19 de novembro de 2013

CENTENÁRIO REJAF


A paróquia de Rejaf, arquidiocese de Juba, começou a 1 de Novembro cinco anos de preparação para a celebração para o centenário da fé.

Os Missionários Combonianos chegaram a Rejaf, na margem direita do Nilo Branco, a uma dúzia de quilómetros de Juba, a 16 de Julho de 1919 depois de abandonarem a missão de Gondokoro que tinham aberto em 1913.

Dom Paolino Lukudu Loro, arcebispo de Juba, presidiu à celebração de Todos-os-Santos, os patronos de Rejaf, que abriu oficialmente a preparação para o centenário da paróquia.

O centenário de Rejaf marca também 100 anos da fé na arquidiocese de Juba, embora os primeiros missionários tivessem chegado à terra dos Baris a 18 de Janeiro de 1850 quando o esloveno Inácio Knoblecher e o Italiano Angelo Vinco fizeram uma viagem de exploração à área vindos de barco de Cartum.

Padre Vinco regressou a 24 de Fevereiro de 1851 para iniciar a evangelização do povo Bari estabelecendo-se em Libo onde veio a falecer a 23 de Janeiro de 1853. Os missionários entretanto estabeleceram a base em Gondokoro, meia hora a pé a sul de Libo.

Dom Paolino convidou “o clero, religiosos, missionários e fiéis para se envolverem completamente em cada maneira indicada para o sucesso do centenário.”

“Os cem anos da missão e da Igreja de Rejaf são a história da salvação de todos nós. Devemos a nossa fé a esta igreja”, o arcebispo comboniano acrescentou.

E rezou para que todos os santos e os missionários que começaram Rejaf com o sacrifício das suas vidas apoiem os planos para o melhor crescimento da fé que eles trouxeram há cem anos.

O arcebispo empossou duas comissões para coordenarem as celebrações a nível da paróquia e da arquidiocese.

Voltando à história de Rejaf, a missão foi fundada pelos padres Silvestri e Medici e irmão Egidio Romano.
O primeiro grupo de catecúmenos foi batizado em 1919 e em 1920 a escola primária começou a funcionar. A escola média foi aberta sete anos depois.

O Seminário Menor abriu em 1928 com sete seminaristas.

A igreja, uma construção imponente em tijolo burro, foi benzida a 15 de Agosto de 1936 para servir mais tarde como catedral da diocese. 

Nessa altura, a administração colonial tinha dividido o Sudão do Sul em áreas de evangelização: a margem direita do rio foi entregue à Igreja Católica e a esquerda, onde está Juba, era dos anglicanos. Nos anos 60 do século passado os católicos foram autorizados a construir a catedral de Kator, à altura fora de Juba.

17 de novembro de 2013

PRIMEIRA PEDRA



A Universidade Católica do Sudão do Sul lançou a primeira pedra para a construção do pólo de Juba no sábado depois de uma longa batalha para tomar posse do terreno cedido pelo governo de Equatória Central.

O tijolo da primeira pedra foi trazido da missão de Rejaf, a uma dúzia de quilómetros de Juba na margem direita do Nilo Branco que em 2019 faz cem anos.

Dom Paolino Lukudu Loro, arcebispo de Juba, presidiu à cerimónia do lançamento, que contou com a presença de quase todos os bispos do Sudão do Sul, além de membros do governo nacional e estadual, convidados e universitários.

Dom Paolino disse que a Igreja católica leva a educação a sério porque é parte da sua vocação.

Ele disse que os bispos estão comprometidos no apoio à Católica.

Dom Eduardo Hiiboro Kussala, bispo de Tombura-Yambio e presidente da comissão episcopal para a educação, disse que “a primeira pedra da Universidade Católica do Sudão do Sul cimenta uma grande esperança para o futuro da instituição.”

Ele adiantou que a Católica vai continuar a contribuir para o desenvolvimento académico do país.

O vice ministro da educação Bol Makueng reconheceu o trabalho pioneiro da Igreja na educação e agradeceu-lhe por ter aberto as primeiras escolas na região.

O cantor Emmanuel Kembe pôs toda a gente a dançar, bispos incluídos!

A Católica foi iniciada em 2008 pelo jesuíta americano Michael Schultheis, que também esteve na origem das homónimas do Gana e Moçambique.

A universidade começou por funcionar na Escola Secundária Daniel Comboni. Mais tarde passou para o antigo postulantado dos Combonianos.


A Católica tem em Juba mais de 750 alunos nos cursos de economia e administração e ciências da educação. No pólo de Wau funcionam as faculdades de agricultura e ciências do ambiente com 300 estudantes.

No princípio de Novembro, o padre Mathew Pagan da diocese de Malakal substituiu o padre Schultheis no posto de vice-chanceler. 

15 de novembro de 2013

SUCESSO

Dom Erkulano Lodu Tombe, bispo de Yei, e Dom Paolino Lukudu Loro, arcebispo de Juba

Os bispos católicos do Sudão do Sul escreveram numa carta pastoral que crêem no sucesso do país mais jovem do mundo apesar dos seus problemas.

Sete bispos e dois administradores apostólicos concluíram sexta-feira uma reunião de quatro dias com a apresentação de uma mensagem pastoral de esperança e encorajamento à Igreja e à nação.

Dom Paolino Lukudu Loro, Arcebispo de Juba e Metropolita do Sudão do Sul, apresentou a mensagem aos jornalistas.

Ele disse que os dirigentes católicos tinham muita esperança e eram muito positivos sobre o bem-estar do país apesar das dificuldades de governação.

Ele aconselhou os cidadãos para não acentuarem de mais as fraquezas do país e que acreditassem no seu sucesso.

Dom Paolino disse que os bispos estavam preocupados com a situação do estado de Jonglei e que apoiavam as iniciativas de paz para resolver a revolta armada de David Yau Yau.

Ele reconheceu que a situação em Jonglei era muito complexa porque envolve muitos actores.

O arcebispo comboniano salientam que os habitantes de Jonglei deviam ser parte activa das negociações .

Salientou que chegou a hora do Sudão do Sul passar de uma situação de emergência ao desenvolvimento sustentado.

Dom Paolino saudou em nome dos colegas o melhoramento nas relações bilaterais entre os dois Sudãos.

Disse que os bispos também tinham uma palavra para os habitantes de Abyei que querem exercer o direito a escolher permanecer no Sudão ou ser parte do Sudão do Sul. No final de Outubro os Dinkas Ngok que vivem na região administrada por Cartum fizeram um referendo unilateral e votaram quase 100 por cento pela pertença ao Sudão do Sul de onde são originários.

Os bispos manifestaram o apoio ao processo nacional de cura e reconciliação e prometeram fazer o máximo que puderem para trazer a reconciliação ao país.

Apesar de fazerem uma conferência episcopal única com o Sudão, os bispos do Sudão do Sul reúnem-se frequentemente para tratarem dos assuntos que lhes dizem respeito.

14 de novembro de 2013

MUDANÇAS

Irmã Paola Moggi e Enrica Valentini 

Desde 1 de Novembro que a direção da Rede de Rádios Católica (CRN na sigla em inglês) mudou de mãos: Enrica Valentini substituiu Paola Moggi.

Com a mudança, a família comboniana passa a CRN para a responsabilidade da conferência episcopal dos dois Sudãos. Duas irmãs combonianas continuam a dirigir as rádios de Malakal e dos Montes Nuba. Os provinciais dos dois institutos combonianos continuam a fazer parte da Assembleia de Governadores da rede. 

Enrica, 32, é uma voluntária italiana que veio trabalhar para a diocese de Wau há quatro anos através da Caritas. Começou e dirigiu a Rádio Voz da Esperança até assumir a direção da CRN.

Disse que quer dar continuidade à administração da Irmã Paola, mas reforçando o uso das línguas locais.
A Irmã Paola, missionária comboniana italiana, dirigia a CRN desde finais de 2007.

Em Maio, o Padre José Vieira passou a direção da redação central da CRN para Alfredo Soka, um jornalista sul-sudanês que trabalha com ele desde 2011.

A CRN foi estabelecida pela família comboniana para marcar a canonização de Daniel Comboni, o fundador da Igreja no Sudão, a 5 de Outubro de 2003.

Rádio Bakhita foi a primeira estação a entrar no ar a 8 de Fevereiro de 2007 em Juba. Hoje é a segunda rádio mais ouvida na capital do Sudão do Sul atrás de Miraya, a rádio das Nações Unidas, e à frente da estação do governo e das rádios comerciais locais.


A CRN tem nove estações de rádio, oito no Sudão do Sul e uma nos Montes Nuba em território sudanês controlado pelos rebeldes do SPLA/M-North. As estações pertencem às despectivas dioceses e a rede em si à conferência episcopal.

13 de novembro de 2013

CÂMBIO


O mercado cambial entrou em ebulição no Sudão do Sul: o Governador do Banco Central Kornelio Koriom Mayien na segunda à noite introduziu uma reforma para unificar o câmbio oficial com o paralelo e assim controlar o mercado negro das divisas estrangeiras e incentivar o investimento internacional.

Em termos práticos um dólar americano passou a valer 4.50 libras sul-sudanesas em vez das 2:96. A mudança cambial provocou uma desvalorização de cerca de 40 por cento da libra. Um Euro passou de cinco para seis libras.

As reações não se fizeram esperar. Os postos de combustíveis fecharam logo na expectativa de que o novo câmbio tornasse a gasolina e o gasóleo mais caros.

Sem combustíveis, os transportes públicos quase pararam e a maioria dos funcionários teve que voltar para casa e hoje de manhã para o trabalho a pé… No mercado negro, um litro de gasolina saltou de 10 para 20 libras.

Os deputados não gostaram nada da reforma do sistema cambial e exigiram que na quarta-feira o governador e o ministro da economia viessem ao parlamento explicar a bondade de uma reforma contestada por aumentar a inflação além de afetar os lucros daqueles que conseguem comprar dólares a 3,16 libras no Banco Central e vendê-los no mercado negro a 4,50 ou mais.

Depois de uma sessão ruidosa no parlamento, o Governador Koriom teve de dar o dito pelo não dito e inverter as medidas de segunda-feira.


Claro que noutro país o Dr Koriom só tinha uma saída para um fiasco tão grande: a demissão. Mas o Sudão do Sul é um país de brandos costumes e tudo continua como dantes.

4 de novembro de 2013

MORTOS-VIVOS

Juba: Cemitério de Malakia
O culto dos antepassados é um dado cultual e social transversal em África. Os Africanos acreditam que os mortos fazem parte da vida de cada dia.

Na África, é comum que os antepassados sejam percebidos como intermediários entre a(s) divindade(s) e os vivos, muito próximo da doutrina católica da comunhão dos santos, uma visão que deu origem também a uma cristologia africana que apresenta Jesus como o antepassado comum.

Os antepassados são recordados e respeitados na maioria das culturas africanas como fonte de bênção e para evitar maldições. Um provérbio africano diz que negligenciar os antepassados traz má sorte. Por isso, é normal que as culturas africanas desenvolvam ritos para propiciar os mortos e evitar catástrofes pessoais e colectivas. O escritor nigeriano Chinua Abache descreve, na sua primeira novela, Things Fall Apart, o choque cultural provocado pela chegada dos administradores ingleses e missionários na cultura igbo. Okonkwo, o herói do livro, queima uma igreja para apaziguar os antepassados e proteger a cultura e as tradições das influências externas.

No meu serviço missionário, experimentei duas maneiras diferentes de tratar os antepassados em contextos culturais rural e urbano.

Os Gujis, do Sul da Etiópia, entendem a morte como um acto de violência que é preciso propiciar com o sacrifício de um animal – normalmente um touro – sobre a campa do defunto depois de um período de luto que pode ir de dias a um ano ou mais, dependendo da importância social do falecido. A celebração da nagefatiisa (fazer as pazes) no final do luto culmina com uma refeição do animal sacrificado cujo sangue restabelece a harmonia que a morte violou. Depois de a nagefatiisa terminar, os antepassados são deixados em paz, excepto se alguma filha do falecido for estéril: nesse caso, a família reúne-se à volta da sepultura, que normalmente fica junto à casa da família, e pede ao antepassado que levante a maldição e permita que a mulher conceba.

Os mortos são colocados no túmulo com muito cuidado e as sepulturas são marcadas com uma estaca de uma árvore local que ganha raízes com facilidade. Quando nos ofereceram o terreno para construir a missão de Haro Wato, exigiram que não perturbássemos dois conjuntos de sepulturas dentro da propriedade. Concordámos que a igreja fosse construída sobre um dos grupos e o outro, um pequeno bosque de árvores e trepadeiras, encontra-se intocável no meio do cafeal.

A memória dos antepassados também é importante para determinar linhagens e casamentos. Os miúdos gujis tinham muito orgulho em enunciar os nomes dos descendentes até pelo menos à décima geração e não entendiam porque é que eu só sabia o nome do meu pai e do meu avô. Depois, quando um rapaz escolhe a noiva, os anciãos investigam se as duas linhagens não se cruzavam para sancionar a união.

Em Juba, no Sudão do Sul, fui confrontado com uma atitude totalmente oposta à dos Gujis. O cemitério de Malakia, um dos maiores da cidade, transformou-se num bosque onde as pessoas fazem as necessidades antes de o dia despontar e parte do campo santo foi ocupada por armazéns, uma fábrica de engarrafamento de água e pelas barracas provisórias dos sem-casa, afectados pela urbanização de Juba.


Não é que os mortos não sejam celebrados condignamente: o sepultamento é feito entre orações, cânticos e danças de pesar e o luto termina com a teskar muito semelhante à nagefatiisa dos Gujis, uma celebração pública imponente e longa que inclui orações, cânticos, a evocação do defunto e uma refeição.