31 de outubro de 2015

CAMINHOS DE PAZ



Dom Paride Taban, bispo emérito de Torit, escreveu uma veemente mensagem aos seus compatriotas apontado o dedo aos problemas que estão na origem dos conflitos no Sudão do Sul e o caminho para a paz permanente.


PROBLEMAS NO SUDÃO DO SUL QUE CRIAM CONFLITOS, QUERO DIZER ESTA VERDADE A NÓS, SUL-SUDANESES E PRONTO PARA SOFRER PELA VERDADE

Meus irmãos e irmãs, SUL-SUDANESES, A PAZ ESTEJA CONVOSCO.

O SUDÃO DO SUL MAIS PACÍFICO que eu conheci foi na minha infância, desde 1936 quando nasci até 1954.

O MOTIM em 1955 não foi um problema sul-sudanês, e as guerras de 1964-1972, mais a guerra de 1983 a 2005, foram guerras impostas aos sul-sudaneses.

Onde estão a VERDADE, UNIDADE e PAZ que os sul-sudaneses tinham entre si desde esses anos, e PORQUÊ? ISTO:

Porque aquelas guerras impostas aos sul-sudaneses traumatizaram muitos, muitos esqueceram a sua identidade por estarem separados do seu país, da família. Casamentos desfeitos, famílias partidas, e eles esqueceram a importância dos seus lares de origem onde os trisavós nasceram e foram sepultados. Esta é a razão por que hoje há gente em alguns lugares a construir sob ameaça de armas sobre os túmulos dos avós de outras pessoas. Esqueceram as próprias boas culturas dadas por Deus.

Viajei por todo o Sudão do Sul na minha juventude, quando estava no seminário. Todos os padres católicos do Sudão e do Sudão do Sul estudaram num único seminário maior, aprendemos a viver como IRMÃOS, UMA FAMÍLIA. Encontramos sul-sudaneses em todas as três províncias, Nilo Superior, Rio das Gazelas e Equatória a viverem em paz em cada província e respeitavam-se mutuamente. Não havia derramamento de sangue entre províncias.

E PORQUÊ ESTE PROBLEMA, HOJE?

Nós, sul-sudaneses, parece que entendemos mal o significado da LIBERTAÇÃO DO SUDÃO DO SUL.

Há alguns sul-sudaneses nas nossas comunidades (indivíduos) que não respeitam a cultura dos outros, as suas qualidades. Nós, comunidades humanas, não somos como as BESTAS. Nós, SERES HUMANOS, somos criados para respeitar, amar e servir uns aos outros, para partilhar fraternalmente e NÃO PARA DOMINAR ou MANDAR noutros ou OPRIMIR outros.

Não estou a apontar o dedo a nenhuma tribo ou comunidade, estou a dizer que isto é como Deus nos criou. A situação e a atitude que eu vejo em muitas das vidas sul-sudanesas não estão de acordo com a criação de Deus. Os sul-sudaneses NÃO PODEM ESQUECER ISTO, QUE DEUS NUNCA ESQUECERÁ. ISTO: todos os sul-sudaneses lutaram pela independência deste país. Eu escuto até crianças muito novas a ameaçar outras dizendo: «Nós lutámos por este país.» Não foi uma tribo ou família que lutaram pela INDEPENDÊNCIA DO SUDÃO DO SUL, mas a totalidade dos SUL-SUDANESES, NUBAS, GENTE DO NILO AZUL e alguns nortenhos, EU SOU UMA DAS TESTEMUNHAS.

Se A VERDADEIRA PAZ tem que reinar no Sudão do Sul, TODOS OS SUL-SUDANESES TÊM QUE AMAR E TRATAR-SE COMO IGUAIS, com AMOR e RESPEITANDO-SE MUTUAMENTE COMO UMA ÚNICA FAMÍLIA DO ÚNICO DEUS. E têm que fazer o mesmo àqueles que os ajudaram.

AMO-VOS, TODOS OS SUL-SUDANESES, SOU O VOSSO SERVO E PASTOR, PRONTO PARA VOS SERVIR ATÉ AO MEU TÚMULO. AMO CADA UM DA MESMA MANEIRA QUE DEUS VOS AMA.

OS SUL-SUDANESES nunca foram tribalistas, durante a minha juventude. Isto piorou por causa de poderes políticos e dependendo de fundos públicos, a riqueza do país, depois de os colonizadores terem partido. Os sul-sudaneses tentam imitar os seus colonizadores para colonizar os próprios irmãos e irmãs. Digamos, sul-sudaneses, a VERDADE e a VERDADE LIBERTAR-VOS-Á, estamos a morrer porque não somos sinceros uns com os outros. TODOS OS SUL-SUDANESES SÃO UM POVO, ESTAMOS TODOS INTERRELACIONADOS, TODOS MISCIGENADOS. Não nos comportemos como alguns animais selvagens que dizem «A tua morte é a minha vida.»

Agora, digamos estas 28 palavras:

AMOR, ALEGRIA, PAZ, PACIÊNCIA, COMPAIXÃO, SOLIDARIEDADE, BONDADE, VERDADE, BRANDURA, AUTOCONTROLO, HUMILDADE, POBREZA, PERDÃO, MISERICÓRDIA, AMIZADE, CONFIANÇA, UNIDADE, PUREZA, FÉ, ESPERANÇA.

Estas são 20, mais oito frases:

AMO-TE, SINTO A TUA FALTA, OBRIGADO, EU PERDOO, NÓS ESQUECEMOS, JUNTOS, ESTOU ERRADO, DESCULPA.

PODEMOS TER PAZ PERMANENTE NO SUDÃO DO SUL. SE FIZERMOS ISTO.

AMO-VOS,

Que Deus vos abençoe
Bispo Paride Taban

bishoptabanparide@yahoo.com

Tel. +211955094202/+211928272512/+8821643339000

29 de outubro de 2015



© Pastoral da Cultura

«Quem tem fé não pode desligar a fé daquilo que faz»! A afirmação é da ministra da Agricultura e do Mar, Assunção Cristas, que, na terça-feira, foi a interlocutora de Maria João Avillez em mais uma sessão do ciclo de conversas sobre Deus na Capela do Rato em Lisboa.

A ministra disse que a fé lhe foi transmitida «nos afetos da relação familiar». No Natal, escrevia cartas ao Menino Jesus. 

Com as freiras irlandesas do Colégio do Bom Sucesso descobrir um Deus amigo, amoroso, misericordioso também «por culpa» do capelão. 

Na adolescência, a mãe repetia «Meninas, onde está a caridade», quando, com as manas comentava pessoas.

Revelou que com o tempo foi mantendo relações diferentes com as três pessoas da Santíssima Trindade.

Jesus, era a pessoa mais importante durante a infância pela proximidade e identificação. É também «companheiro e crivo» nos processos de decisão.

O Pai é diferente, é quem ela deseja: «Deus alimenta um desejo insaciável de estar com Ele».

A relação com o Espírito Santo chegou mais tarde e «é uma companhia mais íntima» a quem pede sabedoria e discernimento mesmo antes dos discursos que faz.

Disse que o que pede para a sua família «é a fé».

Explicou que ser católica «é a abertura para acolher caminhos diferentes que vêm ter connosco».

Sublinhou que a relação com Deus deve interferir nas decisões políticas e de governação «na medida da nossa consciência.»

Explicou que fala de Deus aos filhos «com muita naturalidade» e vão sempre à missa dominical na igreja onde os filhos estejam mais à vontade, «o aspeto central do domingo».

É interessante ouvir figuras públicas a falar de Deus nestes termos.

Quarta-feira, às 21h30, é a vez de Marcelo Rebelo de Sousa.

Seguem-se Maria de Belém Roseira, Fernando Santos, Pedro Mexia, Carminho, Henrique Monteiro e Jorge Taborda.

14 de outubro de 2015

SANTA CLARA HOMENAGEIA COMBONIANO



A Junta de Freguesia de Santa Clara, na Ilha de São Miguel, Açores, homenageou três figuras locais, incluindo um missionário comboniano, para celebrar o décimo aniversário.

O P. Francisco Alberto Almeida de Medeiros foi distinguido com o Diploma e a Medalha de Mérito de Santa Clara «pelo contributo dado à causa missionária além-fronteiras.»

O missionário tem 64 anos e trabalhou 21 anos na África do Sul em dois períodos diferentes.

Nasceu em Fenais da Ajuda, mas os pais tinham residência em Santa Clara.

O P. Medeiros explicou que naquela altura era hábito a grávida dar à luz na casa dos pais.

O missionário é o superior da comunidade comboniana de Viseu.

O eletricista-decorador Humberto Moniz e a Associação de Bem Estar Infantil de Santa Clara também foram distinguidos com o Diploma e a Medalha de Mérito de Santa Clara.

A homenagem decorreu durante a sessão solene que encerrou as celebrações dos dez anos da Junta de Freguesia de Santa Clara.

10 de outubro de 2015

DÍODOS DE CRISTO


O documento que os participantes no XVIII Capítulo Geral dos Missionários Combonianos confiaram à Comissão Pós-capitular para edição final fala três vezes de cenáculos de apóstolos, uma revisita à intuição profética e carismática de Daniel Comboni.

A expressão é tirada do Capítulo I das Regras (de 1871) do Instituto das Missões para a Nigrícia que trata da natureza e objectivos do organismo. Recordamos o texto: «Este Instituto torna-se, pois, como um pequeno cenáculo de apóstolos para a África, um ponto luminoso que envia até ao centro da Nigrícia tantos raios quantos os solícitos e virtuosos missionários que saem do seu seio. E estes raios, que juntos resplandecem e aquecem, revelam necessariamente a natureza do centro de onde procedem.»

Nesta reflexão, quero destacar três palavras da citação: pequeno, juntos e centro.



PEQUENO [CENÁCULO DE APÓSTOLOS]

Daniel Comboni antecipou o seu Instituto como «pequeno cenáculo de apóstolos». Três palavras que se completam: as suas missionárias e missionários são poucos, vivem juntos e são apostólicos: enviados no nome de Jesus, não em nome próprio.

As diversas relações ao XVIII Capítulo Geral sublinham um facto deveras conhecido: o Instituto está a envelhecer e a diminuir e tem que redimensionar a sua presença.

A 1 de janeiro éramos 1582, menos 111 que em 2009, com uma média etária de 59,4 anos. 550 missionários (cerca de um terço do Instituto) têm mais de 70 anos. Mas não devemos perder o sono nem a serenidade: o Senhor continua a abençoar-nos com bastantes vocações (99 teólogos, 65 noviços e 224 postulantes), sobretudo africanas!

Esta realidade de pequenez faz parte da experiência de kenose do Instituto: a participação no esvaziamento de Jesus (Filipenses 2, 6-11). Por outro lado, a requalificação – que prevê o encerramento de 45 comunidades nos próximos seis anos – não é uma estratégia de sobrevivência, mas ajuda para um melhor serviço à missão.

No mundo de hoje, onde tanto se anda em bicos de pés, aceitar ser pequeno é contracorrente, mas é o que Jesus quer de nós: ele chamou aos seus seguidores pequenino rebanho que não deve ter medo (Lucas 12, 31) que é sal da terra e luz do mundo (Mateus 5, 15.16). Sal a mais estraga e luz a mais queima!



JUNTOS [RESPLANDECEM E AQUECEM]

Somos um grupo pequeno chamado a atuar unidos a missão. Daniel Comboni vê os seus missionários como raios de luz, solícitos e virtuosos. E explica: «Juntos resplandecem e aquecem.»

O nosso fundador parece futurar a mais de século de distância a tecnologia LED – ou DEL: díodos emissores de luz – que é a forma mais barata e eficaz de alumiar.

A luz dos díodos está nos aparelhos electrónicos, nos semáforos, nas novas lâmpadas das nossas casas. Substituem a velha tecnologia do filamento incandescente e das lâmpadas frias que usam o (cancerígeno) mercúrio juntando um número de díodos luminosos que dão mais luz e usam menos energia. O segredo está em juntar pequenos LEDs numa só lâmpada seguindo a velha máxima da «união faz a força.»

Este é o desafio maior ao nosso serviço missionário: trabalhar juntos, em rede. No passado éramos mais protagonistas, solistas e às vezes primas donas da grande sinfonia da evangelização dos povos.

Na Sala da Rocha, na Casa Generalícia, em Roma – que guarda objectos pertencentes ao nosso fundador e a alguns dos seus seguidores mais ilustres – há uma lápide de homenagem a Daniel Comboni que abre com as palavras «Fece da solo e com una audacia senza pari avere una missione», «Fez sozinho e com uma audácia sem par haver uma missão.»

Esta visão de serviço missionário já era! O documento final do Capitulo fala dos combonianos não como solistas mas peregrinos, cuidadores, colaboradores, servidores do Evangelho.

Ser cenáculos é essencial para a nossa vocação «de ser nas fronteiras testemunhas e profetas de relações de fraternidade, baseadas no perdão, na misericórdia e na alegria do Evangelho» como o documento final do Capítulo grafa no parágrafo de abertura.

O Papa Francisco – naquele memorável 1º de outubro na Sala Clementina, durante a audiência aos capitulares – desafiou-nos a sermos mansos, misericordiosos e humildes ao jeito de Jesus, o Pastor bom e belo: «Como consagrados a Deus para a missão, sois chamados a imitar Jesus misericordioso e manso, a fim de viver o vosso serviço com coração humilde, assumindo o cuidado dos mais abandonados do nosso tempo», disse.

A comunidade não é uma estação de apoio para um serviço missionário mais eficaz nem a torre de marfim para descanso dos guerreiros: é o modo de anunciar o evangelho «dois a dois».

O documento final do Capítulo usa 27 vezes o termo comunidade. Num mundo tão fragmentado em clivagens socioculturais, viver o evangelho juntos em comunidade interculturais é um contributo muito importante para a globalização da fraternidade.

«Sentimos o apelo a recuperar o sentido de pertença, a alegria e a beleza de ser verdadeiro “cenáculo de apóstolos”, comunidade de relações profundamente humanas. Estamos chamados a valorizar, antes de mais entre nós, a interculturalidade, a hospitalidade e a convivialidade nas diferenças. O mundo tem uma necessidade imensa deste testemunho», deslinda o documento final.



[REVELAM NECESSARIAMENTE A NATUREZA DO] CENTRO

Como Instituto e como missionários temos um centro único: não é a missão, mas é Jesus, que nos amou e nos chamou para sermos «Discípulos missionários combonianos ao serviço da alegria do Evangelho no mundo de hoje.»

O nosso serviço missionário nasce da contemplação de Jesus, o Pastor bom e belo, que veio «para que tenham vida e a tenham em abundância» (João 10, 10). Vida/viver aparece 66 vezes no documento final.

O Papa Francisco recordou que na origem da nossa missão está um dom: «a iniciativa gratuita do amor de Deus que vos dirigiu uma dupla chamada: a estar com Ele e a ir pregar.»

Não somos missionários de uma ideologia ou filantropia: somos enviados de Jesus e por isso a nossa vida pessoal e comunitária deve estar centrada n’Ele através da escuta da sua Palavra.

O Papa escreve no nº 174 de A alegria do Evangelho: «A Palavra de Deus ouvida e celebrada, sobretudo na Eucaristia, alimenta e reforça interiormente os cristãos e torna-os capazes de um autêntico testemunho evangélico na vida diária.»

E aos capitulares ajuntou: «A missão, para ser autêntica, deve referir-se e colocar no centro a graça de Cristo que brota da Cruz: crendo n’Ele pode-se transmitir a Palavra de Deus que anima, sustenta e fecunda o empenho do missionário. Por isso, caros irmãos, temos de alimentar-nos sempre da Palavra de Deus, para ser seu eco fiel; acolhê-la com a alegria do Espírito, interiorizá-la e fazê-la carne da nossa carne como Maria.»

Para sermos díodos de Jesus, luzeiros do Evangelho num mundo conturbado, temos que evangelizar juntos a partir d’Ele que é a luz que somos chamados a irradiar «em saída.»

Termino, recordando a última frase que o Papa Francisco pronunciou na audiência aos capitulares: «Antes de dar a bênção, gostaria de dizer uma coisa que não está escrita aqui, mas é uma coisa que sinto: eu sempre, sempre, tive uma grande admiração por vós, pelo trabalho que fazeis, pelos riscos que enfrentais… Sempre senti esta grande admiração. Obrigado.»

Estas palavras podem ser boas para o nosso ego pessoal e institucional, mas são sobretudo um desafio para continuarmos a ser, trabalhar e arriscar juntos como pequenos cenáculos de apóstolos próximos das periferias humanas e geográficas!

É isto que peço para cada um de nós através da intercessão de São Daniel Comboni!

5 de outubro de 2015

FAMÍLIA A DUAS VOZES


A Igreja africana pode falar a duas vozes no sínodo sobre a família na linha de dois encontros eclesiais importantes deste Verão.

A comunidade católica celebra de 4 a 25 de Outubro no Vaticano a segunda parte do sínodo sobre a vocação da família na Igreja e no mundo contemporâneo. Qual vai ser a contribuição da África? Mais doutrinal para uns, mais pastoral para outros.

Cinco cardeais e 45 bispos encontraram-se em Acra, Gana, de 8 a 11 de Junho, numa consulta organizada pelo Simpósio das Conferências Episcopais da África e Madagáscar, para alinharem posições para o sínodo.

O cardeal guineense Robert Sarah, prefeito da congregação vaticana do Culto Divino, encorajou os participantes «a falarem com clareza, com uma única voz credível e com amor filial à Igreja» durante os trabalhos sinodais.

«Protegei a santidade do matrimónio que está sob ataque por todas as formas de ideologias que querem destruir a família e também das políticas nacionais e internacionais que impedem a promoção de valores positivos», exortou.

Numa entrevista à revista francesa Famille Chrétienne, foi mais incisivo: «Porque é que devemos pensar que somente a visão ocidental do homem, do mundo e da sociedade é boa, justa e universal? A Igreja deve lutar para dizer não a esta nova colonização.»

Os bispos da Nigéria, numa nota recente, expressaram preocupação sobre a propagação global, persistente e contínua «do estilo de vida homossexual» e denunciaram o esforço para redefinir o matrimónio como «uma visão distorcida da sexualidade humana vinda especialmente do mundo ocidental».

«O casamento é uma união sagrada de um homem e de uma mulher para gerar e criar crianças», escreveram.

Os apelos que saíram do terceiro colóquio teológico anual sobre Igreja, religião e sociedade na África vão noutro sentido. Cerca de quatro dezenas de teólogos católicos, incluindo bispos, reuniram-se em Nairobi, Quénia, de 16 a 18 de Julho, e o sínodo também esteve presente.

Os especialistas criticaram a primeira sessão do sínodo, em Outubro do ano passado, considerando-a demasiado eurocêntrica sobre os temas do divórcio, recasamento e relações do mesmo sexo, que preocupam sobretudo europeus e norte-americanos. Pediram soluções pastorais concretas a nível local em vez de respostas «tamanho único» universais e notaram que a sida, a mutilação genital feminina e as crianças chefes de família são temas que afectam as famílias africanas que ficaram de fora dos debates sinodais.

Disseram que é mais importante tratar dos conflitos dos africanos que se sentem apartados das culturas tradicionais depois da conversão ao Cristianismo, da violência doméstica contra as mulheres e meninas, da ausência do pai na vida familiar, da pobreza vasta e paralisante e da falta de «liderança ética de princípios» nos governos e na Igreja.

O bispo Emanuel Barbara, de Malindi, Quénia, pediu mesmo uma teologia do matrimónio a partir do contexto africano: «Se queremos respeitar as nossas famílias cristãs africanas, temos de trabalhar seriamente numa teologia cristã africana do matrimónio. Não basta aplicar outros modelos que existem há séculos.»

A teóloga queniana Philomena Mwaura indicou a violência contra as mulheres e a ausência de pais estáveis nos países africanos como dois elementos que merecem uma reflexão do sínodo.

O bispo Kevin Dowling, de Rustenburg, África do Sul, advogou que o sínodo devia gastar mais tempo com «os assuntos sistémicos que ameaçam as relações entre pessoas nas sociedades e que tanto dificultam os pais de hoje em alimentar a relação com os seus filhos e criá-los de modos saudáveis que dão vida».

Talvez o ponto de encontro esteja no pedido de Francisco aos bispos do Togo, durante a visita que lhe fizeram em Maio: que preservem os «aspectos positivos» da vida da família em África e que os partilhem, sobretudo a abertura à vida e o respeito no cuidado dos mais velhos.

3 de outubro de 2015

MENSAGEM DOS CAPITULARES


Queridos irmãos,

Paz em Cristo, nossa Vida!

Encontrando-nos agora a concluir o XVIII Capítulo Geral, sentimos um desejo forte de partilhar convosco uma mensagem de comunhão e esperança. Estivestes muito presentes nas nossas reflexões e decisões; obrigado pela vossa oração e sobretudo pelo vosso testemunho de serviço e dedicação.

Reconhecemos com gratidão o serviço feito nas circunscrições na preparação deste Capítulo Geral: propostas, sugestões e reflexões que nos ajudaram muito no discernimento.

É difícil pôr por escrito a experiência que vivemos juntos durante estes dias. Seguramente que foi uma celebração de fraternidade, de paixão partilhada pela missão. Empenhámo-nos na procura das pegadas de Daniel Comboni entre os desafios missionários que nos coloca a humanidade de hoje. Tudo sob a ação do Espírito do Ressuscitado, que nos faz ultrapassar medos e desânimos, para ousar a profecia de um mundo novo de reconciliação, justiça e plenitude na paz.

De modo particular, acompanhou-nos o sofrimento das pessoas com que fazemos causa comum. Trazemos no coração a República Centro-Africana, o Sudão do Sul, a Eritreia, a tragédia dos refugiados… e de maneiras distintas cada um dos países em que vivemos. Estas tragédias são também nossas; o Amor vence sempre o mal por mais insuperável que pareça.

No termo deste Capítulo, afirmamos que foi uma experiência de alegria e unidade que nos maravilhou: redescobrimos a beleza da nossa vocação missionária comboniana. O Senhor Jesus continua a chamar-nos a escrever o Evangelho da Misericórdia nas periferias sofredoras, entre os mais pobres e não evangelizados, muitas vezes descartados de um sistema de morte ou anulados pela indiferença.

Hoje, a realidade complexa da sociedade, da Igreja, do nosso Instituo faz-nos confrontar com os nossos limites de diversas maneiras. Mais que nunca, estamos convidados a uma profunda conversão pessoal, comunitária e institucional, ao encontro transformante com o Bom Pastor, coração do nosso carisma, e à requalificação dos nossos empenhos para sermos cada vez mais servos e colaboradores humildes da missão.

Os gestos e o magistério do Papa Francisco, com quem nos encontramos, e que, manifestando apreço pelo que fazemos, nos deu a sua bênção, confirmaram o sonho de Daniel Comboni.

Finalmente, queremos agradecer convosco ao superior geral, Enrique Sánchez, e ao seu Conselho por este sexénio de doação total ao Instituto: que a certeza de terem servido Deus em nós os encha de alegria no caminho missionário que os espera.

Igualmente, ao P. Tesfaye Tadesse, novo superior geral, e aos conselheiros que o vão ajudar na direção do Instituto, renovamos a nossa amizade, oração e colaboração responsável.

Quando receberdes os documentos capitulares e os tiverdes nas vossas mãos, podeis estar seguros que são verdadeiramente vossos: nós fomos somente instrumentos de Deus, tentando fazer convergir ideias, sonhos e propostas. Agora, todos juntos, sem distinção, podemos encarná-los, como Maria nossa Mãe, em atitudes missionárias cheias da alegria do Evangelho que hoje o mundo nos pede com insistência.
Os membros do XVIII Capítulo Geral

1 de outubro de 2015

COM O PAPA FRANCISCO



Mãos na mão, olhos nos olhos… O tempo fica suspenso, o espaço dissolve-se, um arrepio quente percorre o meu corpo...

A ternura acolhedora toma forma de num sorriso aberto, lindo, disponível, cansado, devolvido!

Encontrar o papa Francisco tu a tu, sem distâncias nem barreiras, é um momento único, muito intenso. Quase inefável!

Pedi-lhe em espanhol dois favores: para rezar pela paz pelo Sudão do Sul e para enviar bispos para aquela Igreja que está a tornar-se num rebanho sem pastores.

Os fotógrafos do L’Osservatore Romano não paravam de disparar os flashes mas os clarões dos relâmpagos mudos perdiam-se no feitiço do encontro na imensidão cénica da Sala Clementina com uma acústica horrível.

Um muchas gracias e dei a vez ao confrade seguinte na fila.

De regresso ao lugar, com um terço papal na mão, não caminhava: flutuava!

A magia do encontro com uma das figuras que mais me inspira e desafia tomava conta de mim, paulatinamente, dando lugar a alegria tranquila, saborosa, entorpecente.

Adorei!

Antes, o Papa falou aos 85 combonianos – capitulares e membros do governo-geral – sobre o significado do seu nome: Missionários Combonianos do Coração de Jesus num discurso com cerca de 800 palavras.

Definiu-os como «servidores e mensageiros do Evangelho, especialmente para os que o não conhecem ou o esqueceram.»

E disse: «A missão, para ser autêntica, deve referir-se e pôr ao centro a graça de Cristo que imana da Cruz: crendo n’Ele pode-se transmitir a Palavra de Deus que anima, sustém e fecunda o empenho do missionário.»

O papa argentino continuou: «Sois chamados a imitar Jesus misericordioso e manso, para viverdes o vosso serviço com um coração humilde, cuidando dos mais abandonados do nosso tempo.»

E, para concluir, disse: «Antes de dar a bênção, quero dizer uma coisa que não está escrita aqui, mas é uma coisa que sinto: eu sempre, sempre, tive uma grande admiração por vós, pelo trabalho que fazeis, pelos riscos que enfrentais… Sempre senti esta grande admiração. Obrigado.»