O Sul do Sudão tem um novo espaço para a paz desde 22 de Abril com a abertura para testes da Radio Sotaa Salam, Voz da Paz, em Guidel, Cordofão do Sul.
A Irmã Paola Moggi, directora da Cadeia Católica de Rádios do Sudão, disse que a nova estacão vai colaborar na resolução de conflitos numa zona muito tensa e que ainda não usufruiu dos dividendos da paz.
O Bispo Macram Max Gassis, titular da diocese de El Obeid, acrescentou que a Rádio Voz da Paz é um meio poderoso para reconstruir espiritual e socialmente os habitantes das Montanhas Nuba.
Sotaa Salam emite programas em inglês, árabe, tira e otoro, das sete às nove da manhã e no mesmo horário a noite, o horário que possíveis ouvintes propuseram num inquérito. Educação, civismo e saúde juntamente com música tradicional são os programas fundamentais da sua grelha diária.
A nova estação é totalmente alimentada por energia solar e eólica, solução encontrada para contornar a falta de combustíveis numa das zonas mais remotas e de difícil acesso no Sul do Sudão.
A Rádio Voz da Paz de Guidel é a segunda estacão da Cadeia Católica de Rádios do Sudão no ar, juntando-se à Bakhita FM que emite em Juba desde Dezembro de 2006.
Entretanto, as estações de Torit, Yei, Malakal e Rumbek encontram-se em fase adiantada de montagem. Wau e Yambio estão mais atrasadas.
A rede vai ter uma emissora extra em Tonj, construída pelos salesianos que decidiram unir-se ao projecto da família comboniana.
28 de abril de 2009
VOZ DA PAZ
25 de abril de 2009
SEMPRE
Comecei o dia a cantar Grândola Vila Morena com a Maria do Carmo, uma comboniana portuguesa que vive em Lomin, junto à fronteira com o Uganda, mas que veio passar três meses a Juba. Tínhamos combinado juntar a comunidade portuguesa - mais três mulheres - para uma cerveja, mas teve que ser adiada. E à noite, quando nos reencintrámos depois do jantar foi a vez de entoarmos a Gaivota! Aqui estas canções têm um sabor mais especial.
Há 35 anos, estava numa aula (de Geografia?) com o Prof. Marques no seminário da Maia a seguir em directo através de um pequeno rádio transistor a Revolução dos Cravos com o resto da turma. Tempos impressionantes como o primeiro comício do PS no então Estádio das Antas - fui com alguns colegas a pé da Maia - o o primeiro 1º de Maio.
22 de abril de 2009
SOLIDARIEDADE
As demolições de casas ilegais continuam imparáveis, sem dó nem piedade por toda a cidade de Juba com a agravante de as chuvas terem chegado e os milhares de desalojados se encontrarem a passar a noite debaixo de árvores à mercê das chuvas e dos mosquitos.
Os desalojados têm que abandonar a cidade e refazer as casas onde podem com o material que encontram já que o governo de Central Equatoria só destrói: não atribui lugares alternativos aos desalojadas numa clara violação dos direitos mais elementares dos cidadãos.
A directora de Bakhita FM lançou uma campanha de solidariedade através de um blogue de grupos chamado Jubalicious e numa semana conseguiu 1800 libras sudanesas, à volta de 700 euros.
A Ir. Cecília decidiu usar esse dinheiro para comprar redes mosquiteiras e lonas para as pessoas impermeabilizarem os tectos das novas cabanas. O dinheiro chegou para beneficiar 30 famílias que tiveram que construir novas casas em Gumbo e Lologo – duas áreas já fora da zona urbana de Juba.
Outra constatação: as redes mosquiteiras à venda no mercado por uns cinco euros foram distribuídas gratuitamente pelo Governo do Sul do Sudão. É o que reza a etiqueta.
LOVE
Bernard C. and Fritz Mischke in “Pray today’s Gospel"
21 de abril de 2009
JEJUM
MIA FARROW anunciou que vai entrar em greve de fome em solidariedade com os deslocados do conflito do Darfur.
A actriz colocou uma mensagem na internet a dizer que a 27 de Abril começa um jejum a água para alertar a comunidade internacional para o drama de milhares de Darfuris em risco de vida depois de o governo sudanês ter expulso 13 organizações humanitárias da região.
Farrow diz que o jejum é o seu acto de indignação perante um mundo que é capaz de assistir a homens, mulheres e crianças inocentes a morrerem sem necessidade de fome, sede e doença.
A actriz espera que os governantes pressionem o governo do Sudão readmitir as agências expulsas ou a preencher o vazio assistencial antes que pessoas comecem a morrer aos milhares.
Farrow pediu ao presidente Obama e outros líderes influenciais que ajudem a construir um processo de paz credível para pôr termo ao sofrimento no Darfur.
A actriz convidou outros activistas dos direitos humanos e cidadãos conscienciosos a juntarem-se a ela através de alguma forma de jejum.
20 de abril de 2009
SMS
O Ministério da Saúde do Governo do Sul do Sudão está a enviar mensagens SMS a aconselhar o público a tomar medidas de protecção contra a malária.
Hoje, milhares de proprietários de telelés receberam uma mensagem em árabe a dizer que esta é a semana de luta para a erradicação da malária.
O Ministério aconselha os cidadãos a dormirem debaixo de uma rede mosquiteira para evitarem a malária utilizando pela primeira vez as novas tecnologias da comunicação de massas para alertar o público para os perigos da doença.
A estação das chuvas começou há uma semana e os mosquitos voltaram a multiplicar-se e a atacar sem dó nem piedade sobretudo ao fim do dia.
Juba e o Sul do Sudão em geral são zonas endémicas de malária e a doença infecta e mata muita gente todos os anos.
Num esforço para combater o parasita que causa a malária, o governo e organizações humanitárias distribuíram milhões de redes mosquiteiras por toda a região.
O parasita que provoca a malária é transmitido pela picadela de um mosquito-fêmea chamada dona Anopheles que precisa de sangue humano para pôs os ovos.
17 de abril de 2009
ST MARY UNIVERSITY
A St. Mary University foi inaugurada a 15 de Abril em Juba pelo Arcebispo católico e pela Ministra do Género, Segurança Social e Assuntos Religiosos do Governo do Sul do Sudão.
A nova universidade está a ser construída por uma organização católica não governamental italiana chamada Organizzazione di Volontariato per la Cooperazione Internazionale (OVCI) que pertence ao Instituto Secular Nostra Famiglia, dedicado à recuperação de crianças com deficiência.
Franca Cattorini, representante da OVCI no Sudão, disse no discurso de boas-vindas que a inauguração da Universidade era um momento histórico e marcante.
Nostra Famiglia – Usratuna em árabe - está em Juba há 25 anos com um centro de recuperação para crianças e é reconhecida pelo esforços na promoção da saúde pública.
O presdidente da OVCI, Dr. Cornelio Cerini, disse que a universidade é uma maneira de marcar as bodas de prata da instituição no Sudão e a contribuição do Instituto para a reconstrução do Sul do Sudão.
A ministra da Segurança Social do Governo do Sul do Sudão, Mary Kiden Gimbo, deu uma lição sobre o tema “Educação faz melhores cidadãos”.
A minstra louvou o esforço das Igrejas no campo da educação, da assistência humanitária e da promoção da paz durante os 21 anos de guerra civil.
A Sr.ª Kiden recordou que o Sul do Sudão tem mais de 70 mil deficientes e até agora não havia técnicos locais para cuidar deles. A Universidade é nas suas palavras uma instituição que chega no momento oportuno.
O arcebispo de Juba, Dom Paolino Lukudu Loro, que é também o Chanceler da nova universidade, disse que o estabelecimento da Universidade Católica do Sudão em Setembro e agora a de St. Mary fecha o círculo do sistema de educação da Igreja, juntando a componente universitária aos jardins infantis, ensino básico e secundário.
As aulas da nova universidade abriram a 2 de Março com 13 alunos a fazer o curso de Ciências de Reabilitação. No futuro, a Universidade vai ministrar o curso de Assistência Social e de Formação de Professores para Ensino Especial.
12 de abril de 2009
VIVE
Happy Easter.
May the peace of the Risen Lord touch every cell of yours, every feeling your heart harbours, every project you dream of, every wound that disturbs you.
11 de abril de 2009
SILÊNCIO
A pedra foi rolado para o seu lugar e o sepulcro ficou cheio do silêncio negro e gélido da morte.
Jesus repousa dos sofrimentos da paixão e morte. Mas desce à profundeza dos infernos para ressuscitar com Ele todos os que estavam presos nas garras da morte e do pecado.
O silêncio do Sábado Santo é também o silêncio dos sofredores de hoje encarcerados nos túmulos da recessão económica, dos abusos dos direitos humanos, nas garras de doenças curáveis com uma mão cheia de moedas, as trinta moedas com que Judas vendeu Jesus.
O silêncio do Sábado Santo é também o meu silêncio cheio de expectativas, de que a graça seja mais forte que o pecado, o amor que a raiva, a paz que o tumulto de sentimentos cruzados.
O silêncio do Sábado Santo é sobretudo o silêncio fecundo de Deus que devolve O que estava morto à Vida!
10 de abril de 2009
LEIS
O Ministério de Assuntos Legais e Desenvolvimento Constitucional do Governo do Sul do Sudão inaugurou ontem o seu portal.
O sítio contém as leis aprovadas pela Assembleia Legislativa do Sul do Sudão e vai alojar informação oficial do Governo do Sul.
Em três anos a Assembleia Legislativa aprovou 20 leis, uma produção modesta para um padrão europeu, mas significativa para um Parlamento que está a dar os primeiros passos.
À espera de aprovação encontram-se 11 projectos-lei, alguns fundamentais como a Lei da Imprensa. O Ministro da Informação prometeu que ia fazer passar os quatro diplomas até ao fim de 2008 através da Assembleia ou de decreto presidencial. Mas a promessa não foi cumprida.
É imperioso que a Lei da Imprensa esteja pronta antes das eleições de Fevereiro de 2010. O SPLM, o partido no poder no Sul, está a exigir aos parceiros do Norte (o National Congress Party) que mudem a legislação nacional antes das eleições. Eles deviam fazer o mesmo no Sul.
Outra lei que anda de Anás para Caifás é a Lei sobre a Mulher. Já leva não sei quantas leituras e é sempre devolvida à comissão especializada porque depois os legisladores não sabem que fazer com as mulheres ou filhas (sic).
8 de abril de 2009
MALNUTRIÇÃO
Vinte e dois por cento das crianças com menos de cinco anos são demasiado magras para a idade e altura, 45 por cento demasiado curtas e 48 por cento pequenas de mais.
O Sul do Sudão apresenta os índices mais elevados de malnutrição na África subsariana.
Os dados foram apresentados durante a Convenção da Nutrição que decorreu em Juba durante os últimos três dias.
A crise de malnutrição que afecta as crianças do Sul do Sudão tem a ver com a falta de produção de alimentos. Os mercados de Juba dependem do Uganda e do Quénia para se abastecerem dos géneros mais básicos porque a agricultura na zona é ainda muito insípida, consequência de 21 anos de guerra civil.
A convenção decidiu preparar uma Política de Nutrição para fazer frente ao deficit alimentar que afecta metade das crianças do Sul do Sudão.
4 de abril de 2009
ELEIÇÕES
As eleições devem ser feitas antes de 9 de Julho deste ano, se a comissão levasse em conta a fita do tempo do Acordo Global de Paz, assinado a 9 de Janeiro de 2005 entre o Exército de Libertação do Sudão (SPLA na sigla inglesa) e o Governo de Cartum.
A Comissão também apresentou a calendarização de processo eleitoral.
Assim, os círculos eleitorais são demarcados de 15 de Abril a 15 de Maio; o recenseamento de eleitores começa a 2 de Junho e os cadernos eleitorais devem estar prontos no fim de Agosto. A apresentação de candidaturas começa a 1 de Setembro e o processo deverá estar terminado a 27 de Novembro com a publicação de listas.
O tiro de partida da campanha eleitoral vai ser dado a 31 de Novembro e a maratona termina a 5 de Fevereiro.
Entretanto, a votação vai ser um processo extremamente complicado. No Sul do Sudão, cada eleitor vai receber 12 boletins de votos: três para o candidato à presidência da república, presidente do governo do Sul do Sudão e o Governador do Estado. Os outros nove boletins são para escolher os deputados para a Assembleia nacional, Assembleia do Sul do Sudão e Assembleia estadual. Para cada uma das assembleias o eleitor tem que votar três vezes: para eleger o deputado do círculo eleitoral (60 por cento de cada parlamento), uma mulher deputada (25 por cento) e um deputado dos partidos mais pequenos (15 por cento).
Isto para quem nunca votou é mesmo obra.
3 de abril de 2009
AWASSA
Hoje, Awassa cresceu, tornou-se num centro universitário e na segunda maior cidade do país.
As ruas de terra batida foram alcatroadas e outras rasgadas. As cabanas tradicionais estão a dar lugar a bairros feitos de cimento.
Entretanto, uma dezena de universidades foram abertas na cidade com mais de 30 mil estudantes. À faculdade de Agricultura e ao Instituto de Formação de Professores, juntaram-se universidades relacionadas com ciências médicas e administração. E os hospitais privados são também uma novidade.
Os tradicionais gari, as carroças-taxis puxadas a cavalo, foram substituídos por Bajaj, triciclomotores indianos.
Antes, o comércio era insípido e pouco se encontrava à venda nas poucas lojas que havia em Awassa. Agora não. Os supermercados estão bem fornecidos e oferecem uma variedade de produtos assinalável.
Awassa, a capital do Estado Regional das Nações, Nacionalidades e Povos do Sul, cresceu e está irreconhecível para melhor.
Awassa fica no sopé de um pequeno monte chamado Tabor. Um sábado subi-o para admirar a cidade e o lago. Fiquei espantado com o número de jovens protestantes que usam o sábado de manhã para praticarem a arte de pregar e de liderar a oração das comunidades.
A Igreja católica também continua a crescer e a localizar-se cada vez mais com um bom número de padres nativos no activo. O estilo de oração litúrgica também mudou: mais exuberante e próximo das igrejas protestantes.
Talvez o lugar mais interessante seja o Eremitério Maranatha que o meu amigo padre Adelmo Spagnolo foi construindo ao longo dos anos, espaço a espaço com materiais locais, com simplicidade e respeitando o ambiente. Um oásis de paz e um pulmão de espiritualidade na margem do Lago Awassa.
1 de abril de 2009
HARO WATO
Com as irmãs Hanna e Carol e o padre Donatien
A floresta de Haro Wato
Agora a aldeia espreguiça-se ao longo da estrada e as cabanas tradicionais estão a dar lugar a casas mais fortes e cobertas a zinco.
A electricidade chegou à aldeia e os autocarros públicos também. A produção de café – introduzida quando vim em 2000 – está por detrás dos melhoramentos que a estrada registou. A via é reparada todos os anos e juntaram brita à terra batida o que facilita a condução durante os longos meses de chuva. Antes era um autêntico prato de papas.
Mas a surpresa maior encontrei-a na escola. Nos primeiros anos, o número de alunas contava-se pelos dedos das duas mãos. Agora elas são quase metade dos 230 alunos que frequentam o estabelecimento de ensino.
E as meninas estão a casar cada vez mais tarde. Antes casavam-se ao início da puberdade. Agora esperam pelos 18 anos.
A missão também está a crescer: os colegas juntaram dois quartos à nossa casa, construíram o salão paroquial, o cafezal que plantamos em 1999 já está a produzir bem, as irmãs fizeram um novo edifício para internar os doentes de tuberculose durante os primeiros meses de internamento.
Claro que foi óptimo re-encontrar algumas das pessoas e dos lugares que fizeram parte dos meus «Dias Felizes». Fiquei surpreendido com a fluência da língua: apesar de não falar Guji há nove anos, foi só começar e as palavras e as ideias alinhavam-se na minha mente.
Como não há bela sem senão, fiquei horrorizado pelo estado em que está a floresta: cada vez mais danificada pela agricultura e pela urbanização. E a casa para acomodar alunas de longe foi fechada depois de algumas ocupantes terem engravidado. O mesmo aconteceu às três cabanas para rapazes.
Encontrei os colegas – homens e mulheres – motivados e empenhados, apesar de terem dificuldade com a língua local. Mas os tradutores dão uma ajuda. E a Comissão Ecuménica acabou de publicar o Novo Testamento em Guji e tem a tradução da Bíblia em estado avançado embora o Guji que usam seja mais próximo do Oromo que falam no Oeste da Etiópia – e que é ensinado nas escolas – que a língua que os mais velhos falam.
Adorei visitar Haro Wato! E quero voltar antes que o caruncho me acabe com os joelhos de vez!