A Igreja celebra hoje, 8 de Fevereiro, a memória de Santa Josefina Bakhita (Darfur - Sudão, 1869; Schio - Itália, 1947). Um missionário comboniano a trabalhar no Darfur escreveu-lhe.
Querida amiga Bakhita,
Aqui estou, de novo. Sinto-me bem a falar contigo. É maravilhoso sentir a tua presença quando me sinto só. Às vezes estou como que encurralado no tão pequeno raio de acção que me é permitido. Excepto quando vou a Bileil, a 14 quilómetros, celebrar a eucaristia para os refugiados. E ainda assim, tudo depende do humor dos soldados de turno nos três pontos de controlo que encontramos no caminho.
Quando penso em ti, há outra pessoa que se faz, naturalmente, bem-vinda, porque é de casa. Refiro-me a Daniel Comboni. Será mesmo que não te tenhas encontrado com ele nas tuas aventuras de escrava aqui no Darfur, Cordofão ou mesmo em Cartum? Creio não ser absurdo pensar que ele só não te arrancou da escravidão por mera casualidade. Sabes que Daniel Comboni sempre lutou pelo direito natural da liberdade do ser humano. Ele sabia do tratado da abolição da escravatura em 1856. Mas na Africa Central – dizia com tristeza – tinha ficado só no papel. Por isso, o comprar escravos para os libertar ficou a ser parte da sua missão. Coisa que ele fez, sobretudo nas terras do Cordofão, por onde tu, Bakhita caminhaste com pés de sangue pelos espinhos da savana ou pedregulhos e areias nuas do deserto.
De todos os modos, vós os dois, agora, sois os santos protectores do Sudão. Mas parece que não vos preocupais nada com a situação do vosso país e desta nossa Igreja que tanto sofre. Não, não digo que a prioridade seja que se convertam ao Cristianismo. Mas porquê esta guerra com tantos mortos e refugiados? Que fazes ai regalada e feliz no Paraíso, sem te preocupares pela tua gente do Darfur? Não tens vergonha? De que estás à espera?
Querida amiga Bakhita, está a chegar o dia 8, a tua festa litúrgica. A tua tribo daju – já me vieram dizer – também vai estar bem representada aqui na grande celebração. São muçulmanos… Mas a igreja não fecha as portas a quem vem festejar com respeito, paz e alegria. Vês como todos – maometanos e cristãos – te querem bem? Mas, muito certamente, esperam algo de ti: que sejas a sua intercessora junto de Deus. São interesseiros? Deixa que o sejam, desta vez. Não posso admitir que deixes morrer tantos amigos teus conterrâneos do Darfur! A tua querida aldeia também já foi evacuada! São muitos os daju que tiveram que fugir e encontrar abrigo no campo de refugiados de Dreige, mesmo pertinho de Algoznei.
Porquê? Mistério do Deus em quem, firmemente, creio! Sou uma simples criatura e não me arrogo a saber os segredos do Altíssimo! Mas tu e Comboni, aí bem junto do Deus três vezes Santo, podereis saber tudo. Eu, por mim, posso adivinhar a resposta. Sei, como teologia certa, que ninguém pode culpar Deus pelos males deste mundo. Quem pensa diferentemente é adepto da teologia barata do egoísmo que, infelizmente, reina em muitas cabeças que se prezam de bem pensantes. A culpa das guerras e de outros males paralelos, não haja dúvida, é só nossa, dos interesses políticos e mesquinhos dos humanos. Mas, mais verdade ainda – e deixa que o diga em voz alta – é que Deus não pode senão amar os seus filhos e filhas. «Deus é amor» é uma verdade que nunca poderá mudar. Ou Deus deixa de ser Deus!
Bakhita, sei que nos queres bem. Quem sou eu para dar lições aos santos protectores do Sudão? Perdão, mas eu insisto: o favor e a graça que queremos peças ao «Patrã»” – como tu O chamavas – é urgente. O teu Darfur precisa desse milagre!
Querida amiga Bakhita,
Aqui estou, de novo. Sinto-me bem a falar contigo. É maravilhoso sentir a tua presença quando me sinto só. Às vezes estou como que encurralado no tão pequeno raio de acção que me é permitido. Excepto quando vou a Bileil, a 14 quilómetros, celebrar a eucaristia para os refugiados. E ainda assim, tudo depende do humor dos soldados de turno nos três pontos de controlo que encontramos no caminho.
Quando penso em ti, há outra pessoa que se faz, naturalmente, bem-vinda, porque é de casa. Refiro-me a Daniel Comboni. Será mesmo que não te tenhas encontrado com ele nas tuas aventuras de escrava aqui no Darfur, Cordofão ou mesmo em Cartum? Creio não ser absurdo pensar que ele só não te arrancou da escravidão por mera casualidade. Sabes que Daniel Comboni sempre lutou pelo direito natural da liberdade do ser humano. Ele sabia do tratado da abolição da escravatura em 1856. Mas na Africa Central – dizia com tristeza – tinha ficado só no papel. Por isso, o comprar escravos para os libertar ficou a ser parte da sua missão. Coisa que ele fez, sobretudo nas terras do Cordofão, por onde tu, Bakhita caminhaste com pés de sangue pelos espinhos da savana ou pedregulhos e areias nuas do deserto.
De todos os modos, vós os dois, agora, sois os santos protectores do Sudão. Mas parece que não vos preocupais nada com a situação do vosso país e desta nossa Igreja que tanto sofre. Não, não digo que a prioridade seja que se convertam ao Cristianismo. Mas porquê esta guerra com tantos mortos e refugiados? Que fazes ai regalada e feliz no Paraíso, sem te preocupares pela tua gente do Darfur? Não tens vergonha? De que estás à espera?
Querida amiga Bakhita, está a chegar o dia 8, a tua festa litúrgica. A tua tribo daju – já me vieram dizer – também vai estar bem representada aqui na grande celebração. São muçulmanos… Mas a igreja não fecha as portas a quem vem festejar com respeito, paz e alegria. Vês como todos – maometanos e cristãos – te querem bem? Mas, muito certamente, esperam algo de ti: que sejas a sua intercessora junto de Deus. São interesseiros? Deixa que o sejam, desta vez. Não posso admitir que deixes morrer tantos amigos teus conterrâneos do Darfur! A tua querida aldeia também já foi evacuada! São muitos os daju que tiveram que fugir e encontrar abrigo no campo de refugiados de Dreige, mesmo pertinho de Algoznei.
Porquê? Mistério do Deus em quem, firmemente, creio! Sou uma simples criatura e não me arrogo a saber os segredos do Altíssimo! Mas tu e Comboni, aí bem junto do Deus três vezes Santo, podereis saber tudo. Eu, por mim, posso adivinhar a resposta. Sei, como teologia certa, que ninguém pode culpar Deus pelos males deste mundo. Quem pensa diferentemente é adepto da teologia barata do egoísmo que, infelizmente, reina em muitas cabeças que se prezam de bem pensantes. A culpa das guerras e de outros males paralelos, não haja dúvida, é só nossa, dos interesses políticos e mesquinhos dos humanos. Mas, mais verdade ainda – e deixa que o diga em voz alta – é que Deus não pode senão amar os seus filhos e filhas. «Deus é amor» é uma verdade que nunca poderá mudar. Ou Deus deixa de ser Deus!
Bakhita, sei que nos queres bem. Quem sou eu para dar lições aos santos protectores do Sudão? Perdão, mas eu insisto: o favor e a graça que queremos peças ao «Patrã»” – como tu O chamavas – é urgente. O teu Darfur precisa desse milagre!
Feliz da Costa Martins
Missionário no Darfur
Missionário no Darfur
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