a percorrer e permanecemos à espera da Ressurreição de Jesus, que anima as nossas vidas e dá um sentido novo à missão.

Se a memória não nos falha, já é o quarto ano em que os dois conselhos provinciais nos encontramos para continuar a colaborar entre ambas as províncias em espírito de serenidade e escuta de Deus e dos membros das duas províncias. Antes de mais, damos graças por perceber que não há tensões entre nós e que a colaboração é o denominador comum que nos acompanha para podermos fazer juntos tudo o que seja factível e possível.

Em fins de abril, e pela primeira vez, encontrar-nos-emos em Salamanca para as duas províncias fazerem o Retiro em conjunto acompanhados pelo Padre Geral. Sem dúvida que será para todos nós um momento de graça e de bênção.

Na reunião que tivemos aqui em Viseu, avaliámos os compromissos que fixamos na reunião de Granada no ano passado e seguimos mantendo este espírito de colaboração.

Contudo, desejamos focar a nossa atenção em três sectores que queremos continuar a ter em consideração:
  1. Formação Permanente. Mantemos o nosso compromisso de continuar a trabalhar juntos na medida do possível em encontros interprovinciais como: retiro, encontros com combonianos anciãos, encontro de formação permanente e estudo conjunto do Código Deontológico a partir do momento que a sua redação final esteja aprovada. Tudo isto se concretizaria com a criação de uma só Comissão de Formação Permanente a nível ibérico. 
  2. Proposta para criar um Postulantado Ibérico em Granada e um noviciado europeu, como já acontece em Santarém. 
  3. Proximamente vai realizar-se um encontro conjunto entre Portugal e Espanha para partilhar e analisar trabalhos pastorais nas paróquias onde haja uma presença comboniana. 
Agradecidos a São Daniel Comboni por manter vivo em nós este clima de continentalidade que caraterizou a vida do nosso santo fundador, desejamos continuar a crescer no espírito pascal de Cristo morto e ressuscitado.
Os Conselhos Provinciais de Espanha e Portugal 
Viseu, 2018

21 de março de 2018

RESISTIR É CRIAR – RESISTIR É TRANSFORMAR


Mensagem final dos membros da Família Comboniana
Participantes no Fórum Social Mundial e no Fórum Comboniano 

Ministerialidade e trabalho em rede/colaboração na Família Comboniana
e com as outras organizações 

Salvador da Bahia, 10-19 de Março de 2018 

Nós leigos, irmãs, irmãos e padres missionários combonianos, que participámos no Fórum Social Mundial (FSM) e no Fórum Comboniano (FC), saudamos-vos a partir de Salvador, terra de resistência negra e de culturas afrodescendentes, com um coração cheio de gratidão e de esperança. De 10 a 19 de Março de 2018 vivemos juntos uma experiência forte e única ao participar no FSM, que tinha como tema “Resistir é criar – resistir é transformar” e no VIII FC com o tema “Minsiterialidade e trabalho em rede/colaboração na Família Comboniana e com as outras organizações”. Agradecemos de modo particular aos nossos conselhos gerais que juntos nos escreveram uma mensagem de encorajamento pelo empenho na JPIC e pela nossa participação no FSM como experiência do vivido do nosso carisma nos desafios do mundo de hoje.

A nossa participação foi relevante e numerosa: 53 pessoas provenientes da África, Europa e América. Experimentámos a grande riqueza do nosso carisma na variedade dos nossos empenhos. Pela primeira vez participaram também representantes dos jovens em formação no escolasticado e no CIF com um seu formador. Agradecemos também pelas respostas recebidas de quatro escolásticos ao questionário que o comité central tinha enviado com o objectivo de compreender até que ponto é que os temas da JPIC estão presentes na formação. Reafirmamos o empenho de envolver sempre mais as pessoas em formação e os formadores sobre os temas da JPIC e nas dinâmicas do FSM e do FC.

No FSM apresentámos como Comboni Network quatro workshops: Land grabbing, Extracção minerária, Situação sócio-política da RD. do Congo e do Sudão do Sul, Superação da violência e discriminação de género. Isto permitiu-nos partilhar na metodologia do FSM o nosso empenho como missionários e missionárias por um outro mundo possível. Um stand, preparado por nós, permitiu-nos fazer animação missionária, encontrar e dialogar com muitas pessoas e darmo-nos a conhecer. Entre os numerosos workshops propostos pelo FSM, acompanhámos com interesse Os novos paradigmas, Teologia e libertação, Jovens, Resistência dos povos originários e afrodescendentes, e Migrações. Durante o desenvolvimento do Fórum, participámos também na assembleia mundial das mulheres. O FSM realizou-se em clima de festa, interrompido pela morte de dois activistas dos direitos humanos: Marielle Franco, no Rio de Janeiro, e Sérgio Paulo Almeida do Nascimento, em Barcarena, estado do Pará.

O Fórum Comboniano realizou-se no signo da continuidade com os encontros precedentes. As jornadas foram intercaladas por momentos inculturados de espiritualidade, durante os quais celebrámos a vida, os sofrimentos e as esperanças, em sintonia com as realidades dos Países de proveniência e com aquelas encontradas no Fórum. Interrogámo-nos sobre a necessidade de aprofundar a reflexão acerca dos novos paradigmas da missão, de consolidar esta experiência como família comboniana e de poder dar maior espaço de participação aos leigos e às leigas. Nesta reflexão fomos acompanhados e animados por Marcelo Barros, que partilhou o estado actual da teologia e libertação, e Moema Miranda, que, depois de uma análise da realidade mundial, indicou algumas luzes para o caminho propostas pela Laudato Si’. Perante um neoliberalismo sem limites, o convite lançado foi no sentido de pôr em diálogo os pobres e de consolidar a fé na presença do Espírito de Deus que caminha connosco na história.

Interpelados por aquilo que vivemos, propomos:
  • Publicar um livro que reúna a história e as esperanças destes onze anos de Fórum Comboniano, indicando caminhos para o futuro. 
  • Ampliar a coordenação do Comboni Network para um melhor serviço de sensibilização e formação sobre os temas da JPIC. 
  • Realizar um Fórum Social Comboniano continental para pôr em confronto as diversas realidades nas quais estamos empenhados. 
  • Criar um fundo económico para sustentar as actividades ligadas ao empenho da JPIC. 
  • Consolidar uma plataforma on-line onde recolher e partilhar experiências e material sobre os temas da JPIC. 
Depois desta experiência, sentimos ainda mais consistente a importância de nos reencontrarmos para uma maior colaboração entre nós, para nos confrontarmos como Família Comboniana e como pessoas empenhadas em âmbitos diversos mas unidos no empenho da JPIC para procurar novos caminhos de minsiterialidade e novos paradigmas da missão.

Salvador da Bahia, 19 de Março de 2018
Festa de São José, Operário

20 de março de 2018

«ALARGA O ESPAÇO DA TUA TENDA»




«ALARGA O ESPAÇO DA TUA TENDA» (Is 54, 2) 

Mensagem final da 18ª Assembleia Geral da UCESM 

Snagov (RO), 5-10 de março de 2018 

Durante estes dias tivemos a oportunidade de experimentar a nossa unidade através da diversidade. Reunidos juntos como os religiosos da Europa, ouvimos a chamada de Deus e da Igreja para sairmos para as pessoas necessitadas.

Estamos profundamente comovidos pelo sofrimento de milhões de pessoas deslocadas que migram de todo o mundo e dentro da Europa. Como UCESM (União das Conferências Europeias dos Superiores Maiores), queremos ampliar o espaço da nossa tenda para os acolher.

Inspirados pelo Evangelho de Jesus, movido pelo Espírito Santo e os desafios que ouvimos ao longo do tempo que estivemos juntos, comprometemo-nos a continuar a apoiar a população migrante na Europa. Ao respeitar e defender a dignidade e os direitos humanos de todos os migrantes, esforçar-nos-emos para atender às suas necessidades através do acompanhamento, do serviço e da advocacia.

UCESM, que inclui comunidades interculturais na Igreja na Europa, compromete-se a ficar ao lado dos nossos irmãos e irmãs deslocados em amizade e oração. Nós também apoiamos a todos no seu direito de ter um lar. A nossa esperança é estar abertos a cada um com um coração que escuta.

Todos somos chamados a sair, a encontrar migrantes, a agir como congregação e das nossas comunidades onde estamos. É unindo-nos nesse caminho global de compreensão e ação que seremos um testemunho profético do amor de Deus para todas as pessoas. Amando-nos uns aos outros, incluindo o nosso próximo e o outro, o espaço dos nossos corações será ampliado e nossa «tenda» abrangerá muitos mais.

Snagov, 9 de março de 2018

CARTA ABERTA DE APOIO AO POVO DO BRASIL



«Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos céus» Mt 5,10).

Nós, leigos, irmãs, irmãos e padres missionários combonianos de 16 países, de 3 continentes diferentes, reunidos em Salvador da Bahia no âmbito do Fórum Comboniano (de 11 a 19 de março) e do Fórum Social Mundial (de 13 a 17 de março) queremos nesta carta aberta manifestar a nossa solidariedade ao povo brasileiro de maneira geral e, em particular, a todas as pessoas de boa vontade que, apesar dos tempos difíceis da atualidade, de golpe e reformas nocivas, de intervenção militar, perseguições, ameaças e assassinatos, mantêm-se firmes no empenho da defesa dos direitos das pessoas e da criação, resistindo contra todas as formas de discriminação de gênero, raça, etnia, religião e ainda de destruição do meio ambiente.

A situação política e social com a qual nos deparamos no Brasil, de modo mais relevante os recentes assassinatos de Marielle Franco, no Rio de Janeiro, e de Sérgio Paulo Almeida do Nascimento, em Barcarena, Pará, causa-nos espanto e atinge-nos como parte da mesma família humana e de toda a criação, na certeza de que tudo está interligado, e impulsiona-nos, inspirados pelo carisma do nosso fundador, São Daniel Comboni, a fortalecer o nosso empenho na defesa de uma vida digna para todas as pessoas, e sobretudo, as mais pobres e abandonadas da sociedade.

Como missionárias e missionários, interpelados pelo testemunho de Jesus Cristo, reafirmamos o nosso compromisso nas várias dimensões da justiça e da paz, unindo-nos a todas e a todos os defensores da dignidade da vida humana e da criação, e auguramos que a força do Ressuscitado nos anime e fortaleça sempre mais na construção de um mundo mais justo e fraterno, nos guie pelos caminhos do Bem-Viver, e nos inspire nas denúncias das violações que ferem estes ideais.

Continuamos unidos e unidas,
Os 53 participantes do Fórum Comboniano 2018.
Salvador da Bahia, 19 de março de 2018
Dia de São José, Operário


16 de março de 2018

S. MIGUEL (AÇORES): ROMARIAS QUARESMAIS






Este ano, mais uma vez, participei nas Romarias Quaresmais da minha terra. Devo confessar que para mim, foi uma das mais penosas; o ideal é ter entre 30 e 50 anos para poder caminhar longas horas com chuva ou com calor. Este ano fomos agraciados com uma semana de tempestade, vento forte, chuva, granizo e… muito frio.

As Romarias (não confundir com as festas que em Portugal se realizam e que usam o mesmo nome), surgiram em meados do século XVI (1522), durante a última grande erupção vulcânica na Lagoa do Fogo, que atravessou a ilha, dividindo-a a meio, destruindo a então capital, Vila Franca do Campo. As pessoas apavoradas percorreram as Igrejas e lugares de culto onde se encontrasse uma imagem da Virgem Maria, procurando a sua intercessão.

O movimento eminentemente laical e só para homens, foi criando raízes e hoje está estruturado do seguinte modo: caminha-se uma semana completa; à frente vai a cruz pendurada ao pescoço de um adolescente. Cruz essa que é beijada à noite e no início do dia seguinte. Os romeiros formam duas filas, ocupando meia faixa de rodagem da estrada. Na parte final do “rancho” caminha o mestre (pessoa escolhida entre os romeiros e confirmada pelo pároco e com plenos poderes durante a caminhada), encerra o cortejo o “arrematador das almas”, nome simpático que se dá àquele que vem no fim do cortejo e cuja função é informar as pessoas sobre o número dos irmãos, proveniência e tomar nota de pedidos de oração (Pai-Nossos, Ave-marias, Glórias…). Ao número dos irmãos acrescenta-se mais três, Jesus, Maria e José. A quem pede uma Ave-maria, cada romeiro rezará uma e a pessoa rezará outra por cada romeiro, está é uma maneira simples de oração de intercessão.

A caminhada inicia-se pelas quatro da manhã e dura todo o dia. Faz-se uma média de 35/40 kms por dia, porque muitas vezes andamos aos ziguezagues entre igrejas capelas e oratórios.

Terminado o dia, o sino da paróquia onde se dorme dá um sinal para que a população venha receber e dar dormida aos romeiros.

Chegados a casa de quem oferece hospedagem, é feita uma oração, toma-se banho, janta-se e vai-se dormir… porque a canseira é grande. Muitas vezes as pessoas oferecem os seus quartos e vão dormir em sítios menos cómodos. Para compensar o romeiro deixa o terço pessoal já rezado para que a família o ofereça pelas suas intenções.

Diferenças entre as Romarias Quaresmais e caminhar a Fátima a pé:

Na romaria todos se tratam por irmãos. Todos os grupos (paroquiais) caminham no sentido dos porteiros do relógio, ficando o mar à esquerda. Raramente se ultrapassam e quando o têm de fazer abre-se alas e depois da saudação deixam-se passar pelo centro. Caminha-se em duas filas e ocupa-se sempre os mesmos lugares na fila. O mestre tem muito poder e é obedecido por todos. A Romaria Quaresmal não é um passeio, mas um tempo de sacrifício, penitência e oração. Ninguém fala enquanto se reza ou caminha, até que seja dada ordem em contrário. Ninguém fica para trás, só excecionalmente e com conhecimento do mestre. Ninguém abandona o grupo, seja pelo motivo que for e caso o tenha de fazer, só o faz com autorização do mestre, acompanha-o outro irmão. O mestre fala pouco; tem uma pequena campainha no bolso e quando toca todos páram, mas a reza continua até que ele diga “seja louvado Nosso Senhor Jesus Cristo”.

Indumentária: Roupa larga, xaile dobrado ao meio, contendo no meio um plástico para abrigo em caso de chuva, um saco de pano que serve de mochila para roupa, comida, produtos de higiene… (convém que pese pouco), lenço para a cabeça que abriga do frio do sol ou da chuva e um bordão que ajuda nas subidas e descidas.

Comida: A paróquia organiza-se e leva-nos uma refeição por dia. A outra, faz-se na casa onde se pernoita. O café é servido também por grupos que se organizam. Regra geral, o álcool não é permitido.

Orações: chegados a uma aldeia, rezamos em voz alta a Ave-maria e o Pai-Nosso; reza-se pelas intenções e necessidades das pessoas que ali vivem. Chegados à Igreja cantam-se as saudações à Virgem. Dentro da Igreja implora-se a proteção de Deus para os romeiros e para a comunidade cristã. O bispo diocesano dá uma lista de intenções para serem rezadas.

Pessoalmente, gosto de caminhar de madrugada em silêncio, tendo como música de fundo a oração dos irmãos. Vou fazendo revisão de vida e rezando por todos aqueles que me pedem. Pena é que a experiência de oração e fraternidade que experimentamos, fique tantas vezes só por aquela semana.

Pe. José Tavares
Missionário Comboniano

12 de março de 2018

INQUÉRITO «ALÉM-MAR»


Se é leitor da revista missionária Além-Mar, por favor, colabore connosco e dedique dois minutos a responder a este inquérito AQUI.

Obrigado pela sua visita e pelos minutos que dedica a preencher este questionário. Completá-lo vai-nos ajudar a obter os melhores resultados para a edição da revista Além-Mar.

Obrigado!

11 de março de 2018

R.D. do Congo: APELO VIBRANTE



 Eugène MUHINDO Kabung

«Todas as vezes que fizestes isso a um destes mais pequenos, que são meus irmãos, foi a mim que o fizestes!» (Mt 25:40)

Porque é que me persegues, porque é que me matas? Não pertencemos todos à mesma natureza humana? Haverá ainda um pouco de humanidade? É certo que o sofrimento é inerente à humanidade, porque nascer já é entrar no sofrimento (Schopenhauer). No entanto, sem pretender omitir esta afirmação, o nosso olhar para com o outro deve nos desafiar a viver o dom do irmão, irmã. Desta forma, longe de persegui-lo, massacrá-lo, sequestrá-lo, é humano partilhar e promover a cultura da paz.

O que é que realmente está acontecendo no Congo, particularmente em Kinshasa, Lubero e especialmente Beni? Não podemos ficar indiferentes quando as pessoas são mortas, violadas sequestradas. Quem é o pai que se alegra com a morte de seus próprios filhos e seu infortúnio? A não ser que seja um sádico, tornando-se como aqueles animais que comem os seus próprios pequeninos.

A realidade que se está vivendo na República Democrática do Congo é trágica e podemos perguntar-nos que legado estamos a deixar para as gerações futuras, ao semearmos todos os dias a semente da vingança. Com certeza que não é apenas aqui no Congo, mas, em tantas outras partes do mundo que sofre de constantes guerras e estupros, como no Sul do Sudão. É horrível, o que se está a passar na província do Norte do Kivu (RD Congo) e em particular nas cidades Beni e Lubero de onde sou natural: massacre de populações, violações de mulheres e crianças, raptos de crianças para fazer delas crianças-soldados. Desde 2009 até hoje este fenómeno aumenta de dia para dia. Desde então, vive-se autênticas barbaridades, onde muitas famílias foram reduzidas e encontram-se num estado de pobreza e luto. Na minha família por exemplo em menos de um ano perdemos quatro membros, todos eles raptados e deles não há notícias. O mais certo é que foram mortos à machadada ou com machetes ou com outro tipo de armas brancas nas florestas vizinhas como tem acontecido com centenas de pessoas. Pergunto-me para que servem os 17 000 soldados da ONU (MONUSCO). O número de viúvas, de crianças órfãs aumenta de dia para dia, famílias inteiras são exterminadas.

Quero deixar-vos o testemunho de uma criança que encontrei numa família de acolhimento: «Eu chamo-me Ali, nasci e cresci em Eringeti. Os meus pais são agricultores. O meu pai tem um moinho. Numa certa tarde em que o pai tardava em regressar do moinho, uma multidão de homens e mulheres, jovens altos, uns vestidos de preto e outros de branco entram na nossa casa. A minha tia estava na cozinha, a minha mãe no quarto, o meu tio na sala de entrada, eu e meus irmãos junto da nossa tia. Estes homens obrigaram-nos a partir com eles. Quando partimos, um deles colocou-se sobre os meus ombros e perguntou-me como me chamava, eu respondi-lhe que me chamava Ali. Eles tinham catanas, machados, martelos, etc. Quando chegámos junto de uma bananeira, longe do nosso bairro, começaram a massacrar a gente. Então eu chorava… chorava… Sim, chorava. Eles deixaram-me junto de uma mulher toda enxovalhada e suja. Eu pensava que era a minha mãe. Então eu chamava: Mãe, mãe, mãe… Oh mãe, tu dormes muito, mãe eu tenho frio, cobre-me, mas a mãe não respondia. Durante toda a noite eu chorava pela mamã. Então pela manhã cedo um senhor apercebeu-se que eu chorava pela mamã. Este senhor estava com medo e correu de volta para me encontrar e levar-me dado que eu me encontrava no meio das pessoas que tinham sido mortas. As minhas roupas estavam banhadas de sangue. Então, a esposa deste senhor vestiu-me e deu-me de comer. Por fim reconheceu minha identidade.

Quando meu pai chegou (...) um dos meus irmãos chegou a casa, trouxe a mensagem de outros mortos: mãe, tia, tio e irmãos, e aqueles que ele não conhecia. Eram dez horas da manhã. Então meu pai, perturbado, chamou um seu amigo da localidade de Beni. Ele veio ter connosco após os enterros. Eu continuava a chamar e chorar: Mamã, mamã, mamã… A minha morreu desta maneira e o meu pai está doente.»

Podemos imaginar o sofrimento desta criança e o trauma que se seguiu. O testemunho desta criança nos mostra o sofrimento de milhares de crianças que viram morrer as suas mães e mães que viram morrer os seus filhos de forma horrorosa e indiscritível.

Quero deixar um apelo vibrante a toda a humanidade para que o fogo da caridade possa acender-se em cada pessoa a fim de podermos construir um mundo mais humano e fraterno. Quem és tu que matas o teu irmão? Recorda-te que «todos os que lançam mão da espada pela espada morrerão».

A mensagem do Papa Francisco para a Quaresma deste ano interpela-nos a estar atentos aos profetas da mentira, citando a passagem de Mt 24,12: «Porque se multiplicará a iniquidade, vai resfriar o amor de muitos». Cada um interrogue-se o que está fazendo pela paz no mundo. E assim, ouça, veja e aja. Que a misericórdia de Deus converta os inimigos da paz.

Que Cristo seja o nosso modelo. E que Maria e José intercedam por este povo sofredor.

Kisangani, 09/03/2018 
Eugène MUHINDO Kabung, 
Postulante comboniano

1 de março de 2018

LIDERANÇA EXCEPCIONAL


Fundação distingue ex-presidente da Libéria.


A Fundação Mo Ibrahim honrou Ellen Johnson Sirleaf, ex-presidente da Libéria, com o Prémio Ibrahim 2017 para a Excelência na Liderança Africana.

Numa citação de treze parágrafos, a Fundação explica que «confrontada com desafios renovados e sem precedentes, Ellen Johnson Sirleaf demonstrou uma liderança excepcional e transformadora» durante doze anos à frente da república mais antiga da África.

A laureada tem uma história de vida notável: nasceu há 79 anos em Monróvia, a capital liberiana; formou-se em Economia na Libéria e em Harvard, nos Estados Unidos; foi ministra das Finanças; viveu em detenção domiciliária e foi presa; foi exilada no Quénia e nos EUA; dirigiu o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento para a África; trabalhou no Banco Mundial.

Perdeu as presidenciais de 1997 para Charles Taylor e ganhou as de 2005 ao ex-futebolista George Weah, sendo a primeira presidente africana eleita. Conduziu a Libéria dos horrores de catorze anos de guerra civil (que fez 250 mil mortos) para a democracia. Conduziu o processo de reconciliação nacional, alistou a ajuda de grandes organizações humanitárias e atraiu investimento estrangeiro.

Em 2011, partilhou o Prémio Nobel da Paz com outras duas laureadas e conquistou o segundo mandato presidencial. O Comité Nobel quis distinguir a presidente Sirleaf por «salvaguardar a paz, promover o desenvolvimento económico e social e por reforçar a posição das mulheres».

É esta liderança que a Fundação Mo Ibrahim quer reconhecer e celebrar com o prémio que concedeu à ex-presidente liberiana: «Durante doze anos no cargo, Ellen Johnson Sirleaf pôs os alicerces sobre as quais a Libéria pode ser agora construída. No processo, ela restaurou a dignidade dos Liberianos e o orgulho do país.» E continua: «Manteve firmemente as suas prioridades e a sua determinação para ter êxito em nome do povo da Libéria.»

Mais benquista no exterior que no seu país, a «Dama de Ferro» africana enfrentou algumas dificuldades: apoiou numa eleição o senhor da guerra Charles Taylor; foi acusada de corrupção e nepotismo (empregou os filhos em lugares-chave do governo); dias antes de terminar o mandato, o seu partido expulsou-a, porque apoiou George Weah nas presidenciais de 2017 em vez de fazer campanha pelo seu vice-presidente Joseph Boakai. E teve de lidar com a grave epidemia do vírus de ébola que matou quase cinco mil liberianos entre 2014 e 2015 e afectou severamente a economia nacional. Mas, para a Fundação Mo Ibrahim, estes reveses não minoram a liderança de excelência da senhora Sirleaf.

Ellen Sirleaf junta-se à galeria dos líderes laureados pelo Prémio Ibrahim que inclui Hifikepunye Pohamba da Namíbia (2014), Pedro Pires de Cabo Verde (2011), Festus Mogae do Botsuana (2008) e Joaquim Chissano de Moçambique (2007). Nelson Mandela recebeu o prémio a título honorário em 2007. E embolsou cinco milhões de dólares americanos pagos em prestações durante dez anos, mais 200 mil por ano depois de dez anos.

O prémio foi instituído por Mo Ibrahim, magnata anglo-egípcio das telecomunicações, para distinguir e promover a excelência na liderança africana.