7 de novembro de 2024

GERAL COMBONIANO NOMEADO BISPO


O Superior Geral dos Missionários Combonianos foi nomeado bispo auxiliar da arquieparquia de Adis-Abeba, na Etiópia.

A notícia foi dada na quarta-feira, 6 de novembro de 2024, no Vaticano e em Adis-Abeba. A sua nomeação foi saudada pela Igreja da capital etíope e pela família comboniana.

Dom Tesfaye Tadesse Gebresilasie tem 55 anos. Foi ordenado padre em 1995 e serviu como missionário no Egito (onde estudou o árabe), no Sudão (encontrei-o na missão de Omdurman em 1998), na Etiópia e na Direção Geral dos Missionários Combonianos.

É licenciado em Teologia e diplomado em Estudos Islâmicos. Foi Superior Provincial na Etiópia de 2005 a 2009 e presidente da Conferência de Superiores Maiores. 

No Capítulo Geral de 2009 foi eleito Conselheiro Geral e em 2015 Superior Geral, sendo reeleito em 2022. 

O bispo-nomeado participou nas duas sessões do Sínodo sobre a Sinodalidade.

«Recebemos esta notícia com emoções e sentimentos mistos, entre os quais prevalece a gratidão a Deus pelo dom que nos deu até agora na pessoa do P. Tesfaye como nosso Superior Geral e como confrade», o Conselho Geral escreveu em comunicado aos confrades. 

E ajuntou: «Reconhecemos que a escolha da sua pessoa também representa um dom para o serviço da Igreja particular para cujo crescimento colaboramos como Instituto».

Os combonianos têm duas comunidades em Adis-Abeba: a sede provincial e o postulantado.

Era voz corrente que o Cardeal Berhaneyesus Souraphiel preferia o P. Tesfaye para lhe suceder à frente da Igreja em Adis-Abeba.

Ambos partilham um percurso semelhante: nasceram em Harar, no leste do país, cresceram em Adis-Abeba, pertencem a uma congregação missionária (o arcebispo é lazarista).

Aliás, em 2022, o Capítulo Geral dos Combonianos foi interrompido porque o Dicastério para as Igrejas Orientais ao saber que o P. Tesfaye foi reconduzido no cargo de Superior Geral chamou-o para lhe propor que recusasse a reeleição. Queriam fazê-lo bispo para Adis-Abeba. Ele tinha dado o sim aos capitulares e manteve a decisão.

Dom Tesfaye sucedeu-me como diretor da Escola Média da missão de Haro Wato, que abri em 1995 com a colaboração das autoridades educativas do distrito to Uraga. 

É um homem afável, humilde, tranquilo, próximo, consensual, espiritual. E tem medo das alturas. 

Somos amigos desde 2005 quando visitei a Etiópia com dois jornalistas, colaboradores da revista Além-Mar. Além de prover transporte para visitarmos as missões no sul do país, levou-nos à nova missão de Gilgel Beles, entre o povo Gumuz, no oeste.

Quando visitou Portugal, levei-o de Viseu para o Porto através de Cinfães para lancharmos com os meus pais. 

Quando chegamos à Maia olhou-me com o seu sorriso maroto e disse: «Agora entendo porque gostavas tanto das montanhas da Etiópia!». Tínhamos subido e descido o Montemuro e as Montedeiras.

É certo que o Instituto perde um grande Superior Geral e a arquieparquia – é assim que se designa uma arquidiocese do rito oriental – de Adis-Abeba ganha um grande eparca auxiliar e, muito provavelmente, um arquieparca no futuro próximo. 

Uma comboniana, veterana na Etiópia, saudou a sua nomeação com uma mensagem singela: «Parabéns à família dos combonianos. Que a Igreja na Etiópia cresça e se abra na direção missionária».

Todavia, a sua nomeação representa um desarranjo grande para os combonianos que têm de eleger um novo geral e, se ele fizer parte do Conselho Geral, um novo conselheiro. 

Dom Berhaneyesus tem 76 anos, mas encontra-se relativamente bem de saúde. 

No ano passado teve uma crise cardíaca (que, ao que sei, foi resolvida) e podia dirigir a sua Igreja até aos 80 anos. Dava tempo a Dom Tesfaye de terminar o mandato sem sobressaltos para o Instituto. 

Contudo, o Vaticano não pensa assim. Como me confidenciou o membro do Conselho Geral de outro Instituto missionário, «somos pau para as colheres sem pau». 

Que o Senhor da Missão abençoe o novo serviço missionário de Dom Tesfaye.

5 de novembro de 2024

BORDAR PARA VIVER

Vemo-la chegar sorridente e orgulhosa. Após apenas quatro lições, esta senhora beduína apresenta-nos uma saquinha bordada e cosida à mão com fecho de correr. 

«Onde é que arranjou o fecho?», perguntamos. 

Ela sorri e explica: «Tirei-o de um vestido!». 

Outra mulher acrescenta: «Eu tirei o meu de um par de calças.». 

A verdade é que todas elas se superaram. Nunca tinham estudado costura ou bordado, e agora conseguem pregar um fecho de correr à mão e bordar uma saquinha.

«Vocês saltaram do jardim de infância para o ensino secundário!», dizemos-lhes entusiasmadas.

Existem vários grupos de mulheres em várias aldeias beduínas no deserto da Judeia. Fizemos planos para que 160 mulheres beduínas recebessem formação em bordados palestinianos e criassem produtos para abrir portas de solidariedade. 

Cada uma delas mostra o máximo empenho na aprendizagem e o entusiasmo é contagiante. É um verdadeiro prazer observá-las enquanto se dedicam apaixonadamente a esta nova forma de arte. 

Para muitas, é a primeira vez que usam uma agulha, mas estão determinadas a preservar o bordado beduíno, especialmente agora que a sua terra lhes treme sob os pés. Neste contexto de incerteza, o que lhes dá força é a vontade de se agarrarem às suas raízes e à sua identidade.

Devido ao conflito em curso, muitos homens, que eram o principal sustento das famílias, continuam sem trabalho. Consequentemente, estas mulheres estão motivadas para ganhar alguma coisa para alimentar os entes queridos. 

Algumas dizem que bordam de manhã até tarde, dando o seu melhor para garantir a subsistência das suas famílias. É um período muito difícil, mas a sua determinação é uma fonte de inspiração.

Vemos como elas se concentram no processo de aprendizagem, passando tempo a ver vídeos de bordados e tentando melhorar a técnica, diariamente. Muitas delas dizem que o bordado as ajuda a distrair-se e a pensar em algo positivo, dando-lhes a oportunidade de ocupar a mente de forma construtiva.

Neste clima de opressão, elas procuram afirmação. 

«Digam-me que é bom!», dizem. 

Olhos nos olhos, sinto a importância de responder: «És fantástica! Que criatividade! O que estás a fazer é muito bonito, e vais melhorar cada vez mais!».

Por isso, agradecemos do fundo do coração a solidariedade dos nossos benfeitores. Graças ao vosso apoio, 160 mulheres beduínas continuarão o processo de aprendizagem e de criação. A vossa generosidade é essencial para ajudar as famílias e comunidades a viver, literalmente. Estes são tempos difíceis e é-lhes dada a oportunidade de criar, de sonhar, de aprender, de crescer, de ter esperança e de viver.

Ir. Cecília Sierra,

Comboniana, missionária com beduínas do Deserto da Judeia

2 de novembro de 2024

O SENHOR DAS PULSEIRAS


Os patriarcas do Antigo Testamento tinham o costume simpático de construir altares com pedras ou madeira no sítio onde tiveram experiências significativas e encontros especiais com o Senhor Deus. A Terra a que hoje chamamos de Santa estava cheia destes memoriais da ação de Deus na vida de Abraão, Isaque e Jacob. E de outras pessoas.

Os meus altares, os memoriais do meu passado e presente, são feitos de pulseiras. Uso quatro: uma de missangas azuis e transparentes, uma dezena do terço feito de contas de vidro e missangas, uma de contas verdes, amarelas e encarnadas e uma de couro.

A pulseira de missangas azuis e transparentes, em espinha, foi feita no Lady Lomin, um centro de artesanato que os combonianos tinham na missão de Lomin, Condado de Kajo Keji, no sul do Sudão do Sul. O centro empregava mulheres que através de produtos que fabricavam obtinham algum dinheiro extra para sustentar as suas famílias.

O centro produzia artigos em algodão, tecido pelas funcionárias do Lady Lomin, incluindo ti-chertes e outras peças de roupa, trabalhos variados em missangas, etc. O centro tinha um posto de vendas na casa provincial dos combonianos, em Juba. Infelizmente, a guerra civil que estalou em dezembro de 2013 entre as forças leais ao presidente Salva Kiir e as do seu vice-presidente Riek Machar chegou à missão de Lomin e os missionários, juntamente com os habitantes locais, tiveram de se refugiar no Norte do Uganda. A missão de Lomin foi saqueada e destruída.

A pulseira da Lady Lomin é memória dos sete anos que vivi no Sudão do Sul. Foram anos interessantes e importantes. Os dias da rádio. Guardo no coração as pessoas com quem trabalhei, os colegas missionários e missionárias, as amizades que fiz, as mulheres do Lady Lomin que visitei três vezes... E, sendo as missangas azuis e transparentes, lembram também os meus clubes do coração: o Clube Desportivo de Cinfães e o Futebol Clube do Porto! 

A dezena missionária, com contas verdes, amarelas, transparentes, vermelhas e azuis, já desbotadas pelo tempo, separadas por missangas cor de chumbo, foi feita e oferecida pela Ir Maria de Deus Meirinho, missionária comboniana do Soito, Sabugal. Regressou à Casa do Pai há cerca de um ano. O seu serviço missionário decorreu em Portugal, América Latina e Itália. Gostava muito dessa doce mulher do Evangelho. Com ela diz a última visita ao Santuário de Nossa Senhora de Guadalupe – que os mexicanos chamam simplesmente La Villa – antes de regressar a Portugal depois de nove meses de formação permanente naquele país.

A dezena além de me recordar a Ir Maria de Deus, é também sinal da minha vocação missionária! E, quando esqueço o terço no meu quarto, serve também para contar as ave-marias das dezenas dos mistérios do rosário.

A pulseira de contas verdes, amarelas e encarnadas tem as cores da bandeira da Etiópia, o meu lar corrente. Um missionário veterano uma vez disse-me que só somos verdadeiros missionários se entramos numa relação esponsal com o povo que nos recebe. A pulseira tricolor recorda a minha aliança de amor com a Etiópia e, especialmente, com o povo guji com quem vivo e sirvo.

A pulseira de couro foi-me oferecida por uma amiga que vive na Galiza. Por via dela, representa todas as amigas e amigos que tenho espalhados pela Europa, África, Ásia e Américas. 

O Senhor prometeu cem vezes mais a quem deixar pais, irmãos, filhos e terras por causa dele e do Reino de Deus. Ele é um cavalheiro e mantém a sua palavra. Porque aceitei o seu convite de ser seu missionário no do Instituto dos Missionários Combonianos, agora a minha família alarga-se a quatro continentes e deixa-me de coração cheio.

Quando contemplo as minhas pulseiras louvo o Senhor da Vida e da Missão pela minha vida e missão, e por todas as pessoas que fazem parte da minha história. E encomendo-as, todas e cada uma, ao carinho de Deus. 

As pulseiras são os meus altares, memoriais de rostos e corações que manifestam e encarnam a ternura de Deus para comigo e que trago no coração. A ti também!