29 de maio de 2015

INFLUENTE


© JVieira

A revista Time colocou um médico-voluntário católico norte-americano entre as 100 pessoas mais influentes no mundo em 2015.

Tom Catena, 50 anos, está incluído na lista de 21 personalidades pioneiras lado a lado com artistas, astronautas, cientistas, ativistas políticos, atores, feministas, escritores, transexuais e jornalistas.

O Dr. Tom – como todos lhe chamam – dirige o Hospital Mãe da Misericórdia, nos Montes Nuba, sul do Sudão, desde 2008.

Conheci-o dois anos depois quando fui a Gidel fazer uma formação aos jornalistas da rádio local.

Parco em palavras, leva uma vida austera de monge. Vem para a missa das sete já com as roupas do hospital, para iniciar logo o trabalho: consultas e cirurgias.

Faz mais de mil operações por ano ao som de música: uma escolha eclética que inclui trechos clássicos, gospel, rock & roll, country e baladas.

O hospital, construído pela diocese sudanesa de El Obeid, com o empenho do bispo comboniano Macram Max, tem 350 camas e serve cerca de 700 mil pessoas.

O governo de Cartum proíbe o trabalho de ONGs nos montes Nuba e continua a bombardear impiedosamente a região ano após ano desde abril de 2012.

Nuba Reports contou já 3740 bombas largadas de aviões militares contra alvos civis.

O jornalista que traçou o perfil do Dr. Tom chama-lhe santo. Um santo dedicado a Jesus e ao povo nuba que serve através da medicina.

Quando vai aos Estados Unidos não para de denunciar o genocídio dos árabes de Cartum contra os negros dos Montes Nuba.

Cartum sabe que o Dr. Tom é uma voz incómoda. Tentou calá-la em Maio de 2014 com um ataque de dois MIGs ao hospital. O seu quarto ficou bastante danificado mas o doutor estava nas trincheiras com pessoal e pacientes.

O Dr. Tom diz que sente paz quando vem do serviço e isso basta-lhe.

Desafia o perigo em Gidel com um grupo de irmãs combonianas – que trabalham com ele no hospital, na rádio, na pastoral e na educação – e dois padres africanos. Gente dedicada, os meus heróis!

26 de maio de 2015

G3 PORTUGUESAS MATAM NO SUDÃO DO SUL



Armas ligeiras de origem portuguesa estão a alimentar a guerra civil do Sudão do Sul que está a destruir a nação mais jovem do mundo há 18 meses.

Small Arms Survey encontrou metralhadoras ligeiras de fabrico português entre o armamento apreendido pela Missão das Nações Unidas para o Sudão do Sul (UNMISS) em Malakal e Nasir.

O organismo publicou um relatório a 22 de Maio intitulado «Weapons destroyed by UNMISS in Malakal, Upper Nile, December 2014» (Armamento destruídos pela UNMISS em Malakal, Nilo Superior, Dezembro 2014).

As forças da UNMISS desarmaram civis que procuraram refúgio em campos de proteção nas cidades de Bentiu, Pariang, Malakal, Nasir, Wau e Bor.

O relatório identifica G3 fabricadas na antiga fábrica de Braço de Prata entre 134 armas destruídas em Malakal.

O batalhão indiano a servir na força da ONU em Malakal destruiu as armas a 12 de Dezembro.

O relatório indica que a maioria das armas eram metralhadoras ligeiras do tipo AK 47 com origem na antiga União Soviética, Bulgária, Polónia e China.

As metralhadoras G3 apreendidas em Malakal foram fabricadas em Portugal e Irão.

Uma das G3 na imagem tinha a referência G3FMP025040, indicando ter origem na Fábrica Militar Portuguesa (FMP) de Braço de Prata.

Também havia armamento alemão (pistolas e metralhadoras)entre o armamento destruído.

A guerra civil voltou ao Sudão do Sul a 15 de Dezembro de 2013 quando soldados de origem dinca e nuer da guarda presidencial se envolveram em combates em Juba.

Nos últimos 18 meses mais de um milhão e meio de pessoas, incluindo 802 mil crianças,  foram deslocadas pelos combates nos estados de Jonglei, Upper Nile e Unity. Outros 500 mil procuraram refúgio nos países vizinhos.

Não há números para as vítimas do conflito político e étnico, mas as estimativas apontam para mais de 50 mil mortos.

A Missão Press, Associação da Imprensa Missionária, denunciou em 2002 que Portugal era uma placa giratória no tráfico de armas ligeiras para a África.

A iniciativa das revistas missionárias recolheu mais de 95 mil assinaturas a pedir que Assembleia da República legislasse sobre a matéria.

Small Arms Survey é uma organização não-governamental suíça que se dedica à investigação do uso de armas ligeiras.

22 de maio de 2015

PREPARAÇÃO DO CAPÍTULO



Os representantes das circunscrições combonianas europeias ao Capítulo estão reunidos para preparar a participação na assembleia magna da congregação missionária.

Cinco provinciais, 12 delegados capitulares e o vigário-geral estão em Limone, no norte de Itália, de 20 a 26 de maio para se preparar para o XVIII Capítulo Geral com a ajuda de alguns especialistas.

O XVIII Capítulo Geral está agendado para Roma de 6 de Setembro a 4 de Outubro sob o tema «Discípulos Missionários Combonianos chamados a viver a alegria do Evangelho no mundo de hoje.»

Limone, alcandorada na margem do Lago Garda, é a terra natal de São Daniel Comboni, o fundador da família comboniana.

Os participantes começaram por apresentar as relações que as respetivas circunscrições prepararam para o Capítulo.

O teólogo Carmelo Dotolo conduziu uma jornada de reflexão sobre o tema «Os combonianos e a Evangelii gaudium», a exortação apostólica do Papa Francisco que dá o mote para o XVIII Capítulo Geral.

Enzo Biemmi, facilitador do evento, ajudou os capitulares europeus a entrar no espírito do Capítulo e nas mudanças propostas às dinâmicas do evento.

Os participantes estão também analisar os novos estatutos do Capítulo.

No domingo, visitam a comunidade de Bressanone, no Alto Adige, a segunda casa histórica dos Combonianos na Itália, iniciada em 1895.

A casa-mãe foi aberta em Verona em 1892.

A assembleia dos capitulares da Europa termina com a elaboração de algumas propostas concretas a apresentar ao Capítulo Geral.

O Capítulo é assembleia magna da congregação, celebrada cada seis anos.

Avalia o percurso feito pelo Instituto nos seis anos anteriores, lança o programa para o sexénio seguinte e elege o Conselho Geral que o vai executar.

16 de maio de 2015

PARA A VIDA DO MUNDO

© AMaravilha

1. A festa da Ascensão do Senhor é a festa da nossa missão. Jesus regressa ao Pai – «está sentado à sua direita» – e passa-nos o testemunho: «Como o Pai me enviou também eu vos envio a vós» (João 20, 21). Mas o ator principal da evangelização do mundo é o Espírito Santo: «Recebereis a força do Espírito Santo, que descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas […] até aos confins da terra» (Actos 1, 8).

2. A Igreja nasce do regresso de Jesus ao Pai através da vinda do Espírito Santo para sair pelos caminhos do mundo e da vida.

No princípio da criação, o Espírito pairava sobre as águas. No princípio da Igreja o Espírito paira sobre todos os discípulos para ir, sair da zona de conforto, dos medos, das seguranças e fazer-se ao mundo inteiro para pregar a boa nova que temos um Pai comum que quer bem a toda a criação: não só às pessoas mas a todos os seres, «a toda a criação [que] geme e sofre as dores de parto até ao presente» (Romanos 8, 22).

A missão da Igreja é cósmica, o seu campo de evangelização é o universo inteiro. Pregamos o evangelho a toda a criatura através de vidas sóbrias, simples e saudáveis, combatendo o consumismo, a poluição, o uso incontido dos bens da terra.

Quando calcorreava os caminhos das montanhas da Etiópia e me cruzava com uma cobra perguntava como lhe poderiam pregar a boa nova… A ecologia é parte essencial da ética cristã.

Todas as nossas decisões diárias, por mais simples e individuais que sejam, têm um efeito no todo, nas pessoas e no meio ambiente.

3. Jesus nota que ir e pregar leva ao crer e à salvação. Esta é a responsabilidade de cada cristão: se não anunciar, se não viver a fé, se não a testemunhar está a negar a outros os caminhos da salvação.

Daí a expressão do Papa Francisco na Exortação Apostólica A alegria do Evangelho: «Todos somos chamados a dar aos outros o testemunho explícito do amor salvífico do Senhor, que, sem olhar às nossas imperfeições, nos oferece a Sua proximidade, a Sua Palavra, a Sua força, e dá sentido à nossa vida» (EG 121)

4. Jesus fala dos milagres da pregação: curas, novas línguas, redimir o mal. Estes milagres são de hoje, são o testemunho da presença do Senhor ressuscitado na comunidade evangelizadora, presença que ajuda os missionários do amor do Pai a superar as dificuldades do ambiente, da saúde, a aprender as línguas para anunciarem o amor de Deus, sobretudo a linguagem do amor encarnado.

Mas o maior milagre dá-se no coração do anunciador porque a bela e boa nova da salvação é também nova boa e bela para si! O seu coração é o laboratório da graça. Daí a advertência de São Daniel Comboni nas Regras do Instituto para as Missões da Nigrícia de 1871: «Com os olhos postos unicamente no seu Deus, que lhe serve de impulso, [o missionário] tem em todas as circunstâncias com que nutrir-se e alimentar abundantemente o seu coração» (Escritos, par. 2702).

5. A celebração da primeira profissão religiosa na solenidade da Ascensão sinaliza, numa coincidência feliz, a ligação permanente entre consagração e missão. A Regra de Vida dos Missionários Combonianos assinala-a no nº 10: «Os Missionários Combonianos do Coração de Jesus são uma comunidade de irmãos chamados por Deus e a Ele consagrados mediante os conselhos evangélicos de castidade, pobreza e obediência, para o serviço missionário no mundo, segundo o carisma de Daniel Comboni.»

Somos consagrados para o serviço missionário. Os conselhos evangélicos de castidade, pobreza e obediência não nos fecham na concha da virtude rigorista e satisfeita, auto-referencial, mas abrem-nos à missão através da vulnerabilidade: o missionário é casto para amar a todos e a todas de coração inteiro; pobre para partilhar; obediente para discernir em comunidade o projeto concreto de Deus para a realidade onde vive!

6. O P. Manuel João Correia escreveu na Além-Mar de Maio: «A vida consagrada tem por missão ser testemunha da beleza da gratuidade do amor (numa sociedade onde predomina o interesse e o proveito), da pureza do amor (num mundo onde tudo é comercializável e se pode vender e comprar), da força do amor (num regime de generalizada e acrítica adaptação à ideologia dominante).»

7. Jesus veio «para que tenham vida e a tenham em abundância» (João 10, 10). A missão evangelizadora da Igreja insere-se neste movimento de revitalização – São Daniel Comboni chamar-lhe-ia regeneração – do mundo marcado pelo individualismo narcisista globalizado.

A profissão evangélica da castidade, pobreza e obediência como modo de vida é a fonte da nossa fecundidade apostólica: a vida que recebemos de Jesus casto, pobre e obediente para ser repartida com todos a começar pelos mais pobres e abandonados de hoje.

8. As bênçãos de Deus para o Mateus e o Quisito! Que os conselhos evangélicos que ides professar pela primeira vez por um ano sejam por toda a vida para o serviço missionário da Igreja através da Congregação comboniana que vos recebe com muita alegria como irmãos mais novos!

NEOPROFESSOS

© AMaravilha

Dois jovens fizeram hoje a primeira consagração religiosa no noviciado comboniano europeu de Santarém.

Os noviços Mateusz Adam Poreba, 23, da Polónia, e Quisito Orlando Veloso, 26, de Moçambique, professaram uma vida de castidade, pobreza e obediência segundo a Regra de Vida dos Missionários Combonianos.

O padre Gianni Gaiga, representante do vigário-geral para a Polónia, presidiu à celebração.

Estiveram presentes na festa muitos vizinhos do Jardim de Cima, missionários e missionárias membros dos quatro ramos da família comboniana, representantes das comunidades de Gualdim, Santarém, Lamorosa, Telhal, Maia e VN Famalicão, locais onde os noviços viveram as diversas fases do noviciado.

Os neoprofessos, numa mensagem conjunta, descreveram a primeira profissão religiosa como «dia com Cristo e com a Igreja.»

Reconheceram que não foi por mérito próprio que chegaram a «este dia impar» e que a caminhada não foi «tudo mel: houve muitas alegrias e também tristezas.»

O Quisito recordou que perdeu ambos os pais em Moçambique enquanto fazia o noviciado em Santarém.

Deixaram uma mensagem singela: «Somente temos a dizer-vos algo: alegrai-vos sempre no Senhor!»

E foi o que aconteceu depois da celebração com um lanche-convívio oferecido e partilhado pelos participantes.

O Quisito, depois de umas férias em Moçambique, vai terminar o curso de teologia em São Paulo, Brasil, enquanto o Mateusz, depois de um tempo na Polónia, ruma a Nairobi, Quénia, para o mesmo fim.

Os quatro noviços do primeiro ano – três moçambicanos e um português – continuam a sua formação com as experiências pastorais e de trabalho em Lamarosa, Telhal, Maia e VN Famalicão.

6 de maio de 2015

REZAR PELO SUDÃO DO SUL

©Paul Jeffrey

O Conselho Mundial das Igrejas propôs para domingo, 10 de maio, uma jornada de oração pelas vítimas do conflito no Sudão do Sul.

Duas facções do SPLM, o partido no poder no Sudão do Sul desde 2005, lutam entre desde 15 de Dezembro de 2013. O conflito político, que assumiu contornos étnicos, matou mais de 50 mil pessoas e deslocou um milhão e meio de pessoas. Cerca de 500 mil pessoas procuraram refúgio nos países vizinhos.

O conflito paralisou a economia do mais jovem e de um dos mais pobres países do mundo: os produtos alimentares e os combustíveis são cada vez mais escassos e caros.

As partes beligerantes já assinaram um número de acordos de paz mas o conflito não dá sinais de abrandar.

«Com o conflito violento a entrar no décimo sétimo mês, os sul-sudaneses esperam numa dor atroz pelo regresso da paz», disse Olav Fykse Tvei, secretário-geral do Conselho Mundial das Igrejas, no convite que enviou às igrejas para se unirem na jornada de oração pelo Sudão do Sul.

«Os líderes das Igrejas estão a desempenhar um papel significativo para trazer a paz ao Sudão do Sul. As igrejas representam as pessoas e a sociedade civil e poderiam unir o país. Por isso, o Conselho Mundial das Igrejas convida a igrejas-membros e os cristãos do mundo inteiro a oferecerem orações especiais para restaurar a esperança de todos os que foram afectados pelo conflito e fortalecer todas as iniciativas bem-intencionadas», acrescentou.

O Conselho preparou materiais litúrgicos, que incluem uma apresentação fotográfica sobre a vida no Sudão do Sul e esta oração:

Deus, nosso Pastor,
nós te agradecemos pelo tua misericórdia para com a República do Sudão do Sul,
pela nascimento da nova nação,
pela liberdade para determinar o futuro do país.
Louvamos-te pela orientação que dás ao povo do Sudão do Sul,
por lhes dares força e resistência entre guerras e conflitos étnicos.
Agradecemos-te a presença e o papel profético das tuas igrejas
e pelo Conselho das Igrejas do Sudão do Sul,
pelo envolvimento incansável da comunidade regional e internacional
e de todas as pessoas de boa vontade
para que a paz e a justiça ganhem raízes no Sudão do Sul.
Deus todo-poderoso,
lamentamos que a paz sustentável não tenha sido ajudada no Sudão do Sul.
As vidas das pessoas correm perigo,
todo o país grita de dor.
Rezamos pelos líderes das partes em conflito.
Toca as profundezas do seu ser
para que possam sentir a abundância da tua paz e amor.
Abre o seu olhar interior
para que vejam o sofrimento das pessoas comuns.
Move os seus corações
para que tenham compaixão e confiança para com os inimigos.
Capacita-os para mudarem os seus interesses pessoais
num desejo ardente para trazer reconciliação e paz.
Rezamos pela Igreja e pelo Conselho das Igrejas do Sudão do Sul.
Ajuda-os fielmente a proclamar a tua boa nova,
a confortar os que se lamentam.
Que sejam portadores genuínos do teu amor.
Dá-lhes uma visão profética e a coragem
para assegurarem que as vozes silenciosas dos sul-sudaneses são escutadas,
para nomear o que está mal na sociedade
e para procurar incansavelmente a justiça e a paz.
Bom Pastor,
acreditamos que estás sempre com o povo do Sudão do Sul,
que és sempre o seu refúgio e força.
Mesmo nos momentos mais escuros, inflamas a nossa esperança de ressurreição.
Cremos que estás a guiar o povo do Sudão do Sul para pastagens verdejantes,
um país onde a paz e o amor são os alicerces da vida
e a justiça a base para a sua acção comum.
Rezamos para que seques as suas lágrimas e transformes o medo em celebração alegre.
Tu vais abençoar a terra do Sudão do Sul abundantemente
e trazer vida em plenitude para todos.
Na tua misericórdia, escuta a nossa oração através de Jesus Cristo,
o nosso Senhor ressuscitado,
que vive e reina contigo na unidade do Espírito Santo,
um só Deus agora e para sempre.
Ámen.

4 de maio de 2015

TERRA DE MÁRTIRES

Os 21 mártires da Líbia

África continua a ser fecundada pelo sangue dos mártires, semente de novos cristãos e seiva de uma igreja que testemunha o Ressuscitado.

Extremistas líbios ligados ao Estado Islâmico publicaram na Internet, em Fevereiro, imagens cruentas e pavorosas em que degolavam 21 imigrantes egípcios nas praias de Sirte, tingindo de sangue as águas do Mediterrâneo. A razão? Eram cristãos coptas.

Os mártires de Sirte encontram-se quase no fim de uma longa fita do tempo cor de sangue que marca o martírio dos cristãos africanos que viveram a fé até ao fim. A contagem começou a 17 de Julho de 180, quando cinco mulheres e sete homens cristãos foram executados em Cartago, onde é hoje a Tunísia, pelos soldados romanos por se terem recusado a prestar culto ao imperador.

Ao longo dos tempos milhares de outros cristãos continuaram a regar com o seu sangue o solo africano individualmente ou em grupo às mãos dos impérios ou religiões. A lista que se segue não é exaustiva.

Os franciscanos contam no seu martirológio 13 frades, mortos em Marrocos e Ceuta, em 1220 e 1227.

Na Etiópia, depois da expulsão dos jesuítas ibéricos em 1632, um número de seguidores de Inácio de Loyola e de Francisco de Assis foram mortos nas praias do Mar Vermelho ou na Abissínia por tentarem voltar à terra do Preste João. Cinco são venerados como beatos: dois capuchinhos franceses (um deles de origem portuguesa), executados em Gondar em 1638 e três franciscanos, mortos na mesma cidade em 1716. Os imperadores etíopes pagavam em ouro o peso das cabeças de católicos degolados pelos «caçadores de missionários» costeiros.

No Uganda, 23 jovens anglicanos e 22 católicos foram executados em Namugongo entre finais de 1885 e inícios de 1887 pelo rei do Buganda.

A revolta dos Simbas, em 1964, no que é hoje a República Democrática do Congo, fez mais de duas centenas de mártires, incluindo a beata Anuarite Clementina, 27 missionários dehonianos e quatro combonianos.

Aliás, a família comboniana conta com 22 missionários mortos em África, duas irmãs e 20 padres e irmãos. Mais de metade deram a vida no Uganda.

O sítio thereligionofpeace.com fez o levantamento dos cristãos martirizados no continente desde o fatídico 11 de Setembro de 2001 e documenta a execução de mais de 4000 cristãos em 16 dos 54 países da África: Nigéria, Líbia, Quénia, Sudão, Níger, Egipto, Somália, República Centro-Africana, Uganda, República Democrática do Congo, Camarões, Tanzânia, Tunísia, Mali, Etiópia e Eritreia.

A Nigéria é o país mais hostil aos cristãos apesar de quase metade dos Nigerianos serem baptizados. A organização Open Doors indica na 2015 World Watch List que extremistas muçulmanos do Boko Haram mataram 2484 cristãos em 2014. Espera-se que o novo presidente, Muhammadu Buhari, tenha mais êxito que o seu antecessor, o cristão Goodluck Jonathan, para estancar a violência extremista no Norte do país.

Há ainda os chamados mártires «brancos», aqueles que morreram silenciosamente de doenças, porque decidiram permanecer em climas agrestes, como São Daniel Comboni, que faleceu em Cartum, Sudão, aos 50 anos de idade, em 1881, vítima das febres tropicais.

Os cristãos africanos continuam a fertilizar o continente com o seu sangue e a Igreja continua a crescer a olhos vistos. Segundo o Anuário Católico, o livro de estatísticas da Igreja, a África teve mais 4,9 milhões de católicos em 2013, representando um terço do crescimento global desse ano.

O Papa Francisco durante as celebrações da Páscoa recordou os cristãos perseguidos a quem chamou «os mártires do nosso século». Sublinhou que talvez sejam mais numerosos que os primeiros mártires e pediu à comunidade internacional que «não vire os olhos para o outro lado, que não assista de forma silenciosa e passiva a tal inaceitável crime que constitui uma preocupante violação dos direitos humanos mais elementares.»