29 de abril de 2011

ÁGUIA-PESQUEIRA


© JVieira

O Conselho de Ministros do Governo do Sul do Sudão elegeu a águia pesqueira como símbolo da República do Sudão do Sul.

A águia é uma ave majestosa e solitária, endémica nas partes pantanosas do Sudão. Esta fotografei-a no campo petrolífero de Tharjath, no Estado de Unity.
O ministro tinha lançado um concurso em Março para o brasão nacional mas parece que os artistas andavam muito mal inspirados pelo que os ministros decidiram-se pela água branca-e-negra!
O governo pode agora começar a imprimir passaportes, bilhetes de identidade e outros documentos!
O Conselho de Ministros aprovou também uma resolução em que entrega temporariamente a gestão do espaço aéreo a uma empresa privada.
O porta-voz do governo garantiu que as obras em curso – construção de um novo terminal de passageiros no aeroporto internacional de Juba, alindamento do espaço onde a declaração de independência vai decorrer, monumento aos heróis e heroínas da luta de libertação, e os viadutos de Juba – vão estar prontos antes de 9 de Julho.
Entretanto, na semana passada o parlamento do sul do Sudão aprovou o orçamento para a festa da independência no valor de 23 milhões de Euros. Cerca de um quinto vai para a segurança e 2,7 milhões vão ser usados nas festas nas dez capitais de estado. Uma quantia mais pequena foi atribuída aos condados.
Juba vai beneficiar sobremaneira com as festas: além de obras de «maquilhagem» aqui e ali, vai receber tecnologia moderna para a recolha e tratamento de lixo. Pelo menos é o que o orçamento prevê.

23 de abril de 2011

PÁSCOA


Encontrei-me com sul-sudaneses pela primeira vez em 1999 nos desertos inóspitos que asfixiam Cartum. Tinham fugido da guerra pela autodeterminação que grassava no Sul sem dó nem piedade.
Um colega que sabia como furar o bloqueio de postos de controlo da polícia à volta de Cartum, levou-me a visitar os deslocados em Jabarona. Fiquei impressionado com a capacidade de sofrimento e de resistência de gente votada ao desprezo porque eram negros – escravos, como a elite árabe teima em lhes chamar.
Gente habituada às florestas equatoriais, às planícies verdejantes e aos rios do Sul sobreviviam num ermo sem fim de terra ressequida, perseguida pelos islamistas, mas sem baixarem os braços.
Entretanto, em Dezembro de 2006, a vida trouxe-me para Juba, a capital do Sul do Sudão, para integrar como director de informação uma equipa de combonianas e combonianos encarregada de montar a rede de rádios católica do Sudão.
O Sudão do Sul tem mais de seis vezes o tamanho de Portugal. A população ronda os 8,3 milhões. Quase cinquenta anos de guerras civis (1955-1972 e 1983-2005) mataram 2,5 milhões e deslocaram mais de quatro milhões. Metade da população tem menos de 33 cêntimos de Euro para gastar por dia. A guerra destruiu a rede de saúde e o sistema escolar: três quartos são analfabetos.
O sul do São é território fértil para um sem número de doenças endémicas: malária, tifo, cólera, kala azar, febre-amarela, cegueira dos rios, meningite… A médica das consultas para viajantes fez uma cara muito feia quando lhe indiquei no Atlas o meu destino final.
Apesar de tudo, os Sudaneses do Sul chamam à sua terra paraíso e lutaram meio século pelo direito à autodeterminação.
Os povos do sul, um mosaico de mais de sessenta tribos negras, cristãos e seguidores das religiões tradicionais, não foram tidos nem achados quando a administração colonial egípcio-britânica decidiu dar a independência ao país e entregaram o poder às elites árabes e muçulmanas do Norte a 1 de Janeiro de 1956.
Finalmente a oportunidade de marcarem encontro com a história e dizerem o que queriam como povo aconteceu com o tratado de paz negociado entre o governo de Cartum e os rebeldes do SPLA (o exercito de libertação do povo do Sudão) em 2005 que consagrou o direito ao referendo de autodeterminação.
O plebiscito decorreu de 9 a 15 de Janeiro deste ano. O governo de Cartum usou todos os truques que tinha na manga para descarrilar o processo, mas os sulistas cerraram fileiras e defenderam com paciência e constância o direito ao voto. A comissão encarregada da auscultação popular pôs o processo a funcionar em três meses e o referendo foi proclamado como evento paradigmático pela ONU e pela comunidade internacional pelo modo como decorreu.
O circo mediático foi desmantelado em poucos: os jornalistas esperam sangue e morte – como aconteceu nas eleições do Quénia – mas os sul-sudaneses mantiveram-se unidos e vigilantes para defenderem o seu referendo.
Houve muita gente que passou a noite inteira nos centros de voto em autêntica vigília. As filas eram longas sob um sol escaldante e impiedoso, mas os cidadãos esperavam pacientemente pela vez de escolher o seu destino comum com a devoção de quem faz fila para a comunhão.
Depois de marcarem o boletim com o dedo e de o dobrar, uns beijaram-no antes de o colocar na urna, outros chamavam, havia quem dançasse e ululasse… Uma explosão de alegria com o sentido de que finalmente se reencontraram com o seu futuro.
Mamã Rebecca Kadi Loburang foi uma dessas pessoas Apesar dos seus lindos 115 anos de idade, ela fez questão de votar. Vestiu-se de branco, qual noiva adornada para o grande encontro, e pediu à família que a levasse à mesa de voto numa cadeira de rodas.
No final disse aos jornalistas através da neta que veio votar pela independência porque queria deixar um Sudão do Sul melhor e mais pacífico para as novas gerações!
Foi a aurora de ressurreição no Sul do Sudão, uma paz de novo ameaçada pelas nuvens negras do conflito por uma mão-cheia de senhores da guerra que preferem o poder ao bem comum: desde o refendendo mais 800 pessoas foram mortas em conflitos localizados e dezenas de milhares deslocadas.

7 de abril de 2011

CALMA


Os bispos católicos do Sudão terminaram a assembleia extraordinária hoje em Juba com um apelo à calma e vigilância.
Dez bispos, um administrador apostólico, juntamente com o núncio apostólico e quadros superiores da Igreja passaram uma semana em Juba a reflectir sobre as consequências da independência do Sudão do Sul para a Igreja.
Os bispos pediram paciência, compreensão e contenção aos cidadãos perante as mudanças dramáticas que estão a acontecer.
No comunicado final, os bispos instaram todos os partidos, todas as forças e todos os cidadãos a abraçarem uma cultura de paz e rejeitarem a violência, pedindo-lhes que se afastem da divisão, incitamento, palavras de ódio, boatos e acusações e para resolverem as diferenças através do diálogo e do espírito de unidade.
O Sudão meridional deve tornar-se independente a 9 de Julho.
Hoje, o presidente da república, Omar Hassan al Bashir, esteve em Juba para discutir assuntos pós-referendários com o seu homólogo do governo do Sul do Sudão, Salva Kiir Mayardit.
Thabo Mbeki, que facilita as conversações em nome da União Africana, disse que os dois presidentes discutiram assuntos relacionados com a segurança e economia.
A próxima ronda de negociações está agendada para Washington, EUA, ainda este mês, para negociarem o pagamento da dívida externa do Sudão, muito perto dos 40 mil milhões de dólares americanos.

4 de abril de 2011

2-1


© JVieira

A seleção dos Missionários Combonianos no Sul do Sudão perdeu uma renhida partida de futebol disputada ontem à tarde com o Zalzal FC.
O amigável disputou-se no campo da escola primária Juba One Boys e inseriu-se nas actividades da assembleia provincial dos Combonianos que começou na quinta à noite na casa provincial em Juba.
Os rapazes do Zalzal (literalmente Terramato) levaram a melhor sobre os combonianos e venceram por 2-1 depois de estarem a ganhar por 2-0.
Os missionários apesar da derrota e de algumas venerandas barriguinhas deram boa conta de si!
O Zalzal milita na terceira divisão do campeonato de Juba e o comboniano mexicano Ir. Jorge Fayad é o treinador adjunto.
A província está a fazer a assembleia anual até quarta sob o tema «O Sudão nunca mais será o mesmo!»
O campo de futebol da escola esteve no centro de uma polémica quando o diretor decidiu vender uma esquina do mesmo a um privado para construção.
Algumas árvores centenárias foram à vida e os buracos para os alicerces cavados.
Entretanto, as autoridades escolares pararam as obras e demitiram o director por abuso de autoridade.

1 de abril de 2011

PLENÁRIO


Os bispos do Sudão iniciaram hoje uma assembleia plenária extraordinária para debater a situação decorrente da independência do Sul do Sudão e as implicações para a Igreja Católica no país.
© PMoggi
Dez bispos e um administrador apostólico estão reunidos em Juba com o núncio apostólico e quadros superiores da Igreja naquela que pode ser a última assembleia da Conferencia dos Bispos Católicos do Sudão (SCBC na sigla em inglês) já que sobre a mesa está a proposta da criação de duas conferências: uma para as duas dioceses do Norte e outra para as sete dioceses do Sul.
O Arcebispo de Cartum, Gabriel Cardeal Zubeir Wako, que preside à SCBC desde o ano passado, disse durante o discurso de abertura que a Igreja no Sudão se encontra numa fase crucial.
Dom Gabriel explicou que os bispos pretendem encontrar meios para fortalecer a solidariedade entre as igreja do Norte e do Sul depois da independência do Sul do Sudão.
O arcebispo Paolino Lukudu Loro de Juba disse que a independência do sul do Sudão vai impor uma reestruturação profunda da Igreja no Sudão e no Sul do Sudão.
Os bispos vão discutir a reformulação da SCBC, incluindo a mudança de secretários-gerais e outros quadros da conferência, o buraco financeiro da instituição e a questão dos seminários, da formação e da qualidade dos padres e religiosos locais.
O plenário dos bispos termina no dia sete.

SORRI!