O Sudão prepara-se para a Hora H do processo de paz: o 5º Recenseamento da População, marcado para a noite de 14 para 15 de Abril. A cotagem dos habitantes de todo o Sudão decorrerá entre 15 e 30 de Abril.
O recenseamento é a pedra de toque do Tratado Global de Paz, assinado em 2005 pelo Governo e os rebeldes do Sul depois de uma guerra civil de mais de 20 anos.
Determina a partilha do poder e das riquezas entre o norte e o sul. Determina os círculos e cadernos eleitorais para as eleições gerais marcadas para 2009 e para o referendo de 2011. Determina o orçamento geral do Estado.
O acordo de paz estipula que o recenseamento devia ser feito até 9 de Julho de 2007. Mas tem sido repetidamente adiado. Contudo, espera-se que a última data decretada pelo Presidente Omar al Bashir seja final.
Mas primeiro, há que demarcar a fronteira que dividia o norte do sul a 1 de Janeiro de 1956, altura da independência do país. E definir o estatuto de Abyei, uma região especial rica em petróleo.
Por outro lado, o Sul tem experimentado alguma insegurança crescente à medida que o dia 15 de Abril se aproxima.
Houve ataques a civis nos estados de Central e Western Equatoria com algumas vítimas mortais. Foram atribuídos a rebeldes do LRA, o grupo que durante 20 anos combateu no norte do Uganda e que se prepara para assinar a paz com o Governo em Juba sob a mediação do vice-presidente do Sul do Sudão.
Testemunhas garantem que os guerrilheiros são abastecidos por helicópteros ao entardecer. Milícias usadas e abastecidas por Cartum para criar insegurança e terror no Sul? É uma hipótese viável.
Entretanto, desde o Natal que na zona de Abyei a tribo nómada de pastores Misseriya continua a travar violentos combates com o SPLA, o exército do Sul do Sudão.
Os Misseriyas são árabes do Norte que durante a estação seca trazem o gado para as pastagens do Sul. Este ano apresentaram-se com metralhadoras pesadas montadas em «pick-ups» e sistemas de comunicação sofisticados. Os recontros sucedem-se ao longo do rio Kiir. No último fim-de-semana mais de 60 árabes foram mortos.
Alguns políticos do Sul dizem que os pastores usam o mesmo tipo de armamento que o exército sudanês e que estes os usam para tentarem puxar a fronteira mais a sul e ficar com a maior parte dos poços de petróleo no norte.
Há ainda a notar que a secção de finanças da sede da Comissão de Recenseamento do Sul do Sudão ardeu duas vezes em menos de um ano. Causa? Curto-circuito. O resultado do inquérito do primeiro incêndio ainda não é conhecido. Coincidência ou sabotagem? Vá-se lá saber!
Finalmente, a Comissão de Recenseamento do Sul do Sudão acusa o governo nacional de não libertar as verbas necessárias para poder realizar o exercício tentando asfixiar a sua operacionalidade. O presidente da Comissão disse na sexta-feira que está à espera de 7,2 milhões de dólares que foram prometidos mais 4,5 milhões para cobrir o deficit.
O recenseamento vai ser feito por 14 mil enumeradores só no Sul.
Uma coisa é certa, quanto mais o Sudão se aproxima do dia 15 de Abril, mais violência e insegurança são esperadas.
Porque os árabes não vão facilmente abrir mão do petróleo do Sul que está por detrás do «boom» económico que Cartum tem vivido nos últimos anos. E se o Sul do Sudão não tiver pelo menos um terço da população do país perde direito a metade dos proveitos do crude extraído na região.
Se a data não for respeitada, entretanto chegam as chuvas e a contagem terá de ser adiada para finais de 2008 ou princípio de 2009, altura em que muitas partes do Sul do Sudão deixam de ficar isoladas do resto do país.
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