24 de junho de 2016

Alex Zanotelli: TRENTINO DO ANO



O missionário comboniano padre Alex Zanotelli foi distinguido com o prémio «Trentino dell’Anno 2016» da Província autónoma de Trento no norte da Itália.

O prémio é um reconhecimento atribuído pelo grupo cultural e pela histórica revista Uomo Città Territorio ao padre Zanotelli, 78 anos, pela luta ao lado dos últimos, defendendo os mais fracos, a água como um bem comum, a justiça social e ambiental, e o acolhimento dos imigrantes.

A entrega do prémio decorreu a 18 de Junho no Castello del Buonconsiglio.

O missionário dedicou o prestigiado prémio às organizações que lutam pela água gratuita e acessível a todos, e às que se opõem ao TAV (sigla para Comboio de Alta Velocidade em italiano) na região alpina de Brennero.

A jornalista Francesca Caprini encontrou-se com Zanotelli em Maio passado em Roma.

O missionário participava numa manifestação contra o Acordo de Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento entre os Estados Unidos e a União Europeia, mais conhecido como TTIP na sigla em inglês.

«Há alguma ligação entre a sua missão no bairro mais violento da Europa e a sua militância pela água, um bem comum?», Caprini perguntou a Zanotelli.

«Estes são conflitos sociais que nos chamam à responsabilidade numa sociedade dividida, onde o Estado está ausente, onde os bens comuns são desfrutados e desbaratados, prisioneiros do deus dinheiro. O fio condutor que liga a luta pela água, contra o crime organizado, contra tratados como o TTIP e a devastação dos territórios é muito claro. É precisa mudar de rumo, imaginar um modelo diferente de sociedade, mais justa e mais responsável», respondeu.

Esta é uma reflexão que se estende também à emergência dos refugiados.

«A proposta feita pelo governo italiano de Renzi à Comissão Europeia para resolver o problema dos imigrantes que chegam de África, a chamada “Migration Compact”, é um mau passo para a Itália. O espírito é o mesmo do acordo feito entre a União Europeia e a Turquia. É uma comercialização com a pele dos refugiados», acrescentou.

Zanotelli nasceu em Livo (Trento) em 1938. Foi ordenado sacerdote em 1964. Trabalhou como missionário primeiro no Sudão, depois como director da revista italiana comboniana Nigrizia.

Depois, viveu vários anos no bairro de lata de Korogocho em Nairobi no Quénia.

Há cerca de dez anos, vive e trabalha no bairro da Sanità da cidade italiana de Nápoles, desde onde tem vindo a promover uma verdadeira batalha civil a favor da água como um bem público.

Zanotelli é autor de numerosos artigos e livros, incluindo Korogocho (Feltrinelli, 2003) e, publicados pela EMI, Vozes dos Pobres, Vozes de Deus (2007) e Mãos fora da Água (2010).

Comboni Press | J: Vieira

22 de junho de 2016

Papa: A SUA HISTÓRIA «FEZ-ME UM GRANDE BEM»


O papa escreveu à superiora provincial das combonianas em Itália a agradecer a biografia que escreveu sobre um médico ugandês vítima e mártir do vírus do ébola.

A Ir. Dorina Tadiello escreveu o livro «Matthew Lukwiya. Um médico mártir de ébola», editado pela EMI.

O Dr. Lukwiya era colega da Ir. Dorina – que também é médica – no hospital de Lachor, em Gulu, no norte do Uganda.

O Dr. Lukwiya faleceu a 5 de Dezembro de 2000, vítima do vírus enquanto tratava as vítimas de uma epidemia que atingiu o norte do Uganda nesse ano.

Tinha 43 anos.

«O Dr. Matthew Lukwiya dedicou-se com coragem indómita ao tratamento dos doentes de ébola», escreveu Francisco na mensagem à autora. 

Conhecer sua história «fez-me um grande bem», acrescentou.

A coragem do Dr. Lukwiya «faz aumentar minha esperança com pelo futuro da África que pode contar com tantas mentes e corações generosos capazes de cuidar das feridas de tantos pobres que para nós são a carne de Jesus», escreveu Francisco.

O papa argentino encorajou as combonianas a «imitar a compaixão de Jesus que cura e regenera a humanidade».

«Sejam o hospital de campanha mais próximo para os abandonados do nosso tempo», desafiou.

O vírus ébola provoca febres hemorrágicas, uma doença grave com uma taxa elevada de mortalidade.

20 de junho de 2016

COMBONI, MISERICÓRDIA E MISSÃO


Meia centena de pessoas participaram no Fim-de-semana de Espiritualidade Comboniana que decorreu na Maia de 17 a 19 de junho sob o tema «Com Comboni, missionários da misericórdia.»

O P. José Francisco de Matos Dias fez uma incursão sobre o tema da misericórdia na Bíblia e no magistério dos últimos papas.

«Com Jesus terminou definitivamente a época em que Deus era visto como um justiceiro vingativo. Jesus revelou o verdadeiro rosto de Deus que apenas salva, o rosto da sua misericórdia», sublinhou.

«A morte de Cristo foi o maior ato de misericórdia. Morreu de braços abertos. Os cristãos dão continuidade a esse ato de misericórdia», concluiu um grupo de trabalho.

A Ir. Maria do Carmo Ribeiro explorou a vertente comboniana do tema: «Comboni e a misericórdia, desafios para a missão.»

«Como missionários da misericórdia, que trabalham para a fraternidade, para um mundo irmão, [somos chamados a] trabalhar em comunhão, renunciando à tentação sempre presente do protagonismo que nos ilude que fazemos mais e melhor», disse.

«Nós somos as mil vidas de Comboni para a missão», adiantou um grupo de reflexão.

O dia terminou com uma acção com os sem-abrigo nalgumas zonas do Porto.

No domingo quatro pessoas partilharam experiências de misericórdia com doentes em hospitais, presos e carenciados.

O superior provincial, P. José Vieira, presidiu à Eucaristia de encerramento. «Contemplando o Senhor morto e ressuscitado de coração escancarado para acolher a todos aprendamos a ser verdadeiros anjos de misericórdia para todas as pessoas com quem nos cruzamos», concluiu a homilia.

«Este fim-de-semana sobre a espiritualidade das obras de misericórdia tem sido muito produtivo e muito emocionante, não existiu nenhum testemunho que não me tocasse no coração. Sem dúvida que ser misericordioso é algo incrivelmente bom. Mais uma vez pude encher o meu coração com estas histórias e exemplos de vida que me fazem sorrir, crescer e aprender», escreveu na avaliação a Rita do e Missão.

Os participantes incluíram leigos ligados aos quatro ramos da família comboniana e missionárias e missionários dos mesmos. A presença de um casal africano com duas filhas pequenas juntou uma nota de vida ao encontro.

19 de junho de 2016

MISSIONÁRIOS DA MISERICÓRDIA


Os tempos de Jesus estavam maduros de expectação. Os romanos eram a potência ocupante de serviço havia quase um século. Os judeus piedosos, cansados do controlo militar, político e fiscal de Roma, suplicavam que o Messias viesse restaurar o Israel de Deus.

Os religiosos de Qumran pediam um Messias que vindicasse a sua fidelidade e restaurasse o culto purificado do Templo. Os zelotas esperavam um líder ultranacionalista e revolucionário, um Ungido radical e violento que libertasse a Terra da promessa de Pilatos, dos seus soldados e da sua ignomínia.

É neste contexto prenhe de esperas desesperadas e de orações balbuciadas por corações doridos que Jesus quer avaliar o impacte do seu ministério depois de um tempo de oração e antes de começar a grande peregrinação final a Jerusalém.

«Quem dizem as multidões que Eu sou?», pergunta aos discípulos (Lucas 9,18).

É o passado benquisto que ecoa na opinião pública: «João Batista, Elias, um profeta antigo que ressuscitou.» Mortos-vivos, redivivos no ministério do carpinteiro de Nazaré.

Jesus estica a sondagem: «E vós, quem dizeis que Eu sou?» (Lucas 9,20).

Pedro, intempestivo como sempre, tomou a dianteira aos outros na profissão de fé: «És o Messias de Deus» (Lucas 9, 20).

Pedro proclama Jesus como o Ungido do Pai, cheio do Espírito Santo. O esperado nas orações de todos os que aguardavam pela restauração de Israel.

Jesus sabe quem é! Ele é o Messias prometido, o rebento de Jessé esperado e chegado (Isaías 11,1). Mas não é um Cristo político que vai varrer os romanos. É o servo sofredor que o Segundo Isaías canta desde o desterro da Babilónia, que carrega as nossas dores, ferido por causa dos nossos crimes, que nos sara pelas suas chagas (Isaías 52,13-53,12).

Como o anunciara a profecia de Zacarias uns 300 anos antes de Jesus ter nascido: «naquele dia, jorrará uma nascente para a casa de David e para os habitantes de Jerusalém, a fim de lavar o pecado e a impureza» (Zacarias 13,1). A nascente do coração aberto de Jesus, olhos d’água e sangue…

Jesus explica que o seu caminho messiânico é o roteiro de vida dos seus seguidores, para todos e para todos os dias: «Se alguém quiser vir comigo, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz todos os dias e siga-Me. Pois quem quiser salvar a sua vida, há-de perdê-la; mas quem perder a sua vida por minha causa, salvá-la-á» (Lucas 9, 23-24).

Uma proposta que desafia a cultura globalizada dominante do egoísmo, individualismo, narcisismo, hedonismo e consumismo que mesmo sem o darmos conta é a nossa cultura… Jesus propõe a cruz: braços e corações abertos entre o céu e a terra para acolher, vivificar.

A cruz e a misericórdia são temas essenciais da espiritualidade comboniana. Antes demos mais atenção à cruz, mas a celebração deste jubileu levou-nos a reler os textos de São Daniel Comboni em chave de misericórdia, do Deus da(s) misericórdia(s) como tantas vezes O invoca.

Em Fevereiro de 1868, Comboni escrevia do Cairo: «Deus digna-se, em sua imensa misericórdia, marcar a nossa obra com o adorado selo da cruz» (Escritos 1571).

A cruz é o selo de garantia, a certificação da misericórdia de Deus no serviço missionário: «É preciso que as obras de Deus encontrem dificuldades; assim levam a adorável marca da Providência» (Escritos 1185)

Em 1880, Dom Daniel Comboni escreveu num longo relatório sobre a carestia e a epidemia de 1878 e 1879 que devastaram a África Central e fizeram milhares de vítimas.

«Estas tremendas calamidades não beliscaram, pela graça de Deus, a nossa coragem nem diminuíram a força do nosso espírito; antes pelo contrário, provas tão duríssimas contribuíram fortemente para que o nosso ânimo se fortalecesse, pondo toda a nossa confiança nesse Deus das misericórdias que nos precedeu no caminho da cruz e do martírio e mantendo-nos firmes e constantes na nossa árdua e santa vocação» (Escritos 6367), nota.

A firmeza e a constância dos missionários da África Central, «a missão mais árdua, laboriosa e vasta da Terra» (Escritos 2987), formam-se na contemplação do Redentor e da sua misericórdia na via da cruz, uma experiência da graça de Deus.

A contemplação é a forma de oração apostólica mais essencial que permite ao discípulo missionário entrar no dinamismo da misericórdia divina de que é prenúncio e anúncio.

Comboni escreve no Plano de acção apostólica a seguir ao assumir o Vicariato da África Central de Março de 1872 que os missionários da África Central «formam-se nesta disposição essencialíssima tendo sempre os olhos fixos em Jesus Cristo, amando-o ternamente e procurando entender cada vez melhor o que significa um Deus morto na cruz pela salvação das almas» (Escritos 2892).

No mesmo relatório sobre a grande calamidade escreve: «A misericórdia divina, graças à exímia caridade dos benfeitores, manteve ainda de pé as árduas e importantes missões do Vicariato e salvou muitas almas atendendo às mais extremas necessidades» (Escritos 6403).

Comboni percebia os colaboradores e benfeitores da missão africana como incarnação da misericórdia de Deus.

E continua: «Os missionários, as irmãs, os irmãos coadjutores e as pessoas acolhidas na missão suportaram a pé firme, com inamovível constância, coragem e resignação, as maiores privações e sacrifícios. Sofremos muitíssimo, mas alegramo-nos disso, porque o Senhor se dignou fazer-nos participantes da sua paixão e nos ajudou poderosamente a levar a sua cruz divina, símbolo de ressurreição e de vida» (idem).

Este parágrafo é um óptimo comentário comboniano ao anúncio de Jesus que pronuncia o seu mistério pascal de sofrimento, rejeição, morte e ressurreição e que nos leva à Carta aos Hebreus: «Corramos com perseverança a corrida, mantendo os olhos fixos em Jesus, autor e consumador da fé. Em troca da alegria que lhe era proposta, Ele submeteu-se à cruz, desprezando a vergonha, e sentou-se à direita do trono de Deus» (Hebreus 12, 1b-2).

O caminho do Senhor é balizado pela misericórdia e pelo amor em enlace de reciprocidade.

Comboni escreveu ao P. José Sembianti na festa de São José, meia dúzia de meses antes de morrer: «as vias do Senhor são misericórdia e Deus charitas est» (Escritos 6582).

Antes, havia respondido a uma campanha de difamação contra a sua administração com um ato de fé: «Deus é misericórdia, caridade e justiça, e saberá tirar destas providenciais vicissitudes o maior bem para a África» (Escritos 6098).

A cruz e a misericórdia são a rocha firme onde se alicerça a espiritualidade missionária comboniana, a força do missionário descrito por Comboni como «verdadeiro anjo de misericórdia» (Escritos 4803) na pessoa do P. Olivieri.

Contemplando o Senhor morto e ressuscitado de coração escancarado para acolher a todos aprendamos a ser verdadeiros anjos de misericórdia para todas as pessoas com que nos cruzamos.

17 de junho de 2016

EUCARISTIA EM CONGRESSO


O IV Congresso Eucarístico Nacional decorreu em Fátima de 10 a 12 de Junho tendo reunido quase 800 participantes para «Viver a Eucaristia, fonte de misericórdia.»

«Uma excelente decisão», disse o Papa Francisco na mensagem que enviou.

O arcebispo Piero Marini, presidente do Pontifício Comité para os congressos eucarísticos nacionais, abriu as conferências com o tema «A Eucaristia, fonte de vida cristã». Num português espanholado, aqui e ali com sotaque brasileiro, conseguiu ler pouco mais de metade do texto que tinha preparado sobre as diversas partes da missa.

Dom António Couto, bispo de Lamego, apresentou o tema «Maria, Mãe de Misericórdia, mulher eucarística» a partir de uma perspectiva bíblica muito interessante. «Maria não se propõe fazer, disponibiliza-se para que Deus faça a sua palavra», sublinhou.

A Ir. Ângela de Fátima Coelho, postuladora d causa de canonização dos pastorinhos, apresentou aquela que foi para mim a mais bem conseguida conferência sobre o tema «A Eucaristia na Mensagem de Fátima» com o desafio de «deixar transformar o nosso coração em lugar teologal.»

O professor José Eduardo Borges de Pinho fez um levantamento académico de «A Mensagem de Fátima, profecia de misericórdia» sublinhando que «a mensagem de Fátima é teocêntrica e trinitária.»

Uma família de seis, dois catequistas, uma carmelita via vídeo e um padre apresentaram experiências concretas da vivência eucarística e da piedade popular.

O Cardeal D. João Braz de Aviz, enviado extraordinário do Papa para o Congresso, fez uma exposição muito bonita sobre «A misericórdia na missão da Igreja.»

No encerramento o bispo de Bragança e Miranda, D. José Cordeiro, disse que «é chegada a hora da espiritualidade litúrgica, viver no quotidiano a espiritualidade do Altar», propondo que o congresso se celebre cada cinco anos com um carácter mais celebrativo.

O IV Congresso Eucarístico Nacional fez um levantamento teórico do tema da Eucaristia à luz dos 100 anos das aparições do Anjo e do Ano Extraordinário da Misericórdia. Assuntos práticos de como fazer da Eucaristia a festa dominical para todos ficaram de fora apesar de algumas dicas interessantes dadas durante o painel.

Um gesto bonito: a apresentação da dádiva de sangue como prolongamento celebrativo da Eucaristia.

14 de junho de 2016

ATENÇÃO AOS MAIS POBRES

© Lusa

De acordo com estudos baseados em dados do I.N.E., a redução de rendimentos, em consequência do programa de assistência financeira a que Portugal esteve sujeito nos últimos anos, foi mais acentuada entre os mais pobres do que entre a classe média. Apesar de a redução de salários e pensões ter sido proporcionalmente mais acentuada nos mais elevados, a redução de apoios sociais, precisamente quando eles eram mais necessários, provocou tal efeito.

Também de acordo com um estudo recentemente divulgado, nas maiores empresas portuguesas, a desproporção entre salários dos gestores e trabalhadores (que chega a atingir a ordem de várias dezenas) acentuou-se nos últimos anos. Em 2015, os presidentes executivos das empresas cotadas viram os seus salários subir, em média, mais de 14%, quando os dos trabalhadores subiram, em média, 4%.

Esta situação leva a Comissão Nacional Justiça e Paz a relembrar e sublinhar o seguinte:

A pobreza constitui uma ofensa à dignidade humana e, por isso, uma violação dos direitos humanos.

Uma desigualdade na repartição de sacrifícios necessários que prejudique os mais pobres ofende elementares sentimentos de justiça e o princípio da solicitude preferencial pelos mais pobres que deve orientar a ação do Estado.

Níveis excessivos e crescentes de desigualdade prejudicam a coesão social e o sentido de pertença à empresa e à comunidade global como família alargada.

Importa alertar para a necessidade de outra atenção aos mais pobres, também desprovidos de projeção mediática e força política e eleitoral. Para tal, não basta a reposição de salários e pensões que continua a beneficiar mais, proporcionalmente, a classe média, nem acreditar ilusoriamente que terminou a necessidade de sacrifícios imposta pela exigência de redução das dívidas pública e privada.
Lisboa, 7 de Junho de 2016
A Comissão Nacional Justiça e Paz

9 de junho de 2016

FESTA DO SONHO DE DEUS


A Banda Missio apresentou o seu segundo CD durante um espetáculo na Casa das Artes em VN Famalicão na noite de 8 de junho de 2016.

Mais de 250 pessoas marcaram presença na apresentação do CD O sonho de Deus.

O espetáculo foi no dizer de alguns participantes «um sucesso», «uma festa que a banda proporcionou», «alegria missionária».

O P. Leonel Claro, fundador da banda e compositor dos temas, disse que o concerto «foi óptimo, foi muito bom. Aquela sala é um espectáculo.»

O Sonho de Deus tem 13 faixas do cantautor comboniano num registo mais rock, trabalhando a ideia missionária de partir, de relação com a humanidade.

«Somos intermediários e construtores do sonho de Deus para a humanidade», explicou numa entrevista às Edições Salesianas que publicam o álbum.

O P. Leonel disse que ConTigo, o primeiro trabalho de 13 originais editado em 2014, era mais vocacional sublinhando o relacionamento íntimo com Deus.

Explicouque fundou a banda pop/rock de música de inspiração cristã há oito anos para ligar missão e juventude na pastoral vocacional juvenil comboniana.

O missionário regressa em setembro ao Chade, mas disse que a Banda Missio pode continuar a atuar e fazer concertos de oração mesmo sem ele.

A apresentação de O sonho de Deus era também um evento solidário a favor da missão no Chade.

«As pessoas deram uma boa oferta para levar para o Chade», revelou o P. Leonel.

O missionário é de Penude, Lamego e tem 53 anos.

Nos últimos 12 anos trabalhou na pastoral vocacional juvenil dando início ao JIM - Jovens em Missão, um movimento de jovens cristãos de espiritualidade missionária e comboniana.

Antes, serviu dez anos a Igreja no Chade.

Sudão do Sul: VERDADE E JUSTIÇA


O presidente e o primeiro vice-presidente do Sudão do Sul publicaram um artigo de opinião num prestigiado jornal norte-americano a propor a troca de um tribunal internacional para julgar os crimes da guerra civil por uma comissão de verdade e reconciliação.

Salva Kiir Mayardit e Riek Machar Teny escreveram – ou alguém por eles – uma peça intitulada «Sudão do Sul precisa de verdade, não de julgamentos» publicada em The New York Times de 7 de junho para avisar que o tribunal híbrido internacional para crimes de guerra e contra a humanidade põe em perigo o frágil processo de paz em curso no país.

Os dois líderes envolveram-se numa guerra civil desde dezembro de 2013 e assinaram em agosto de 2015 um acordo de paz que prevê a criação de um tribunal híbrido internacional para julgar os criminosos do conflito armado caracterizado por atrocidades medonhas de ambas as partes.

A guerra civil matou mais de 50 mil pessoas, deslocou 2,3 milhões, destruiu três cidades e arruinou o desenvolvimento insípido do país mais jovem do mundo.

«Para trazer o Sudão do Sul à unidade só pode haver uma rota realmente garantida: um processo organizado de paz e reconciliação com o apoio internacional» modelado nos da África do Sul e da Irlanda do Norte, escrevem.

Kiir e Machar formaram um governo transitório de unidade nacional em finais de abril para executarem o acordo de paz assinado nove meses antes e prevêem que a justiça descarrile o processo político.

«Em contraste com a reconciliação, a justiça disciplinadora – mesmo sob a lei internacional – desestabilizaria esforços para unir a nossa nação mantendo vivos a raiva e o ódio entre os povos do Sudão do Sul», prognosticam.

O presidente Kiir e o primeiro vice-presidente Machar podem estar a tentar esquivar-se às responsabilidades criminais da guerra sem uma palavra de remorso.

«Sabemos que isso significa que alguns sul-sudaneses culpados de crimes podem ser incluídos no governo, e que nunca venham a enfrentar a justiça numa sala de tribunal. Contudo, há precedentes recentes que demonstram que esta via é a garantia mais certa da estabilidade», dizem.

O painel de especialistas sobre o Sudão do Sul escreveu em janeiro numa carta ao Conselho de Segurança da ONU que «Kiir e Machar mantêm responsabilidade de comado pelas respectivas forças. […] Há uma evidência clara e convincente de que a maioria dos atos de violência cometidos durante a guerra, incluindo ataques a civis e violações da lei internacional humanitária e da lei dos direitos humanos foram dirigidas ou cometidas com o conhecimento de indivíduos seniores ao mais alto nível do Governo e dentro da oposição».

O relatório do Secretário-Geral da ONU sobre crianças e conflitos armados, publicado a 15 de maio, dedica 10 parágrafos ao Sudão do Sul e denuncia os crimes cometidos pelo exército (mais) e pelas forças rebeldes (menos) contra as crianças sobretudo nos estados de Unidade e Nilo Superior.

O relatório documenta 1051 incidentes que afectaram 28 788 crianças, incluindo o recrutamento de quase 2600 menores, sobretudo pelas forças do governo, a morte de 480 crianças e a mutilação de 128; 430 foram violadas e 1596 sequestradas.

Esta lista de horrores contra a infância é uma pequena amostra do inferno em que as pessoas vivem no Sudão do Sul à mercê de quem tem armas: tropas, forças rebeldes e forças de segurança, civis e militares.

A Human Rights Watch qualificou a proposta presidencial de «audaciosa» e considera que a reivindicação de que a justiça desestabiliza esforços de unidade nacional «é ultrapassada e falsa», recordando que as experiências da Serra Leoa, Jugoslávia e Chile provam o contrário.

«Enquanto contar a verdade tem um papel importante nos países a emergir do conflito, é complementar e não uma alternativa a uma investigação justa por um tribunal competente e prisão para os culpados. A justiça não só honra as vítimas mais do que os abusadores como envia um sinal forte de que as atrocidades já não são toleradas», diz o despacho da ONG norte-americana.

As vítimas, mortas e vivas, clamam por justiça. O processo de verdade e reconciliação é necessário, mas a responsabilização criminal também. Não se pode ignorar o sangue dos mortos que clama por reconhecimento.

Não será que Kiir e Machar, líderes da guerra civil, estarão a tentar fugir ao banco dos réus? Será que têm medo de partilhar a sorte de Hissàne Habré, o ex-ditador chadiano que foi condenado por um tribunal especial à prisão perpétua por crimes contra a humanidade e de guerra?

Será que têm os dois timoneiros vontade política para implementar o processo de verdade e reconciliação ou é uma mera cortina de fumo para encobrir os criminosos de guerra?

O Acordo Global de Paz, conhecido localmente como CPA, assinado entre o Governo de Cartum e os rebeldes do sul em 2005 previa um processo global de reconciliação e sanação, mas nada aconteceu durante os oito anos do período interino que levou à independência do Sudão do Sul. Havia demasiados esqueletos nos armários de todos…

É necessário parar com a impunidade que recompensa os varões da guerra no país mais jovem do mundo.

8 de junho de 2016

MATAR... NÃO CURA


Em Portugal discute-se o tema da eutanásia, como direito a morrer com dignidade e solução para o sofrimento. Para os cristãos, a vida é dom de Deus, tem um valor absoluto e deve ser acompanhada e protegida até ao fim.

A Assembleia da República recebeu a 26 de Abril uma petição a favor da despenalização da eutanásia assinada por mais de 8000 cidadãos.

Os deputados vão ter de legislar sobre o tema fracturante gerador de grandes paixões e discussões, porque a petição reuniu mais do dobro das 4000 assinaturas que a lei exige para ser apreciada em plenário da Assembleia da República.

Os organizadores dizem preferir que a proposta seja decidida pelos parlamentares em vez de ser submetida a referendo, embora estejam seguros que ganhariam o sufrágio.

O Partido Socialista, que não integrou a questão da eutanásia no programa eleitoral, diz que a discussão ainda está embrionária e não quer «soluções em cima do joelho» e pode travar uma decisão nesta legislatura.


Direito a morrer com dignidade

A iniciativa foi promovida pelo Movimento Cívico para a Despenalização da Morte Assistida, que publicou o Manifesto pelo «Direito a morrer com dignidade» no princípio de Fevereiro.

O texto, de dez parágrafos, defende a despenalização da morte assistida «como uma expressão concreta dos direitos individuais à autonomia, à liberdade religiosa e à liberdade de convicção e consciência, direitos inscritos na Constituição».

Define a morte assistida como «acto de, em resposta a um pedido do próprio – informado, consciente e reiterado – antecipar ou abreviar a morte de doentes em grande sofrimento e sem esperança de cura», um acto «compassivo e de beneficência» inserido no domínio dos direitos individuais «da autodeterminação da pessoa doente».

Pede ao Estado laico que se liberte de leis ancoradas em convicções religiosas e conclui: «É imperioso acabar com o sofrimento inútil e sem sentido, imposto em nome de convicções alheias. É urgente despenalizar e regulamentar a morte assistida.»

O manifesto foi subscrito por 112 individualidades da política e da cultura, conservadoras e progressistas.


A proposta da Igreja

O Conselho permanente da Comissão Episcopal Portuguesa publicou uma nota pastoral intitulada Eutanásia: o que está em jogo? Contributos para um diálogo sereno e humanizador com um anexo de 26 perguntas e respostas sobre a eutanásia.

O documento apresenta-se como um contributo para o debate sobre o suicídio assistido que os bispos desejam «sereno e humanizador» (n.º 1).

A nota define a eutanásia como «uma acção ou omissão que, por sua natureza e nas intenções, provoca a morte com o objectivo de eliminar o sofrimento» (n.º 2).

Equiparam-na a suicídio assistido, «o acto pelo qual não se causa directamente a morte de outrem, mas se presta auxílio para que essa pessoa ponha termo à sua própria vida» (n.º 2) que distinguem da renúncia à «obstinação terapêutica» – ou distanásia, a futilidade de cuidados médicos que adiam artificialmente a morte sem ganhos para o doente.

Os bispos sublinham que com a legalização da eutanásia «pretende-se que o mandamento de que nunca é lícito matar uma pessoa humana inocente (“Não matarás”) seja substituído por um outro, que só torna ilícito o acto de matar quando o visado quer viver» (n.º 3).

O documento reafirma a vida como dom de Deus (n.º 4), um direito indisponível e pressuposto de todos os direitos (n.º 5).

E notam: «O homicídio não deixa de ser homicídio por ser consentido pela vítima. A inviolabilidade da vida humana não cessa com o consentimento do seu titular» (n.º 5) nem se sabe nunca a vontade autêntica de uma pessoa que quer ser eutanasiada (n.º 6).

Os bispos recordam que «não se elimina o sofrimento com a morte: com a morte elimina-se a vida da pessoa que sofre» (n.º 9).

E explicam que «a eutanásia é uma forma fácil e ilusória de encarar o sofrimento, o qual só se enfrenta verdadeiramente através da medicina paliativa e do amor concreto para com quem sofre» (n.º 9).

Francisco dedica dois números da exortação apostólica A alegria do amor à eutanásia. Escreve no n.º 48: «A eutanásia e o suicídio assistido são graves ameaças para as famílias, em todo o mundo. A sua prática é legal em muitos Estados. A Igreja, ao mesmo tempo que se opõe firmemente a tais práticas, sente o dever de ajudar as famílias que cuidam dos seus membros idosos e doentes.»

No n.º 83 acrescenta: «A Igreja não só sente a urgência de afirmar o direito à morte natural, evitando o excesso terapêutico e a eutanásia, mas também rejeita firmemente a pena de morte.»


Biombo dos eufemismos

O manifesto pelo direito a morrer com dignidade pretende esconder o suicídio assistido ou o homicídio atrás de um biombo de eufemismos a começar pelo próprio significado de eutanásia: a palavra vem do grego e significa boa morte.

A iniciativa pede a legalização da morte assistida, mas – como notam os bispos – o que está em causa é o suicídio medicamente assistido de alguém que não quer sofrer mais.

Morte assistida é o agonizante estar confortável e rodeado pelos entes queridos que o acompanham com carinho na passagem para o Além.

O manifesto descreve a eutanásia como acto compassivo e de beneficência para os grandes sofredores terminais. Contudo, a compaixão é proximidade com os doentes, literalmente sofrer com eles e não ajudá-los a cometer suicídio.

Depois há o conceito enviesado do direito constitucional a morrer. A vida é um direito, mas a morte não é um direito: é o fim de todos. A própria Constituição é clara no artigo 24.º, que define no ponto 1 com todas as letras que «a vida humana é inviolável». A eutanásia é anticonstitucional porque é uma violação irreversível do direito à vida.

Finalmente, a eutanásia não resolve a questão fundamental do significado do sofrimento, uma realidade universal e transversal que juntamente com a morte não tem direito de cidadania na cultura dominante, ensoberbada pelo mito narcisista da eterna juventude.


Porta perigosa

A legalização da eutanásia em casos de sofrimento intolerável ou doença terminal é uma porta perigosa que uma vez aberta pode ser alargada a realidades muito diferentes das da proposta original como acontece em alguns países em que médicos assistem doentes depressivos a cometer suicídio.

Os bispos na nota pastoral dizem que a legalização da eutanásia e do suicídio assistido «tem graves implicações sociais» (n.º 10), sendo o meio mais fácil e barato de combate à doença e ao sofrimento. Pode mesmo servir de pressão sobre os doentes considerados a mais e um peso para a sociedade, sobretudo os mais pobres e vulneráveis.

Quatro notas finais: primeiro, em 1867, Portugal aboliu a pena capital, uma afirmação clara de que a morte não é resposta para a grande criminalidade. Hoje também não o é para as pessoas em grande sofrimento ou em estado terminal.

Segundo, a eutanásia não é nome de analgésico novo: não mata a dor, mata o dorido.

Terceiro, a cultura contemporânea tem de repensar o sofrimento e integrá-lo como parte integrante do viver e não matá-lo.

Quarto, o que os pacientes portugueses precisam é de acesso universal aos cuidados paliativos, porque nesta forma de assistência o País encontra-se na cauda da Europa.

3 de junho de 2016

BOM PASTOR DO CORAÇÃO TRESPASSADO



Os combonianos têm uma espiritualidade apostólica para a missão que é própria e específica, condensada no ícone do Bom Pastor do Coração Trespassado. Não se trata de uma devoção, mas é participação da experiência da vida do pai e fundador, São Daniel Comboni, inspirado nos temas do pastor bom e belo (João 10) e do peito aberto pela lança (João 19, 31-36).

Comboni escreveu a 15 de Fevereiro de 1879, 32 meses antes de morrer, na Relação à Sociedade de Colonia, na Alemanha: «O Sagrado Coração de Jesus palpitou também pelos povos negros da África Central e Jesus Cristo morreu igualmente pelos Africanos. Jesus Cristo, o Bom Pastor, acolherá também a África Central dentro do seu redil» (Escritos 5647).

Depois explica que o ícone tem consequências práticas para os seus filhos: «O missionário apostólico não pode percorrer senão o caminho da cruz do divino Mestre, semeada de espinhos e fadigas de todo o género. […] Portanto, o verdadeiro apóstolo não deve ter medo de nenhuma dificuldade, nem sequer da morte. A cruz e o martírio são o seu triunfo» (idem).

O Bom Pastor do Coração Trespassado encarna e expressa a vivência e experiência cristológicas do missionário comboniano. Os Documentos Capitulares 2015 sublinham três pontos importantes relacionados com esta maneira de rezar, viver e ser missão:

1. «Nós somos discípulos de Jesus, chamados a realizar o seu projecto. Característica do discípulo é o encontro pessoal com o Bom Pastor e a escuta da sua voz, saboreando o seu amor e caminhando atrás d’Ele (João 10, 1-21). Jesus chama-nos a viver e a promover vida plena para todos, conscientes de que trabalhamos num mundo em que forças poderosas levam por diante um plano de morte e destruição» (n.º 2);

2. «Nós, combonianos, recebemos uma rica herança espiritual com a qual nos identificamos: o Bom Pastor, sinal de uma vida livremente doada para que todos a recebam em plenitude; a cruz, de onde o coração aberto de Cristo nos convida a assumir o cuidado uns dos outros; a África, ícone da riqueza humana e cultural do mundo, mas também do clamor dos pobres evangelizados e evangelizadores» (n.º 3);

3. «A visão cristã de pessoa como ser em relação, em contraposição com uma cultura individualista cada vez mais invasiva […] corresponde à espiritualidade comboniana do Bom Pastor que nos coloca na atitude de saída em direcção ao outro e se torna fonte da nossa alegria. Para viver este impulso é necessário manter os olhos fixos em Jesus Cristo que nos introduz na contemplação do mistério de Deus mas também no mistério do homem, onde o encontramos presente na sua riqueza e diversidade» (n.ºs 27 e 28)

Estes três pontos são um comentário carismático dos capitulares às leituras que a liturgia nos propõe para a solenidade do Sagrado Coração de Jesus, titular do Instituto.

Em Ezequiel 34, 11-16, o Senhor Deus revela-se como o pastor que cuida das ovelhas tresmalhadas: sai, vai procurá-las para as conduzir à terra que é delas para se nutrirem e repousarem. Uma imagem forte de ternura e dedicação.

«Hei-de procurar a ovelha que anda perdida e reconduzirei a que anda tresmalhada. Tratarei a que estiver ferida, darei vigor à que andar enfraquecida e velarei pela gorda e vigorosa», (Ezequiel 34, 16) diz o Senhor Deus.

Paulo, escrevendo aos Romanos (5, 5b-11), recorda-nos que «o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado.»

Finalmente, no evangelho escutamos uma das três parábolas da misericórdia que fazem o capítulo 15 do evangelho segundo São Lucas.

Os versículos 3 a 7 falam de uma ovelha que se perdeu – uma ovelha entre 100 – e de um pastor que deixa as outras 99 no deserto e vai à sua procura até a encontrar. Uma atitude diferente da cultura estatística dominante em o que conta são os números e não as pessoas!

E o que lhe faz quando a encontra? Põe-na alegremente aos ombros e ao chegar a casa convoca os amigos para a festa da alegria: «Alegrai-vos comigo, porque encontrei a minha ovelha perdida» (versículo 6b).

Há uma canção de alegria intensa e imensa na banda sonora das parábolas da misericórdia de Deus!

A figura do pastor com a ovelha às costas é um dos símbolos protocristãos mais comuns desde o século II. Está esculpido em lápides funerárias, túmulos e estátuas – algumas delas nos Museus do Vaticano, e pintado em frescos nas catacumbas romanas, nomeadamente nas de São Calisto e de Priscila.

O Bom Pastor do Coração Trespassado fala de cuidado, de serviço, de vida, de amor, de alegria, de saída. O coração aberto do Senhor é manancial de vida, olho de água e sangue, espaço permanente de acolhimento e repouso onde há lugar para todos.

Contemplando o coração escancarado de Jesus, celebramos o amor de Deus por nós, o amor que está em nós, o amor que nasce de nós. É missão nossa cumprir esse amor no cuidado e na cura de todos, a começar pelos da casa! Somos chamados a dar o peito não às balas – uma imagem machista e violenta – mas ao abraço e à ternura, ao encontro.

Hoje como ontem Jesus repete: «Vinde a mim todos os que estais cansados de carregar o peso do vosso fardo e Eu vos darei descanso. Carregai a minha carga e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para as vossas vidas» (Mateus 11, 28-29).

O Papa Francisco recordou-o aos Capitulares Combonianos na audiência memorável de 1 de outubro de 2015: «Como consagrados a Deus para a missão, estais chamados a imitar Jesus misericordioso e manso, para viver o vosso serviço com coração humilde, ocupando-vos dos mais abandonados do nosso tempo.»

E prosseguiu: «Não cesseis de pedir ao Sagrado Coração a mansidão que, sendo filha da caridade, é paciente, tudo desculpa, tudo espera, tudo suporta. […] Daquele Coração, aprende-se a mansidão necessária para enfrentar a acção apostólica também em contextos difíceis e hostis.»

Numa sociedade agressiva e paranóica, a espiritualidade do Coração Trespassado do Bom Pastor propõe-nos a humildade, a mansidão e a misericórdia como virtudes apostólicas e sinais que testemunham a presença do Reino de Deus entre nós.

O Papa rematou com um anseio que é um desafio: «Que da contemplação do Coração ferido de Jesus se possa renovar sempre em vós a paixão pelos homens do nosso tempo, que se exprime com amor gratuito no compromisso de solidariedade, sobretudo para com os mais débeis e necessitados. Assim podereis continuar a promover a justiça e a paz, o respeito e a dignidade de cada pessoa».

A 15 de junho, faz 50 anos que a comunidade comboniana de Lisboa foi dedicada ao Coração de Jesus. Com esta celebração queremos fazer realmente eucaristia: queremos dizer um bem-haja ao Senhor da Missão pela sua presença amorosa e constante entre nós, incarnada nos missionários, amigos, benfeitores e colaboradores.

A Dona Rosalina também expressa a presença amorosa de Jesus entre nós há 50 anos, em Outubro: uma verdadeira mãe dedicada e escondida para todos. Para ela o nosso reconhecimento agradecido!

Jesus manso e humilde de coração, fazei o nosso coração, semelhante ao Vosso.

Assim seja!

2 de junho de 2016

BENDITA MANDIOCA

A mandioca passou de comida dos escravos à cultura do século XXI.

A mandioca é uma planta tuberosa que cresce na região amazónica há séculos. Os Portugueses levaram-na para África, para a bacia do Congo, no século XVI, para alimentar os escravos durante a viagem para as Américas. Hoje, os agricultores africanos cultivam cerca de mil variedades da planta e fornecem mais de metade da produção mundial do tubérculo.

Apesar de ser uma planta tropical, nada tinha de glamoroso: era menorizada como recurso dos pobres em tempo de carestia. Hoje, é o alimento-base para mais de 500 milhões de africanos, a principal fonte de calorias para 40 por cento do continente, e uma fonte de riqueza importante por ser uma alternativa barata aos cereais.

A mandioca tem a seu favor três factores: dá-se bem em qualquer tipo de solo, resiste com facilidade à seca e necessita de pouca mão-de-obra. Fica pronta para colher em menos de um ano, mas pode ficar na terra até três sem se estragar. E usa-se toda: os tubérculos, ricos em hidratos de carbono, podem ser comidos verdes (tostados, cozidos, ou fritos – a mandioca às rodelas ou em palitos faz concorrência à batata frita) e secos (sobretudo em farinha, a famosa farinha-de-pau da minha infância). Das folhas, ricas em proteínas, vitaminas e minerais, faz-se um óptimo esparregado. As folhas podres servem de nutrientes para o solo. As hastes do caule, cortadas em troços, são espetadas ou enterradas no chão para começar nova plantação.

A mandioca tem uso industrial na produção de amido para a farmacêutica e alimentação; é também usada em rações para gado e na produção de papel, têxteis e de combustíveis verdes pela extracção de etanol.

A planta cultiva-se em cerca de 40 países na faixa entre Cabo Verde e Madagáscar. A Nigéria, a República Democrática do Congo e a Tanzânia asseguram juntas 70 por cento da produção africana que é usada quase só na alimentação humana. A Nigéria destronou o Brasil como primeiro produtor mundial de mandioca e o sector dá emprego a quatro milhões de nigerianos.

Por outro lado, a mandioca está mais vocacionada para sobreviver ao aquecimento global que o feijão, a banana e o sorgo, podendo mesmo aumentar a sua produção até 10 por cento com o calor.

Alguns senãos: a raiz e as folhas da mandioca – sobretudo algumas variedades – geram cianeto, um veneno letal, e têm de ser processadas com cuidado por meio da secagem ou cozedura lenta. Depois, a planta é muito sensível a pestes e pragas, mas os técnicos estão a trabalhar em variedades mais resistentes, produtivas e ricas em nutrientes. Os pequenos produtores têm de aprender técnicas de secagem, processamento e armazenamento, porque o tubérculo estraga-se facilmente fora da terra. Por fim, a produção da mandioca está, sobretudo, a cargo das mulheres. Mas a produção industrial e a mecanização do sector estão a resolver o problema.

Contas feitas, a mandioca tem um papel muito importante na segurança alimentar e no combate à pobreza em África. Zerubabel Mijumbi Nyiira, ex-ministro da Agricultura ugandês, disse-o à IRIN: «A cultura pode funcionar como transformador social e económico.»

1 de junho de 2016

MISSIONÁRIAS FICAM NOS MONTES NUBA APESAR DA GUERRA


Três missionárias combonianas escolheram ficar nos Montes Nuba, no sul do Sudão, apesar dos riscos de um ataque maciço iminente das forças do Governo ao condado de Heiban controlado pelos rebeldes.

A Agência de Auxílio e Reabilitação do Sudão, o braço humanitária dos rebeldes do SPLM-N que controlam os Montes Nuba e a área do Nilo Azul, escreveu a todos os estrangeiros para abandonarem a região até 1 de junho dada a eminência de um ataque maciço das forças de Cartum.

A força aérea bombardeou uma escola primária católica em Kauda a 25 de maio. Uma professora queniana ficou ferida no ataque.

A Troika (Estados Unidos, Reino Unido e Noroega) condenou o ataque e pediu às partes para pararem com a violência e permitirem o acesso de agentes humanitários na área.

As três irmãs combonianas da comunidade de Gidel, cidadãs do Uganda, México e dos Montes Nuba, decidiram ficar com a população e refugiar-se nas cavernas rochosas das montanhas juntamente com um médico americano que dirige o hospital católico local.

A superiora da comunidade escreveu que o pároco as aconselhou a viajarem para o campo de refugiados de Yida, no Sudão do Sul.

Depois de um discernimento comunitário, as missionárias decidiram ficar.

«Temos que deixar as pessoas quando a situação está assim ou permanecemos com elas durante este tempo doloroso», a superiora explicou à provincial numa mensagem electrónica.

«Não fizemos esta escolha apoiadas na nossa própria força. Confiámos-nos ao Senhor colocando toda a nossa confiança nele. Isto não quer dizer que não temos medo. Nós temos e a situação está má», revelou.

«Hoje foi muito mau. Permanecemos quase toda a manhã nas trincheiras. Três jatos MIG falharam o H mas lançaram quatro pedras. Agradecemos a Deus porque estamos ainda vivas», escreveu em código.

H representa o Hospital Mãe de Misericórdia e as pedras bombas.

Contou que no dia 28 as irmãs tinham feito a despedida a uma missionária que a partir deste mês pertence à província dos Estados Unidos. 

Mas ela decidiu permanecer em Gidel e não viajou para o Sudão do Sul a 1 de junho como estava previsto.

A provincial deixou uma nota de esperança na sua mensagem: «Eventualmente os Nuba vão acompanhar as irmãs para as cavernas nas montanhas onde sobreviveram outra ataque gigante de Cartum. Estarão seguros nas cavernas, mas as condições são muito difíceis no que diz respeito à água e comida.»

Lamentou que quanto mais rezam pela paz e pela ajuda de Deus, com mais força o Diabo trabalha.

«Rezemos pelo povo nuba e pelo fim desta guerra sem sentido com o sofrimento consequente para o povo», terminou.

Nuba Reportes contabilizou 4082 bombas lançadas pelo Governo sobre alvos civis nos Montes Nuba desde Abril de 2012, altura em que a guerra civil recomeçou na região.