31 de março de 2008

MUÇULMANOS

© JVieira

Os Muçulmanos ultrapassaram pela primeira vez os católicos em termos de aderentes e são agora o grupo religioso mais numeroso do mundo.
Os Muçulmanos representam 19,2 por cento da população mundial enquanto os Católicos se quedam pelos 17,4 por cento fazendo fé nas estatísticas do Anuário Católico publicado nestes dias. Os números referem-se a 2006.
«Pela primeira vez na história, não deixamos de estar no topo: os Muçulmanos ultrapassaram-nos», disse Monsenhor Vittorio Fromente, editor do Anuário Católico.
Contudo, as estatísticas publicadas pelo Vaticano indicam que os Cristãos no seu conjunto – Católicos, Protestantes e Ortodoxos – representam 33 por cento da população mundial.

28 de março de 2008

CAMPO VOCACIONAL

© JVieira

Cerca de 70 jovens estão a participar num campo vocacional organizado pelos oito institutos religiosos presentes em Juba em colaboração com o clero local.
Os participantes, mais rapazes que raparigas, vêm das paróquias de Juba e arredores.
O encontro decorre na paróquia de Gumbu, a 14 quilómetros de Juba, na outra margem do Nilo Branco.
O campo vocacional começou na terça-feira e termina no domingo. Os participantes estão a reflectir sobre a vocação em geral, sobre o sacerdócio e sobre os carismas dos diferentes institutos presentes em Juba para projectarem o próprio futuro.
Oração, palestras, desporto, vídeos e convívio são actividades do programa diário que os jovens seguem.
Na quinta-feira feira fui visitá-los – a manhã foi dedicada ao carisma comboniano – e fiquei encantado com o clima de alegria, camaradagem e empenho que encontrei.

Apesar de a chuva estar a dificultar as coisas.
Os salesianos estão a recuperar a paróquia de Gumbu, mas as instalações ainda são bastante precárias.
Os jovens estão alojados em algumas construções rudimentares que servem de escola, igreja e sala de reuniões.
A população abandonou a aldeia devido aos ataques dos rebeldes do Norte do Uganda e só agora é que estão a voltar a casa.
A paz entre o LRA (Exército de Resistência do Senhor) e o governo ugandês vai ser assinada a 5 de Abril em Juba pondo termo a mais de 20 anos de guerra, morte e destruição.

25 de março de 2008

PIQUENIQUE


Na Segunda-feira de Páscoa as duas comunidades combonianas de Juba organizaram um piquenique para celebrar a ressurreição do Senhor como comunidade apostólica.
O lugar escolhido foi Kwarejik, uma paróquia iniciada pelos Combonianos nos anos 50. Hoje é servida pelo clero local.
Kwarejik fica a uns 20 quilómetros de Juba, por detrás do aeroporto, e é famosa pelas suas frondosas mangueiras.
Foi debaixo de algumas dessas árvores que celebrámos a missa e depois comemos frango no churrasco regado por cerveja turca com informação em português. A globalização em acto!
Alguns locais, sobretudo crianças e jovens, passavam e paravam a ver-nos a comer e a conviver. E receberam rebuçados (alawa), a maneira tradicional de marcar a Páscoa e outras datas importantes.
As celebrações pascais em Juba foram intensas.
Na Quinta-feira Santa fizemos uma vigília de adoração na capela da Casa Comboni. Rezámos o tema «A Luta» durante duas horas, com cânticos, reflexões e silêncios acompanhando Jesus no Getsémani.
A celebração da Paixão do Senhor, na Sexta-feira Santa, levou mais de duas horas e meia. Só a adoração da Cruz durou 75 minutos.
A vigília pascal – que começou antes do sol se pôr – prolongou-se por mais de três horas e juntou mais de dois milhares de católicos em missa campal. O presidente da celebração fez uma homilia de quase meia hora, isto depois de termos escutado as oito leituras proclamadas em inglês, árabe e bari.
No Domingo de Páscoa presidi à eucaristia na Igreja de São José Operário, a terceira vez que me convidaram como celebrante principal desde que cheguei a Juba há 15 meses.
É a comunidade católica mais pequena de Juba. Os fiéis foram deslocados de Liria, a uns 60 quilómetros a sul de Juba, durante a guerra civil.

23 de março de 2008

PÁSCOA | EASTER

Páscoa!
Passagem. Peregrinação. Paz. Primavera.
Imagens e sentimentos que a celebração do Mistério Pascal de Jesus evoca no meu coração.
Cada ano fazemos memória do mistério central da nossa fé.
E somos convidados a participar da ressurreição do Senhor acolhendo a Paz que Ele oferece a todos.
A paz do Ressuscitado é o dom maior que Ele nos faz. Integração e harmonia.
Paz nos nossos corações, Paz em Juba, Paz no Sul do Sudão, Paz no Darfur, Paz onde a guerra continua a matar.
Uma Santa Páscoa na Paz de Jesus Ressuscitado!

Easter!
Passover. Pilgrimage. Peace. New beginning.
Images and feelings that my heart recalls through the celebration of Jesus Paschal Mystery.
Every year we make memory of the central mystery of our faith.
And we are invited to partake in Jesus’ Resurrection welcoming his Peace.
The Peace of the Risen One is the biggest gift He offers us.
Integration, wholeness, harmony.
Peace in our hearts, Peace in Juba, Peace in Southern Sudan, Peace in Darfur, Peace where war keeps on killing.
A holy Easter in the Peace of the Risen One!

21 de março de 2008

PONTE

© Cylia Sierra Salcido

As obras de substituição da ponte de Juba finalmente começaram.
Em Dezembro de 2006 uma faixa de rodagem sobre o Nilo Branco ruiu parcialmente sob o peso de um camião carregado de cimento. Felizmente não houve vítimas a lamentar.
Desde então só se circula por um canal sobre o rio. Às vezes as coisas complicam-se como num domingo em que todos os que estávamos a atravessar a ponte tivemos que fazer marcha atrás porque um comandante do exército do Sul do Sudão decidiu que não podia esperar a vez para entrar na cidade. O tabuleiro é muito estreito e os camionistas viram-se à nora para recuar!
A ponte já tem mais de 25 anos. Por isso, o Governo do Sul do Sudão encomendou um novo tabuleiro em metal para substituir a velha travessia. Os contentores com as partes da ponte estiveram retidos no porto de Mombaça, Quénia, durante bastantes meses porque o Governo não pagava a encomenda.
As obras começaram há algum tempo e estão a decorrer a bom ritmo.
A ponte de Juba é de importância vital para o abastecimento da cidade, sendo a única travessia sobre o Nilo Branco em centenas de quilómetros.

16 de março de 2008

DARFUR

O presidente do Sudão, Omar al Bashir disse em entrevista por um jornal dos Emirados Árabes Unidos que a crise do Darfur é fabricada.
Al Bashir disse que o que está por detrás da crise do Darfur são novas jazidas de petróleo e urânio.
O presidente sudanês acusou o Oeste de tentar controlar o crude do país como parte da estratégia para controlar o mundo.
As mais de 200 mil vítimas do conflito e os milhões de deslocados decerto que não partilham da mesma opinião.

14 de março de 2008

SONHO

Naquela tarde de meados de Março, o panorama da praça El Maulid, na cidade de Nyala, no Sul do Darfur, era de uma tristeza indizível.
Eu e outros sobreviventes da cruel batalha que aconteceu em pleno dia, procurávamos reconhecer e identificar familiares e amigos – os nossos mortos.
Vagueava, sem rumo, entre os corpos naquele campo de sangue. Para mim, tudo se tinha tornado indiferente. A maior das preciosidades perdera o seu valor e a vida tinha o mesmo rosto da morte. Confuso e semiconsciente, nem saberia dizer o nome das pessoas amadas que procurava naquele lugar hediondo.
Sem saber porquê, encontro-me de joelhos perante aquele corpo esfacelado e de rosto irreconhecivel. Uma bomba tinha-lhe feito o coração nos pedaços que marcavam de sangue o chão e alguns corpos à volta.
Homens, mulheres e crianças deambulavam, em marcha fúnebre, por toda a praça. Chegavam perto de nós e quedavam-se a olhar com ar de mistério e reverência, como que a confirmar algo de que eu próprio não tinha a certeza.

Deles ia ouvindo palavras de consolação por aquele morto.
Para aquela gente não havia dúvida que o corpo que jazia ali junto a mim naquele chão ensopado de sangue, era meu pai, meu irmão, minha mãe, minha filha...
Palavras que eu não corregi, aceitando-as como uma verdade que não soube negar.
Quem foi o autor deste massacre? A malvadez dos janjauids, especialmente em extremos de loucura e raiva, não deixava dúvida a ninguém. Mas onde estavam os capacetes azuis, as forças de manutenção de paz do Darfur?
«São poucos e não podem acudir a tudo» – era, entre lágrimas, a resposta resignada de alguns.

Outros, porém, já sem lágrimas para chorar, engrossavam o caudal das suas vozes em protestos de raiva que queriam chegasse às presidências do governo do Sudão em Cartum e da Organização das Nações unidas em Nova Iorque.
Uma rajada de metralhadora colou, num gesto instantâneo e automático, os nossos corpos ao chão. Foram minutos longos como as horas, onde os vivos se juntaram aos mortos. Não se viu um movimento nem se ouviu um ai, não fosse de novo soltar-se o gatilho da arma fatal e vigilante do inimigo. Quem se levantaria ainda vivo?


De um salto, fiquei sentado na cama. Enxuguei o corpo, ainda não convencido que era mesmo suor ou sangue. Felizmente, não passou de um sonho.

Feliz da Costa Martins
Missionário Combonianoem Nyala (Darfur)

9 de março de 2008

HORA H

O Sudão prepara-se para a Hora H do processo de paz: o 5º Recenseamento da População, marcado para a noite de 14 para 15 de Abril. A cotagem dos habitantes de todo o Sudão decorrerá entre 15 e 30 de Abril.
O recenseamento é a pedra de toque do Tratado Global de Paz, assinado em 2005 pelo Governo e os rebeldes do Sul depois de uma guerra civil de mais de 20 anos.
Determina a partilha do poder e das riquezas entre o norte e o sul. Determina os círculos e cadernos eleitorais para as eleições gerais marcadas para 2009 e para o referendo de 2011. Determina o orçamento geral do Estado.
O acordo de paz estipula que o recenseamento devia ser feito até 9 de Julho de 2007. Mas tem sido repetidamente adiado. Contudo, espera-se que a última data decretada pelo Presidente Omar al Bashir seja final.
Mas primeiro, há que demarcar a fronteira que dividia o norte do sul a 1 de Janeiro de 1956, altura da independência do país. E definir o estatuto de Abyei, uma região especial rica em petróleo.
Por outro lado, o Sul tem experimentado alguma insegurança crescente à medida que o dia 15 de Abril se aproxima.
Houve ataques a civis nos estados de Central e Western Equatoria com algumas vítimas mortais. Foram atribuídos a rebeldes do LRA, o grupo que durante 20 anos combateu no norte do Uganda e que se prepara para assinar a paz com o Governo em Juba sob a mediação do vice-presidente do Sul do Sudão.
Testemunhas garantem que os guerrilheiros são abastecidos por helicópteros ao entardecer. Milícias usadas e abastecidas por Cartum para criar insegurança e terror no Sul? É uma hipótese viável
.
Entretanto, desde o Natal que na zona de Abyei a tribo nómada de pastores Misseriya continua a travar violentos combates com o SPLA, o exército do Sul do Sudão.

Os Misseriyas são árabes do Norte que durante a estação seca trazem o gado para as pastagens do Sul. Este ano apresentaram-se com metralhadoras pesadas montadas em «pick-ups» e sistemas de comunicação sofisticados. Os recontros sucedem-se ao longo do rio Kiir. No último fim-de-semana mais de 60 árabes foram mortos.
Alguns políticos do Sul dizem que os pastores usam o mesmo tipo de armamento que o exército sudanês e que estes os usam para tentarem puxar a fronteira mais a sul e ficar com a maior parte dos poços de petróleo no norte.
Há ainda a notar que a secção de finanças da sede da Comissão de Recenseamento do Sul do Sudão ardeu duas vezes em menos de um ano. Causa? Curto-circuito. O resultado do inquérito do primeiro incêndio ainda não é conhecido. Coincidência ou sabotagem? Vá-se lá saber!
Finalmente, a Comissão de Recenseamento do Sul do Sudão acusa o governo nacional de não libertar as verbas necessárias para poder realizar o exercício tentando asfixiar a sua operacionalidade. O presidente da Comissão disse na sexta-feira que está à espera de 7,2 milhões de dólares que foram prometidos mais 4,5 milhões para cobrir o deficit.
O recenseamento vai ser feito por 14 mil enumeradores só no Sul.
Uma coisa é certa, quanto mais o Sudão se aproxima do dia 15 de Abril, mais violência e insegurança são esperadas.
Porque os árabes não vão facilmente abrir mão do petróleo do Sul que está por detrás do «boom» económico que Cartum tem vivido nos últimos anos. E se o Sul do Sudão não tiver pelo menos um terço da população do país perde direito a metade dos proveitos do crude extraído na região.
Se a data não for respeitada, entretanto chegam as chuvas e a contagem terá de ser adiada para finais de 2008 ou princípio de 2009, altura em que muitas partes do Sul do Sudão deixam de ficar isoladas do resto do país.

5 de março de 2008

VIRGIN BIRTH

© JVieira

The perennial paradox
Peculiar to this Father and Son
Specialists in confounding
Human wisdom withdrawn from wonder.
A virgin gives birth
Not to sterility but
To a Messiah.

Now what has virginity to do with giving birth?
Nothing!
When wisdom wastes words wandering
towards the truth that will not set you free.

Virginity and inconsummation
incomplete heart and flesh
wrestling with a God who has no flesh
and who won’t let flesh
meet flesh
Aches, waiting completeness
To stave off sterility
Truly the unforgivable sin against
The spirit of life which is holy.

But sterility becomes pregnant
with yearning
for the spirit that sleeps
with God in the night
and impregnates with messianic spirit
those patient enough to yearn
and sweat lonely tears
rather than ruin gift
with impatience.

Only virgin’s wombs bring forth messiahs
They alone live in advent
waiting, a delaying bridegroom
late, hopelessly, beyond the 11th hour.
Still, the virgin’s womb waits
Refusing all counterfeit lovers and
all impatience
which demands
flesh on flesh and
a divine kingdom on human terms.

Messiahs are only born
in virginity’s space
within virginity’s patience
which lets
God be God
and
love be gift.


Ronald Rolheiser em «Forgotten among the Lilies»

3 de março de 2008

NOTÍCIAS AO CAFÉ

Paul Jimbo lê as notícias com Olet Cris a controlar a emissão © JVieira

A Rádio Bakhita deu hoje mais um passo com o primeiro boletim matutino de notícias.
O noticiário é preparado e lido pelo jornalista Paul Jimbo e vai para o ar em directo às 9h00.
A primeira edição correu bem, embora necessite de algumas afinações: introdução de um separador acústico entre as notícias e uma base musical para dar «cor» ao espaço informativo. O boletim é «confeccionado» com as notícias produzidas pela redacção de Bakhita no dia anterior e por despachos de agências e dos jornais electrónicos do dia.
O próximo passo será a introdução do serviço árabe de notícias. Já esteve no ar mas por duas vezes os tradutores-locutores desapareceram de circulação e a experiência teve que ser descontinuada!