10 de abril de 2020

ENTRE JARDINS


A celebração da Paixão do Senhor, cada Sexta-feira Santa, recorda os últimos dois dias de Jesus segundo o Evangelho de São João (18, 1 – 19, 42).

A narrativa começa assim: «Jesus saiu com os seus discípulos para o outro lado da torrente do Cédron, onde havia um jardim, no qual entraram Ele e os seus discípulos».

E termina assim: «Ora, no lugar onde tinha sido crucificado, havia um jardim, e no jardim um sepulcro novo, no qual ainda ninguém tinha sido posto. Foi aí, por causa da Preparação dos judeus, porque o sepulcro ficava perto, que puseram Jesus».

A paixão e morte de Jesus passaram-se entre dois jardins: o das Oliveiras e o do Gólgota. Esta é uma imagem que me impressionou!

Em tempos de pandemia, tumulados em nossas casas, estamos no meio de um jardim que nunca esteve tão vivo, tão florido.

Com os aviões em terra, os carros nas garagens e as fábricas maioritariamente fechadas nunca o ar esteve tão limpo e o chilrear dos pássaros tão glorioso!

Obrigados a abrandar, a parar, pelo novo coronavírus, nunca a Primavera se insinuou tão vigorosa ao nosso olhar!

O livro do Génesis explica que o jardim foi plantado por Deus (2, 8) e cabe-nos cultivá-lo e cuidar dele (2, 15); o Cântico dos Cânticos, na sua linguagem apaixonada e arrebatada, descreve a amada como um jardim fechado (4, 12); Jeremias vê a alma dos retornados do exílio como um jardim bem regado (31, 12); Ezequiel profetiza a restauração de Israel como transformação de terra devastada em jardim do Éden (36, 35).

Quando isto tudo passar, quando sairmos dos nossos túmulos, quando fizermos Páscoa, temos de rever o conceito de salvação e mudar comportamentos, rever formas de vida tão insustentáveis.

Estamos demasiado centrados em nós mesmos, mas a Bíblia é clara: a salvação é cósmica. O Salmo 36 canta que o Senhor salva homens e animais (versículo 7); Jesus envia-nos a anunciar o Evangelho à criação inteira (Marcos 16, 15). Como podemos proclamar a salvação ao meio ambiente tão maltratado?

O mistério pascal de Jesus acontece entre jardins, a nossa páscoa deste ano é no meio do jardim primaverado da criação.

Quando sairmos do túmulo das nossas casas e voltarmos a ser totalmente viventes vamos ter de rever o modo como cultivamos e cuidamos do jardim da criação, ser mais ecológicos nas nossas opções de vida.

2 comentários:

ElviMejia disse...

Amém, assim seja. Que a expeeiência de isolamento nos permita andarmos. mais juntos

Unknown disse...

De facto, ao méditar à paixão de S. João a palavra que faz inclusão é o Jardin. Certamente o narrador focaliza o jardin aos leitores informados: que o homme foi expluso do jardin no livro de Geneses. Jésus é o unico que vai nos reitroduzir neste jardin que Deus nos oferece. O homme no jardin é convidado à guardar-lo proteje-lo et abondar-lo.
Saimos do deserto para o jardin, du pecado para à graça, da mort para vida.
A pademia du coronavirus se situa nos nossos desertos. A paixão do Senhor crusa-se com a nossa. Temos esperança de habitat no jardin. Neste jardin a vida é em Harmonia com a casa cumun.
A paixão segundo São João célébra uma liturgia du templo onde o grande sabbat é a pascoa da victoria da vida, o encontro entre Deus e homme.