30 de dezembro de 2022

O NATAL E OS TRÊS NASCIMENTOS DE JESUS


Durante as quatro semanas da época do Advento, temos desejado, invocado, rezado: Marana tha, Vem, Senhor! Pois bem, "Hoje sabereis que o Senhor vem salvar-vos: amanhã vereis a sua glória" (antífona da Missa da Véspera, cf. Êxodo 16,6-7).

De qual vinda se trata, já que a época do Advento evoca três vindas? Uma no passado (Cristo veio!), uma segunda no futuro (Cristo virá!) e uma terceira no presente (Cristo vem!)? Cristo preenche todos os tempos: «Jesus Cristo é o mesmo ontem e hoje e para sempre»! (Hebreus 13.8). É reconfortante saber que Ele está presente no nosso passado, no nosso presente, e no nosso futuro. Toda a nossa existência é vivida no Seu eterno presente. E ai de mim, se eu não for «encontrado Nele» (Filipenses 3,9).

Então — repito — o que vem aí, de que nascimento estamos a falar? Na verdade, no Natal celebramos as três vindas ou nascimentos de Jesus. O monge Enzo Bianchi diz: a grande tradição da Igreja Católica, desde os antigos padres do Oriente e do Ocidente, tem meditado nestes três nascimentos ou vindas do Senhor, e precisamente por esta razão as três Missas de Natal foram introduzidas: noite, madrugada e dia.

A Missa da NOITE apresenta-nos o seu primeiro nascimento, em Belém, o nascimento em carne: «Hoje, na cidade de David, nasceu-vos um Salvador, que é Cristo, o Senhor». É a celebração da encarnação do Filho de Deus, que comemoramos na Fé.

A Missa da AURORA menciona o seu nascimento espiritual no coração do crente: «Maria, da sua parte, guardou todas estas coisas, ponderando-as no seu coração». É a sua vinda espiritual e nascimento no presente, colmatando a lacuna entre a primeira vinda, no passado, e a segunda vinda, no futuro. Este nascimento é o fruto da meditação sobre a Palavra ouvida e concebida no coração com AMOR.

A Missa do DIA, por outro lado, ao falar da Encarnação do Verbo, recorda na memória do cristão o regresso de Cristo em glória: «E o Verbo fez-se carne e habitou entre nós; e vimos a sua glória, glória como do Filho único que veio do Pai, cheio de graça e de verdade». Esta vinda é o objecto da nossa ESPERANÇA.


NATAL, O DIA DA «GRANDE LUZ» E DA «GRANDE ALEGRIA»

No Natal toda a nossa atenção está centrada em Belém, onde teve lugar a primeira vinda de Jesus. O Natal é o «memorial» desta vinda. Não apenas no sentido de recordação, mas especialmente como uma acção litúrgica com a graça actualizadora, ou seja, de tornar presente para nós o Natal de Jesus. Somos levados para Belém, por isso também nós nos tornamos companheiros dos pastores e, como eles, convidados a IR e VER a criança deitada na manjedoura. Neste espírito, olhamos para o berço.

O Natal é, portanto, o dia da GRANDE LUZ: «As pessoas que caminharam na escuridão viram uma grande luz». A Luz que vem iluminar a escuridão das nossas vidas, do mundo e da história. É uma Luz que as trevas, como os buracos negros siderais, tentam asfixiar, sem sucesso. Toda a história é a luta implacável entre a Luz e as trevas. O Natal é um convite repetido para caminhar em direcção à Luz que nos torna luminosos!

O Natal é também o dia da GRANDE Alegria: «eis que vos anuncio uma grande alegria, que será para todo o povo». É a alegria da vida, a alegria dos salvos, a alegria da liberdade. É a alegria da visita do Céu, de saber que Ele é o amigo da Humanidade. É a alegria da visita de Deus que vem habitar entre nós, que já não é o Deus distante, mas o Deus da pequenez e ternura de uma criança que sorri para nós, que podemos tomar nos nossos braços e beijar. É uma alegria que deve ser bem-vinda para aliviar a nossa tristeza.


NATAL, UMA FESTA PARA ADULTOS

O Natal, porém, é acima de tudo uma profissão de FÉ. O Natal não é uma festa de crianças. É uma festa exigente, para os cristãos adultos! De facto, não é tão óbvio que Deus seja o Emanuel, o Deus-connosco! Pelo contrário, os factos gritam o contrário, eles gritam a distância do mundo de Deus e de Deus do mundo. É preciso a profissão de fé, ajoelhado perante o Mistério: «Pelo poder do Espírito Santo encarnou no seio da Virgem Maria e fez-se homem».

Toda a vida do crente é uma luta entre a fé e a incredulidade. A fé é constantemente minada pela dúvida. E desafiados e ridicularizados, por não-crentes. O grito típico do crente hoje na nossa sociedade ocidental pós-cristã é o do salmista: «A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo: quando virei e verei a face de Deus? As lágrimas são o meu pão dia e noite, enquanto me dizem sempre: "Onde está o teu Deus?» (Salmo 42). Onde está o vosso Deus? Esta é a questão sarcástica que ouvimos todos os dias, através dos meios de comunicação social, no trabalho, na escola, com amigos, e mesmo nas nossas próprias casas! Como seria útil recitar este Salmo 42 todos os dias para desabafar o nosso lamento perante o Senhor!

É por isso que precisamos do Natal. O Natal é o grito da pessoa com FÉ: Vem, Jesus!


UM MILAGRE DE NATAL: «ELE VEIO! ELE VEIO!»

Gostaria de concluir a minha reflexão evocando um facto histórico extraordinário que aconteceu na Hungria há algumas décadas, pouco conhecido. É relatado por Maria Winowska (+1993), que foi amiga de João Paulo II e escritora estimada de hagiografia. Fui buscá-lo à Wilma Chasseur (www.qumran2.net). 

Mas já alonguei demasiado, por isso convido-os a irem lê-lo no meu blogue.

https://comboni2000.org/2022/12/24/la-mia-riflessione-natalizia-il-natale-e-le-tre-nascite-di-gesu/


FELIZ NATAL!

P. Manuel João

Castel d'Azzano, 23 de Dezembro de 2022

p.mjoao@gmail.com


15 de novembro de 2022

Gilgel Beles (Etiópia): CAPELA PRISIONAL DEDICADA AO ARCANJO SÃO MIGUEL





A nova capela prisional construída pelos Missionários Combonianos no estado regional de Benishangul Gumuz, na Etiópia, foi dedicada ao Arcanjo São Miguel.

O Bispo Abune Lisanu-Christos Matheos, Eparca da diocese de Bahir Dar-Dessie, dedicou a nova capela construída no interior da prisão de Gilgel Beles.

A cerimónia de dedicação teve lugar no sábado, 22 de Outubro de 2022.

Devido às restrições do estabelecimento prisional, a participação externa na cerimónia de dedicação foi limitada aos catequistas, coro, irmãs missionárias e fiéis católicos que servem como autoridades locais.

Na ocasião, Abune Lisanu-Christos administrou o sacramento da confirmação a uma dúzia de reclusos católicos.

A nova capela é espaçosa. Construída com tijolos e cimento, substitui o antigo edifício feito de madeira, barro e zinco.

O centro de culto da prisão funciona como uma capela da missão de Gilgel Beles.

«Juntamente com a primeira evangelização nas aldeias e na cidade, o apostolado entre os presos tem sido uma prioridade desde o início da missão comboniana entre o povo Gumuz», explicou Abba Marco Innocenti, pároco de Gilgel Beles.

Aos sábados de manhã, há aulas de catequese para os catecúmenos, os reclusos que querem tornar-se católicos.

Aos domingos têm ou a Missa — se houver um padre disponível — ou a Liturgia da Palavra, presidida pelo catequista.

Os católicos na prisão são cerca de 40. A maioria tornaram-se católicos enquanto cumprem as respectivas penas de prisão.

Abba Marco explicou que o novo templo foi construído devido aos esforços da comunidade comboniana em Gilgel Beles, que procurava os fundos necessários.

«Um grande obrigado deve ser dado à Missio Munich e a alguns benfeitores alemães», sublinhou.

O missionário comboniano italiano agradeceu às autoridades prisionais do Estado Regional de Benishangul Gumuz.

Teve uma palavra especial para Alemu Asege, o inspector-chefe do Estabelecimento Correcional Gilgel Beles, que autorizou a reconstrução da pequena igreja.

O pároco acrescentou que é invulgar encontrar um local de culto católico dentro de um complexo prisional etíope.

Gilgel Beles alberga cerca de mil reclusos da Zona Metekel, que inclui sete áreas administrativas chamadas wereda.

Os Missionários Combonianos estão presentes em Gilgel Beles, entre o povo Gumuz, desde 2003.

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=> Queres colaborar com o serviço missionário dos combonianos na Etiópia? Reza por nós! Também podes enviar uma oferta para o IBAN PT50 0007 0059 0000 0030 0070 9 dizendo que é para a Etiópia. Nós agradecemos, rezando por ti.

7 de novembro de 2022

SEAREIR@S DE DEUS




Jesus, quando designou os 72 discípulos para irem, à sua frente, dois a dois, a todos os lugares que queria visitar, explicou-lhes que o seu trabalho número um era o de rogar ao Senhor da Seara que mandasse trabalhadores para a sua seara. Só depois é que lhes ordenou: «Ide!» (Lucas 10: 1-3).

A pastoral vocacional faz parte do serviço missionário que os Combonianos prestam na Etiópia. De três maneiras: através do testemunho alegre e generoso de cada missionário, da oração, e dos grupos vocacionais.

Para cumprir o mandato de Jesus, em Qillenso, todas as quartas-feiras, às 18h00, fazemos uma hora de adoração pelas diversas vocações na Igreja. É um momento tranquilo, cheio dos sinfonia polifónica do crepúsculo, feito à luz de velas quando há apagões — que são frequentes.

Durante as férias grandes, os candidatos e candidatas da missão em casas de formação, ou os postulantes combonianos que fazem a sua experiência de missão, acompanham os missionários quando vão celebrar a missa às diversas capelas para dar o seu testemunho.

A missão também tem um grupo vocacional que se reune algumas vezes durante o ano na capela de Urdata, que fica no centro da missão. 

O objectivo é pôr os vocacionados em contacto com diferentes carismas e modos de servir na Igreja. 

Um convidado ou convidada apresenta um tema. Há tempo para perguntas e respostas, cânticos e orações. 

O encontro termina com chá e pão para os participantes numa loja da localidade.

O primeiro encontro deste ano, em abril, foi animado pelas Irmãs da Caridade ou Irmãs de Maria Bambina. Vieram três indianas da comunidade na missão de Fullasa.

Apresentaram a sua congregação: o carisma, a história e a presença na Etiópia. Estávamos no início da estação das chuvas e a participação foi escassa: meia dúzia de jovens. 

Em outubro, fizemos o segundo encontro. Foi animado por Frei Awot, um padre capuchinho etíope da vizinha missão de Teticha, entre os Sidamas.

Fez uma longa exposição sobre a vocação em geral e sobre a sua congregação em amárico, uma das línguas do país. O catequista zonal traduziu para guji.

Desta vez a participação foi boa: onze raparigas e nove rapazes de cinco comunidades da paróquia, alunas e alunos a frequentar entre o sétimo e o décimo segundo anos.

Estes encontros estão a dar alguns frutos. A missão de Qillenso tem um postulante comboniano, uma noviça, uma aspirante e uma candidata nas Irmãs da Caridade e uma postulante nas Servas da Igreja, uma congregação fundada pelo primeiro bispo da diocese de Hawassa.

Continuamos a rogar ao Senhor da Seara que envie seareiros para a sua seara. 

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=> Queres colaborar com o serviço missionário dos combonianos na Etiópia? Reza por nós! Também podes enviar uma oferta para o IBAN PT50 0007 0059 0000 0030 0070 9 dizendo que é para a Etiópia. Nós agradecemos rezando por ti.

25 de outubro de 2022

A FESTA DA MISSÃO




Todos os anos a Igreja Católica celebra a festa da missão no penúltimo domingo de outubro para nos recordar — como o Papa Francisco escreveu na mensagem para o Dia Mundial das Missões de 2022 — que todos somos missionários.

Todos os batizados somos discípulos de Jesus. Somos enviados por Ele a testemunhar o amor do Pai por todas as pessoas e por toda a criação através do testemunho do nosso amor e da nossa palavra.

Este ano celebrei a Festa da Missão na linha da frente, missionário entre missionárias e missionários. «Todos somos uma missão!», tem repetido o papa argentino vezes sem conta.

No sábado à tarde, presidi à Eucaristia na capela do Centro de Acolhimento das Missionárias da Caridade, as Irmãs de Madre Teresa de Calcutá, em Adola.

Gosto muito de celebrar a Eucaristia vespertina com os pacientes do centro. A capela é toda feita de tiras de canas de bambu, entrelaçadas como um cesto gigante invertido.

Perco-me a contemplar os rostos sorridentes daquelas mulheres presas a uma cadeira de rodas. O olhar reguila das garotas e garotos no programa de tratamento da tuberculose e que no fim me saúdam efusivamente. No ar grave e solene dos homens. No vestir festivos e no cantar alegre das jovens e mulheres.

Estávamos no meio de um apagão que durou 24 horas: a missa foi celebrada à luz de uma lâmpada solar. A escuridão da capela ajudou à solenidade da celebração. Os cânticos são começados por uma senhora numa cadeira de rodas que também toca o tambor. Era muçulmana. Faz umas orações dos fiéis muito profundas.

Expliquei-lhes que também eram missionárias e missionários mesmo às voltas com doenças crónicas e deficiências profundas. Porque todos somos testemunhas do amor de Jesus que recebemos e damos às irmãs e irmãos.

No final da Eucaristia os pacientes mais ágeis ajudam os que têm problemas de locomoção. É bonito ver a Missa a continuar depois da Missa nos gestos de cuidado na procissão de regresso aos respetivos pavilhões.

Comecei o domingo a postar algumas mensagens no Facebook, o espaço dos nativos e de muitos emigrantes do digital, e a saudar familiares, companheiros e amigos. Normalmente esta rede social é muito lenta, mas no domingo de manhã estava a funcionar direito. Graça a Deus.

A noite de sábado e madrugada de domingo foram de muita chuva. Por isso, a igreja de São Daniel Comboni em Adola estava quase vazia quando começamos a missa às 9h20. Mas as pessoas foram chegando e a assembleia foi-se compondo.

O catequista leu a Mensagem do Papa para o dia, traduzida em amárico. Era importante que a assembleia escutasse a palavra do Santo Padre.

Por causa da mensagem o meu colega teve um acidente grave na sexta-feira. Um pároco vizinho tinha ficado encarregue de trazer o opúsculo preparado com o texto do Papa e mensagens de outros dignitários, mas na quinta à noite mandou um SMS a dizer que não conseguiu.

O meu colega decidiu fazer os 160 quilómetros até Hawassa, a sé da diocese. Saiu antes das seis. Por voltas das quinze telefonou-me a dizer que teve um acidente a cerca de 50 quilómetros de casa. O pickup e capotou numa curva a fugir de uma vaca e caiu na berma da estrada. O Abba Hippolyte felizmente saiu sem um arranhão. O seu Anjo da Guarda não brinca em serviço!

A missa foi animada por um grupo de rapazes que veio de Adis-Abeba, a capital, para trabalhar durante três semanas com as meninas e meninos das ruas de Adola, liderados por um casal italiano. O seu louvar deu uma tónica missionária à celebração. 

O produto do ofertório vai ser enviado para o Vaticano. É a nossa humilde e generosa colaboração para a evangelização dos povos.

Depois, fui celebrar a uma pequena comunidade a cerca de oito quilómetros de Adola, na estrada para Neguele (na foto). Comigo foram um ancião e um rapaz. Encontramos na capela de uma jovem mãe com duas crianças pequenas — o menino de peito assustou-se com a cor da minha pele e levou algum tempo a acalmar — e o catequista.

«Vais celebrar a missa?» — Sholango inquiriu. «Claro!» — respondi. A senhora não tem culpa de os outros católicos terem medo da chuva. Ela veio e merece que respeite o seu gesto.

Jesus chama de «pequenino rebanho» (Lucas 12: 32) aos seus seguidores. Naquela Eucaristia o rebanho era, de facto, bem pequenino. Mas o Pastor bom e belo estava connosco.

A Festa da Missão fechou com uma hora de adoração com as Missionárias da Caridade e os jovens voluntários.

Perante o Pão da Vida, pedi que o Senhor da Seara envie trabalhadoras e trabalhadores para a sua seara. A oração pelas vocações é o primeiro serviço do discípulo missionário. E a vida missionária é um privilégio único!

O Papa Francisco escreveu na Mensagem para o Dia Mundial das Missões que tem um sonho: «continuo a sonhar com uma igreja toda missionária e uma nova estação da ação missionária das comunidades cristã».

Partilho do seu sonho!

17 de outubro de 2022

VIVA SÃO DANIEL COMBONI



Daniel Comboni, o santo fundador dos Missionários Combonianos, faleceu em Cartum, Sudão — onde era bispo — a 10 de outubro de 1881. Tinha 50 anos.  Sucumbiu às febres tropicais e às fadigas apostólicas.

São João Paulo II canonizou-o a 5 de outubro de 2003. A festa litúrgica é celebrada no dia do seu falecimento.

São Daniel Comboni é o padroeiro da igreja que os combonianos construíram na cidade de Adola, paróquia de Qillenso. Foi sagrada a 7 de março de 2016. O adro da igreja tem uma estátua cinzenta sua com chaves na mão, uma iconografia incomum. Normalmente, S. Pedro é o santo das chaves.

Os católicos de Adola celebraram a festa do seu padroeiro a 9 de outubro, o domingo antes da sua memória.

Contudo, as celebrações começaram no dia 7 à noite. Trinta e sete romeiros de algumas das oito capelas à volta de Adola vieram pernoitar na igreja.

A manhã de sábado, dia 8, foi dedicada à formação dos fiéis com ensinamentos sobre a vida do padroeiro, identidade católica e as novas normas litúrgicas preparadas pelo Vicariato de Hawassa, a nossa diocese.

As novas normas litúrgicas pretendem fazer frente à crescente influência protestante nas celebrações católicas no que diz respeito ao cantar e saltar durante a liturgia, ao barulho, às orações palavrosas e ao modo de organizar as capelas.

Depois do almoço houve tempo livre para as pessoas irem ao mercado. Em Adola a feira é ao sábado e à terça-feira, uma oportunidade para socializar e saber novidades além de fazer compras.

Às 16h00 começou a Adoração do Santíssimo com tempo de confissões, até às 17h30.

Depois do jantar, foi projetado um filme de três horas sobre a vida de Jesus em oromo, a língua-mãe do guji. 

A ELPA, a companhia elétrica etíope, decidiu colaborar com o evento e não houve cortes de corrente — o que é pouco habitual.

À noite o número de católicos a dormir na igreja subiu para as sete dezenas.

No domingo de manhã, depois do pequeno-almoço, os festeiros continuaram a familiarizar-se com as novas normas litúrgicas.

Quando chegou a hora da Eucaristia, reuniram-se todos junto do portão do adro da igreja para a procissão de entrada com os quadros de São Daniel Comboni e Santa Madre Teresa Calcutá. As suas irmãs, Missionárias da Caridade, têm na cidade uma grande instituição para cuidar dos doentes crónicos e terminais e dos pobres.

A Eucaristia solene, presidida pelo pároco, o comboniano togolês P. Hippolyte Apedovi, durou mais de duas horas, bem cantada e participada.

No fim da eucaristia — e porque a chuva ameaçava — o almoço de confraternização foi servido nas instalações da Biblioteca Púbica Comboni.

O menu foi simples: injera — panquecas gigantes feitas com farinha de tef, um cereal etíope — com batatas guisadas com vegetais e água para beber.

Na festa do ano passado, a comunidade juntou dinheiro suficiente para comprar carne de vaca. Este ano a crise económica é grande. Os produtos essenciais — sobretudo açúcar, farinha e óleo alimentar e combustíveis — custam o dobro em relação ao ano passado.

O dinheiro das ofertas juntamente com as ajudas das missionárias e dos missionários deu para uma refeição mais simples. Mas estava uma delícia. As mulheres esmeraram-se.

O importante foi celebrar juntos e almoçar juntos. As comunidades reforçam-se à volta das mesas da Eucaristia e da convivialidade.

Viva São Daniel Comboni.

4 de outubro de 2022

MISSIONÁRIA PARA SEMPRE









Gebaynesh Gebre Emmo fez os votos perpétuos como Irmã Missionária Comboniana no dia 4 de setembro de 2022. 

A celebração, presidida pelo bispo local, D. Markos Gebremedin, decorreu na paróquia de São Paulo, na cidade natal de Bonga. É a capital do estado regional de Kaffa, a pátria do café, na Etiópia Central.

A Ir. Gebay nasceu há 35 anos numa família com dez filhos: sete raparigas e três rapazes. É a quarta mais nova. O irmão mais velho é padre Vicentino.

Começou o discernimento vocacional quando andava na faculdade, com mais dez meninas.

«Estávamos todas na faculdade e tínhamos um encontro mensal. Pedi para entrar no Instituto quando terminei os estudos. Fui atraída pelo carisma e espiritualidade de São Daniel Comboni, a sua paixão pelos pobres e mais abandonados, a coragem e a força das primeiras irmãs na missão, a sua auto-doação e simplicidade», recorda.

A formação de base levou-a a muitos sítios: fez o pré-postulantado em Adis-Abeba, na Etiópia, o postulando em Nairobi, no Quénia, e o noviciado em Namugongo, no Uganda.

«Gostei muito de estudar em Nairobi enquanto fazia a formação. Aprendi inglês numa escola onde encontrei gente de todo o mundo que falava línguas muito diferentes. No noviciado gostei sobretudo da vida de oração. Venho de uma família católica, mas realmente aprendi a rezar no noviciado», conta.

Depois de fazer os primeiro votos como missionária comboniana, continuou a formação em Fetais, Portugal, no Brasil e, finalmente, na missão de Haro Wato, na Etiópia.

Lugares que a marcaram: «Em Portugal aprendi a ser fiel (a mim própria, aos outros e a Deus). No Brasil descobri uma Igreja muito ativa que investiu imenso no povo. As pessoas estão envolvidas em todas as atividades da Igreja, especialmente na administração e na pastoral».

A celebração dos votos perpétuos marca a conclusão do processo de formação de base. Através da profissão perpétua dos votos de castidade, pobreza e obediência no Instituto das Missionárias Combonianas assumiu a disponibilidade de ser missionária para sempre.

Uma multidão esperava a Ir. Gebay, a superiora provincial e o bispo junto à igreja. Foram recebidos com canções, palmas e flores de boas-vindas. A igreja estava cheia. O coro cantou a preceito. A Eucaristia foi muito participada. A missa demorou mais de três horas: a alegria da festa!

A Ir. Gebai foi apresentada pelo pai — que tem mais de noventa anos — e pela irmã mais velha. A mãe faleceu há alguns anos.

«Fazer a minha consagração perpétua para a missão seguindo Comboni significa imitar Comboni para seguir a Deus amando-O e servindo-O enquanto sirvo os meus irmãos e irmãs. Sinto-me feliz, porque trabalhei muito para este dia. Senti-me muito feliz e chorei de alegria», confessou.

A festa prosseguiu com um almoço partilhado nas instalações da paróquia. À noite, na casa da família, houve jantar para alguns convidados mais próximos. E muita alegria.

Perguntei-lhe pelo futuro. «O futuro pertence a Deus e acredito que quanto mais crescer mais Deus vai querer de mim», respondeu convicta.

Também deixou uma mensagem quem acalente o sonho missionário.

«Para quem gosta de seguir a vida missionária tenho esta mensagem: não temas os desafios, porque eles dão-nos oportunidades para sermos aquilo que desejamos. Mantém uma atitude de escuta. É através da escuta que podemos identificar a voz d’Aquele que nos chama. Faz a vontade de Deus, porque obedecendo não cometerás erros», concluiu.

20 de setembro de 2022

Qillenso: CAMPO DE FÉRIAS



A pequenada de Qillenso e das vizinhanças preparou a chegada do Ano Novo etíope — celebrado a 11 de setembro — com uma experiência inédita: um campo de férias.

O evento, organizado pelas Missionárias da Caridade, as irmãs de Santa Madre Teresa de Calcutá, foi animado poe elas e por quatro voluntários de Adola: o catequista do hospício das Missionárias, mais uma aluna e dois alunos do décimo ano.

Cerca de sete dezenas de crianças entre os quatro e os catorze anos participaram no evento. Algumas faziam quatro quilómetros a pé para para participarem na semana de atividades várias.

O campo de férias decorreu de segunda a sábado das nove às treze horas. Nem o nevoeiro matinal nem a humidade — que é costume nestes meses — nem alguma chuva esfriaram o entusiasmo dos participantes.

As atividades começavam com uma pequena oração. Era impressionante a concentração dos mais pequenos, autênticos adultos em miniatura.

Depois havia uma catequese bíblica e a aprendizagem de cânticos em guji — a nossa língua, amárico ou inglês.

O tema apresentado era trabalhado por grupos com pequenas dramatizações, canções, etc.

Seguia-se a hora dos jogos. Os participantes eram divididos em dois grupos — num lado os mais pequenos e noutro os mais crescidos — e os animadores ensinavam jogos, danças e outros passatempos.

O gargalhar de felicidade competia com o chilrear da passarada.

A meio da manhã tomavam um lanche para retemperar as forças e continuar as atividades.

Na sexta-feira de manhã, celebrei a missa com eles. Foi uma Eucaristia muito alegre. A petizada pôde cantar o que aprendeu nos dias anteriores. Os mais velhos escreveram e leram as orações dos fiéis.

Malaltu, a sobrinha da cozinheira da missão que tem quatro anitos, é normalmente envergonhada e caladita. Na missa, cantava com um entusiasmo crescente e fazia as dinâmicas que acompanhavam as canções com toda a energia.

O campo de férias foi um espaço lúdico, de aprendizagem e socialização. Os participantes adoraram a experiência. Era giro ouvir os mais pequenos a caminho de casa ou ao fim do dia a canta as canções que aprenderam durante a manhã.

Perguntei a Beza, a jovem que fazia parte do grupo dos animadores, se gostou da experiência, apesar do frio de Qillenso. Os olhos iluminaram-se num enorme sorriso: «É tão bom ver esta alegria de poder brincar juntos!» — disse.

Para o ano haverá mais!

31 de agosto de 2022

É TÃO BOM VOLTAR A CASA



Tive de ir a Portugal a meados de julho, nove meses depois de ter chegado à Etiópia. Normalmente vamos de férias por três meses cada três anos.

Quando vim, no fim de Outubro de 2021, o meu passaporte tinha quase 11 meses de validade: ainda não era renovável. A embaixada em Adis Abeba informou-me que, não tendo serviço consular, não renovava passaportes. Podia fazê-lo noutro país africano ou em Portugal.

Decidi ir a casa para estar com os meus pais e com a minha família e para celebrarmos juntos o primeiro aniversário da morte da minha irmã Celeste. E estar com a comunidade cristã de Cinfães, que me viu nascer, introduziu à fé e em nome de quem também sou missionário.

Passei uma semana em Fátima em retiro anual para renovar o meu compromisso com a missão e participar na peregrinação nacional da família comboniana, ocasião para abraçar colegas, benfeitores e amigos.

Também tive a graça de participar no último adeus ao P. José de Sousa. Foi o maior animador missionário dos combonianos em Portugal. Muitos dos meus confrades entraram no Instituto «pescados» por ele nas visitas às escolas e paróquias das dioceses de Viseu, Lamego, Guarda e Aveiro. Tinha 82 anos.

O mês passou-se a correr! Gostei de voltar ao calor depois de um mês de nevoeiros intensos, morrinha, chuva e humidade na serra de Qillenso, para secar os ossos. Chocou-me o nível de seca que afeta Portugal e a Europa — vista do avião, a terra parecia mirrada e as albufeiras tinham pouca água — e o flagelo dos fogos.

Agradeço o carinho e as ajudas que me entregaram. Grato, encomendo cada pessoa ao amor misericordioso do Senhor da Missão.

Regressei à Etiópia a 17 de agosto. A viagem foi agradável: Porto — Frankfurt (Alemanha) — Adis Abeba. Saí de Pedras Rubras depois das quatro da tarde e cheguei a Adis às seis da manhã do dia seguinte.

Mia Couto — um dos autores africanos que mais estimo — fez-me companhia com o romance Terra sonâmbula. Uma reflexão genial sobre os efeitos da guerra civil em Moçambique através dos olhares de Tuahir, Muidinga e Kindzu.

Deixo três citações: «O que faz andar a estrada? É o sonho. Enquanto a gente sonhar a estrada permanecerá viva. É para isso que servem os caminhos, para nos fazerem parentes do futuro». «Esperto é o mar que, em vez da briga, prefere abraçar o rochedo». «Nenhum rio separa, antes costura os destinos dos viventes».

Depois de um mês de canícula em Portugal, Adis Abeba acolheu-me com chuva. Negociei o preço da corrida com o taxista — os efeitos da guerra na Ucrânia também se fazem sentir aqui e o preço dos combustíveis aumentou quase cinquenta por cento — e fui para a casa provincial. Os colegas acolheram-me com a alegria e curiosidade costumeiras.

Fiz um dia de descanso e viajei rumo ao sul. Tinha deixado o velho «todo-o-terreno» em Adis para uma revisão mais profunda. Já rodou 405 mil quilómetros e precisava de alguns cuidados extra.

A Etiópia central está na estação das chuvas. Enquanto conduzia para Hawassa contemplava a paisagem verdejante que me envolvia: os campos trabalhados com milho, trigo e tief — o cereal local usado para fazer a injera, o pão quotidiano em forma de panqueca gigante — a crescer.

Os malmequeres amarelos (que anunciam o ano novo etíope — sim, vamos celebrar a chegada de 2015 segundo as contas daqui a 11 de setembro) davam uma nota de alegria às bermas da autoestrada onde alguns animais pastavam tranquilamente.

Almocei com a comunidade comboniana de Hawassa e prossegui a viagem até Qillenso, que fica a 432 quilómetros a sul da capital, na estrada que vai para a Somália. Pelo caminho comprei uma espiga de milho assado para matar saudades do sabor.

O vento deve ter arrumado as nuvens para algum lado, porque o sol deu-me as boas-vindas a casa. Mas, dois dias depois, o nevoeiro, a chuva e a humidade voltaram. É a sua estação! E as pessoas agradecem. Começaram a preparar a terra para semear os cereais e as favas. O milho está quase pronto para a colheita.

Cheguei a Qillenso por volta das cinco e meia da tarde, depois de quase oito horas de condução. O P. Hippolyte e a Guyyate, a cozinheira, receberam-me com um abraço de boas-vindas. Dei-lhes os «miminhos» que levei de Portugal.

Ao jantar trocámos novidades e começamos a pôr a conversa em dia.

Tivemos de fechar o portão maior da missão a cadeado, porque o gado dos vizinhos estava a fazer estragos no recinto; as pessoas entram por um portão mais pequeno inserido no grande; Jalata, um dos jovens mais próximos de nós, tinha casado tradicionalmente; a segurança a sul de Adola — onde fica o outro polo da missão — está a melhorar e o pároco planeia visitar a comunidade de Zambala, a que não vamos há quase um ano por causa dos ataques dos rebeldes oromos.

Uma nota triste. Sukari (Açúcar), uma senhora bastante jovem que sacramentei numa clínica privada em Me’ee Bokko antes de partir, tinha falecido supostamente vitimada por um cancro no estômago. Repousa no pequeno cemitério da missão, onde a fui encomendar à misericórdia de Deus.

O nosso gato desapareceu, talvez apanhado por um animal selvagem, um felino de porte médio parecido com o lince, a quem os dicionários chamam lobo-gato, que vive por aqui.

É tão bom voltar e sentir-me aqui também em casa!

31 de julho de 2022

O TEU SORRISO




Reza a bênção antiga:

    O Senhor te abençoe e te guarde!
    O Senhor faça resplandecer o seu rosto sobre ti e te seja benigno!
    O Senhor mostre para ti a sua face e te conceda a paz!

É o teu rosto que eu procuro, Senhor,
É o teu sorriso que busco
e encontro
nos olhares resplandecentes e translúcidos
dos anjos que me envias,sorrisos de paz e de ternura,
sorrisos de amor e de conforto,
sorrisos de paz e alegria,
esplendores do teu sorriso amoroso
a cada uma das tuas criaturas.
O teu sorriso eu procuro, Senhor,
o teu sorriso eu encontro
nos sorrisos transparentes,
sem dentes,
dos bebés e dos anciãos.
Cada sorriso é expressão do único sorriso cósmico,
o teu divino sorrir!
Que o teu sorriso acompanhe
cada dia da minha vida.
Amen!

14 de julho de 2022

A CAPELA AZUL



 



Ouvia falar de Massina quando ia celebrar a missa à capela de Jalahu, no fundo de um vale apertado junto ao rio Hawata. Missionava em Haro Wato, nos montes Uraga.

Nessa altura, há um quarto de século, Jalahu era um sítio ermo. As pessoas iam ao mercado e ao moinho a Massina, do outro lado do rio.

Agora, Massina tem uma capela católica que pertence à zona de Adola, da paróquia de Qillenso.

A aldeia fica a cerca de vinte quilómetros de Adola, metade em asfalto, metade em terra batida. A picada acompanha a margem esquerda do rio Hawata por entre plantações de café, chat — uma planta alcalóide que é legal na Etiópia —, falsas-bananas, árvores de fruto e milharais.

O cenário é de encantar. Há muitas acácias, árvores típicas da savana africana. Os habitantes são amistosos e saúdam a nossa passagem com alegria, sobretudo as crianças.

Quando vivia em Haro Wato, tomei banho várias vezes nas águas límpidas e refrescantes do Hawata, junto à capela de Tuta.

Nesta secção, o rio vai muito sujo devido à prospeção de ouro nas margens e no seu leito.

Os locais garimpam usando pás, picaretas e escudelas. Os chineses usam retro-escavadoras. Há várias a operar nos cinco quilómetros de rio que acompanhamos para chegar a Massina. A concorrência é desleal e, por vezes, transforma-se em conflito violento.

Na última vez que fui celebrar a Massina, um membro da milícia Oromo, a força local que mantém a lei e a ordem, parou-me e perguntou se ia para o ouro.

«Não! Vou rezar com a gente de Massina» — respondi. Mandou-me seguir.

A capela está construída num dos extremos da povoação. Foi aberta pelo comboniano mexicano P. Pedro Pablo Hernández. Iniciamos juntos com um colega espanhol a missão de Haro Wato em 1995. Ele desenvolveu a presença católica em Adola e à volta da cidade santa dos gujis. Chama à atenção, porque está pintada de azul! A minha cor preferida.

Massina é a comunidade católica mais numerosa fora da cidade. Normalmente umas trinta pessoas participam na eucaristia dominical cada seis semanas. A maioria são mulheres. Sempre fiéis ao seu Senhor!

É também uma comunidade muito autónoma. Queriam instalar um sistema elétrico solar para alimentar os altifalantes e fazer concorrência aos protestantes. Juntaram o dinheiro necessário para comprar um painel solar, uma bateria, o controlador de corrente e o inversor — transforma os 12 volts da bateria em 220 —, o estabilizador, um altifalante externo e uma coluna de som interna.

Enquanto o catequista dirige a oração da manhã e o terço, o padre atende os penitentes de confissão.

Se por alguma razão nos atrasamos — ou porque a missa em Adola foi mais comprida, ou porque ficamos presos na lama da picada — o catequista faz a celebração da Palavra.

Depois, a missa é celebrada com calma. Os cânticos são acompanhados pelo tambor e por uma kerara, uma harpa etíope de cinco cordas. A da comunidade é um modelo comercial com cordas de aço, diferente das artesanais com cordas de náilon ou algodão.

A oração dos fiéis é espontânea e muito participada: uns fazem pedidos, outros expressam agradecimentos pelas bênçãos recebidas. Formam uma espécie de retrato oral da vida das pessoas da comunidade.

A missa termina com dois ou três cânticos em que todos participam cantando e dançando.

No final da eucaristia, serviram-nos uma pequena refeição de injera — o pão típico de Etiópia, uma espécie de panqueca gigante feita com farinha de tef, um cereal autóctone do país — com batatas, arroz ou umas papas feitas com tomate. Os anciãos da comunidade tomam parte do repasto. Manda a boa educação que não se coma tudo, porque as mulheres também têm direito ao seu quinhão depois de os homens comerem.

No regresso, é costume cruzarmo-nos com muita gente, sobretudo mulheres, que vêm da celebração dominical de igrejas protestantes ao longo da picada. Cumprimentamo-nos com alegria, porque somos todos irmãos e acreditamos que Jesus ressuscitado é o salvador da criação inteira.

22 de junho de 2022

Haro Wato: MATAR SAUDADES

 





Voltei a Haro Wato, a missão que comecei com dois colegas em abril de 1995. A ocasião foi uma manhã de recoleção na véspera do Pentecostes para as comunidades combonianas (uma feminina e duas masculinas) que servem o povo Guji.

Os cerca de 50 quilómetros de estrada de terra batida que atravessam os Montes Uraga entre Bore e Haro Wato estão em bom estado e a viagem foi agradável apesar de um forte aguaceiro na parte mais alta do percurso. Vi muitos batatais em flor, promessa de uma boa colheita. E os milharais crescem com a chuva.

No cruzamento com a estrada Dilla-Shakisso, onde havia duas ou três cabanas-tabernas para reabastecimento, nasceu Damma, uma aldeia enorme com hospital. Demos boleia a duas jovens que andavam a vacinar as pessoas contra o Covid.

Nalgumas partes onde antes havia floresta densa, agora há campos agrícolas e plantações de eucaliptos. A pressão sobre a natureza é grande e o equilíbrio entre conservação e desenvolvimento é difícil.

A pequena aldeia que se formou em volta da missão de Haro Wato transformou-se e como cresceu! As cabanas tradicionais estão a dar vez a casas maiores e mais cómodas revestidas a cimento.

Tem energia elétrica e uma torre de telecomunicações com internet G2. Também há uma pequena mesquita. No passado os gujis tratavam o Islão com desprezo. Agora há quem o siga, através da influência de empresários muçulmanos que controlam o negócio local do café.

A missão, essa cresceu em todos os sentidos e ficou «entalada» entre duas estradas.

As árvores que plantamos há um quarto de séculos estão frondosas. Produzem mangas e pêras abacate deliciosas. O cafezal cresceu. A casa dos missionários tem mais dois quartos. A clínica, dirigida pelas irmãs, não pára de receber acrescentos para melhorar oferta de serviços. Em 2021 atendeu quase vinte mil pacientes.

As estruturas paroquiais estão maiores com o salão multi-uso e uma nova construção para os catequistas.

A nível de capelas, quando disse adeus ao Uraga em finais de setembro de 2000, a paróquia tinha 29, divididas em três zonas. Agora são 47, agrupadas em sete zonas. Os batizados estão a chegar aos dezanove mil. A resposta dos Gujis do Uraga ao Evangelho é muito generosa.

A paróquia chegou a Sollamo, a capital do distrito, a nove quilómetros mais a norte, que continua com o ar de uma cidadezinha esquecida, para lá do sol posto. No início, as combonianas abriram um jardim infantil. Este ano têm 450 alunos da pré-primária até ao sétimo ano. Para o próximo ano abre o oitavo. Junto à escola há uma capela que serve os católicos da cidade.

A escola de Haro Wato, dirigida pelos missionários, tem mais de duas centenas de alunos do quinto ao oitavo ano.

Senti uma enorme saudade da meia dúzia de anos que passei em Haro Wato entre abril de 1995 e setembro de 2000. Um começo desafiante que está a dar muitos frutos. 

Um jovem comboniano oriundo da missão está em Nairobi a acabar a teologia para ser ordenado padre missionário. Algumas jovens querem ser combonianas.

As cerca de 24 horas que passei em Haro Wato deram para revisitar a alameda da memória. E para encontrar algumas pessoas, nomeadamente o senhor Tsegaye, um vizinho que me ajudava a inculturar as homilias com provérbios e estórias gujis.

Foram, sobretudo, para agradecer ao Bom Senhor por tudo o que vi e recordei! Como a Palavra continua a crescer naquelas colinas verdejantes com os pés lavados pelos rios e riachos.

5 de junho de 2022

DIZER DEUS


As culturas orais tradicionais falam de Deus usando estórias, narrativas, lendas e mitos fundacionais em vez de um discurso teórico teológico e dogmático.

Os Gujis do Sul da Etiópia têm uma lenda muito interessante para definir Deus.

Contam que no princípio Deus — Waaqa — amava tanto a terra que quase lhe tocava com a barriga. E fertilizava-a com a chuva diária.

Ora, a mula, farta de trazer o lombo molhado, um dia deu um coice na barriga de Deus.

Deus ficou muito zangado e amaldiçoou-a: «A partir de agora vais ficar estéril! Não vais emprenhar e parir mais!»

Depois, Deus foi para muito longe!

Mas continua a amar a terra e a fertilizá-la com a chuva. E usa os pássaros quando quer enviar mensagens aos humanos.

Por isso, antes de qualquer grande decisão — desde o programar de um casamento ao cultivo dos campos — perscrutam o voo dos pássaros no horizonte ao cair da tarde para discernir a vontade de Deus.

Chamam-lhe ver o kaayo, o agouro, o augúrio, o presságio.

Os mitos fundacionais também explicam a organização social.

Segundo os gujis, Deus criou os primeiros três homens onde é hoje a cidade de Adola junto à ooda, a grande árvore sagrada dos oromos.

Chamou Urago ao primeiro guji; Darasso ao primeiro guedeo; Amaro ao primeiro amara.

Deus deu a terra a Urago e fez de Darasso seu escravo. Quanto a Amaro, disse que viveria aldrabando os outros.

Deus é invocado nas orações tradicionais gujis como Pai e Mãe, Avô e Avó, Bisavô, que nos pariu. O nosso antepassado comum, que nos irmana na grande família humana.

Um guji não diz que Deus é omnisciente. Mas explica que os olhos de Deus são como o fundo de uma garrafa e os seus ouvidos tão grandes como uma janela.

Os provérbios também falam de Deus.

Cito dois: o silêncio é o lugar que Deus atravessa; o desejo não enche o curral, mas Deus enche-o.

Numa teologia oral que afasta Deus do quotidiano das pessoas, anunciar que Ele se chama Emanuel, que é Deus-connosco, que não fala no voo dos pássaros mas é Palavra na Bíblia e no coração do crente é verdadeiramente boa-nova.

Os gujis trazem Deus sempre na boca. O desafio que o missionário enfrenta é anunciar-lhes o Deus-Pai de Jesus já presente na sua cultura, nas suas tradições, na sua sabedoria milenar.

Este método evangelizador chama-se inculturação: dizer Deus usando a linguagem teológica e simbólica hospedeiras até ao limite.

Exige um estudo aturado da língua e da cultura locais.

Um trabalho que os missionários estrangeiros iniciamos, mas que é continuado e aprofundado pelos cristãos nativos.

23 de maio de 2022

«ESTIVE NA PRISÃO…»


A pastoral carcerária é uma das novidades do serviço missionário oferecido pela paróquia de Qillenso, no sul da Etiópia, na prisão masculina de Adola.

Os combonianos construíram há alguns anos uma sala de oração simples de cerca de sete por sete metros, que partilham com outras confissões cristãs.

Ofereceram o material que sobrou aos ortodoxos para iniciarem a construção da própria igrejinha.

Junto aos dois espaços de oração cristãos há também uma pequena mesquita.

A pastoral na prisão é uma resposta à afirmação de Jesus: «estive na prisão e fostes ter comigo» (Mateus 25, 36).

Visitamos a prisão cada terça-feira para rezar e estar com os detidos que participam no nosso encontro.

Normalmente vamos quatro pessoas: duas Missionárias da Caridade (as irmãs de Madre Teresa), um leigo e um missionário.

Começamos com uma pequena oração de mãos dadas fora da prisão pedindo a inspiração do Espírito Santo para a nossa visita.

Depois de entrarmos no estabelecimento de correção, os homens somos revistados. Os telemóveis e os cartões de identificação ficam na portaria.

A prisão está construída colina abaixo. Alberga uns 650 presos: 250 frequentam a escola primária da primeira à oitava classe; um grande número trabalha em teares manuais: o pano tecido de algodão é usado na confecção de roupas tradicionais à venda no estabelecimento prisional; alguns prisioneiros jogam matraquilhos; outros reparam e limpam calçado.

A pandemia obrigou-nos a suspender as visitas ao estabelecimento durante dois anos. Retomamos a atividade pastoral a 13 de abril. Uma surpresa agradável: encontramos a sala de oração limpa e pintada. Tem uma enorme pintura de Jesus na Cruz com a Senhora da Soledade. Os pastores protestantes com quem partilhamos o espaço têm por hábito virar a imagem contra a parede.

Os Católicos adoram imagens — acusam.

A capela é simples: tem 14 bancos e uma mesa num pequeno estrado. Além da pintura, tem uma cruz de madeira e uma televisão com o descodificados de imagens satélite.

Cerca de meia centena de pessoas costumam tomar parte no encontro. Estão bem nutridos e limpos.

A maioria são jovens.

Os católicos são dois ou três pelo que a oração que fazemos é ecuménica.

Começa com um cântico acompanhado por uma kerara, uma espécie de harpa local de cinco cordas, e de um tambor. Os participantes cantam com entusiasmo.

No primeiro encontro os ortodoxos decidiram competir com música gravada.

Sholango, um ancião da igreja de Adola, introduziu o encontro. Apresentou os novos participantes.

Era a primeira vez que eu entrava numa prisão para rezar.

Três presos fizeram longas orações entrecortadas por muitos amens na boa tradição protestante.

No primeiro encontro utilizamos uma leitura da profecia de Isaías em que Deus promete libertar os prisioneiros.

A leitura e as reflexões foram feitas em amárico e em guji.

No espaço de oração há algumas bíblias que os participantes usam para acompanhar a leitura e as reflexões.

Sholango explicou o texto. Recordou que ele próprio na sua juventude passou duas semanas na prisão de Adola devido a uma rixa.

A Ir. Francília, Missionária da Caridade indiana, exortou em inglês os participantes a usar o tempo da sentença para se refazerem. Deus está com eles na prisão. Jesus também foi prisioneiro durante uma noite.

Um dos participantes traduziu para amárico.

Durante as diversas reflexões alguns dos participantes tiravam notas em pequenos bocados de papel.

Um recluso concluiu o encontro com uma oração de bênção.

No final, um católico pediu para ser ouvido em confissão.

Na saída, passamos pela escola para deixar uma caixa de esferográficas que o diretor pediu para os alunos.

Os encontros semanais são muito informais. No início, os participantes saúdam-nos e abraçamo-nos. Há muita alegria.

Normalmente começamos com um cântico seguido de orações espontâneas de invocação e louvor.

Depois lemos uma leitura bíblica e fazemos uma pequena reflexão. Eu costumo usar o evangelho do domingo anterior.

Depois há um momento de partilha, com perguntas e respostas.

A grande maioria dos orantes vem de tradições protestantes diversas. A discussão centra-se muito nas nossas diferenças: o culto a Maria, o uso de imagens, etc. Na boa tradição protestante, os argumentos de ambas as partes têm sempre um fundo bíblico.

O encontro termina com orações espontâneas.

Na saída, alguns fazem os seus pedidos: de remédios, de conselhos, um preso que usa uma cadeira de rodas pediu para lha compor-mos. As irmãs ofereceram-na há muito tempo e as rodas precisam de ser revistas.

Os guardas prisionais — mulheres e homens — também nos tratam com simpatia.

«Estive na prisão e e fostes ter comigo». Jesus está em toda a parte.

10 de maio de 2022

MAIO «LOUVADO SEJAS»



A diocese de Hawassa, no sul da Etiópia, celebra em maio o Mês Louvado Sejas para aprofundar a Carta Encíclica Laudato Si’ (Louvado Sejas) que o Papa Francisco escreveu «sobre o cuidado da casa comum» a 24 de Maio de 2015. 

O Mês Louvado Sejas abriu a 3 de maio, com uma eucaristia na catedral. Na celebração, presidida pelo administrador apostólico, o comboniano P. Juan Núnez, participaram quase todos os párocos da diocese e representantes das suas vinte paróquias.

O vicariato tem sensivelmente o tamanho de Portugal.

Os participantes receberam um desdobrável com o sumário da encíclica em que o Papa propõe uma ecologia integral que cuida da criação e cuida dos pobres.

O documento, intitulado Uma jornada com a criação: Mês de Maio Louvado sejas, Comprometidos a cuidar da nossa casa comum, foi preparado pela Comissão do Movimento Laudato Si’ do Vicariato de Hawassa.

No final da eucaristia, cada paróquia recebeu uma pequena árvore para plantar junto à igreja como monumento à encíclica Laudato Si’.

O pé de oliveira brava de Qillenso foi plantado no final da missa dominical de 8 de maio.

Depois da comunhão, o catequista explicou o essencial do Mês Louvado Sejas.

Os católicos são convidados a cuidar dos espaços públicos organizando campanhas de limpeza à volta da igreja, da clínica e da escola; apanhando plásticos, garrafas e outros lixos; plantando árvores de espécies locais — porque os eucaliptos dão dinheiro mas destroem a biodiversidade e os solos — para combater as mudanças climáticas que aqui também se sentem…

As igrejas devem colocar cestos ou caixotes para depositar o lixo.

Os pais, para manterem os pequenos sossegados durante a missa, dão-lhes biscoitos ou bolachas. Os pacotes de plástico acabam no chão das igrejas ou esgalhados pelos espaços envolventes.

Os anciãos da comunidade lideraram a procissão com o broto, que foi plantado depois de ter sido abençoado.

A eucaristia terminou no exterior da igreja junto à oliveirinha Laudato Si’.

A Etiópia tem sido assolada por fomes cíclicas causadas por períodos de secas extremas devido ao fenómeno meteorológico El niño.

Correntemente, cerca de treze milhões de pessoas vivem sob a ameaça da fome na Etiópia, Quénia e Somália depois de três anos de seca, que já matou muito gado.

2 de maio de 2022

FEZ-SE PÁSCOA!


Este ano a Páscoa do Calendário Juliano — em uso pela comunhão ortodoxa e também pelos católicos na Etiópia — foi celebrada uma semana depois da Páscoa segundo o Calendário Gregoriano — seguido pela grande maioria das Igrejas cristãs. 

Uma vez cada oito anos a data coincide nos dois contadores do tempo, mas a diferença a separar as duas páscoas pode chegar às quatro semanas. Não me pergunte porquê, porque não sei.

No programa pastoral para as celebrações pascais coube ao pároco ir para a zona pastoral de Adola. Eu fiquei na sede da missão.

Em Qillenso, a vigília pascal estava marcada para as 19h00, 13h00 segundo a hora local — aqui as zero horas são às seis da manhã.

Uma hora antes começamos os preparativos.

Sob um céu muito carregado, com alguns trovões fortes, apanhamos a lenha para a fogueira pascal, sempre com um olho nas nuvens. Felizmente, foram despejar a carga de água a outro sítio e pudemos iniciar a vigília pascal — a mãe de todas as vigílias — já passava das 19h30, à espera que as pessoas fossem chegando.

Feita a Liturgia da Luz, no campo de futebol da missão, os participantes — guiados pelo Círio Pascal, símbolo do Senhor Ressuscitado — encaminharam-se para a pequena e acolhedora igreja, decorada a preceito.

A ELPA, a elétrica da Etiópia, portou-se bem e tivemos eletricidade durante toda a Liturgia da Palavra. Antes da celebração iniciar, atendi de confissão alguns penitentes à luz de uma vela.

Fizemos as sete leituras das Escrituras Judaicas — é importante fazer memória do imenso amor de Deus pelo seu povo, por cada pessoa, por cada criatura — e relembrar a história desse amor sofrido desde a Criação até à promessa do coração novo que substitui o coração empedernido do amado para ser também amante!

Cada leitura foi intercalada com um cântico acompanhado pelo teclista, que esteve «desempregado» durante o tempo da Quaresma. Nesta estação litúrgica aqui todos os instrumentos musicais são calados!

Foi tão lindo e comovedor poder cantar de novo Glória a Deus e Aleluia ao ritmo cadenciado das palmas e dos gestos depois dos quarenta dias de sobriedade litúrgica.

A luz «apagou-se» durante a homilia e a partir daí a celebração continuou com a igreja bastante bem composta, iluminada pelo Círio Pascal, pelas velas do altar e pela minha pequena lanterna que uma acólita segurava para eu poder ler o missal.

Dez catecúmenos e uma dúzia de bebés foram batizados durante a Liturgia Batismal. Algumas crianças fizeram a Primeira Comunhão na Liturgia Eucarística. A comunidade continua a crescer!

Os catecúmenos e os meninos da primeira comunhão receberam um terço e os bebés uma medalha de Nossa Senhora.

Era cerca das dez da noite quando disse às pessoas: «Ide em paz, aleluia, aleluia!»

A vigília foi uma celebração tranquila, uma experiência do Senhor Ressuscitado entre nós! O ambiente escuro e o bruxulear das velas ajudou ao repouso do espírito.

A noite de Páscoa foi de chuva intensa que se prolongou por parte da manhã.

No Domingo da Ressurreição, algumas pessoas vieram cedo à igreja para a prepararem para a Celebração da Palavra presidida pelo Catequista.

Como de costume, cortaram umas ervas longas e carnudas dos pântanos e espalharam-nas pelo chão. Depois da celebração juntaram-se no salão paroquial para um café celebrativo.

Eu fui celebrar a Missa da Ressurreição à igrejinha de Urdata, a uns seis quilómetros a norte de Qillenso, na periferia da cidade de Me’ee Bokko.

A celebração estava marcada para as 9h30, mas o catequista telefonou-me para não ir antes das 10h30. A chuva — que não queria parar — estava a atrasar os fiéis.

Ao longo da estrada vi muitas pessoas vestidas para ir ver o Senhor nas diversas comunhões presentes na cidade: as mulheres com vestidos e mantilhas onde predominava o branco e os bordados tradicionais ou os mantos longos e vestidos brancos com listas negras, étnicos; os homens com roupas mais sóbrias, embora alguns vestissem fatos brancos decorados com pequenas árvores verdes com troncos pretos — a oda, a árvore sagrada dos oromos, etnia a que os gujis pertencem.

A estrada de acesso à pequena igreja, construída com blocos e coberta de lâminas de zinco, estava muito enlameada e com os saltos do todo-o-terreno receei entornar a água benzida na vigília pascal que levava num balde para os batismos.

As pessoas iam chegando a conta-gotas.

«É por causa da chuva!» — explicava-me um catequista.

No templo luterano vizinho a assembleia cantava com entusiasmo puxada pelo pregar intenso do pastor.

«Huum! Parece que a chuva não cai sobre os protestantes!» — comentei, jocoso!

Entretanto, os jovens do coro vestiram as túnicas roxas com estolas brancas. Mas não entravam no templo!

Alguém decidiu ir alugar um pequeno gerador. A ELPA não retomou o fornecimento da energia e a Missa de Aleluia não podia ser celebrada sem o acompanhamento do teclado!

Era meio-dia quando, finalmente, iniciamos a celebração eucarística. A igrejinha, com o chão adornado de ervas, estava cheia de fiéis em trajes festivos (foto).

O coro cantou e dançou a preceito e a assembleia também!

Na celebração cinco catecúmenos e sete bebés receberam o Batismo e onze crianças fizeram a Primeira Comunhão. E receberam terços e medalhas!

No fim da celebração, a comunidade ofereceu aos dois catequistas um fato de três peças! Uma maneira interessante de marcar a Páscoa de quem os serve.

À vinda para casa estacionei o todo-o-terreno junto à antena de comunicações móveis para falar com os meus pais através de vídeo-chamada. Faz parte da minha rotina dominical desde os tempos em que vivi no Sudão do Sul. A casa onde vivo fica num baixio e o sinal da internet é muito fraco para usar o vídeo.

Assim passei a primeira páscoa de regresso à Etiópia!