27 de abril de 2019

INTERCULTURALIDADE



O XVIII Capítulo Geral dos Missionários Combonianos tratou e aprofundou o tema da interculturalidade nos Documentos Capitulares 2015 (DC ’15, 33 e 47) e confiou ao Conselho Geral que «dedique pelo menos um ano de formação permanente ao tema da interculturalidade» (47.6).

O Conselho Geral destinou-lhe o ano de 2019.

A Carta para introduzir o ano de reflexão sobre a interculturalidade que o Conselho Geral escreveu com o Secretariado-Geral da Formação – e que foi publicada em separata na Família Comboniana de Janeiro – conclui assim:

«Graça e desafio: a interculturalidade é acima de tudo graça, carisma que tem a força de uma semente para se tornar árvore que dá fruto. E se torna projecto de vida que requer que nos tornemos pessoas “competentes” para o poder assumir e realizar, para rejubilar deste dom porque aqueles que o vivem, crescem em direcção à sua plenitude, pessoalmente, como comunidade e como missionários do Reino, “capazes” de assumir as fadigas, as renúncias, as tensões e os desafios deste dom.»

A interculturalidade afigura-se como ponto de chegada de um processo longo e complexo que começou com a internacionalização do Instituto, passou pela multiculturalidade e é uma das formas mais efetivas de presença missionária na Europa – e na Igreja – de hoje (DC ’15, 47.2).

Numa Europa xenófoba, medrosa, populista, é fundamental o testemunho comunitário da comunhão tranquila e vivificante de missionários de diferentes continentes e idades como um valor, um caminho para se ser feliz.

Uma comunidade intercultural é testemunho eloquente e palpável dos novos céus e da nova terra que alvorejam do Jardim da Ressurreição.

É sacramento do sonho de Deus para uma humanidade e criação renovadas, fruto do Pentecostes, a festa do fogo do Espírito Santo que faz com que gente de proveniências muito distintas ouça anunciar, nas suas línguas, as maravilhas de Deus (Actos 2, 11).

Esta nova humanidade, que nasce do coração aberto do Senhor ressuscitado, leva-nos a viver a interculturalidade como filhos da Ressurreição, e «torna-se profecia da nossa missão de construir uma humanidade nova» (DC ’15, 47.5).

A interculturalidade vivida em comunidade sem «ansiedade, frustração, indiferença ou superficialidade» é «uma graça para crescer quer na identidade de combonianos quer na qualidade das relações interpessoais e na profecia da missão» (DC ’15, 47.3).

Vai para lá de uma convivialidade tranquila e feliz – que inclui o intercâmbio dos modos de dizer e viver Deus, alimentos, bebidas, melodias e padrões – e enriquece o carisma comboniano com novas expressões, intuições e desafios.

Daí o desafio do Capítulo: «Somos chamados a valorizar, primeiro entre nós, a interculturalidade, a hospitalidade e “a convivialidade das diferenças”, convencidos de que o mundo tem imensa necessidade deste testemunho» (DC ’15, 33).

Agradeço à Comissão da Formação Permanente o programa pessoal, comunitário e zonal gizado para um Ano da Interculturalidade proveitoso, e a cada missionário e comunidade pelo empenho neste percurso que «nos torne “santos e capazes” de fazer frutificar o dom da interculturalidade» – como conclui a carta de Roma.

25 de abril de 2019

NO 25 DE ABRIL ESTAVA…


No dia 25 de Abril de 1974 eu estava no Seminário Comboniano da Maia a fazer o quarto ano do liceu.

Soubemos da «confusão em Lisboa» de manhã durante a aula de Geografia. O professor Marques pediu um rádio a pilhas. Pusemo-nos todos à volta da secretária do professor a seguir as notícias através da Emissora Nacional ou do Rádio Clube Português (não me recordo) através de um pequeno transístor.

O 25 de abril foi providencial para os Missionários Combonianos: estava marcada para esse dia uma reunião de emergência do Conselho Provincial em Coimbra para delinear um plano face à expulsão iminente dos missionários italianos presentes nos seminários do país.

O regime de Marcello Caetano não gostou do Um Imperativo de Consciência que os combonianos da diocese de Nampula (Moçambique) publicaram juntamente com o bispo Dom Manuel Vieira Pinto a 12 de Fevereiro de 1974.

O documento – que pode ser consultado aqui – era endereçado à Conferência Episcopal de Moçambique. Denunciava a sua falta de profetismo e o seu contratestemunho na relação com o poder e com a evangelização. 

Os 94 signatários pediam à hierarquia católica que proclamasse o direito dos moçambicanos à autodeterminação e renunciasse à colaboração económica do estado.

Além de expulsar de Moçambique o bispo e onze missionários portugueses e italianos «traidores à pátria», o Governo preparava-se – segundo fontes amigas do Instituto – para expulsar todos os combonianos italianos a trabalhar em Portugal (eram a espinha dorsal da província) e nacionalizar os seminários e outras propriedades do Instituto.

Mas o 25 de Abril aconteceu e os Combonianos estão em Portugal há 72 anos, expressão da sua missionariedade.
P. José Vieira, mccj

17 de abril de 2019

ATREVE-TE!


Era voz corrente que do Sínodo sobre os jovens, o discernimento e a vocação saía só o Documento Final com as 167 propostas aprovadas. Mas o Papa Francisco surpreendeu-nos com a sua quarta exortação apostólica Christus vivi (Cristo vive) endereçada aos jovens e a todo o povo de Deus menos de seis meses depois do sínodo.

O papa argentino traça três objectivos para a exortação: (1) fazer memória de algumas convicções da fé, (2) encorajar a crescer na santidade e (3) no compromisso com a vocação pessoal (nº 3).

A encíclica tem, a meu ver, o seu centro em dois números:

107: «Não deixes que te roubem a esperança e a alegria, que te narcotizem para te utilizarem como escravo dos seus interesses. Atreve-te a ser mais, porque o teu ser é mais importante do que qualquer outra coisa. Não te serve ter ou aparecer. Podes chegar a ser aquilo que Deus, teu Criador, sabe que tu és, se reconheceres que és chamado a muito. Invoca o Espírito Santo e caminha com confiança até à grande meta: a santidade. Assim não serás uma fotocópia. Serás plenamente tu próprio»;

143: «Jovens, não renuncieis ao melhor da vossa juventude, não observeis a vida de uma varanda. Não confundais a felicidade com um sofá nem passeis toda a vossa vida diante de um ecrã. Tampouco vos deveis converter no triste espetáculo de um veículo abandonado. Não sejais automóveis estacionados, pelo contrário, deixai brotar os sonhos e tomai decisões. Arriscai, mesmo que vos equivoqueis. Não sobrevivais com a alma anestesiada nem olheis o mundo como se fôsseis turistas. Fazei barulho! Deitai fora os medos que vos paralisam, para que não vos convertais em jovens mumificados. Vivei! Entregai-vos ao melhor da vida! Abri a porta da gaiola e saí a voar! Por favor, não vos aposenteis antes de tempo».

Algumas notas depois de uma leitura rápida do documento:

Título: Francisco intitulou a exortação apostólica Christus vivit (Cristo vive), um pregão pascal num documento muito pascal: «CRISTO, NOSSA ESPERANÇA, ESTÁ VIVO e é a mais formosa juventude deste mundo. Tudo aquilo que Ele toca torna-se jovem, faz-se novo, enche-se de vida. Então, as primeiras palavras que quero dirigir a cada um dos jovens cristãos são: Ele vive e quer-te vivo!» (nº 1).
Eu dar-lhe-ia o título ATREVE-TE. A expressão aparece nove vezes no documento (15, 36, 100, 107, 169, 171, 210, 240 e 274) e é um desafio a ser mais, ser diferentes, a ajudar os padres a viverem o compromisso, a tocar o sofrimento dos outros e a visitar outras casas.

Exortação missionária: Cristo vive é uma exortação missionária com duas secções especiais (Missionários valentes – 175-178 e Sempre missionários – 239-241). Mas a missão está também presente nos números 129, 138, 153, 168, 171, 172, 210, 222, 240 e 253-254. Tocou-me o nº 240: «não podemos ignorar que a pastoral juvenil deve ser sempre uma pastoral missionária». Pois claro!

Não deixes: no seguimento de A alegria do Evangelho, o Papa lança um número de reptos aos jovens: 
  • «Não deixem que lhes roubem a esperança» (nº 15);
  • «Não deixes que te roubem a esperança e a alegria, que te narcotizem para te utilizarem como escravo dos seus interesses» (nº 107);
  • «Não deixes que isso [encerrarmos em nós mesmos] te aconteça, porque te tornarás velho por dentro e antes de tempo (nº 166);
  • «Não deixemos que nos roubem a fraternidade» (nº 167);
  • «Não deixeis que outros sejam os protagonistas da mudança» (nº 174);
  • «Não deixeis que o mundo vos arraste para partilhar apenas as coisas más ou superficiais» (nº 176);
  • «Não deixeis que vos roubem o amor a sério. Não vos deixeis enganar por aqueles que vos propõem uma vida de desenfreamento individualista, que, por fim, conduz ao isolamento e à pior solidão» (nº 263);
  • «Não deixes que isso [propostas maquilhadas, que parecem belas e intensas, mas que, com o tempo, só te deixarão vazio, cansado e sozinho] te aconteça» (nº 277).
Temas: o Papa aborda um número importante de temas no documento. Quer uma juventude subversiva (críticos – nº 190, originais – não somos fotocópias: nº 162, protagonista da mudança – nº 174 e 225, rebeldes – nº 264, lutadores – nunca te dês por vencido: nº 272); denuncia a colonização ideológica (nº 122) e cultural (nº 185) e a destruição cultural através da homogeneização (nº 186); desenvolve amplamente o tema da amizade (nºs 151-156, 219 e 287), a vocação primeira (nºs 248-252) que também é social (nº 169). Traça linhas mestras para uma pastoral juvenil que responda às questões dos jovens com os próprios jovens como protagonistas mobilizando a sua astúcia, engenho e conhecimento (nºs 202-203) através das duas grandes linhas de busca e crescimento para missionar os âmbitos juvenis (nºs 209-215). Fala ainda do olhar diferente de Deus sobre os jovens (nº 6) a partir da Bíblia que é o livro do encontro do Senhor com os jovens; recorda um princípio hermenêutico importante: em grego as palavras jovem e novo são sinónimos. Apresenta a oração como um desafio e uma aventura (nº 155) e o diálogo intergerações (nº 16) como fundamental para a memória e para as raízes da juventude. Os jovens são o agora de Deus (nº 9) que os quer felizes e vivos (nº 145), fecundos (nº 178).

Recado atrevido: Aos velhos do Restelo da pastoral vocacional juvenil Francisco deixa um recado: «Se partimos da convicção de que o Espírito continua a suscitar vocações para o sacerdócio e para a vida religiosa, podemos «voltar a lançar as redes» em nome do Senhor, com toda a confiança. Podemos atrever-nos, e devemos fazê-lo, a dizer a cada jovem que se interrogue sobre a possibilidade de seguir este caminho» (nº 274).

15 de abril de 2019

JESUS CRISTO RESSUSCITOU


“Transmiti-vos, em primeiro lugar, o que eu próprio recebi:
Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras; foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras...
Sejam dadas graças a Deus que nos dá a vitória por meio de Nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Cor 15, 3-4. 57)
.

Caríssimos confrades, Boa Páscoa, Cristo ressuscitou, aleluia.

Durante a minha visita à Província do Congo, uma das belas expressões que ouvi nas celebrações litúrgicas é esta:

        «Bandeko (irmãos), Bobóto (paz), Esengo (alegria), Bolingo (amor), Alleluia!» 

Sim, os fiéis que participaram nas liturgias em diferentes partes da Igreja do Congo, que nasceu e cresceu sob o martírio e testemunho de muitos bispos, sacerdotes, religiosos e leigos, incluindo irmãos nossos mortos com outros mártires em 1964, mostravam-me que no seu coração, no seu sorriso e nas suas celebrações há paz, alegria e amor.

Sim, na nossa vida individual e comunitária e em sociedade, os dons de paz, da alegria, do amor, da reconciliação, da justiça, da paciência, da consolação, da esperança, da coragem para lutar e da beleza da vida, são todos sinais de que Jesus Cristo ressuscitou.

Sim, mesmo nas nossas comunidades interculturais e intergeracionais, Jesus Cristo está ressuscitado e Presente se houver o testemunho da vida consagrada a Deus, se houver a fraternidade, a alegria, a confiança mútua, o trabalho e o compromisso juntos para a missão entre os pobres e os sofredores, o caminho feito juntamente com o povo de Deus para construir o Reino de Deus onde reinam a justiça, a paz, a reconciliação e onde se respeita a Natureza.

Sim, Jesus Cristo está ressuscitado e Presente quando prosseguimos na vida, mesmo que as nossas vulnerabilidades, fragilidades e conflitos pesem muito na nossa vida individual e comunitária, nas nossas sociedades e no mundo. Ele, o Senhor ressuscitado, que venceu o pecado e a morte, está presente e é a nossa força.

«Este Coração adorável, divinizado pela união hipostática do Verbo com a humana natureza em Jesus Cristo nosso salvador, livre sempre de toda a culpa e rico em toda a graça, não conheceu um instante desde a sua formação em que não palpitasse com o mais puro e misericordioso amor pelos homens. Desde o sagrado berço de Belém, apressa-se a anunciar pela primeira vez a paz ao mundo: menino no Egipto, solitário em Nazaré, evangelizador na Palestina, partilha a sua sorte com os pobres, convida os pequenos e desafortunados a que se aproximem, conforta e cura os doentes, devolve os mortos à vida, chama ao bom caminho os extraviados e perdoa aos arrependidos; moribundo na cruz, na sua extrema mansidão reza pelos seus crucificadores; glorioso ressuscitado, manda os Apóstolos pregar a salvação ao mundo inteiro» (Escritos 3323).

Muitas felicidades para as celebrações da Santa Páscoa, Cristo ressuscitou e vive em nós.
P. Tesfaye Tadesse G. mccj em nome do Conselho Geral

11 de abril de 2019

E AL-BASHIR CAIU…


O Presidente do Sudão, Omar al-Bashir, caiu depois de quatro meses de protestos da sociedade civil a pedirem o fim do seu regime tirano de quase 30 anos.

O ministro da defesa e vice-presidente interino, General Awad Ibn Auf, anunciou esta tarde na TV em Cartum que os militares depuseram o presidente e assumiram o poder por dois anos em nome do povo para preparar eleições livres através do Alto Conselho das Forças Armadas que ele lidera.

O levantamento popular contra o regime de al-Bashir começou em Atbara a 19 de dezembro de 2018.

Manifestantes incendiaram a sede no NCP, o partido de al-Bashir, em protesto contra o aumento do preço do pão e a falta de combustíveis e de dinheiro em circulação.

As manifestações de rua a exigir a mudança de regime alastraram-se a outras áreas do país opondo manifestantes às forças de segurança que mataram 37 pessoas e prenderam centenas de civis.

Alaa Salah, a mulher-ícone do levantamento popular rebaptizada Rainha Kandaka, escreveu no Twitter que «só aceitamos um governo de transição civil composto por forças da Declaração de Liberdade e Mudança.»

A Associação de Profissionais Sudaneses – o motor do levantamento – disse que o que houve foi um golpe palaciano entre as forças armadas para reciclar o regime de al-Bashir e só aceitam um governo civil de quatro anos que prepare uma nova constituição e eleições livres.

O bispo auxiliar de Cartum, Daniel Adwok comentou numa mensagem que me enviou: «O diabo está nos detalhes.»

O golpe desta manhã em Cartum evoca memórias do que se passou no Cairo onde os militares tomaram conta do poder.

É difícil prever o que vai acontecer nas ruas do país. As pessoas cantam: «Removeram um ladrão e substituíram-no por outro ladrão!»

Por enquanto as fronteiros e o espaço aéreo sudanês mantêm-se encerrados.

O ex-presidente está «em lugar seguro», disse Ibn Auf.

O futuro de al-Bashir é uma incógnita: com dois mandados de captura passados pelo Tribunal Penal Internacional, o ex-presidente vai ter que encontrar algum amigo que lhe dê exílio e garanta protecção para não acabar no tribunal de Haia para prestar contas dos crimes de guerra e contra a humanidade cometidos no Darfur.

SANTA PÁSCOA DA RD CONGO


Desde algum tempo que não envio notícias. Contudo não posso deixar este momento sem vos desejar uma Santa Páscoa e dar-vos algumas notícias do Congo e do Postulantado de Kisangani.

Desde 30 de dezembro 2018 vários acontecimentos sucederam na R.D. do Congo. Em 30 de dezembro realizaram-se as eleições e quase um mês depois foi nomeado pela Comissão Nacional das Eleições e pelo Tribunal Constitucional, e sobretudo com a imposição do antigo presidente, Joseph Kabila, o presidente da república Félix Tshisekedi, apesar De o verdadeiro vencedor das eleições ter sido o candidato Martin Fayulu. O mesmo sucedeu com a escolha dos senadores, que foram escolhidos não por uma via legal, mas através da corrupção dos deputados, para que o «kabilismo» continue a reinar

Enquanto os dirigentes políticos procuram a forma de se enriquecer não olhando aos meios, o povo continua a sofrer. Num destes dias fui visitar um hospital que tinha fama de ser bom. Enquanto falava com o administrador, ao lado uma mulher gritava. Era noite. Perguntei o que se passava: era uma mãe que estava a dar à luz. Como não havia luz eléctrica, a única luz que havia na sala de partos era uma vela. Este é um dos milhares de episódios que acontece cada dia neste belo e rico país.

A voz da Igreja através de uma carta pastoral da Conferência Episcopal Congolesa, intitulada «A verdade nos libertará» continua a fazer sentir-se, denunciando a manipulação do resultado das eleições e a corrupção a todos os níveis. No entanto, o novo governo ainda não foi nomeado!

Caros amigos, ressuscitados com Jesus, de pé e de cabeça erguida, quero convidar-vos a partilhar a humilhação daqueles que como aqui na República Democrática do Congo e em tantas partes do Mundo vivem em condições de vida infra-humana.

No que diz respeito ao Postulantado, continuamos com 40 postulantes, esperando que este ano um bom grupo possa ir para o Noviciado. Durante este tempo tivemos a visita do Superior Geral, que para além da bênção da nova capela, se encontrou com os postulantes. Juntamente com o superior geral esteve o Irmão assistente geral.

Quero agradecer a vossa colaboração espiritual e material e desejar a cada um de vós uma santa Páscoa e que ela seja uma verdadeira passagem para uma vida nova à luz da morte e ressurreição de Jesus.

Um abraço
P. Jose Arieira de Carvalho 
Kisangani (RD Congo)

4 de abril de 2019

MÁ-FÉ!


Pastores abusam da boa-fé dos seus rebanhos.

Três agências funerárias sul-africanas processaram um autoproclamado profeta por simular a ressuscitação de um morto em Joanesburgo.

A cena, gravada num vídeo que se tornou viral nas redes sociais, estava quase perfeita: o pastor Alph Lukau, dos Ministérios Aleluia Internacional, veio receber a urna junto ao templo. Depois de se ter inteirado como Elliot, o defunto, morrera havia dois dias, pediu aos presentes que levantassem a mão e invocassem Jesus. Logo, impôs as mãos sobre o suposto falecido, vestido de branco dos pés à cabeça, luvas incluídas, e com a boca entreaberta. Ao comando «Levanta-te!», o morto-vivo ergueu-se com ar alucinado, para espanto da assembleia, que grita louvores.

As agências não gostaram de terem visto os seus logótipos usados no falso milagre e puseram o pastor em tribunal para proteger a própria imagem. A encenação – que Lukau atribuiu à família do presumível defunto, reconhecendo que Elliot já estava vivo quando chegou à igreja e que ele simplesmente completou o milagre que Deus começou – criou uma onda de protestos e de desagravo pelos falsos profetas que simulam milagres, um problema que é global.

Lukau não está sozinho na África do Sul! Paseka Motsoeneng alega que foi levado ao céu e tirou fotos com o telemóvel que podem ser vistas pela oferta de 5000 rands (cerca de 300 euros); Lethebo Rabalago, conhecido por Pastor da Desgraça, foi condenado por, em 2016, pulverizar o rosto de alguns fiéis com insecticida para curar a sida e outras doenças; Lesego Daniel ordenou a alguns seguidores que bebessem gasolina porque se transformava em sumo de ananás; Penuel Mnguni, o pastor-cobra, foi filmado a dar a comer pedras que – disse – se iam transformar em pão e cobras e ratos em chocolate.

Este cenário de abuso e manipulação, com falsas curas, enriquecimento ilícito e estilos de vida luxuosos à mistura, repete-se em muitos países da África e pelo mundo fora: autodenominados profetas-pastores fazem fortunas à custa da boa-fé dos seus seguidores.

O fisco do Zimbabué acusou uma igreja independente de acumular uma dívida de 28 milhões de dólares de IVA desde 2013 ao mesmo tempo que o pastor e a esposa não pagaram IRS sobre salários milionários. O processo corre em tribunal.

O ministério dos falsos pastores preocupa alguns governantes africanos. Há um ano, Paul Kagame, presidente do Ruanda, mandou encerrar 700 templos (a maioria de assembleias pentecostais) e uma mesquita em Kigali, na capital, por problemas estruturais e de segurança, higiene, ruído, falta de licenças, etc.

O Governo queniano, por seu turno, exige que os líderes religiosos tenham formação académica e um certificado de boa conduta para praticarem o seu ministério.

Yoweri Museveni, o autocrata que governa o Uganda desde 1986, tem um conselho diferente para os pastores: ensinar a criar riqueza para reconstruir a economia! «Na igreja, hoje, as pessoas precisam de seguir o ensinamento de Cristo na parábola dos talentos. Aquele que multiplicou os talentos foi recompensado», disse.

2 de abril de 2019

CICLONE IDAI: PONTO DA SITUAÇÃO


A passagem do Ciclone Idai, com os seus ventos que atingiram entre 120 a 220 km por hora e com chuvas intensas, deixou na cidade da Beira e nos seus arredores um rasto de destruição, nunca visto e vivido na história de Moçambique. 

Em pouco tempo a cidade tornou-se deserta e fantasma pela situação desoladora. Ao caminhar pelas suas avenidas, ruas e estradas contemplavam-se as ruínas de casas, hospitais, os escombros das igrejas, as árvores caídas, postes de corrente elétrica, e de telefones derrubadas por a toda parte. 

A cidade do Chiveve teve um apagão em que quase 95 por cento dos seus edifícios foram afectados menos o aeroporto, que se tornou um abrigo para os nativos e estrangeiros que chegavam para ajudar. Nos bairros periféricos como Munhava, Muchatazina, Vaz, Chota, Ndunda e outros, para além da destruição da casas, houve também inundações.

Enquanto a segunda cidade do país iniciava a fazer a contabilidade dos estragos causados pela intempérie e a erguer-se do seu orgulho ferido, por outro lado, recebia más noticias que chegavam a conta gotas de que a sua única ligação terrestre estava interrompida devido à fúria das águas dos rios Pungue, Búzi e Muda e seus afluentes que transbordaram dos seus leitos causando pânico nos distritos de Dondo, Búzi, Nhamatanda, Chibabava na província de Sofala. 

A pequena barragem de armazenamento das águas para abastecimento da cidade da Beira em Dondo desmoronou-se em poucas horas e passou a contribuir para que houvesse cheias na Estrada nº 6, apenas reabilitada, e cedesse com quatro cortes enormes impedindo a transitabilidade. 

Está é a única via que permite a ligação entre Beira e outras cidades. Assim aumentou a aflição dos beirenses. Durante quase uma semana ficaram totalmente isolados por terra. Os produtos de primeira necessidade começaram a escassear e a chuva não parava de cair e aumentava a desgraça dos citadinos.

A comunidade internacional, que chegou para socorrer, assumiu como prioridade o salvar vidas nos distritos circunvizinhos, transferindo a sua população para a Beira. Assim foram criados centros de acomodação em vários pontos da cidade.

1. Dados preliminares gerais das zonas afectadas

Temos a dizer que não se saberá com toda certeza o número concreto
  • Salas de Aulas destruídas 3140.
  • Alunos afetados: 90 756
  • Casas destruídas 19.730
  • Mortos: As pessoas que morreram em toda a área serão mais 500 e não se sabe até agora a quantidade de pessoas desaparecidas.

2. A nível dos Missionários Combonianos

Na cidade da Beira nós trabalhamos na zona suburbana de Chota onde vivem mais de 70 mil pessoas. Neste momento há 270 famílias que ficaram com as suas casas destruídas e 170 famílias que precisam de apoio imediato em alimentos e outros produtos. Assim, nesta primeira fase, a nossa intervenção será dar apoio a estas famílias.

A segunda fase será ajudar a reconstruir as suas casinhas e também construir uma escolinha e um centro juvenil paroquial onde as crianças e jovens tenham actividades, porque aquele que existia era de pau a pique e de material precário e o ciclone arrasou tudo. Queremos construir este centro juvenil que dê esperança às crianças, adolescentes e jovens que ficaram afectados, mas com estruturas sólidas e resistentes. Queremos um programa de apoio às mães em educação sanitária e nutricional.


3. A situação sanitária

A zona de Chota é a continuação do maior bairro periférico da Beira. Neste momento já começou a ser fustigado pela cólera. Fala-se de cerca de 200 pessoas afectadas, mas este número poderá crescer. Já vai começar uma campanha de vacinação. O bairro de Chota está em alerta máxima. Espera-se que a cólera não alcance este bairro, porque seria outro desastre já que as águas fluviais que inundaram o bairro ainda não baixaram.

A malária é outra preocupação imediata. Passados quinzes dias depois do ciclone, as águas paradas e charcos são fontes de incubação de mosquitos que provocam esta doença.

4. A situação de Muxúngue 

A Paróquia de Muxúngue situa-se a quase 350 km da cidade da Beira. As zonas mais afectadas foram Nhahápua, Goonda Madjaka e Gurudja onde passam os rios Muda e Búzi. O cálculo feito pelos missionários da zona diz que são mais de 120 agregados familiares afectados. A média de cada família é de seis filhos.

Nesta área, a nossa intervenção será plena depois que todas as pessoas regressem à zona. Iremos ajudar na construção das suas casinhas. Neste momento as autoridades civis estão a apoiar em algo. A experiência dos missionários dita que depois desta avalanche de apoio, é preciso fazer um programa de reconstrução de tudo aquilo que perderam e ajudar a normalizar as suas vidas.

Precisamos ainda da vossa solidariedade e apoio para confortar esta gente. O vosso apoio nesta fase imediata será para comprar alimentos e outros produtos básicos e na fase seguinte para apoiar a reconstruir as infraestruturas necessárias para normalizar a vida destes irmãos.

Desde já queremos agradecer aqueles que enviaram as suas ofertas para apoiar a estes irmãos e esperamos que continueis ajudar-nos na segunda fase que será mais dolorosa. 

Que a bênção de Deus desça sobre cada um de vós, pela intercessão de S. Daniel Comboni

P. Constantino Bogaio Mccj 
Superior Provincial em Moçambique.

1 de abril de 2019

ESTAMOS JUNTOS!


MENSAGEM DE SOLIDARIEDADE AOS CONFRADES DE MOÇAMBIQUE E MALAWI
O Conselho Geral dos Missionários Combonianos, que se encontra reunido para a Consulta em Roma, está a acompanhar com dor a tragédia provocada pelo violento ciclone Idai, que assolou Moçambique e o Malawi, no passado dia 14 de Março. 

São particularmente chocantes as notícias e as imagens que nos chegam da cidade moçambicana da Beira, e arredores, no centro do País, as quais revelam o sofrimento, a tristeza e o luto por que estão a passar estas populações. Contam-se centenas de pessoas mortas, outras feridas e desaparecidas, incluindo familiares de nossos confrades, as colheitas estragadas, as infra-estruturas completamente destruídas ou danificadas e fora de serviço, como casas, escolas, igrejas, pontes e estradas.

De entre as mensagens que recebemos de alguns confrades de Moçambique e do Malawi, destacamos as do superior provincial dos missionários combonianos em Moçambique, P. Constantino Bogaio, e de sua Excelência Reverendíssima D. Claudio Dalla Zuanna, Arcebispo da Beira. As suas palavras são um claro apelo à solidariedade em favor do povo moçambicano afectado por este ciclone devastador.

O Conselho Geral, diante de tanto sofrimento e desespero humano, quer responder a estes apelos de ajuda, tanto quanto possível, manifestando a sua solidariedade concreta para com os povos de Moçambique e do Malawi, através de uma ajuda material às pessoas mais afectadas e da oração por todas as vítimas do ciclone.

Queremos assegurar a nossa comunhão e presença fraterna aos 63 missionários combonianos que trabalham em Moçambique e no Malawi, e sobretudo àqueles que se encontram nas zonas mais afectadas pelo ciclone, nas comunidades da Beira e Muxungué, em Moçambique, e nas comunidades de Balaka e Lirangwe, no Malawi.

Estamos certos de que também outras províncias combonianas e pessoas de boa vontade prestarão a sua ajuda com generosidade para colaborar na reconstrução das vidas destas populações.

Continuaremos a rezar por intercessão de Nossa Senhora da Conceição, padroeira de Moçambique, para que este sofrimento seja superado e transformado em fonte de Vida para estes povos.

Em nome do Conselho Geral dos Missionários Combonianos
P. Tesfaye Tadesse