28 de fevereiro de 2007

Hora sudanesa

Quando era miúdo, achava piada à maneira como a minha avó falava das horas: para ela, havia o meio-dia novo (12h00) e o meio-dia velho (13h00).
Em Juba, descobri outro conceito diferente do tempo: a hora sudanesa.
Explico.
Ontem fui convocado para uma conferência de imprensa que o Dr. Riek Machar, Vice-Presidente do Sul do Sudão, iria dar às 17h00 sobre o desarmamento da sociedade civil.
Às 17h00 estava eu no Sunflower Inn, junto ao Nilo Branco para a referida conferência com outros camaradas da imprensa, rádio e televisão. Mas o agendado encontro com a comunicação social - «com a matilha das hienas», como gracejava a correspondente da Reuters - só aconteceu às 19h50!
Foi agradável estar ali junto ao Nilo Branco, com uma garrafa de água fresca - estava em serviço! - a contemplar o entardecer, a ver as barcaças chegarem de Kosti carregadas de mercadorias, trocar impressões sobre Juba, os seus problemas e a sua história, sobre a actividade jornalística com a música de Bob Marley em fundo. Mas tinha tanto que fazer!
Quando me lamentei com a correspondente da Reuters que assim não dava, ela, que chegou depois das 18h00, respondeu: «Quem te manda ser burro? Não conheces a hora sudanesa?»
De facto, aqui é normal começar qualquer acto com uma ou mais horas de atraso. É a hora sudanesa, pois claro! Por isso é que um colega da Rádio Sul do Sudão, comentou resignado: «O jornalista deve ser a pessoa mais paciente do mundo».
«Senão não apanha nada», concluí!

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