13 de novembro de 2024

O SÍNODO TERMINOU E VAI COMEÇAR

A XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos «Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação, missão» chegou ao fim depois de três anos de trabalhos intensos. O caminho sinodal começou a 9 de outubro de 2021 e cortou a meta a 27 de outubro de 2024. Agora começa a sua execução.

Foi um sínodo novel a muitos títulos. Sublinho alguns: começou com uma auscultação mundial sem precedentes; teve assembleias nacionais e continentais; decorreu não no anfiteatro do costume, mas no espaço raso da Sala Paulo VI; utilizou o método de trabalho de conversação no Espírito através de pequenos grupos; teve mulheres e homens não bispos a votarem; e Francisco anunciou que não vai escrever uma Exortação Apostólica pós-sinodal, atribuindo ao Documento Final autoridade própria.

O trecho conclusivo insere uma pequena citação da narrativa das aparições de Jesus Ressuscitado do Evangelho segundo São João (capítulos 20 e 21) na introdução, em cada uma suas das cinco partes e na conclusão.

O recurso leva-nos às origens da experiência cristã e da Igreja: o encontro com o Ressuscitado. Foi esse evento que transformou a vida de um punhado de discípulos aterrados e de portas trancadas num qualquer primeiro andar em Jerusalém em anunciadores intrépidos de que Jesus vive e é o Senhor do universo. É o encontro com o Senhor Ressuscitado que sustém a Igreja e cada um dos seus membros hoje e sempre na sua peregrinação através da história.

Documento Final marca um regresso em força ao Concílio Vaticano II e mormente à sua eclesiologia. A Constituição Dogmática Lumen Gentium (de 21 de novembro de 1964) sobre a Igreja é citada mais de quatro dezenas de vezes ao correr do texto. Outros sete documentos conciliares também são mencionados.

A palavra-chave do documento é relações/relação. Na versão portuguesa do Documento Final a palavra relações aparece 56 vezes desde o parágrafo 8 até à conclusão e o seu singular 24. Aliás, a Parte II do texto é intitulada «Conversão das relações».

«Ao longo de todo o caminho do Sínodo e em todas as latitudes, emergiu o apelo a uma Igreja mais capaz de alimentar as relações: com o Senhor, entre homens e mulheres, nas famílias, nas comunidades, entre todos os cristãos, entre grupos sociais, entre as religiões, com a criação», assinala o parágrafo 50.

A conclusão sublinha que «Espírito colocou no coração de cada ser humano o desejo de relações autênticas e de vínculos verdadeiros» (n.º 154).

Estamos perante a génesis de uma nova teologia da fé e da Igreja como entrelaçado de relações múltiplas e artesanais à volta do Ressuscitado? Uma Igreja sinodal é uma Igreja relacional.

O documento – que na tradução portuguesa tem menos de 27 mil palavras – está estruturado em 155 parágrafos. É mais teórico que o Relatório de Síntese da primeira sessão, que vinha recheado de propostas práticas e diversificadas.

Repete que a Igreja Sinodal assenta no tripé da comunhão, participação e missão, que a Igreja é uma comunhão harmónica de diferenças, que a formação permanente ao estilo do catecumenado é para todos e todos juntos: dos fiéis leigos aos bispos, e volta a falar da missão no digital.

Muitos dos temas mais quentes com a ordenação de mulheres diáconos, a instituição de novos ministérios e as mudanças no Direito Canónico para acomodar novas práticas sinodais foram confiados às respetivas comissões.

A África é mencionada duas vezes: quando o documento recorda que o SECAM, o Simpósio das Conferências Episcopais da África e Madagáscar, foi mandatado de discernir sobre o acompanhamento pastoral de pessoas em matrimónios poligâmicos (n.º 10), e quando o trabalho dos catequistas que «sempre estiveram à frente de comunidades sem presbíteros em muitas regiões de África» (n.º 76) é exemplo concreto do que é o ministério de coordenação de uma pequena comunidade eclesial.

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