30 de agosto de 2016

A CAMINHO DA PENÚLTIMA MISSÃO



Caros amigos,

A paz do Senhor esteja sempre convosco, onde quer que estejais! Seja gozando duma pausa de descanso imersos na natureza - como espero! -, ou enfrentando as ocupações do dia-a-dia com os seus problemas.

Comunico-vos que dentro em breve deixo Roma e irei para Verona. Desta vez é a sério, e não como há três anos atrás que, depois de me ter despedido de Roma para regressar definitivamente a Portugal, ao último momento, acabei por não partir. Na próxima segunda-feira, dia 15 de Agosto, celebro o aniversário da minha ordenação sacerdotal, há 38 anos, com esta minha comunidade de Roma que me acolheu durante estes anos e no dia seguinte parto para Verona.

Sou transferido para uma comunidade onde terei uma assistência mais assídua e qualificada. A minha inseparável companheira, a ELA (Esclerose Lateral Amiotrófica), não me abandona. A finais de Abril e princípios de Maio, estive 10 dias internado por causa duma crise respiratória. Confesso-vos que, como o profeta Elias, também eu gritei dentro de mim: Senhor, deixa-me morrer! Foi a primeira vez que ocupei uma cama reservada aos doentes de ELA. Portanto, os superiores propuseram-me a transferência para um centro aberto recentemente para os nossos missionários doentes.

Nós, missionários, fomos educados a estar sempre prontos para partir. Porém, depois de 18 anos vividos em Roma (5 como estudante, 8 ao serviço da Direção Geral, e agora mais 5 como doente), devo admitir que já tinha criado aqui algumas raízes. Raízes nos pés (?), mas sobretudo no coração, dada a rede de amigos com que o Senhor me abençoou. Sim! Terei saudades de Roma, da casa onde vivi o mais longo período da minha vida, das árvores do nosso parque, mas sobretudo de vós, meus amigos.

Porém parto com muita serenidade. Respondo mais uma vez a esta enésima chamada de Deus a deixar as minhas seguranças para partir… em missão. Sim! Trata-se da minha PENÚLTIMA missão, dado que a última é a que nos será confiada no Paraíso. Disponho-me a vivê-la com o empenho e a generosidade dos trabalhadores da “última hora”, da parábola do Evangelho.

Não vou sozinho. Levo-vos a todos no meu coração. Muito vos agradeço pela prenda da vossa fiel amizade. Sei que não a mereci; mas, precisamente porque não a mereci, estou ainda mais grato a Deus por esta graça. A vossa amizade foi para mim um bálsamo consolador nos momentos de prova. A vossa oração obteve-me o milagre da serenidade e da alegria, que sempre me acompanharam durante esta doença. Que Deus vos abençoe!

Encontrar-nos-emos no coração de Cristo!

Vosso
Padre Manuel João Pereira 
Tel. (0039) 3911773617
p.mjoao@gmail.com
Missionari Comboniani - Centro Alfredo Fiorini
Via Oppi, 29
37060 CASTEL D’AZZANO VR (Italia)
Tel. (0039) 045 8521511

Roma, 10 de Agosto 2016

26 de agosto de 2016

CAMINHOS DE CINFÃES


Os amantes de caminhadas na natureza profunda têm em Cinfães um paraíso escondido à sua espera.

A Câmara Municipal marcou seis pequenos percursos pedestres à volta dos cursos médio e superior do Rio Bestança e de um seu afluente por caminhos antigos com um comprimento total de 52 quilómetros.

Nestas férias fiz quadro dessas rotas acompanhado pela minha sobrinha mais nova. Ficaram para depois a Rota do Vale, de Vila de Muros às Portas do Montemuro (de 18,8 km e com um acumulado de subida de 1273 metros) e o Caminho das Portas (um percurso circular de 5,4 km entre Alhões e as Portas).

Começámos pelo Caminho da Vila, o percurso mais curto que une a Loja de Turismo de Cinfães e o Centro de Interpretação Ambiental do Vale do Bestança, nas Pias. O percurso é linear e tem 2,7 km com um acumulado de subida ou descida de 428 metros. A descida levou cerca de 50 minutos. Depois de uma visita ao Centro de Interpretação e de uma pausa nas águas limpas e retemperantes do Bestança, decidimos fazer o regresso a pé. A subida é íngreme, mas a paisagem é espetacular e vale bem o suor e o esforço. Resgatamos o esforço das gentes ribeirinhas que iam comprar ou vender a Cinfães.

Uma nota sobre o Centro de Interpretação Ambiental do Vale do Bestança que funciona na antiga escola primária das Pias. A iniciativa é interessante: quatro salas apresentam através de vídeos como o ambiente do vale do Bestança muda durante as quatro estações. Um senão: as imagens focam mais a serra que o vale propriamente dito. Noutras salas é possível descobrir algumas das espécies da flora e da fauna caraterísticas do curso do Bestança. A funcionária é muito simpática, mas não está equipada para responder às questões sobre o Bestança já que é dos lados do Paiva. Precisa de algum trabalho de casa,.

O Caminho do Prado foi a segunda aventura. Trata-se de um percurso circular no curso médio do Bestança. Parte de Vila de Muros em direção à Ponte de Covelas com uma subida até ao fundo da aldeia homónima e depois uma longa caminhada até descer ao Prado, subir a Valverde e regressar a Vila de Muros. Cobre 6,7 km, tem um acumulado de subida 236 metros e demora um pouco mais de duas horas e meia.

O caminho está bem marcado – exceto na bifurcação para a Ponte de Covelas – onde a sinalética foi levada por uma derrocada no inverno passado. Quem não está familiarizado com a geografia da área pode perder-se. A Loja do Turismo prometeu resolver o problema.

A caminhada faz-se quase sempre sob frondosa verdura junto ao rio com o murmúrio das águas e o chilrear dos pássaros em música de fundo. Espetacular! Cruzamo-nos com um casal de caminheiros espanhóis. Entre o Prado e Valverde há muita informação sobre a fauna e a flora do rio. Descobrimos o que é o embudo (ou cicuta) e as cenouras selvagens. E vimos muitas borboletas a esvoaçar. Os nomes científicos são interessantes: branquinha, amarelinha, castanhinha… É um percurso maravilho!

A terceira incursão foi no Vale de Aveloso, acompanhados por uma amiga. Outro percurso circular em forma de oito que começa junto à Junta de Freguesia de Tendais, em Quinhão, sobe para Cimo de Vila e Macieira até Aveloso, com uma subida bastante íngreme antes da aldeia serrana. De Aveloso desce para Meridãos ao longo da Ribeira de Covais. Prossegue para o ponto de partida através de uma calçada antiga que passa por baixo de Barrondes. O percurso cobre uma distância de 10,7 km e levou-nos 3h40 a caminhar. É preciso alguma atenção às marcas do caminho porque estão bastante espaçadas. A subida da Ribeira de Covais para Aveloso é muito íngreme e extenuante, mas merece o esforço pela paisagem que revela. As pessoas de Aveloso são muito simpáticas e acolhedoras. O vale da ribeira é um autêntico viveiro de lesmas. O percurso do fundo da descida de Aveloso até Meridãos é bastante plano e muito agradável.

Para fechar fizemos as Encostas da Serra, outro percurso circular de Bustelo até ao Bestança com uma pequena subida na margem esquerda até encontrar o caminho de Alhões para Tendais, nova passagem para a margem direita e depois a subida da Encosta da Cabra, do rio até Alhões. A via ligava as povoações da serra a Cinfães e a Mosteirô, via Tendais, por onde levavam os doentes em padiolas e macas e traziam os produtos que compravam no baixo concelho.

É outro percurso maravilhoso feito no curso superior do Bestança e com vistas deslumbrantes sobre o rio e o vale do Douro. Começa e acaba na eira da Laje, em Bustelo, e cobre uma distância de 8,1 km com um acumulado de subida de 354 metros. Levamos cerca de 2h40 minutos a fazê-lo numa manhã com algum nevoeiro e «chuva-molha-tolos». Os caminhos da margem direita estão limpos. O trilho atravessa florestas de carvalhos (na parte baixa) e soutos de castanheiros (junto a Alhões). Cruzámo-nos com alguns rebanhos de ovelhas e vacas. Um senhor, muito simpático e prestável que estava de férias em Bustelo, ajudou-nos a chegar à eira da Laje e mostrou-nos o «sardão de pedra». Não sou especialista, mas parece um fóssil de um réptil comprido na beira do fundo da eira. O percurso está bem marcado e dá uma volta bastante grande dentro da aldeia de Alhões com passagem pelo seu parque de lazer.

Adorei estas caminhadas (feitas de manhã exceto a de Aveloso que foi feita depois das 17h00 e terminou com o dia a declinar) registadas e homologadas pela Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal.

Cumprimento a Câmara Municipal pela iniciativa que se insere no programa [RE]DESCOBRIR CINFÃES.

Agradeço à Tininha a excelente companhia que foi nestas imersões no Cinfães profundo.

Agora o desafio é manter os percursos limpos e transitáveis com as sinaléticas visíveis, já que as silvas começam a invadir alguns percursos (sobretudo de Covelas ao Prado) e em partes do caminho de Aveloso.

Os caminhos vencem desníveis acentuados (acumulados de subida) mas fazem-se bem com um par de ténis e um pau. Basta calma e gosto pela natureza.

20 de agosto de 2016

CARTA ABERTA DO FÓRUM SOCIAL MUNDIAL 2016


A participação de 16 Missionários Combonianos e Combonianas na 12ª edição do Fórum Social Mundial (FSM) em Montreal de 9 a 14 de agosto de 2016 tornou possível o encontro com muitos irmãos e irmãs de várias nações que perseguem o sonho de um outro mundo, alternativo ao dominante, insustentável, excludente, iníquo e violento.

Acreditamos que a participação no FSM seja um sinal de fidelidade ao carisma do nosso fundador São Daniel Comboni, que lutou pela libertação da escravatura e pela regeneração da África.

Nos seminários conduzidos pelo Comboni Network tivemos a oportunidade de apresentar e dar a conhecer melhor as situações dramáticas no Sudão do Sul, República Democrática do Congo e Brasil, pondo em relevo a luta por uma paz justa, o empenho pela transformação social e a resistência das comunidades locais às violações socio-ambientais.

Nos seminários enfrentámos também a análise dos temas do açambarcamento da terra, do tráfico de pessoas e das alterações climáticas, evidenciando o trabalho de advocacia para uma estratégica de intervenção global.

Devido à prática discriminatória do Gabinete de Imigração Canadiano, foi negado o visto a muitas pessoas provenientes da África e da Ásia desejosas de participar do FSM. A sua ausência foi uma grave perda para o evento que pela primeira vez se realizou numa cidade do Norte do mundo. Não se ouviram assim as vozes de quantos no Sul do mundo teriam podido sacudir a opinião pública sobre as consequências nefastas de políticas económicas neoliberalistas nos seus países e tornarem-se partícipes do sonho de associações que lutam por uma paz justa e uma economia sustentável.

Constatámos com tristeza o escasso envolvimento no FSM da Igreja Católica local. Em contrapartida, houve uma satisfatória participação de religiosos e em particular de religiosas nas atividades do FSM.

É fundamental que a Igreja local seja envolvida ativamente na preparação e desenvolvimento dos próximos FSM para conectar-se com o trabalho pela justiça, paz e integridade da criação levado adiante por tantos cristãos no mundo.

Não obstante os limites organizativos sentidos no FSM em Montreal, consideramos importante manter e reforçar como Família Comboniana o empenho e a participação nos próximos FSM lugar privilegiado de encontro e de intercâmbio de experiências entre quantos acreditam e lutam juntos por um mundo outro.

Acolhemos o desafio do Papa Francisco que na encíclica «Laudato Sii» chama a Igreja a escutar o grito da Terra e dos pobres e a unir-se a todas as pessoas de boa vontade para realizar a globalização da solidariedade e assumir o cuidado da casa comum.

Às missionárias e missionários propomos que:
  • Os nossos Institutos sejam maiormente envolvidos na preparação do próximo FSM e do Fórum Mundial de Teologia e de Libertação, aprendendo com a reflexão e práxis de outros grupos e oferecendo a nossa experiência missionária ao lado dos pobres;
  • A participação no FSM de confrades e irmãs empenhados em JPIC se torne sempre mais um empenho formal assumido pelos nossos Institutos. No contexto de mudança das estruturas da Direção Geral e dos Secretariados dos nossos Institutos, seja garantida a continuidade do envolvimento da Família Comboniana. Especificamente, seja dado apoio a uma equipa permanente que coordene a interação comboniana com o FSM, instituindo também um fundo intercongregacional ad hoc. Desse modo, a participação no Fórum poderá ser um processo contínuo de requalificação da nossa experiência missionária;
  • Se aprofunde a nossa colaboração com a comissão JPIC de UISG e USG, se reforce o diálogo com o Conselho Pontifício de Justiça e Paz e o empenho nas redes VIVAT Internacional, AFJN e AEFJN;
  • O empenho comboniano a nível de JPIC se estenda ao tecido dos movimentos sociais, que operam em redes locais, nacionais e internacionais;
  • Os nossos media – Nigrizia, Mundo Negro, Além-Mar, ComboniFem, etc. – se tornem portadores dos valores e dos desafios do FSM através de uma adequada comunicação;
  • O percurso formativo comboniano seja aberto aos empenhos específicos das nossas províncias no contexto de JPIC e na experiência do FSM, para ajudar os nossos jovens a encarar melhor os desafios do mundo de hoje.

Montreal, 14 de agosto de 2016
     Ir. Anna Faggion
     Ir. Gabriella Bottani
     P. Efrem Tresoldi
     P. Fernando Zolli
     P. Mariano Tibaldo
     P. Arlindo Ferreira Pinto
     Ir. João Paulo da Rocha Martins
     P. John Michael Converset
     P. Gian Paolo Pezzi Trebeschi
     P. Jaime Calvera Pi
     Ir. Bernardino Dias Frutuoso
     P. Daniele Moschetti
     P. Raimundo N. Rocha dos Santos
     P. Dario Bossi
     P. Joseph Mumbere Musanga

     P. Paul Annis