14 de abril de 2020

HÁ TANTO NUM NOME


João conta no seu evangelho (20, 11-18) que, na manhã do domingo de Páscoa, Maria Madalena foi chorar para junto do sepulcro vazio de Jesus.

Como é preciso chorar perdas, penas, ausências…

De dentro do sepulcro dois anjos perguntaram-lhe: «Mulher, porque choras?».

Maria respondeu: «Tiraram o meu Senhor e não sei onde o puseram».

Além de chorar é essencial contar, nomear as nossas lágrimas. É parte do processo de luto.

O Senhor ressuscitado junta-se a ela e também quer saber as razões de tanto chorar.

Maria confunde-o com o jardineiro e diz: «Senhor, se foste Tu que o levaste, diz-me onde o puseste, e eu irei buscá-lo».

Jesus respondeu: Maria! E ela disse: Rabúni, que significa mestre em hebraico.

Depois, Maria foi anunciar aos discípulos: «Vi o Senhor». Ela é a apóstola dos apóstolos, festa que celebramos a 22 de julho.

Este diálogo icónico fez-me pensar no tanto que há num simples nome.

Não foi o falar de Jesus que abriu o coração a Maria, mas a forma, o carinho, a ternura com que Ele pronunciou o nome.

Num nome há, antes de mais, identidade. Chamo-me José!

E também há afetos: chamo-me José porque o meu padrinho também assim é chamado. Também me chamam Zé, Mchizé, Joe, Joito…

Também há história: o povo guji da Etiópia – com quem vive oito anos e para onde espero voltar quando isto passar – dá o nome aos filhos de acordo com as circunstâncias do nascimento.

Dois exemplos: Luku, galinha, é o nome de uma menina que nasceu ao amanhecer; Lole, lutador, é como se vai chamar um rapaz que deu à mãe uma gravidez difícil.

Entre nós, é possível ligar alguns nomes próprios com telenovelas ou modas datadas.

Depois, os amigos e os enamorados têm uma forma terna e única de dizer os nomes especiais que dão às pessoas especiais, às vezes até secretos!

Dizer o nome de uma pessoa é também ter poder sobre ela. Daí que os hebreus quando nas Escrituras veem Yahweh (o tetragrama, as quatro consoantes que representam o nome de Deus) escrito dizem Adonai (Senhor) porque o nome de Deus é inefável.

Invocamos nomes para pedirmos auxílio. E podíamos ir por aí adiante.

Daniel Comboni também explorou os diversos sentidos que um simples nome tem.

No plana afetivo, escreveu à Condessa Ludmila de Carpenha: «Eu sempre me lembro de si e trago o seu venerando nome e a sua imagem gravados no coração». É lindo ler isto.

Sobre a história de um nome, explica por quê batizou a ex-escrava chamada Mahbuba com o nome de Maria: «Quisemos pôr-lhe tal nome para consagrara à Mãe divina da nossa obra essa primeira flor da mesma».

Finalmente, escreve uma nota muita apropriada para os dias de pandemia que vivemos sobre a invocação Nossa Senhora do Sagrado Coração de Jesus: «é um nome que faz brilhar a bondade de Coração de Jesus Cristo nestes tempos calamitosos para iluminar e consolar a todos, confortar a quantos a Ela acorrem». É sim!

Amen.

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