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— O meu marido vai deixar-me trabalhar e conduzir! — disse-nos, com um sorriso rasgado, a jovem noiva beduína.
Está envolta no seu longo vestido rosa pálido, ricamente debruado, tão leve que parecia flutuar com o vento do deserto.
Ela terminou o curso de enfermagem com as melhores notas. Várias clínicas já lhe ofereceram emprego.
Alguns meses atrás, rompeu outro noivado — mesmo depois da festa — ao descobrir que o futuro marido não a deixaria exercer a profissão.
— Estudei tanto para ficar em casa? Não! — disse, firme, apoiada pelo carinho da mãe, a sua aliada mais fiel.
Hoje celebrámos o seu novo noivado, numa pequena aldeia beduína situada numa montanha do deserto da Cisjordânia, nos territórios palestinianos ocupados.
A noiva, que esteve connosco nos acampamentos de verão e no projeto de bordado Fili di Pace (Fios de paz), brilha como um fio luminoso entre tantas mulheres.
A festa decorre ao ar livre, no deserto, entre montanhas e colinas douradas pelo pôr do sol, no topo onde fica a sua aldeia.
—O meu filho vai buscá-las. Deixem o carro lá em baixo! — disse-nos a mãe.
O caminho é íngreme, uma verdadeira aventura: doze pessoas amontoadas num jipe, saltando entre pedras e curvas, roçando o abismo com o coração a bater forte sob o céu estrelado.
No topo, a noite é iluminada com luzes, cantos e risos.
Quase todos os rostos nos são familiares.
Dança-se, conversa-se, abraçam-se famílias que tiveram que deixar as suas aldeias por medo e que aqui encontraram um lar.
As crianças correm para nos cumprimentar, as mães abraçam-nos com carinho. Aqueles que ainda não nos conhecem ficam surpreendidos com tanta familiaridade.
As missionárias somos as únicas não palestinianas.
E ela, a noiva, está resplandecente. Os seus olhos refletem a promessa de um futuro aberto, onde a sua inteligência e o seu desejo de servir vão abrir novos caminhos para tantas raparigas beduínas.
A vida não é fácil! Mas continuam a encontrar-se, a dançar, a celebrar. Porque, apesar de tudo, a vida insiste, floresce no meio do deserto — e elas, com uma força suave e obstinada, escolhem não desistir, levantar os olhos, abrir caminhos e viver.
Ir Cecília Sierra
Missionária Comboniana no Deserto da Cisjordânia


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