22 de dezembro de 2018

MISSÃO É RELAÇÃO



Os bispos portugueses, seguindo uma deixa do Papa Francisco, puseram em primeiro lugar na vivência do Ano Missionário a relação pessoal com Jesus, que é a fonte de todas as relações que tecem e ligam o nosso ser missionários combonianos, hoje.

Escrevem na nota pastoral Todos, tudo e sempre em missão que o «encontro pessoal com Jesus Cristo vivo na sua Igreja: Eucaristia, Palavra de Deus, oração pessoal e comunitária» é a primeira das quatro dimensões para prepararmos e vivermos o Ano Missionário.

Daí surgiu o compromisso provincial de «favorecer nas nossas comunidades e nos grupos o encontro com Jesus (Lectio Divina, partilha da Palavra)» como foi expresso na primeira proposta operativa para a animação missionária este ano.

O encontro pessoal, a relação com Jesus, com os outros e com todas as criaturas é uma dimensão fundamental do nosso ser missionário.

A Intercapitular sublinhou que vivemos um deficit de humanidade e que a formação permanente nos deve humanizar. Notou também que a tensão entre o ser e o fazer é mãe de muitas das nossas doenças e sofrimentos que nos amarram.

Não fazemos missão, estamos em estado permanente de missão. Melhor, «eu sou uma missão nesta terra, e para isso estou neste mundo» como o Papa Francisco escreveu na Evangelii gaudium (nº 273).

Na exortação Gaudete et exsultate o papa argentino vai mais além. Nota que somos uma missão de santidade, chamados a encarnar uma palavra, uma mensagem de Jesus com e na nossa vida:
  • «Para um cristão, não é possível imaginar a própria missão na terra, sem a conceber como um caminho de santidade» (nº 19); 
  • «Pode também envolver a reprodução na própria existência de diferentes aspetos da vida terrena de Jesus» (nº 20); 
  • «Também tu precisas de conceber a totalidade da tua vida como uma missão. […] E permite-Lhe plasmar em ti aquele mistério pessoal que possa refletir Jesus Cristo no mundo de hoje» (nº 23); 
  • «Oxalá consigas identificar a palavra, a mensagem de Jesus que Deus quer dizer ao mundo com a tua vida» (nº 24). 
Os bispos portugueses sublinham que mais que geográfica a missão é, acima de tudo, cordial: «do encontro com a Pessoa de Jesus Cristo nasce a Missão que não se baseia em ideias nem em territórios, mas “parte do coração” e dirige-se ao coração, uma vez que são “os corações os verdadeiros destinatários da atividade missionária do Povo de Deus”.»

Viver a missão pelo lado do fazer tem a ver com a eterna tentação de escrever o quotidiano através de uma folha de cálculo, uma página Excel. Se pegamos na missão pelo lado do fazer, temos que dizer: «somos servos não necessários: fizemos o que devíamos fazer» (Lucas 17, 10).

Contudo, somos relação com o Deus-Trindade – donde viemos – para tecermos relações interpessoais e comunitárias, cordiais de vida e de missão: a missão nasce no coração amoroso da Trindade para chegar aos corações do mundo através do coração de cada um de nós.

Daí a necessidade de rever o silogismo cartesiano do «penso, logo existo» para o «relaciono-me, logo existo».

Que encarne e nasça em ti a Palavra, a mensagem de Jesus que Deus quer que digas ao mundo. Assim serás Natal todos os dias, assim 2019 será verdadeiramente Ano Missionário.

20 de dezembro de 2018

ESPERO UM MENINO!


Anuncio-vos uma feliz surpresa: ESPERO UM MENINO!

Nós, irmãos e sacerdotes combonianos, não temos crianças. Porém conhecemos e amamos tantas, no nosso fascinante e longo peregrinar missionário em terras de África, de América, de Ásia e Europa. 

Além disso, experimentamos com frequência a alegria de ver as crianças dos nossos amigos e familiares, os netos e sobrinhos; a alegria de ver grupos de crianças que, de vez em quando, vêm fazer-nos uma visita e cantar para nós, em particulares ocasiões de festa; a alegria de ver, de vez em quando, a Sofia, a menina da Clara, a nossa animadora cultural, com os seus belos olhos, negros e profundos; ou de encontrar a Verónica, uma doce e gentil menina que acompanha, cada sábado, a sua avó na organização da tômbola...

Todas estas crianças, porém, são filhos «dos outros!»

Agora, porém, venho anunciar-vos algo incrível: estou à espera de um menino mesmo meu! Sim, entendestes bem! Bem, não só meu. Porque a mãe conhecemo-la bem, mas o pai é só «putativo». Dado que todos reclamam a sua paternidade, decidimos, em espírito de fraternidade, adotá-lo todos juntos.

Estais surpreendidos? Também nós ficámos surpreendidos, dada a média avançada da nossa idade. Também nós pensámos, como Abraão: «a um com cem anos de idade, pode nascer um filho?» (Gênesis, 17,17). Também nós, como ele, nos teríamos contentado com o nosso Ismael, o filho «outro», mas Deus quis surpreender-nos, quando os nossos sonhos se tinham desfeito há muito. Que vos devemos dizer? O nosso coração, de repente, recomeçou a bater forte, aqueceu-se e encheu-se de alegria, «porque um menino nos nasceu, um FILHO nos foi dado» (Isaías 6,5). 

E também nós voltámos a sonhar, como profetizou Joel!

Agora andamos todos atarefados a preparar o Acontecimento. 

Sim, o nascimento de uma criança tem que se preparar com cuidado. Facilmente podeis compreender que para nós idosos esta preparação não resulta tarefa fácil. Por isto vos pedimos que nos deis uma mão. 

Pensando no velho Simeão que vai ao Templo para acolher nos seus braços o Menino e louvar a Deus porque os seus olhos vêem finalmente a Luz (Lucas 2, 25-32), perguntamo-nos: como faremos nós? É por isso que precisamos de vós, que a tarefa de pais e mães a sabeis desempenhar bem.

Dado que voltámos a sonhar, com a confiança das crianças, também nós desejamos colocar a nossa carta na árvore para pedir ao Menino o dom da PAZ. 

Como poderemos nós repetir com Simeão: «Agora, Senhor deixa que o teu servo vá em paz...» se vemos, à nossa volta, tanta injustiça, violência e pobreza?!... 

Mas, apesar de tudo isso, continuamos a alimentar o SONHO que este Menino nos trouxe. Ajudai-nos, vós também, a sonhar!

Bom Natal!
P. Manuel João 
p.mjoao@gmail.com

18 de dezembro de 2018

MÃE SANTA


A FADISTA MARIZA teve um filho prematuro às 18 semanas de gestação. Chama-se Martim e, durante o primeiro ano de vida, teve que lutar muito para sobreviver. Passou muito tempo na incubadora, esteve ligado às máquinas para respirar e crescer.

«Ele faz um ano e no dia a seguir pego na minha mãe e vou para Fátima com ele ao colo e digo: “Minha Nossa Senhora, eu sou mãe, tu és mãe. Ele é teu como meu. Cuida dele que eu vou cuidar o que conseguir.” E o Martim é da Nossa Senhora, não é meu. Está aí» – a cantora contou numa entrevista.

Emocionou-me profundamente este testemunho, este diálogo entre mulheres-mães, o génio feminino, esta consagração do Martim a Nossa Senhora. Uma mãe que confia o filho à outra: «Cuida dele!»

O Papa Francisco recordou-nos três vezes na missa da canonização dos Pastorinhos, a 13 de maio de 2017, que temos Mãe! E desafiou-nos: «Agarrados a Ela como filhos, vivamos da esperança que assenta em Jesus.»

A Imaculada Conceição é a nossa mãe, porque Jesus no-la deu no Calvário num ato de amor radical: normalmente a mãe é única e partilhada só com os irmãos de sangue. Ao dar-nos como filhos à Mulher e ao amado como Mãe, Jesus faz-nos irmãos de sangue no sangue derramado na Cruz.

«Junto à cruz de Jesus estavam, de pé, sua mãe e a irmã da sua mãe, Maria, a mulher de Clopas, e Maria Madalena. Então, Jesus, ao ver ali ao pé a sua mãe e o discípulo que Ele amava, disse à mãe: “Mulher, eis o teu filho!” Depois, disse ao discípulo: “Eis a tua mãe!” E, desde aquela hora, o discípulo acolheu-a como sua» – conta João no seu Evangelho.

A Santa Maria, a mulher forte que permanece de pé junto à cruz do Filho, é uma Mãe que cuida de nós, seus filhos; uma Mãe que nos ensina o caminho da Vida, o caminho da santidade, o caminho de todos e cada um de nós.

O Papa Francisco publicou há quase um ano uma Exortação Apostólica. Chamou-lhe Alegrai-vos e exultai. É um roteiro para viver o chamamento à santidade no mundo actual, a santidade «ao pé da porta».

O penúltimo parágrafo, nº 176, coroa as reflexões do papa argentino sobre a santidade. Apresenta Maria como modelo – não das passarelas luzidias da moda, mas dos caminhos trabalhosos da vida – «porque ela viveu como ninguém as Bem-aventuranças de Jesus»:
  •  Estremecia de júbilo na presença de Deus; 
  • Conservava tudo no seu coração; 
  • Deixou-se trespassar por uma espada de dor. 
O Papa define Maria de Nazaré como «a mais abençoada dos santos entre os santos, aquela que nos mostra o caminho da santidade e nos acompanha!»

Maria, a Virgem Imaculada concebida sem pecado, caminha connosco os caminhos da santidade: não estamos sós neste peregrinar de Deus e para Deus. Fazemo-lo juntos, como povo de Deus, fazemo-lo com ela que nos precede como Mãe e Mestra.

Francisco escreve que «ninguém se salva sozinho, como indivíduo isolado, mas Deus atrai-nos tendo em conta a complexa rede de relações interpessoais» (nº 6).

O caminho da santidade nem sempre é chão raso! «Estreita é a porta e difícil o caminho que conduzem à vida», disse Jesus.

O caminho da santidade tem altos e baixos, dificuldades, tentações, buracos… De vez em quando caímos. Somos fracos, somos frágeis. Mas a Mãe está connosco: «quando caímos, não aceita deixar-nos por terra e, às vezes, leva-nos nos braços sem nos julgar», escreve o Papa.

Como Mariza rezou em Fátima: Santa Maria é Mãe e cuida de nós; levanta-nos e leva-nos ao colo, dá-nos colo.

O Papa Francisco termina assim o breve parágrafo de 115 densas palavras: «Conversar com Ela consola-nos, liberta-nos, santifica-nos. A Mãe não necessita de muitas palavras, não precisa que nos esforcemos demasiado para Lhe explicar o que se passa connosco. É suficiente sussurrar uma vez e outra: “Ave-maria...”.»

Eis uma trindade de verbos essenciais para a nossa espiritualidade mariana: Maria consola-nos, liberta-nos, santifica-nos!

É tudo isto que apresentamos à Mãe para que ela ao escutar a nossa prece, o nosso agradecimento nos console, nos liberte e nos santifique.

A Mãe Santa ensina-nos a escutar o que Deus quer de nós através de tantos anjos que nos envia, com rostos e corações conhecidos.

Ensina-nos a admitir os nossos sentimentos perturbados, a assumir os nossos medos e angústias, a dar voz às nossas dúvidas, a reconhecer os nossos limites, o vaso de barro onde trazemos o tesouro que somos.

O mistério da anunciação de Nazaré – a evangelização de Maria, como lhe chamam os nossos irmãos ortodoxos – repete-se na história de cada um de nós.

O Papa Francisco recorda que cada um de nós é uma missão em Cristo, um caminho de santidade. Deus quer dizer hoje uma palavra concreta, uma mensagem através de cada um.

«Permite-lhe plasmar em ti aquele mistério pessoal que possa reflectir Jesus Cristo no mundo de hoje», escreve o Papa no nº 23 da exortação Alegrai-vos e exultai.

Maria ensina-nos a dizer, no fim: «Eis a escrava do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra.»

Habitam-nos tantas palavras… Mas é a Palavra de Deus que quer fazer-se em nós, ser Natal em nós para celebrarmos bem o Ano Missionário, «uma ocasião de graça, intensa e fecunda, de modo que desperte o entusiasmo missionário», como desejam os nossos bispos.

Acolher Maria como nosso Mãe santa – como em nosso nome fez o discípulo amado junto à Cruz – é dizer sim como e com ela ao projeto de Deus de um mundo redimido através da encarnação, morte e ressurreição do seu Filho, triunfo da bondade de Deus sobre toda a maldade do Mafarrico.

Parece ser uma missão impossível, mas não precisamos de muitas palavras para pedir a ajuda de Santa Maria, Mãe de Deus e nossa Mãe. Basta sussurrar uma e outra vez com o Anjo, com todas as filhas e filhos: «Ave-maria…»

16 de dezembro de 2018

NATAL NO CONGO


Com os meus votos de um Santo e Feliz Natal, quero antes de mais agradecer-vos a vossa proximidade através da oração. Eu continuo a trabalhar no Postulantado (Seminário) em Kisangani, República Democrática do Congo, onde colaboro na formação de jovens que se preparam para serem missionários Combonianos. Somos três formadores, eu mais dois padres congoleses. Os jovens em formação são 40. Durante o tempo do Postulantado recebem uma formação humana e cristã para ajudá-los a discernir a sua vocação e fazem três anos de filosofia. 

Neste momento é difícil descrever a situação do Congo. O Doutor Denis Mokwenge, genicologista-obstetra congolês, no seu discurso no dia 10 de dezembro, no momento em que lhe foi entregue o Prémio Nobel da Paz 2018 em Oslo, apresenta-nos a situação dramática do Congo nestes últimos anos: crianças, jovens, mulheres violadas, massacres,etc.

Diante do horrível e indescritível drama a sua atitude é antes de mais de silêncio e oração: «Meu Deus, diz-nos que aquilo que estamos a assistir não é verdade, diz-nos que é um pesadelo, diz-nos que quando despertarmos tudo está bem. Mas infelizmente não é um pesadelo, um mau sonho. É uma realidade. É a nova realidade do Congo...e tudo isto se passa sem que os autores deste crimes sejam julgados...».

Neste momento o Congo está a preparar-se para as eleições que serão no dia 23 de dezembro. Não sabemos o que vai acontecer no momento das eleições e depois das eleições.

Nestas circunstâncias não sabemos se iremos celebrar o Natal nas nossas igrejas. Confiamos no Senhor, pois é Ele o mestre da História.

Envio-lhe uma fotografia dos nossos postulantes juntamente com os superiores das nossas comunidade do Congo.

Que o Senhor a proteja e recompense de tudo quanto faz pela Missão.
P. José Arieira

15 de dezembro de 2018

VI ASSEMBLEIA INTERNACIONAL LMC




Está a decorrer de 11 a 17 de Dezembro, na Casa Generalícia dos Missionários Combonianos, em Roma, a VI Assembleia Internacional dos Leigos Missionários Combonianos (LMC), evento que se realiza cada seis anos.

No total, são 51 participantes. Além dos representantes dos LMC e dos combonianos que os acompanham nos seus respectivos países, vindos de 20 países de África, Europa e América, participam também a irmã Ida Colombo, do conselho geral das Missionárias Combonianas e a Maria Pia Dal Zovo, do conselho central das Seculares Missionárias Combonianas.

A Assembleia iniciou-se com as palavras de boas-vindas proferidas pelo Alberto de la Portilla, coordenador do Comité Central dos LMC, e pelo P. Pietro Ciuciulla, em nome do Conselho Geral comboniano.

A manhã do primeiro dia, 11 de Dezembro, foi dedicada à oração, à reflexão e à partilha, guiados pelos Gonzalo Violero García e Maria Carmen Polanco Delgado, LMC da Espanha. Da parte da tarde, os participantes estiveram reunidos por continentes.

Ontem, dia 12, no qual se recorda a Nossa Senhora de Guadalupe, cada continente apresentou o relatório das actividades realizadas durante os últimos seis anos e apresentaram os seus principais desafios em relação ao futuro. Na mesma linha, seguiu- se a apresentação do relatório do Comité Central e o relatório económico de 2012 a 2018.

De tarde, deu-se início à reflexão do primeiro tema da Assembleia, que está relacionado com a organização dos LMC (composição, estrutura, comunidades internacionais e economia).

Os LMC irão debater, entre si, outros três grandes temas: formação e espiritualidade, a missão dos leigos e os documentos fundamentais dos LMC.

Dar-se-á ainda tempo para falar de um modo especial sobre as comunidades internacionais, para partilhar as experiências da vida dos LMC, nos diversos contextos continentais, e informar sobre a actual relação dos LMC com a Família Comboniana.

Nos momentos de oração e na Eucaristia, estão também presentes todas e todos os LMC e, em especial, os que se encontram a trabalhar em contextos difíceis como, por exemplo, na República Centro-Africana.

Que a luz do Espírito Santo seja o farol que ilumine os participantes nesta Assembleia e os LMC em geral, para que sejam capazes de dar continuidade à obra e ao carisma iniciados por São Daniel Comboni!
P. Arlindo Pinto

QUE POSSO FAZER?



Na festa da Ascensão de Jesus ao Céu, em Maio de 1959, como acontece todos os anos litúrgicos B, lê-se o Evangelho de São Marcos 16,15-20: «Jesus disse-lhes: Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado».

Naquele dia, estas palavras tocaram-me profundamente.

Nesse tempo havia no mundo uns dois mil e quinhentos milhões de pessoas não batizadas. Pensei de mim para comigo: «Que posso eu fazer para anunciar o Evangelho a essa multidão e para que essas pessoas creiam e sejam batizadas?»

Consciente ou inconscientemente, senti uma força interior que me empurrava a dizer: «Quero ser missionário». Dito e feito. Nesse mesmo ano, no dia 8 de setembro, festa da natividade de Nossa Senhora, dei entrada ao seminário comboniano de Viseu.

Doze anos mais tarde, na Quinta-feira Santa, dia 8 de abril de 1971 fui ordenado padre.

Passaram-se cinco anos e em abril de 1976 cheguei ao Congo, para anunciar o Evangelho a um povo que na maioria era ainda pagão. Hoje, graças a Deus, muita dessa gente, que então encontrei no Congo, é cristã.

Mas, o problema põe-se outra vez. Se em 1959 havia no mundo uns dois mil e quinhentos milhões de pessoas não batizadas, hoje esse número triplicou. Portanto, se então tinha sentido uma vocação missionária, hoje ainda tem mais sentido.

Por isso continuo a sentir-me feliz e a dar graças a Deus por me ter chamado para esta vida. Ao mesmo tempo, peço-Lhe que continue a chamar muitos jovens e a enviá-los a anunciar a Palavra de Deus aos povos que ainda não a conhecem. Deste modo, muitas outras pessoas podem ser batizadas e alcançaram a salvação eterna.

Que esse Natal seja um tempo especial para que Jesus renasça no coração e na vida duma multidão de pessoas que se deixem tocar pela presença de Deus e abram as portas a Cristo.

Vosso irmão e amigo 
P. Alfredo Neres
RD Congo

13 de dezembro de 2018

Celebrar o Natal ENTRE ACOLHIMENTO E CONTEMPLAÇÃO


Hoje, na cidade de David, nasceu-vos um Salvador... encontrareis um menino envolto em panos e deitado numa manjedoura (Lucas 2, 11-12).


Caros confrades,

Estamos a aproximar-nos da celebração do grande mistério da Encarnação, surpreendidos e deslumbrados pela luz que vem do presépio. Um mistério que temos que ter sempre presente na nossa vida missionária como fonte de inspiração no processo de inserção em novos contextos e desafios missionários. Começando com Jesus, Missionário do Pai, os missionários sempre tiveram que passar por um processo de encarnação que implica fazer-se pequeno e despir-se de tudo o que possa ser impedimento para acolher novas realidades (Filipenses 2, 6).

Lemos num antigo diário da missão de Omdurman: «Cheguei ontem a Omdurman. Nesta manhã de domingo, muito cedo, acordo com o cântico do muezim a convidar à oração. Mais tarde, tocam os sinos da igreja copta para convidar os fiéis para a celebração do domingo. Levanto-me porque devo acompanhar um missionário veterano do Sudão para celebrar a missa numa capela distante deste centro. Assim começa uma nova etapa da minha vida, no Sudão, onde o Senhor me enviou. Ele guiará os meus passos no meio deste povo, a quem Deus ama e que também se tornará o meu povo.»

Este novo começo da «missão africana» de um jovem missionário remete-nos para todos os nossos confrades que, espalhados em muitas partes do mundo, testemunham o amor de Deus pela humanidade. O encontro dos membros do CG com cada um de vocês, nas visitas às províncias e nos diálogos pessoais, faz-nos tocar com as mãos como Deus continua a sua encarnação hoje entre os povos. A encarnação do Verbo, de facto, não é um evento isolado, circunscrito a um certo tempo e espaço da história. É um processo em contínuo desenvolvimento. A partir do momento em que o Verbo se fez carne, a partir do dia em que os anjos anunciaram esta alegre notícia, Deus continua a encarnar-se «hoje», como no princípio, de um modo surpreendente e único. A nós, que participamos deste evento, é pedida a mesma atitude dos pastores: a capacidade de nos surpreendermos e de nos maravilharmos, deixando que o Mistério nos envolva de Luz e a Palavra construa a sua casa em nós e no mundo.

«Hoje» é cada momento em que Deus se faz presente, o kairos que nos é oferecido e que devemos acolher com alegria, o dia em que «com efeito, se manifestou a graça de Deus» (Tito 2:11). «Hoje» é o tempo do recenseamento na época de César Augusto e também o tempo em que o povo de Israel esperava a realização das promessas de Deus. É o dia em que se constroem muros que nos dividem, mas também é o dia em que que tantas portas se abrem para a vida e para a esperança.

Ao tempo junta-se o espaço, o lugar onde Deus nos surpreende e que sempre será um lugar significativo para nós. Omdurman é como o ícone dos lugares de missão, lugares geográficos, antropológicos e culturais que Deus escolheu para nós. Lugares que serão sempre uma nova Belém, «casa do pão», onde Deus nos desconcerta e nos convida ao assombro. Belém é o lugar da graça, aquele em que nos encontramos e no qual somos convidados a receber o pão que nos é oferecido para partilhá-lo com todos. Não é por acaso que o lugar da encarnação de Deus se chama Belém.

Falar de tempo e de lugar significa falar de povos, culturas, situações concretas, onde cada um de nós se encontra a viver momentos de alegria e de tristeza, de esperança e de desilusão, de paz e de guerra. Estas situações são o dom de Deus que somos chamados a acolher com alegria e esperança, porque é aí que a Palavra se faz carne, que Deus se faz criança, que o primeiro se faz último. Ali todo o nosso ser se perturba e é chamado ao silêncio, respeito e contemplação: «Entrei, e embora o nascimento seja mais alegre que a morte, fiquei mais comovido que no Calvário ao pensar na complacência de um Deus que se humilhou até ao ponto de nascer num estábulo» (Escritos 111).

Com São Daniel Comboni somos convidados a contemplar o Menino, a comover-nos por este mistério e a maravilhar-nos com a ação de Deus no coração da humanidade.

No final deste ano de 2018, o CG agradece convosco ao Senhor pelos eventos vividos em conjunto este ano, como o percurso de Revisitação e Revisão da RV e a Assembleia Intercapitular. Ao mesmo tempo, deseja a todos um Santo Natal e um Ano Novo de 2019 cheio da presença do Menino de Belém que continuará a surpreender-nos nos caminhos da missão.
O Conselho Geral 
Natal de 2018

10 de dezembro de 2018

CELEBRAÇÃO E NOVOS DESAFIOS

No dia 10 de dezembro de 2018 celebramos os 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Essa é também uma boa ocasião para recordarmos os 30 anos da Constituição Federal, a mais democrática que o Brasil já escreveu, promulgada no dia 5 de outubro de 1988 e conhecida como «Constituição Cidadã». 

Esses documentos em favor da vida, da dignidade e liberdade, assim como de outros direitos fundamentais de todas as pessoas, foram construídos à custa de muitas lutas, vidas tiradas, famílias dilaceradas e sonhos interrompidos. Graças a esses documentos e à organização dos movimentos sociais frente aos compromissos assumidos pelo Estado brasileiro, a dignidade de milhões de pessoas foi elevada, direitos e deveres foram promovidos, sofrimentos impedidos e os fundamentos de uma sociedade mais democrática, justa e igualitária foram construídos.

Temos muitas conquistas a celebrar e muitos desafios a serem enfrentados. Além das práticas comuns de abuso e violações de direitos, vemos ressurgir na sociedade brasileira um cenário, discursos e práticas que não só ameaçam, mas esvaziam os conteúdos da Declaração Universal dos Direitos Humanos e da Constituição Federal, pela retirada sistemática e a supressão de direitos, a exaltação do ódio e da violência e a exclusão das minorias. Isto se observa claramente nos pensamentos e ações de indivíduos e grupos, inclusive religiosos, que chegaram ao poder político e econômico do País nas últimas eleições. O momento é de celebração e de resistência.

Nesse contexto, leigos/as e religiosos/as que compõem a Articulação Comboniana de Direitos Humanos (ACDH), através desse pronunciamento, se dirigem a você, à sua comunidade, grupo ou movimento para partilhar preocupações e esperanças.

A linha do tempo nos ensina que a história é feita de ciclos. Em alguns deles a defesa da vida parece mais desafiadora. No Brasil, por um curto período, a classe trabalhadora deu passos importantes para tirar do texto formal os direitos fundamentais e assegurar algumas proteções aos historicamente mais marginalizados, mesmo sem tocar na zona de conforto da elite e de seus agregados. Isso acabou provocando a elite brasileira, que mostrou o que ela tem de pior e nefasto. Nunca na história de períodos democráticos nesse País, houve tanta afronta e desprezo explícitos aos direitos humanos.

Conquistas ainda em fase de consolidação estão gravemente ameaçadas, principalmente em nome do desenvolvimento econômico. Comunidades tradicionais, como as indígenas e quilombolas, são alguns dos grupos depreciados em quase todos os pronunciamentos do Presidente recém-eleito. O Congresso brasileiro se distancia, a passos largos, de qualquer proposta que coloque as instituições públicas a serviço do bem comum. O Judiciário, guardião e promotor do direito e da justiça, em algumas de suas práticas deixa dúvidas quanto à sua imparcialidade. A maioria das lideranças religiosas serve aos interesses da elite política e econômica em troca de prestígio, conforto e fama, usurpando e deturpando os nomes de “evangélico” e “cristão” e em nome da moral e da família. Parecem desconhecer a autoridade religiosa, amorosa e ética do Papa Francisco e as inspirações e valores cristãos contidos na Declaração Universal dos Direitos Humanos e na Constituição Federal.

Nesse preocupante cenário de desmonte de direitos, devastação e morte, em que a mídia tradicional presta um enorme desserviço, é preciso conectar as nossas experiências, saberes, lutas e utopias às de outras pessoas e grupos, para que, de norte a sul, do campo à favela, a resistência seja propositiva e avance na construção de estratégias em defesa da vida e dos demais direitos.

A exemplo de Jesus de Nazaré, estamos convencidos/as que é preciso nos colocar a serviço dos marginalizados e oprimidos. Não falamos somente de disposição caritativa, cuja essência carrega uma grande dose de subalternidade do/a outro/a, mas da transformação radical da realidade, pela educação e organização popular, que devolvem dignidade às pessoas perseguidas ou exploradas.

Trabalhamos na perspectiva da utopia de uma sociedade sem subserviência. Utopia! Palavra pouco apreciada no dicionário do sistema de morte perpetrado pelo capitalismo selvagem, mas viva para todas as pessoas e coletivos que seguem perseverantes na construção de uma sociedade onde a humanidade da família campesina, da operária empregada ou desempregada, do povo em situação de rua, da população encarcerada, das comunidades quilombolas e indígenas, das crianças e adolescentes abandonados à própria sorte, da juventude negra e periférica, prevaleça sobre os interesses econômicos.

A Articulação Comboniana de Direitos Humanos (ACDH), particularmente nesse período de celebrações e de organização da resistência, se soma aos movimentos sociais e aos tantos coletivos, novos e velhos, de jovens e mulheres, na luta pela defesa incondicional da vida, dos direitos conquistados e na resistência contra toda forma de opressão, ódio e violência. Dizemos SIM à vida e aos direitos e reafirmamos nosso sonho e compromisso com a cultura de paz e com uma sociedade mais justa, pacífica e igualitária.
São Paulo, 10 de Dezembro de 2018
Articulação Comboniana de Direitos Humanos

5 de dezembro de 2018

ALMOÇOS GRÁTIS?


O «amigo chinês» ajuda, mas também cobra.

As redes sociais na Zâmbia estiveram ao rubro em Setembro com um alerta da Africa confidential. A prestigiada publicação londrina dizia que os Chineses iam tomar conta do aeroporto internacional Kenneth Kaunda, em Lusaca, da companhia nacional de electricidade e da radiotelevisão estatal por o Governo não estar a servir a dívida com Pequim. Esses activos foram dados como garantia de empréstimos que ultrapassam 6,3 mil milhões de dólares numa dúzia de anos.

O Governo zambiano desmentiu prontamente a notícia, mas a publicação reafirmou que a Zâmbia corre o risco de perder símbolos importantes da soberania nacional para o controlo chinês por incumprimento. A Frente Patriótica, o partido da oposição, acusou o executivo de estar a vender o país.

A notícia da Africa confidential repõe na praça pública a questão do endividamento dos governos africanos com Pequim. O Governo chinês continua a oferecer crédito sem limites e as dívidas têm de ser pagas. Países com petróleo e outros bens fazem o pagamento em género. Quem não tem matérias-primas tem de se endividar ainda mais para não correr o risco de ver penhoradas as garantias dos empréstimos.

A China emprestou mais de 110 mil milhões de dólares americanos – qualquer coisa como 94 mil milhões de euros – a governos africanos nos últimos dezassete anos. Em Setembro, o presidente Xi Jinping anunciou no Fórum de Cooperação China-África um novo fundo de 60 mil milhões de dólares para assistência e empréstimos com juros e sem juros.

Há quem veja na ajuda chinesa sem limites e sem perguntas incómodas uma armadilha que gera uma nova forma de colonialismo. Pequim jura que não é verdade: a China nunca teve colónias na África. Mais: é com a sua cooperação que os africanos se podem libertar dos constrangimentos financeiros do passado colonial.

Contudo, a presença maciça de chineses no continente está a mudar o modo como a ajuda de Pequim é percebida pelo cidadão comum. Os chineses são vistos como competidores privilegiados na economia local, desde a produção até ao retalho, legal e ilegalmente, e misturam-se com as máfias autóctones. Junta-se ainda a questão do racismo de que se queixam os quenianos que trabalham para os chineses na ligação ferroviária entre Nairobi e Mombaça.

Na Zâmbia, noutra vez, gerou-se um grande sururu quando o jornal estatal, editado em inglês, publicou uma história em mandarim para atrair leitores chineses. Os críticos dizem ser mais correcto escrever artigos nas línguas locais zambianas.

Em Juba (Sudão do Sul) vi um método chinês de negócio peculiar: investidores arrendavam a privados – e às igrejas – lotes urbanos por um preço simbólico para construir a expensas próprias e explorar as infra-estruturas durante quinze anos. Nessa altura, vão passar os imóveis e a sua gestão aos donos do terreno a custo zero. Como as técnicas de construção e os materiais usados não dão garantias – vem tudo da China juntamente com a mão-de-obra, e o calor húmido é inclemente, os proprietários vão receber edifícios prontos para demolição. O «amigo chinês», esse recuperou o investimento e voltou para casa, satisfeito. Decididamente não há almoços grátis mesmo na ajuda de Pequim à África.

4 de dezembro de 2018

NATAL SEM O MENINO

É uma mãe jovem, muito criativa e comunicativa.

Combinou fazer uma acção antes do Natal com as educadoras na sala da pré-primária que a filhota frequenta.

Decidiu explorar o Calendário do Advento com os pequeninos: queria falar-lhes da preparação do Natal com palavras, canções e desenhos além de um chocolate.

Preparou as janelinhas para os dias de aulas antes do Natal: cada uma tinha uma palavra, um símbolo, uma melodia… Deu trabalho, mas estava contente com o produto final!

Tudo a postos, telefonou à educadora a explicar: «Vou explorar com os meninos o significado do Natal, Menino Jesus, Reis Magos, a Estrela com um Calendário do Advento! Cada dia vão abrir uma janelinha.»

Espantada, ouviu do outro lado do telemóvel: «Ó mamã, lamento mas não pode falar dessas coisas: é proibido pela direcção do colégio. Pode falar do pai-natal, das renas, dos duendes… Mas de Advento, do Menino-Jesus, dos Reis Magos, não… Explore a palavra generosidade para expressar os sentimentos do Natal!»

E a mamã lá teve que voltar à mesa de trabalho e, contrariada, reorganizar um Calendário do Advento laico sem Advento nem o Menino nem os Reis Magos com renas e duendes e um gorducho barbudo.

«O pior é que os meninos da sala são todos católicos» - lamentou-se.

Pois é: Natal sem o Menino não é Natal.

Natal é o dia de anos de Jesus!

É o dia de anos de cada um de nós que, através do seu nascimento, nascemos filhas e filhos de Deus.

Bom Advento!

Vá lá: podem comer um chocolate…

30 de novembro de 2018

Camarões: MISSIONÁRIOS LIBERTADOS

Três missionários claretianos raptados nos Camarões já foram libertados.

Os claretianos anunciaram no dia 29 que o padre Jude Thaddeus Langhe, o diácono Placide Muntong Gwehe o seminarista Abel Fondem Ndia foram libertados e estão bem.

«Damos graças a Deus pela liberação dos nossos irmãos missionários em Camarões que foram sequestrados no dia 23 de novembro de 2018. Eles se encontram a caminho para Douala, Camarões», lê-se no comunicado da congregação.

Os religiosos tinham sido raptados juntamente com o motorista em Muyenge no sudoeste dos Camarões por separatistas anglófonos na manhã de 24 de novembro.
Os três claretianos iam levar ajuda às vítimas da violência separatista refugiados na floresta.

O motorista continua nas mãos dos rebeldes.

O rapto aconteceu três dias depois do assassinato do padre Cosme Ombato Ondari.

Os Camarões vivem uma grave crise que opõe forças do governo aos rebeldes separatistas anglófonos.

22 de novembro de 2018

IGREJA 4.0

OS JOVENS vivem hoje sobretudo nas redes sociais. Para fazemos contacto evangelizador com eles é urgente tecer redes com os nativos do digital.

É possível transportar o evento de Jesus para o meio digital para facilitar a experiência pessoal do encontro com Jesus a uma geração tão arredada da Igreja?

Sim! É obrigatório criar uma Igreja 4.0 que celebre, sirva, faça comunhão e testemunhe, que transmita a fé usando as ferramentas e as linguagens próprias do digital desde as plataformas e aplicativos ao vídeo, etc.

Passo a rezar e Click to pray são duas iniciativas interessantes, mas representam apenas um começo. 

É urgente e necessário ir muito mais além na rede mundial.

Não chega postar algumas frases, fotos e vídeos religiosos no Facebook, Instagram ou Twitter. É vital mediar o encontro pessoa com Jesus Cristo no espaço digital, a essência da experiência cristã.

Trata-se de um grande desafio aberto à Igreja, aos pastores, aos comunicadores, criativos e engenheiros católicos das tecnologias da comunicação e informação.

Há outro elemento importante a ter em conta. 

São Paulo VI notou que «no nosso século tão marcado pelos "mass media" ou meios de comunicação social, o primeiro anúncio, a catequese ou o aprofundamento ulterior da fé, não podem deixar de se servir destes meios conforme já tivemos ocasião de acentuar» (EN 45).

A rede mundial, o grande meio de comunicação global, é uma plataforma importante para a evangelização do mundo, mas também um espaço a evangelizar desde as notícias falsas às campanhas que degradam a pessoa humana.

Outra razão para a Igreja ter uma presença qualificado neste mundo novo que nos aproxima e afasta!

XVII ASSEMBLEIA GERAL: COMUNICADO FINAL

Decorreu em Fátima nos dias 19 e 20 de novembro a XXVII Assembleia da Conferência dos Institutos Religiosos de Portugal (CIRP), constituída pelos Superiores e Superioras Maiores das diferentes Congregações. O primeiro dia, aberto a outros membros dos Institutos, foi dedicado ao estudo e reflexão sobre “Economia ao Serviço do Carisma e da Missão”. Realizou-se no auditório das Irmãs Concepcionistas ao Serviço dos Pobres, com a orientação do Padre Manuel Barbosa, SCJ, seguindo-se a apresentação dos Relatórios das diferentes Comissões de trabalho e dos Secretariados Regionais da CIRP. O segundo dia foi dedicado a assuntos relacionado com a vida da CIRP.

A Assembleia iniciou com um momento de oração confiando ao Senhor o caminho conjunto e num cântico de compromisso e desafio “Abre o teu coração, sê profeta do amor”. O P. José Vieira, Presidente da CIRP, saudou os presentes e fez uma contextualização e incentivo à pertinente formação proposta, tendo em conta os desafios da Igreja e da sociedade.

No desenvolvimento do Tema: Economia ao Serviço do Carisma e da Missão, o Padre Manuel Barbosa começou por apresentar alguns fundamentos da temática em documentos do Magistério que incitam os consagrados à fidelidade, a responder generosamente e com audácia às novas pobrezas e a vigiar atentamente para que os bens sejam administrados com prudência e transparência e numa perspetiva de sustentabilidade. 

Apresentou as “Linhas gerais de orientação para a gestão dos bens nos Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica”, propostas em Carta Circular, e apontou sobretudo para as Orientações da mesma Congregação: “Economia ao Serviço do Carisma e da Missão. Bons administradores da multiforme graça de Deus (1Pe 4,10)”. Foi feita uma viagem interpelativa ao longo de todo o documento, com alguns “Stop” para partilha entre dois ou três, sobre principais ideias, interrogações e sugestões, de que se fez eco à assembleia.

Este percurso de reflexão resultou num convite a continuar a fazer caminho tendo em conta que: somos chamados a ser bons administradores dos Carismas recebidos do Espírito, também na gestão e administração de bens (2); a simplicidade, a sobriedade e a austeridade de vida conferem uma liberdade total em Deus (8); a formação para a dimensão económica é fundamental para escolhas na missão, inovadoras e proféticas (19); hoje já não é possível pensar sozinhos (32); é tarefa específica dos superiores promover e potenciar a formação para a dimensão económica (97) e esta deve acontecer já nas etapas iniciais; os bens e as obras foram-nos confiados como dom de Deus providente, para realizar a missão (99).

A vida das Comissões Nacionais foi apresentada em perspetiva de futuro:
  • A Comissão de Apoio às Vítimas de Tráfico de Pessoas (CAVITP) traduziu e publicou o Manual “Talitha Kum” para ações de prevenção. Será distribuído por quantos desejam empenhar-se nesta causa. Irá realizar-se um seminário de formação e sensibilização. 
  • A COMISSÃO JUSTIÇA, PAZ E ECOLOGIA promove ações de formação e sensibilização em ordem à promoção e implementação destes valores. 
  • A COMISSÃO DA PASTORAL DAS VOCAÇÕES marcou presença no Congresso sobre Pastoral Vocacional e Vida Consagrada em Roma e promove o Encontro Anual para Animadores de Pastoral Vocacional em Fátima, já marcado para janeiro de 2019. 
  • A COMISSÃO DE FORMAÇÃO está a desenvolver a sua atividade na organização de Cursos para as diferentes etapas formativas. 
  • REVISTA DA VIDA CONSAGRADA. Houve apelo à partilha de vida, com notícias e artigos de reflexão. 
  • A COMISSÃO DA SEMANA DE ESTUDOS SOBRE A VIDA CONSAGRADA já lançou a divulgação da próxima que decorrerá em Fátima de 2 a 5 de março, sobre o tema: O Desafio da Santidade no Mundo Atual. 
  • OS INSTITUTOS MISSIONÁRIOS AD GENTES (IMAG) organizam anualmente o Curso de Missiologia na última semana de agosto. Em 2019 decorrerá de 26 a 31, contando-se com uma maior divulgação e participação que em anos anteriores assinalando o Ano Missionário. Foi inaugurada a 29 de setembro em Guimarães uma exposição missionária itinerante que irá percorrer várias Dioceses no contexto do Ano Missionário. Realizou-se em Gouveia entre 13 e 16 de novembro a Assembleia conjunta IMAG/ANIMAG. 

A apresentação dos relatórios dos Secretariados Regionais foi feita pelo Secretário da CIRP, P. Constantino Tiago Espírito Santo, com referência às atividades de formação, celebração da Semana e do Dia do Consagrado, tempos de oração, convívios e as reuniões do secretariado. Valorizou-se a visita às comunidades contemplativas e a presença de alguns Bispos nas atividades. Denotou-se criatividade nalgumas Dioceses e dificuldades de encontro noutras, por circunstâncias de lugar ou contexto.

Assuntos e informações da vida da CIRP
  • Foram apresentados os novos Superiores Maiores. 
  • Recordou-se o dever de participação dos religiosos nas atividades regionais da CIRP. 
  • A Semana do Consagrado terá como mote “Comunidades Santas e Missionárias”. 
  • Encarregaram-se diferentes Congregações de elaborar os materiais de ajuda à vivência da semana. 
  • Apresentação do comunicado final da Assembleia da CEP. Os Superiores Maiores aprovaram um voto de congratulação ao Missionário Monfortino D. Rui Valério pela sua nomeação para o Episcopado. 
  • A Assembleia nomeou a Irmã Conceição Oliveira Fernandes da Congregação das Irmãs de São João Batista e de Maria Rainha como vogal da Direção da CIRP. 
  • Foi proposta a criação de um Gabinete para Economia e Gestão. A Assembleia deu parecer positivo e será estudada pela Direção. 
  • O orçamento para 2019 foi aprovado por unanimidade. 
  • Em ordem à comunhão, houve partilha dos acontecimentos e celebrações relevantes em cada Congregação. 
  • A Direção da CIRP deu a conhecer a Porticus, Organismo internacional para apoio de obras católicas no mundo, interessados em apoiar na formação em ordem à proteção de menores e apoio a pessoas vulneráveis. Ficou a proposta de parceria tanto das Comissões como dos Institutos. 
Para além dos trabalhos da Assembleia, houve Eucaristia em comum em ambos os dias e um ambiente de confraternização e de partilha.

A Próxima Assembleia da CIRP irá realizar-se em Fátima a 20 e 21 de maio de 2019.

Fátima, 20 de novembro de 2019

21 de novembro de 2018

ESTRUME DO DIABO



Um coirmão italiano que foi ecónomo provincial costumava dizer que o dinheiro era «estrume do diabo». Esta definição pode revelar uma visão disfuncional dos bens, um bem-me-queres, mal-me-queres de uma realidade que é parte integrante da nossa vida de consagrados, do nosso voto de pobreza.

A economia e a finança captaram a atenção de duas congregações vaticanas este ano.

O Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Integral e a Congregação da Doutrina da Fé publicaram a 17 de maio de 2018 uma reflexão conjunta sobre as questões económicas e financeiras, propondo uma economia humanizada, com coração, que se preocupa com o bem-estar e o bem comum.

As questões económicas e financeiras quer introduzir a ética, a antropologia relacional e o conceito do bem comum no sistema económico-financeiro contra o individualismo e consumismo.

O documento defende também um consumo ético: não devemos comprar aquilo que sabemos que foi produzido sem respeitar os direitos dos produtores e o meio ambiente.

As considerações fazem todo o sentido, sobretudo hoje! Oito homens sozinhos detêm tanta riqueza como a metade mais pobre da humanidade junta.

A maioria faz o dinheiro nas tecnologias da informação e comunicação no âmbito do digital. Seis são americanos. Os outros dois são um mexicano (nas telecomunicações) e um espanhol (dono da Zara).

A Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica publicou a 6 de janeiro de 2018 umas Orientações sobre Economia ao serviço do carisma e da missão.

O documento diz que «o cristão, portanto, é chamado a ser ecónomo, administrador da multiforme graça» (nº 1) e «os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica são chamados a ser bons administradores dos carismas recebidos do Espírito, também na gestão e administração dos bens» (nº 2).

Somos administradores de bens – Jesus quer-nos  administradores fiéis e prudentes (Lucas 12, 42) – que não nos pertencem, mas que são eclesiais por natureza e, por isso, devem ser partilhados com os empobrecidos e com os institutos mais necessitados através de uma «economia evangélica de partilha e comunhão» (nº 16).

O documento fala da necessidade de as conferências de superioras e superiores maiores constituírem «comissões formadas por consagradas, consagrados e leigos especializados em matéria económica» (nº 95).

Somos nativos da cultura do consumo e somos tentados pelo consumismo. Neste âmbito, as Orientações recordam que o Papa Francisco «faz o elogio da sobriedade» (nº 8) caraterizada pela alegria de ter pouco e pela sobriedade, através de «uma austeridade responsável», «humildade sadia e uma austeridade feliz» para escutar «o grito dos pobres, dos pobres de sempre e os novos pobres» (Nº 51).

Ao refletir sobre as questões da economia, carisma e missão temos que fazer memória de Jesus Cristo, que «sendo rico, fez-Se pobre, para nos enriquecer na sua pobreza» (2 Coríntios 8,9).

Este é o paradoxo da vida económica: enriquecemos os outros através da «pobreza amorosa [que] é solidariedade, partilha e caridade» e «se manifesta na sobriedade, na busca da justiça e na alegria do essencial» (nº 14).

Como o papa escreveu na sua mensagem para o segundo Dia Mundial dos Pobres, que celebrámos a 18 de novembro, «os pobres evangelizam-nos, ajudando-nos a descobrir cada dia a beleza do Evangelho.»

«Não deixemos cair em saco roto esta oportunidade de graça», desafia Francisco.

16 de novembro de 2018

Sudão do Sul: LADRÕES MATAM MISSIONÁRIO


Homens armados assassinaram um missionário estrangeiro no Sudão do Sul.

A Província do Leste de África dos Jesuítas confirmou a morte do companheiro Victor-Luke Odhiambo, um padre queniano da Companhia de Jesus, «com tristeza e choque profundos.»

O P. Odhiambo foi assassinado na noite de quarta para quinta-feira, 15 de novembro, por homens armados que atacaram a Residência Jesuíta Daniel Comboni em Cueibet, junto à estrada que liga Juba a Wau.

O missionário queniano tinha 62 anos.

Era director da escola de formação de professores de Cueibet, fundada pelo comboniano Dom César Mazolari, bispo de Rumbek falecido há sete anos.

O P. Odhiambo trabalhava no Sudão do Sul há uma dezena de anos.

Estava na sala de televisão quando a residência foi assaltada.

Os outros quatro membros da comunidade, incluindo uma visita, estavam já nos seus quartos.

Quando ouviram os disparos acionaram o alarme e os ladrões puseram-se me fuga.

«Estão em estado de choque», os Jesuítas da província do Leste de África escrevem na sua página na rede digital.

Entretanto, John Madol Panther, Ministro da Informação do estado sul-sudanês de Gok, anunciou que três dos quatro suspeitos do homicídio do P. Odhiambo já estão presos.

O ministro disse que os detidos confessaram o envolvimento no assassinato do jesuíta queniano.

Definiu os homicidas como «criminosos armados da área.»

O P. Odhiambo vai ser sepultado em Rumbek, a capital do estado de Gok e sede da diocese.

O Sudão do Sul vive num turbilhão de violência desde 15 de dezembro de 2013 que os sucessivos acordos de paz não conseguem parar.

5 de novembro de 2018

ADEUS NYALA, ADEUS DARFUR




A festa de São Daniel Comboni celebra-se a 10 de Outubro, dia da sua morte, em 1881, em Cartum, no Sudão.Em Nyala, no Dardur, foi celebrada dois dias depois por razões práticas e pastorais: a sexta-feira é o dia de descanso nacional e assim os fiéis puderam participar com muito mais facilidade.

A festa de São Daniel Comboni, este ano, trouxe uma grande mudança à paróquia de Nyala. A partir de hoje, a responsabilidade da paróquia passou dos combonianos para as mãos do clero local da diocese de El Obeid. Esta mudança não foi surpresa para os fiéis: foram preparados com tempo para este evento.

O novo pároco, padre Anthony Ernest Laa, sudanês, foi instalado hoje, 12 de Outubro, durante a celebração da Eucaristia presidida pelo Vigário Episcopal, padre Edward Inyasio, que leu, para o efeito, o documento oficial de D. Yunan Tombe Trille Kuku, bispo da diocese de El Obeid.

Além do padre Feliz Martins, foram concelebrantes os padres Ayoub Kudri, pároco de El Fasher, e Jervas Mawut, da comunidade comboniana de Massalma, Omdurman.

Na homilia, o padre Edward recordou a figura de São Daniel Comboni que, na sua juventude, ouviu a chamada de Jesus Cristo, Bom Pastor, e seguiu-o.

Falou com arrojo e ousadia ao convidar a juventude a abrir-se e ouvir a voz de Cristo que chama também hoje de entre os rapazes e as raparigas desta paróquia de Nyala para dar cumprimento ao lema de Comboni: «Salvar a África por meio dos africanos».

Ao mesmo tempo, o padre Edward, incluiu o seu próprio testemunho de como o Senhor o chamou para estar ao serviço dele e da Igreja.

Começou por ser catequista em Kabkabia, no Norte do Darfur e, depois de quatro anos, ingressou no seminário com a firme resolução de ser padre.

O padre Anthony fazer a profissão de fé através da recitação do Credo.

Imediatamente depois, os presentes testemunharam também o simples mas muito significativo ritual simbolizado através de duas velas.

A primeira vela, que o padre Feliz segurava acesa na mão, foi passada ao novo pároco, o padre Anthony.

A segunda passou da mão do padre Jervas para a do líder da juventude da paróquia: a fé deve continuar viva e acesa no movimento da juventude e em todos os outros movimentos pastorais e litúrgicos de Nyala.

Terminada a Missa, todos foram convidados a permanecerem no adro da igreja para o fatur, o almoço que tinha sido preparado até altas horas da noite anterior.

Foi uma refeição que veio da iniciativa e generosidade dos paroquianos, pelo qual estavam todos muito orgulhosos.

«E eu sinto-me muito contente por ser contado entre aqueles que ajudaram na zebeh, na matança dos dois kharuf, os cordeiros, ontem à noite», comentou um dos jovens, enquanto a sinia, a travessa gigante da comida, era trazida.

«Sim, todos nós sabemos que sem o sangue a jorrar da zabiha, isto é, do animal a ser degolado, a celebração não seria bonita nem aceitável», concluiu um dos anciãos.

Depois do almoço, pouco a pouco, a gente começou a acomodar-se, ocupando todo o lugar do átrio da igreja, prontos para a tarde recreativa.

No palco houve bons ritmos, canções e algumas representações teatrais.

Naquela mesma plataforma ecoaram as palavras de agradecimento e encorajamento por parte do Vigário Episcopal e do padre Jervas, representante do Superior Provincial dos Missionários Combonianos.

Além disso, foi muito lindo o gesto dos paroquianos que, com amor e agradecimento, quiseram homenagear o antigo pároco, padre Lorenzo Baccin, e o seu assistente, padre Feliz, com alguns presentes simbólicos.

O P. Lorenzo não pôde estar presente, porque o visto de residência no Darfur caducou e teve que viajar para Cartum dias antes.

Aliás, os combonianos trocaram Nyala por El Obeid pela dificuldade de conseguir vistos de residência para o Darfur.

Havia alegria no ar e nos rostos de toda a gente.

Ficámos muito felizes por ver também alguns amigos e professores muçulmanos das nossas Escolas Comboni que quiseram unir-se aos cristãos nessa grande festividade que teve fim somente ao pôr-do-sol.
P. Feliz da Costa Martins

3 de novembro de 2018

VENTOS DE MUDANÇA

Presidente etíope Sahle-Work Zewde com o primeiro-ministro Abiy Ahmed 

Em África sopram ventos novos.

Há catorze meses, o ex-ministro da Defesa, João Lourenço, sucedeu a José Eduardo dos Santos ao fim de trinta e oito anos na presidência de Angola. E com palavras novas, logo na tomada de posse: «A corrupção e a impunidade têm um impacto negativo directo na capacidade de o Estado e os seus agentes executarem qualquer programa de governação. Exorto, por isso, todo o nosso povo a trabalhar em conjunto para extirpar esse mal que ameaça seriamente os alicerces da nossa sociedade.»

Não foi um discurso de circunstância! Um ano depois, o presidente Lourenço libertou a economia angolana das garras da família dos Santos: exonerou Isabel da presidência da Sonangol, a petrolífera estatal, e o irmão José Filomeno da presidência do fundo soberano do país e desfez alguns contratos lucrativos que o seu antecessor tinha assinado a favor da sua prole. Entretanto, em fins de Setembro, dá-se o inimaginável: Filomeno é detido preventivamente, acusado pelo Ministério Público de associação criminosa, falsificação, tráfico de influências, burla, peculato e branqueamento de capitais.

Pepetela, o escritor angolano recentemente homenageado na Escritaria, o festival literário de Penafiel, disse que o presidente Lourenço surpreendeu, «porque fez mais do que muita gente esperava».

Também na Etiópia sopram ventos de mudança. Em Fevereiro de 2018, o primeiro-ministro, Hailemariam Desalegn, demitiu-se depois de uma onda sangrenta de protestos de oromos e amaras ateada pelos planos de expansão da capital para terrenos agrícolas oromos. A coligação que detém o poder desde 1991 chamou, em Abril, Abiy Ahmed, ex-militar doutorado em paz e segurança, para chefiar o Governo.

Ahmed é o primeiro oromo – o maior grupo étnico etíope com cerca de 40 milhões de membros – a chefiar o Governo do país. Houve alguns oromos na presidência da República, mas o cargo é cerimonial.

O novo primeiro-ministro, filho de mãe copta e pai muçulmano, levantou o estado de emergência, soltou os presos políticos, permitiu o regresso dos exilados, desbloqueou a Internet e prometeu abrir o negócio das telecomunicações à iniciativa privada.

Mais, fez as pazes com a Eritreia – Asmara e Adis-Abeba envolveram-se numa guerra fronteiriça entre 1998 e 2000 –, visitou Asmara e celebrou o novo ano copto (a 11 de Setembro) com o dirigente eritreu Isaias Afwerki na fronteira reaberta. A Eritreia, por seu turno, refez as relações com a Somália e o Jibuti.

A emergência de Ahmed na cena política etíope foi saudada como «milagre de Deus» pela população cansada dos desgovernos em Adis-Abeba e nos nove Estados da federação.

Omar al-Bashir, o presidente sudanês com mandado de captura do Tribunal Penal Internacional por crimes de guerra e contra a humanidade no Darfur, trocou as penas de falcão pelas de pomba da paz ao apadrinhar acordos de cessação de hostilidades entre Salva Kiir e Riek Machar, no Sudão do Sul, e as milícias anti-Balaka e Seleka que se gladiam na República Centro-Africana.

Ventos novos que geram expectativas de mudanças maiores sobretudo na Eritreia, que o regime de Afwerki transformou em campo de concentração. Sem inimigos, já não pode justificar o serviço militar obrigatório até aos 50 anos e manter o país a ferro e fogo.

17 de outubro de 2018

Pedro Nascimento, LMC: OBRIGADO




Queridos amigos e amigas, 

Hoje, de um modo especial, uma palavra inunda o meu coração: obrigado!

Obrigado a Deus pelo grande amor que me tem, pelo Seu perdão constante e pela Sua grande paciência para com as minhas fragilidades!

Obrigado à minha família simplesmente pelo que são para mim, pelo que fizeram de mim, por tanto amor recebido! Diz-nos Saint Exupéry: «foi o tempo que dedicaste à tua rosa que a tornou tão importante para ti». Foi o tempo que me dedicaram que vos torna tão importantes para mim. Peço ao Senhor que vos fortaleça e rogo à Mãe do Céu que vos acolha no seu regaço, vos proteja e vos dê a paz de coração! Não estão sós, nem eu irei só. Acompanhar-nos-á o Senhor e o Seu Amor, acompanhar-nos-á o amor que me têm e o amor que vos tenho. Nunca tenham medo. Como nos dizia São Daniel Comboni, «não podemos temer nunca quando temos uma mãe poderosa e amorosa que roga por nós.»

Obrigado à minha paróquia, aqui representada pelo pároco, mestre e amigo, cónego Júlio Rodrigues. Foi nesta comunidade que recebi o Baptismo, a Eucaristia e a Confirmação. Foi aqui que fui catequizado, que dei os primeiros passos na fé, que aprendi os valores do Reino. Posso afirmar que a minha partida para a Etiópia é consequência desta comunidade, que me tornou filho de Deus, me ajudou a sentir-me Igreja e a viver em Igreja. Que São Barnabé acompanhe este seu filho, que o venera!

Estendo este agradecimento às comunidades de Figueira e Barros, Fronteira, Vale de Maceiras e Vale de Seda. Obrigado por tudo o que partilhámos e vivemos juntos, pelo que rezámos, pelas tantas vezes que louvámos o Senhor, pela amizade fraterna. Todos somos missão e a vossa presença aqui é uma presença missionária!

Obrigado Senhor Arcebispo, meu pastor, pela presença amiga. Obrigado por ser um bispo missionário, que desde o início convocou Évora para a missão. Consigo, também eu digo: «Não é a Igreja que faz a missão, é a missão que faz a Igreja.»

Obrigado, queridos amigos. Cada um de vós é uma graça para mim, sois dons que Deus me tem dado. Obrigado pela vossa presença que é sinal de Amor e que tanto me enternece o coração. «Aqueles que passam por nós, não vão sós, não nos deixam sós; deixam um pouco de si, levam um pouco de nós.»

Obrigado à família comboniana por tudo o que tem feito por mim, por me ajudar a perceber a vocação de Deus na minha vida, por tudo o que me ajudou a viver, pelas experiências de fé fantásticas que me proporcionou. Que o Senhor nos ajude a viver a missão segundo o carisma de São Daniel Comboni, que possamos ser as mil vidas que Comboni queria dedicar à missão. Obrigado especial aos Leigos Missionários Combonianos, movimento ao qual pertenço e com o qual caminho na vivência da minha vocação laical, missionária e comboniana. Que o Senhor nos ajude a ser santos e capazes, tal como nos pedia Comboni. Queridos LMC, sendo fracos, é na graça de Deus que somos fortes, santos e capazes.

Queridos amigos e amigas, a missão faz-se com os pés dos que partem, os joelhos dos que rezam, as mãos dos que repartem e com a generosidade das comunidades que enviam.

Para mim, o mais importante da missão é a oração e a leitura da Palavra de Deus. Sem oração não há missão. Por isso vos peço: rezem por mim! Rezem pela minha fragilidade, pela minha pequenez. Peçam ao Senhor que me acompanhe, me fortaleça e me ajude a amar com gestos e, se necessário com palavras, o povo para onde me envia, que eu saiba amar e tenha compaixão das pessoas, que eu não tenha medo de me enlamear e de me ferir, por amor às pessoas que passarão a ser a minha comunidade. Agradeço a vossa generosidade!

Etiópia é o destino para onde Deus me envia. Sabem porque parto? Acredito e confio que essa seja a vontade de Deus para mim.

Às várias questões que me colocam: porque vais? Porquê agora? Não gostas do que fazes? Porque deixas a advocacia – curiosamente faz hoje três anos que fiz a minha agregação? A todas elas tenho uma só resposta: Sei em quem pus a minha confiança! A decisão que tomei é a resposta às várias inquietações que Deus colocou no meu coração. Depois de muito discernimento, de muita luta interior, de muitas dúvidas e medos, decidi abrir o meu coração e seguir a Sua vontade. Digo-lhe como o profeta Isaías: «eis-me aqui Senhor, envia-me!». E porque sei em quem pus a minha confiança, também sei que, tal como aconteceu com os profetas de Emaús, o Senhor caminhará comigo a meu lado, será o meu Deus e eu serei o seu filho muito amado. Quando me perguntam se vou sozinho de Portugal, digo sempre que não! Se Deus está comigo, se eu sou templo do Espírito Santo, como poderei ir só?

Tenho consciência de que esta partida terá várias dificuldades: a língua, nova cultura, os medos, a saudade…. Mas, também nesta comunidade, tive exemplos fantásticos de amor, de entrega e de fidelidade na dificuldade que muito me ensinaram e prepararam para agora. Recordo-me, em especial, de um membro desta comunidade. Seu nome era Fausto. Um homem de uma fidelidade a Deus incrível. Apesar das dores, dos problemas de saúde, nunca deixou de participar na Eucaristia. Caiu muitas vezes ao chão no caminho, aleijou-se… Mas sempre foi fiel a Deus e sempre quis viver Deus. Nunca o ouvi queixar-se de dores e era impossível não as ter… Não havia um único dia em que não rezasse o terço. Não sabia ler nem escrever, mas sabia mais de Deus do que eu algum dia saberei… As suas dificuldades eram muitas, mas a sua fidelidade e amor a Deus eram maiores!

Por isso, peço ao Senhor que me ajude a ser fiel ao caminho que escolheu para mim pois, como dizia o Pe. Ivo Martins, missionário comboniano, «a grandeza da missão não está naquilo que fazemos mas naqu’Ele que nos envia.»
Pedro Nascimento, LMC

16 de outubro de 2018

PÃO PARA TODOS



Hoje celebra-se o Dia Mundial da Alimentação, uma boa ocasião para tomarmos consciência da realidade de hoje em termos de comida e da falta dela.

Uma em cada 11 pessoas passa fome: 815 milhões numa população de 7,6 mil milhões. Os dados são das Nações Unidas.

Mas não tem necessariamente de ser assim: a Terra produz alimentos suficientes para todos.

A FAO diz que uma pessoa para viver precisa de cerca de 2500 quilocalorias (kcal) por dia e o mundo produz uma média de 2790 kcal por dia por pessoa.

Se o que a terra produz em termos de comida é mais do que o necessário, então porque é que há fome no mundo?

As razões são variadas: distribuição inadequada de recursos, perda de alimentos devido a armazenamento e transporte deficientes (cerca de um terço), desperdício de comida (mais um terço é estragada), uso de culturas para a produção de energia (os chamados combustíveis vedes), açambarcamentos de terras, insegurança, mudanças climáticas, etc.

O papa assinala-o na encíclica Laudato si’: «O aquecimento causado pelo enorme consumo de alguns países ricos tem repercussões nos lugares mais pobres da terra, especialmente na África, onde o aumento da temperatura, juntamente com a seca, tem efeitos desastrosos no rendimento das cultivações» (LS 51).

As grandes multinacionais agroindustriais proclamam os organismos geneticamente modificados (OGM) e transgénicos como o milagre para aumentar a produção alimentar e resolver o problema da fome.

É verdade? É pura propaganda.

As sementes transgénicas que colocam no mercado são híbridas e não dão para semear segunda vez. O que eles querem controlar é o mercado mundial das sementes. Depois, ainda não se sabe dos efeitos dos OGM na biologia e no organismo humano.

Jesus propõe-nos a partilha do que temos como princípio de solução do problema da fome. O milagre da multiplicação dos pães ensina isso (Marcos 6, 38-44).

Jesus ensinou os discípulos – e cada um de nós – a pedir «o pão nosso de cada dia nos dai hoje» (Mateus 6, 11; Lucas 11, 3).

É importante notar que Jesus não ensinou: dá-me o pão meu de cada dia; ele usa o plural: «dá-nos o nosso pão de cada dia.»

Quanto rezamos o pai-nosso estamos a pedir o pão de todos, a responsabilizar-nos pela alimentação de todos, incluindo os 815 milhões que passam fome.

Vivemos essa responsabilidade através da partilha do que temos, através de uma sobriedade feliz de vida, combatendo o desperdício e a obesidade.

Rezemos para que não falte a ninguém o pão necessário. Que a quem mais tem, menos lhe baste, e a quem menos tem, mais se lhe acrescente.

15 de outubro de 2018

BENI CHORA: MASSACRES E EBOLA


Quero ante de mais apresentar as minhas saudações na confiança no Amor criador e redentor. O mundo de hoje e particularmente a RDC (República Democrática do Congo) apresenta-nos a injustiça e a corrupção como algo de normal. Um mundo onde os intelectuais são confundidos com os ignorantes, um planeta onde o PODER em exercício não tem ideais, um presidente que não se preocupa do seu povo, mas apenas se aproveita das riquezas do país em benefício próprio, deixando o povo abandonado à sua triste sorte. Assiste-se a um mundo humano sem humanidade, onde reina o poder do mais forte e o pequeno é espezinhado e massacrado. É a expressão da animalidade privada da racionalidade.


O que é que se pode dizer dos últimos massacres, roubos, violações em Ruvenzori, Beni, Oicha, etc.?
Gostaria de salientar aqui as últimas incursões dos presumíveis rebeldes e as suas atrocidades antes de vos apresentar a epidemia do Ébola. Não há praticamente nenhum dia em que não haja vítimas de massacres. No entanto aqueles que mais nos chocaram são os que aconteceram do 03/09/2018 até ao 15/09/2018 que causaram mais de 40 mortes e a debandada da população.

Do 16/09/2018 ao 30/09/2018 foi atacado o centro da cidade de Beni, onde se encontram uma guarnição de tropas congolesas e a MONUSCO (os soldados das Nações unidas no Congo). Os atacantes depois de ter matado duas pessoas raptaram 15 crianças cujas idades variavam de 0 aos 17 anos, incluindo uma criança de três meses.

Durante esses massacres, um suposto rebelde foi morto. Este não tinha qualquer identidade, a não ser a de militar. Tudo leva a crer que era um membro de uma guarnição militar do Congo. Isso até prova em contrário deixa-nos perplexos a ponto de não sabermos quem são realmente os supostos rebeldes que matam os seus compatriotas inocentes e por quê? Fontes locais em Beni confirmam que são os mesmos soldados congoleses mandados pelo governo.

Nas últimas semanas, nenhuma atividade escolar se realizou em Beni. Assim a greve prolonga-se de semana a semana, devido aos contínuos massacres que espalham o terror e a morte.

Em virtude de nossa fé em Jesus, nosso Libertador, não pararemos de gritar. É uma lâmpada que ilumina o mundo, mesmo que o mundo não o queira.

Certamente, com o salmista, podemos dizer que o inimigo agora está a rir-se de nós, mas temos uma palavra de convicção de que nada escapa aos olhos de Deus: quem mata pela espadada, com a espada perecerá. Quem quer que seja que pratique a injustiça e a violência receberá o fruto da mesma. É hora de não cruzarmos os braços, mas de agir como pacificadores, mesmo se desta exija o sacrifício supremo. Que o mundo congolês se atenha a ele. É hora de testemunhar e tirar a vida das mãos do mau pastor que está matando suas ovelhas.

Então queria dizer-te: este caso também é teu. Como poderíamos ficar em silêncio sobre tais situações? As consequências são sérias: mortes repetidas, a taxa de pobreza aumenta de dia para dia nas famílias, o número de crianças marginalizadas, traumatizadas, viuvez e escola fechadas, aldeias desertas, ninguém desta geração pode ficar indiferente ao sofrimento deste povo. Não é esta situação de pobreza e de miséria que está na base de epidemias como ébola e a outras doenças?


Ebola em Beni

A região de Beni na RDC, foi a segunda a ser confirmada como zona afetada pelo Ebola este ano, depois de ter sido erradicada de Bikoro. Esta epidemia não foi e não é um mito. É real. Ela causou a perda de várias pessoas. De acordo com uma fonte no local de Mangina, uma comunidade rural cerca de 30 km de Beni, em Maio de 2018 esta epidemia provocou várias mortes. Dada a precariedade das condições foi necessário esperar até agosto para que esta epidemia fosse detetada.

Apesar do Ministério da Saúde implantar rapidamente o seu equipamento para tratamento do Ebola, continuam a aparecer novos casos, isto porque há uma resistência por parte das pessoas e também por causa de uma dimensão política e comercial no procedimento do Ministério da Saúde. Como consequência, dos 80 mortos confirmados poderíamos adicionar muitos outros casos, que não foram publicados.

O Ebola veio reforçar ainda mais o enfraquecimento da região a todos os níveis. Apresenta-se como um dos maiores meios não só de isolar esta região, mas também de seu despovoamento. É necessário que a população local continue a observar as medidas preventivas disponibizadas pelos serviços de saúde para limitar os danos ao mínimo possível. Mas como fazê-lo em plena ameaça de guerras?

Em conclusão: na República Democrática do Congo, todos os meios são permitidos para que o PODER atual continue e a vida dos cidadãos é ignorada, como se a única realidade fosse as riquezas naturais do Congo, esquecendo que a verdadeira riqueza são as pessoas. A luta ainda é um longo caminho a percorrer. Qual pastor pode ficar em silêncio quando suas ovelhas estão sendo comidas?

Testemunho de um postulante comboniano de Beni

11 de outubro de 2018

ANO MISSIONÁRIO


Os bispos portugueses proclamaram um ano missionário de outubro de 2018 a outubro de 2019 para apelar «a um maior vigor missionário». Fizeram-no em resposta à declaração do Mês Missionário Extraordinário de outubro de 2019 por parte do Papa Francisco para «despertar e em medida maior consciência da missio ad gentes e retomar com novo impulso a transformação missionária da vida e da pastoral» como o próprio explica na carta por ocasião do centenário da promulgação da carta apostólica Maximum illud (MI). 

Bento XV escreveu a MI «sobre a propagação da fé católica no mundo inteiro» a 30 de novembro de 1919, no rescaldo da grande hecatombe que foi a primeira Grande Guerra. Propôs revitalizar a missão através da santidade – «seja homem de Deus aquele que prega Deus» (MI 41), da localização da Igreja (inculturação, formação do clero local e do episcopado autóctone), de uma pastoral de conjunto, e o fim dos nacionalismos e ostentação da parte dos missionários estrangeiros.

«Bento XV deu um particular impulso à missio ad gentes, esforçando-se, com os meios concetuais e comunicativos de então, por despertar, especialmente no clero, a consciência do dever missionário», sublinha Francisco.

Os bispos portugueses intitularam a nota pastoral «Todos, tudo e sempre em missão». TODOS, porque cada cristão é missionário em virtude do batismo; TUDO, porque a missão deve ser «capaz de transformar tudo, para que os costumes, os estilos, os horários, a linguagem e toda a estrutura eclesial se tornem um canal proporcionado mais à evangelização do mundo atual que à autopreservação» (EG 27); SEMPRE, porque constituídos «em estado permanente de missão» (EG 25).

A nota faz uma síntese (quase) perfeita da Doutrina Missionária da Igreja. Está dividida em quatro subtítulos: (1) Encontro pessoal com Jesus Cristo, (2) Em estado permanente de Missão, (3) Viver a Missão, e (4) Renovação missionária.

Os bispos recordam, citando Francisco, que «é tarefa diária de cada um “levar o Evangelho às pessoas com quem se encontra, porque o anúncio do Evangelho, Jesus Cristo, é o anúncio essencial, o mais belo, mais importante, mais atraente e, ao mesmo tempo, o mais necessário” (EG 127).»

Propõem para o ano missionário as quatro dimensões que o Papa sublinhou para o Outubro Missionário: a) Encontro pessoal com Jesus Cristo através da Eucaristia, Palavra, oração pessoal e comunitária; b) Testemunhos; c) Formação bíblica, catequética, espiritual e teológica em chave de missão; d) Caridade missionária.

O episcopado sublinha a alegria e a cordialidade como elementos fundamentais da missão:
  • «No centro desta iniciativa, que envolve a Igreja universal, estão a oração, o testemunho e a reflexão sobre a centralidade da missão como estado permanente do envio para a primeira evangelização (Mt 28,19). Trata-se de colocar a missão de Jesus no coração da própria Igreja, transformando-a em critério para medir a eficácia das estruturas, os resultados do trabalho, a fecundidade dos seus ministros e a alegria que são capazes de suscitar, porque sem alegria não se atrai ninguém.» 
  • «Do encontro com a Pessoa de Jesus Cristo nasce a Missão que não se baseia em ideias nem em territórios, mas “parte do coração” e dirige-se ao coração, uma vez que são “os corações os verdadeiros destinatários da atividade missionária do Povo de Deus”.» 
A nota recorda o testamento de São Daniel Comboni no leito da morte: «Coragem para o presente, e sobretudo para o futuro.» Coragem é agir com o coração.

Os bispos voltam a insistir no estabelecimento dos Centros Missionários Diocesanos e dos Grupos Missionários Paroquiais oito anos depois de proporem o projeto e advogam uma pastoral missionária para e a partir dos jovens.

Terminam com um voto: «Que este Ano Missionário se torne uma ocasião de graça, intensa e fecunda, de modo a que desperte o entusiasmo. E que este jamais nos seja roubando! Nesse entusiasmo, a formação missionária deve perpassar toda a nossa catequese e as escolas de leigos, e ser inserida nos currículos dos Seminários e das Faculdades de Teologia.»

Este voto deixa pistas preciosas para a nossa animação missionária em Ano Missionário, uma ocasião de ouro para relançar em novos modos esse serviço fundamental às Igrejas locais que os bispos pediram às congregações missionárias e é expressão da nossa missão na Europa.

9 de outubro de 2018

DAR A VIDA PARA QUE TODOS TENHAM VIDA



Solenidade de São Daniel Comboni, 10 de outubro de 2018 

«Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas e as minhas ovelhas conhecem-me, assim como o Pai me conhece e Eu conheço o Pai; e ofereço a minha vida pelas ovelhas. Tenho ainda outras ovelhas que não são deste redil. Também estas Eu preciso de as trazer e hão-de ouvir a minha voz; e haverá um só rebanho e um só pastor» (Jo 10, 14-16) 


Caros coirmãos,

Celebrar a memória do verdadeiro nascimento de São Daniel Comboni introduz-nos no grande mistério da vida do Bom Pastor do coração trespassado que deu a sua vida para que todos tenham vida e vida em abundância, sobretudo aqueles que ainda não pertencem à mesa do corpo de Cristo, os mais pobres e abandonados, para que se tornem um só rebanho e um só pastor.

Nós, Missionários Combonianos, fiéis a esta tradição, ao carisma e à prática pastoral do nosso Fundador, somos convidados renovar-nos neste empenho missionário diariamente para «ser nas fronteiras testemunhas e profetas de relações fraternas, fundadas no perdão, na misericórdia e na alegria do Evangelho» (DC ’15 n.º 1).

A missão na fronteira exigia de Comboni a capacidade de permanecer firme em tempos difíceis e a fidelidade a custas da própria vida, porque tinha o olhar no coração trespassado do Crucificado, uma visão de fé dos acontecimentos e o abraço à Nigrícia com um coração marcado pelo amor divino. Uma santidade encarnada que percorre os caminhos da pobreza e da marginalização humana, acolhendo o outro, os diferentes, os pobres, num abraço de comunhão e de diálogo: uma santidade que é a paixão divina que vive num coração humano.

É isto que procurámos exprimir na reflexão e na oração na Intercapitular que concluímos há pouco. Estivemos constantemente atentos à voz das vítimas, dos marginalizados, das grandes multidões de seres humanos cuja vida se vê ameaçada por um sistema sem coração que produz a morte antecipada e violenta dos mais fracos.

Esta realidade continua a interpelar profeticamente a nossa presença e a qualidade do nosso serviço missionário como interpelou Comboni no seu tempo. Porém, para responder a estes desafios, precisamos de aproximar-nos, hoje em dia, ao mistério do amor de Deus, revelado em Jesus Cristo, com o espírito, o olhar e o coração de Comboni, com um coração aberto e transbordante de amor e de misericórdia do Trespassado e, como Ele, deixar-nos trespassar por tantas situações de pobreza e abandono.

Para São Daniel Comboni era claro que a contemplação do mistério de Deus, crucificado por amor, tinha como objectivo conduzir os missionários a um modo de ser missão para testemunhar uma vida vivida em «espírito e verdade», fruto de uma oração suculenta e decisiva, da prática da humildade e da obediência, como sinais de uma espiritualidade profundamente comboniana. Ou seja, irradiar com a nossa vida o mistério de Deus Crucificado para aproximar de Cristo, fonte da Vida, todos aqueles que têm fome e sede de justiça.

É com estes sentimentos que queremos celebrar esta solenidade de São Daniel Comboni como Família Comboniana. Entrar neste mistério do Bom Pastor do coração trespassado e beber a seiva que nos renova, que nos faz olhar a realidade com os olhos da fé, da esperança e da caridade, que nos cura e nos humaniza, que nos faz tornar missão, «cenáculo de apóstolos», dom para os outros. «Quero partilhar a vossa sorte e o dia mais feliz da minha existência será aquele em que eu possa dar a vida por vós» (Escritos 3159).

Que São Daniel Comboni interceda junto do Pai por cada um de nós, por toda a Família Comboniana e pelas missões que neste momento se encontram em situações difíceis: Eritreia, Sudão do Sul, República Democrática do Congo, República Centro-Africana.

Boa festa para todos.
P. Tesfaye Tadesse Gebresilasie 
P. Jeremias dos Santos Martins 
P. Pietro Ciuciulla 
P. Alcides Costa 
Ir. Alberto Lamana