30 de janeiro de 2011

RESULTADOS FINAIS


Os resultados finais do Referendo do Sul do Sudão foram anunciados hoje em Juba com pompa e circunstância. Nas mais de 2600 mesas de voto espalhadas pelo sul do país, quase 3.7 milhões votaram pela separação enquanto cerca de 16 mil escolheram a união. Em termos percentuais, a separação recebeu 99,57 por cento dos votes e a união 0,43 por cento. Se juntarmos os votos do Norte do Sudão e dos oito países da diáspora sulista a média baixa para 98,83 por cento para a separação e os votos pela unidade sobem para 1,17 por cento.
Os próximos passos são a proclamação oficial final dos resultados – hoje os totais foram separados: sul por um lado e norte e diáspora pelo outro – no sábado ou se houver contestação a 14 de Fevereiro.
Entretanto, os partidos que governam o Norte e o Sul têm que terminar as negociações sobre Abyeai, as fronteiras, a cidadania, e a partilha dos recursos naturais e da dívida externa.
O Presidente Salva Kiir Mayardit prometeu que estes assuntos quentes estarão resolvidos antes da independência, a 9 de Julho.
Claro que o NCP – o partido do Norte – já fala em adiar essa data até todos os acordos pós-referendo estiverem prontos, mas não acredito que o SPLM vá na cantiga.
Entretanto, uma comissão técnica formada por políticos, juízes e advogados, já está a elaborar uma proposta de Constituição para o novo país. A sociedade civil e as igrejas também gostariam de fazer parte do processo.

21 de janeiro de 2011

RESULTADOS

Com mais de metade dos resultados dos dez estados do Sul do Sudão, anunciados, a comissão do referendo continua a juntar os dados que lhe vão chegando e a separação vai registar uma vitória arrasadora.
Com 83,4 por cento dos votos contados no Sul, mais o norte e o estrangeiro, 98,6 por cento votaram na secessão.
Em termos numéricos, às 18h00 horas de hoje os votos de 3.197.038 eleitores tinham sido contabilizados e só 1.4 por cento é que escolheram a separação.
Mesmo no Norte do Sudão, com a contagem completa, 57,6 escolheram a independência contra 42,4 que querem a unidade.
O resultado mais surpreendente foi o dos sulistas a viverem no Darfur: 55 por cento escolheram a unidade.
No Condado de Lafon, na Equatória Oriental, o voto foi 100 por cento para a separação.
Os resultados podem ser seguidos no sítio preparado pela Comissão do Referendo do Sul do Sudão.

20 de janeiro de 2011

HOSPITAL COMBONI


© EValentini
O hospital da diocese de Wau, no Sul do Sudão, reabriu depois de mais de meio século nas mãos dos militares.

Os serviços de consulta externa do Hospital São Daniel Comboni de Wau abriram ontem ao público e em Fevereiro deve ser inaugura a primeira enfermaria de internamento com 25 camas.
O serviço oferece cuidados maternais e infantis, consultas e medicação, laboratório e ultra-som e tem três camas para urgências e prestação de primeiros socorros.
Uma equipa de Irmãs Missionárias Combonianas e Franciscanas Missionárias para a África andavam a tratar desde Setembro das licenças necessárias para abrir o hospital.
A comboniana Joyce Ajio, que dirige o serviço, disse que a preparação foi longa e difícil, mas o pessoal está pronto para dar o seu melhor para prestar um serviço de qualidade aos pacientes.
Há 19 técnicos locais, incluindo pessoal paramédico e de apoio, a trabalhar nas consultas externas.
A estrutura foi tirada pelo Governo à Igreja em 1957 e transformada em Hospital Militar até 2008, altura em que foi devolvida à Igreja depois de um longo processo de negociações.
Alguns edifícios ainda se encontram em recuperação e o hospital vai abrindo as valências conforme as instalações estiverem prontas.

18 de janeiro de 2011

CONTAGEM


© JVieira

O referendo entrou desde sábado à noite na fase da contagem. Cada mesa contou os votos, expôs os resultados ao público e enviou-os para o centro de recolha mais próximo que deveria ser o condado. O condado faz a soma de todas as mesas de voto e envia os resultados para a capital de estado. A capital de estado faz o mesmo e envia os resultados para o bureau do referendo em Juba. Este, depois de somar os votos todos do Sul, o que deve estar pronto no fim de Maio, envia o total do Sul do Sudão para Cartum, que soma os votos do norte com os do sul e da diáspora e publica o resultado final a 14 de Fevereiro.
Mas já se sabe que a separação vai ganhar. Falta saber a expressão da vitória.
No domingo, visitei as quatro mesas de voto junto ao túmulo de John Garang, que liderou a segunda guerra civil, e a contagem final era a seguinte: 12.289 inscritos e 11.441 votantes, uma percentagem de 93 por cento.
Quanto ao voto, 11.316 assinalaram o círculo da separação enquanto 88 preferiram a união. Em termos de percentagem, 98 por cento votaram pela separação enquanto que menos de um por cento são pela união.
O centro de voto John Garang era o maior e onde o presidente e muitos dos altos quadros do governo do Sul do Sudão votaram.

13 de janeiro de 2011

ANTENA


© JVieira

O Arcebispo de Durban, Cardeal Wilfred Napier, ontem de manhã benzeu a nova antena da Rádio Bakhita, assistido pelo Arcebispo Paolino Lukudu Loro de Juba.
O cardeal sul-africano esteve em Juba cinco dias como observador do referendo de autodeterminação que decorre até sábado.
A nova antena montada numa torre de 72 metros aumentou substancialmente a cobertura da primeira estação da Rede Católica de Rádios do Sudão – o sinal cobre um raio de mais de 100 quilómetros – e possibilitou o alargamento do horário de emissão da estação.
Desde 24 Dezembro de 2006 que a rádio tinha o transmissor e antena na torre da catedral de Juba, uma estrutura com 32 metros de altura que não deixava tirar partido total da capacidade do emissor além de onerar os gastos da emissão porque era preciso ter dois geradores a trabalhar para alimentar o estúdio e o transmissor, a cinco quilómetros de distância.
Agora com a estação, o transmissor e a antena no mesmo local, a Rádio Bakhita está no ar das seis da manhã até à meia-noite sem interrupção.
A nova antena e a respectiva torre juntamente com as instalações inauguradas em Agosto içam a Rádio Bakhita a um patamar mais alto de qualidade permitindo ao pessoal um espaçp de trabalho mais agradável que os dois contentores em que a rádio funcionou durante três anos.
Entretanto, tanto a Bakhita como algumas das outras estações e a própria rede tornaram-se em algumas das estrelas do sul do Sudão durante o referendo. A imprensa internacional mostrou-se surpreendida pela ousadia do projecto e pela sua qualidade. Televisões, rádios e jornais têm apresentado reportagens sobre a cadeia e algumas das duas estações.

11 de janeiro de 2011

REFERENDO





© JVieira
O referendo para a autodeterminação do povo do Sul do Sudão já vai a meio e tem decorrido em paz e tranquilidade, uma lição de civismo para quem esperava convulsões sociais graves.
No domingo, primeiro dia do voto, houve votantes que começaram a fazer fila à meia-noite para terem a certeza que seriam os primeiros a votar, novos e velhos.
O presidente do Sul do Sudão deu o pontapé de saída depositando o seu voto exactamente às oito da manhã perante jornalistas e pessoal diplomático do mundo inteiro. Salva Kiir Mayardit recordou emocionado os heróis e heroínas que tornaram o voto de auto-determinação possível.
Em Juba, o ambiente era de festa com filas enormes em todos os centros de voto. As pessoas esperavam religiosamente concentradas a vez de marcarem com o polegar o círculo da separação – pelo menos a grande maioria.
Houve gente que chorou ao colocar o voto na urna, outros dançaram e cantaram… Celebraram finalmente o direito de escolherem o futuro para a região depois de meio século de guerras e mais de cinco milhões de mortos.
Até agora não houve incidentes a registar. A imprensa internacional, ávida de estórias cruentas, foi rápida a ligar as mortes em Abyei dos confrontos entre Misseriyas e a polícia ao referendo, mas a bota não teve mesmo nada a ver com a perdigota.
Pelo contrário, as estórias que chegam são de vida e de celebração. Em Torit, uma grávida começou a ter dores de parto na fila para o voto e depois de votar levaram-na a correr para o hospital, mas a menina nasceu no carro.
Em Rumbek, um homem disse que tirou um peso do coração quando ontem à tarde conseguiu votar depois de dois dias a esperar na fila.
Em Tonj, um irmão salesiano pôde finalmente cortar o cabelo e fazer a barba porque tinha prometido aos alunos que só o faria depois de votar.
Em Yei, as mulheres bateram os homens no primeiro dia de voto na proporção de três para um.
Em Juba, os arcebispos católico e anglicano votaram juntos «observados» por mais cinco purpurados, incluindo um cardeal sul-africano.
Hoje, o chefe do Bureau do referendo Chan Reec Madut disse que nos primeiros dois dias cerca de um milhão tinham votado em 46 por cento das mesas de voto do Sul. Os resultados dos outros 54 por cento ainda não são conhecidos devido a problemas de comunicação. Mas pode-se dizer que mais de dois milhões já votaram e a marca da participação dos 60 por cento de eleitores inscritos que valida o resultado vai ser ultrapassada sem problemas.
Ontem acompanhei com mais sete jornalistas a chefe dos observadores europeus Veronique de Keiser a uma visita às mesas de voto em Rumbek e Wau, duas cidades-capitais. O Governador de Lakes queixou-se que os sete dias não iam chegar para as pessoas votarem, sobretudo quem andava com as manadas de gado em lugares distantes. Já o seu colega de Western Bahr el Ghazal estava mais entusiasmado. Ele disse que no primeiro dia cerca de 35 por cento dos inscritos já tinham votado e que amanhã a votação deveria estar concluída.
Hoje o patrão do referendo no Sul, o juiz Reec, louvou os votantes pelo civismo, pela paz e pela alegria com que votaram e anunciou que as mesas de voto ainda passar a estar abertas até às 18h00 – antes fechavam às 17h00. Mas a maioria dos centros de voto hoje já esteve praticamente às moscas depois do tsunami de votantes que inundou os centros de voto no domingo e na segunda.
O juiz Reec anunciou que conta ter os resultados finais do Sul do Sudão prontos a 31 de Janeiro. O resultado global deveria ser anunciado uma semana depois.

8 de janeiro de 2011

A POSTOS


Separação: falta 1 dia © JVieira

Os residentes do Sul do Sudão estão prontos para o referendo de autodeterminação. O voto começa amanhã e termina no sábado. Mais de 3,9 milhões de sulistas vão escolher entre a unidade e a separação.
Ontem a Agência para os Média Independentes apresentou um estudo de opinião que elaborou entre Junho e Novembro nos dez estados do Sul do Sudão e em Cartum: 96 por cento vão votar pela independência porque querem um país própria para gerir os recursos naturais e o destino da região e dar dignidade e identidade aos habitantes.
Ontem, o SPLM organizou o último comício em Juba e à noite uma vintena de artistas locais deram um concerto de borla no Centro Cultural de Nyakuron – tipo CCB em ponto pequenino – para motivar as pessoas a participar no voto.
Ontretanto, a polícia participou na limpeza das artérias principais de Juba para lhes dar um ar mais digno já que a cidade foi invadida por cerca de 200 jornalistas – o número é do Ministro da Informação – e um sem número de VIPs que vêm observar o referendo.
Hoje a cidade está calma, as lojas – mesmo dos árabes abertas – e o ambiente é de expectativa.
O Conselho das Igrejas do Sudão organizou para hoje uma jornada de jejum e oração pelo referendo.
Entretanto, o voto já fez algumas «vítimas». Os templos das Testemunhas de Jeová foram encerrados na Equatória Ocidental e os fieis proibidos de celebrarem o culto porque recusaram recensear-se para o voto. A igreja de Yambio inclusive foi queimada.
No estado da Equatória Oriental a venda de álcool foi proibida durante o voto para manter os eleitores sóbrios. A lei seca do condado de Yei, na Equatória Central é mais drástica: bares, discotecas, salões de vídeo vão estar fechados durante a semana do voto e quem for apanhado bêbado vai «destilar» para a cadeia.
De resto, as notícias que chegam de todas as partes do sul do Sudão são idênticas: as pessoas mantêm-se calmas e prontas para decidir pela primeira vez na história o seu destino e por arrastamento o destino do Sudão.

4 de janeiro de 2011

AL BASHIR

Cortejo presidecial © JVieira


O presidente da república esteve hoje em Juba numa visita-relâmpago a cinco dias do início do referendo para a autodeterminação do povo do Sul do Sudão.
A viagem foi anunciada por Salva Kiir Mayardit, o presidente do governo do Sul do Sudão e primeiro vice-presidente da república, na mensagem de Ano Novo.
Omar Hassan al-Bashir aterrou em Juba a meio da manhã com a cidade protegida por um forte dispositivo de segurança por militares e polícias.
A multidão acenava bandeirinhas da separação à passagem da caravana presidencial em alta velocidade.
Al-Bashir encontrou-se com Salva Kiir e com membros do governo e depois foi o convidado de honra num almoço de estado a que muitos diplomatas europeus se esquivaram.
No final, o presidente disse aos jornalistas que apoiava um Sul do Sudão independente através de um referendo pacífico e justo.
Também disse que os dois países iriam manter relações económicas, culturais e sociais, a segurança ao longo das fronteiras e dos sulistas no norte e nortenhos no sul.
Al-Bashir disse ainda que os assuntos em discussão – a questão de Abyei, da fronteira, da partilha dos recursos e da dívida internacional deveriam estar concluídos até 9 de Julho, altura em que o Sul será independente.
O discurso de al-Bashir deu a entender que o sul do Sudão vai votar na separação e não há volta a dar-lhe.
Os cidadãos receberam o presidente com respeito e provocação acenando com a mão e a bandeira da separação.
Alguns disseram mesmo que al-Bashir se veio despedir do Sul do Sudão e que a sua visita não ia mudar o sentido do voto.
Entretanto, ontem a Comissão do Referendo do Sul do Sudão apresentou o número de votantes recenseados: 3.930.916. Desses 3.753.815 inscreveram-se no Sul do Sudão e 52 por cento são mulheres. 116.860 vão votar no Norte do Sudão enquanto que 60.241 estão inscritos nos cadernos eleitoras dos oito países da diáspora: Quénia, Uganda, Etiópia, Egipto, Reino Unido, Canadá, Estados Unido da América e Austrália.
Para o resultado do referendo ser validado pelo menos 2.4 milhões de eleitores têm que votar. Ganha a opção com mais votos.